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3.1 NAS BASES EDUCATIVAS, A NOVA ESCOLA NORMAL PARANAENSE

3.1.2 A Rainha do Itiberê

A Paranaguá da década de 1920 era uma pequena, porém, importante cidade do Paraná. Localizada no litoral do Estado, situa-se entre o Rio Itiberê e as Serras da Prata e era emoldurada por vasta baía com amplos ancoradouros. O município se destacava, entre outros motivos, por sua economia centrada no Porto Dom Pedro II, que possibilitava o embarque e desembarque não só de passageiros, mas também dos principais produtos produzidos no Estado, como a erva mate e o café, assim como, produtos de outros Estados brasileiros.

Desta cidade saíram ilustres cidadãos que se evidenciaram na política, nas artes e nas atividades intelectuais, entre os quais podemos destacar o Professor Cleto da Silva, a escritora e poetiza Júlia da Costa, o Presidente do Estado Dr. Caetano Munhoz da Rocha (1920-1928), o pianista e compositor Brasilio Itiberê da Cunha, o médico humanitarista Dr. José Leocádio Corrêa e outros.

De acordo com Ermelino de Leão (ERMELINO DE LEÃO in CAPRI,

192385), a Instrução Pública na década de 1920 estava bastante desenvolvida

em Paranaguá, havendo Escolas Federais, Estaduais, Municipais e particulares, com o Grupo Escolar Faria Sobrinho (onde localizamos algumas fontes para nossa pesquisa) funcionando em um prédio “pertencente à Municipalidade” (ERMELINO DE LEÃO in CAPRI, 1923).

Por sua importância econômica, política, social e intelectual, além de sua tradição e localização, Paranaguá foi escolhida para que se construísse a terceira Escola Normal do Estado da Paraná.

A Escola Normal Primária de Paranaguá foi criada pela Lei Nº 2064 de 31/03/1921 e instalada com aulas que começaram no dia 2 de maio de 1927, numa das salas do paço municipal do Palácio Visconde de Nácar, com a presença do Senhor Lysímaco Ferreira da Costa, Inspetor Geral do Ensino, professor Segismundo Antunes Netto, diretor da Escola e dos professores Tupi Pinheiro, de Pedagogia, Agostinho Pereira Alves, de Matemática e Amália de

Oliveira86, de Ginástica. Havia então, 69 alunos matriculados (FREITAS, 1992).

A inauguração do majestoso prédio da Escola Normal Primária de Paranaguá ocorreu no dia 29 de julho de 1927, quando a cidade comemorava seus 279 anos de elevação à Vila, “tornando realidade o ideal acalentado por tantos anos pela mocidade estudiosa” (FREITAS, 1992, p. 433). A Escola Normal inaugurada numa cidade do litoral era, para os moradores da região litorânea uma possibilidade de crescimento intelectual, profissional e moral para os seus jovens e para os governantes, a realização de mais uma etapa do projeto republicano, pensado para o Brasil e o Paraná.

85 As referências originais possuem os numerais do ano de publicação em algarismos Romanos, assim, o ano de 1923 aparece como MCMXXIII.

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A professora Amalia de Oliveira foi professora da Escola Normal Primária de Paranaguá desde a sua criação em 1927 e, como dito anteriormente, consta seu nome na “Relação de Alumnos da Escola Normal Diplomados em 1921” (PARANÁ, Estatística 1921 in Relatório Cesar Prieto Martinez, 1922).

Figura 10 - Fachada da Escola Normal Primária de Paranaguá, s/d.

Fonte: Arquivo Fujita. Disponível em: https://www.facebook.com/arquivo.fujita?fref=ts.

Em seu discurso da inauguração da terceira Escola Normal, no Estado sob sua presidência, Caetano Munhoz da Rocha demonstrou todo o entusiasmo de quem tinha a certeza de que somente pela educação o Paraná e o Brasil chegariam ao desejado progresso e as Escolas Normais, tendo como finalidade a formação de quem formará as crianças, moldando-lhes o caráter, era então considerada mais um dos “templos do saber”. Segue pequeno trecho

do discurso de Caetano Munhoz da Rocha87 (1927):

Escolas Normais, verdadeiros templos em que se apontarão os pioneiros do nosso progresso, quais sacerdotes de excelso apostolado, para trabalhar essa cultura divina de pequeninos seres que formarão o Brasil de amanhã, preparando-os para as grandes lutas do bem e os desencontros inevitáveis da vida, instruindo e educando a um tempo, fazendo-lhes despertar a inteligência, as primícias do saber e despertando-lhes fundo o espírito de justiça, de ordem, de disciplina, de trabalho que fortalece a aprimora o caráter. (ROCHA in FREITAS, 1992).

O Decreto 459 de 16 de janeiro de 1933 equiparou a Escola Normal Primária de Paranaguá à Escola Normal Secundária. Isso significava um novo

status para essa escola, pois só conseguiam a equiparação, as escolas que

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Em julho de 1952, passaria a denominar-se Escola Normal Secundária “Dr. Caetano Munhoz da Rocha” e pelo Decreto Nº 6217 de 29 de julho de 1967 seria elevada a Instituto de Educação passando a ser denominada por Instituto de Educação “Dr. Caetano Munhoz da Rocha”.

atendiam a condições especiais, entre elas, possuir uma escola anexa para a prática dos normalistas.

O Decreto 1929 de 30 de janeiro de 1936 criou o Curso Ginasial como medida preliminar para sua transformação em Instituto de Educação. O Curso Geral passou então a obedecer ao regulamento e aos programas do Curso Ginasial dos Ginásios equiparados ao Colégio Dom Pedro II, do Rio de Janeiro. Pelo Decreto Nº 6305 de 26 de julho de 1952, a Escola Normal de Paranaguá

receberia a denominação de Escola Normal Dr. Caetano Munhoz da Rocha88.

No que se refere à construção da Escola Normal em Paranaguá, nas palavras de Martinez (PARANÁ, Relatório Cesar Prieto Martinez, 1924, p. 27), “somente os normalistas cuidadosamente preparados” poderiam agir junto à população com seu trabalho que deveria patrioticamente visar a felicidade dos seus patrícios. Sobre esse assunto o Inspetor escreve:

A Escola Normal de Paranaguá, destinada a formar educadores para os filhos do litoral, terá a missão de reerguer o nosso caboclo, ensinando-o a defender-se e curar-se das doenças que o aniquillam, roubando-lhe a coragem para o trabalho, e armando-o de conhecimentos para melhores proveitos tirar da rendosa industria da pesca e da lavoura que ahi são tão promissoras mas que permanecem incipientes, com grave prejuízo para nossa fortuna pública e privada. (PARANÁ, Relatório Cesar Martinez, 1924, p. 27).

Cesar Martinez expõe finalidades políticas diferentes para as duas novas Escolas Normais de acordo com as características do local onde seriam construídas. O Inspetor Geral havia exposto seu pensamento sobre as duas novas Escolas Normais no Relatório de 1922, ao afirmar que em regra geral, os municípios que possuem maior número de normalistas são os que “melhor concorrem para a difusão do ensino” e por isso, “as duas futuras normais trariam incalculáveis benefícios, melhorando o corpo de professores” (PARANÁ, Relatório Cesar Martinez, 1922, p. 17).

88 Mais tarde, em 20 de julho de 1959, o Decreto Nº 24.459 desmembrou a Escola Normal do Colégio José Bonifácio e oito anos depois, em 29 de julho de 1967 a Escola Normal seria elevada a Instituto de Educação. O Decreto 24.439 de 17 de julho de 1959 destinaria o prédio da Escola Normal à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Paranaguá, que somente desocuparia o prédio em 1965, quando da inauguração do novo prédio dessa Faculdade.

Sobre os benefícios que trariam ao estado as Escolas Normais do Paraná, Martinez (1924) faz ainda uma comparação com São Paulo e outros Estados brasileiros, explicando que proporcionalmente o Paraná está na frente, visto possuir uma Escola Normal para cada 233 mil habitantes, enquanto São Paulo possui dez Escolas dessa natureza, porém, por possuir uma população maior, seria uma Escola Normal para cada 550 mil habitantes (PARANÁ, Relatório Cesar Martinez, 1924).

A Ata datada de 1960, escrita pela então Secretária da Escola Normal de Paranaguá, agora denominada Instituto de Educação Dr. Caetano Munhoz da Rocha, no histórico dessa Escola Normal, informa que desde 1929, ano de Formatura da primeira turma com 17 normalistas dessa Escola Normal, até 1959, 603 normalistas do sexo feminino e 31 normalistas do sexo masculino foram formados por essa instituição de ensino. Conta ainda essa secretária, que “Este educandário possui o seu corpo docente formado na sua quase totalidade de professores saídos de seus próprios cursos” (ATA da Escola Normal Primária de Paranaguá – HISTÓRICO, 1960).

O Relatório do Governador Manoel Ribas de 1929, confirma as afirmações encontradas na Ata de 1960 e as complementam com a informação de que a Escola Normal Primária Dr. Munhoz da Rocha funcionava em 1929 com os Cursos Infantil, Anexo, Complementar e Normal.

O documento acima citado faz menção também à Exposição Escolar89

daquele ano, relatando que “Foi a maior e a mais bella exposição escolar das mais variadas de trabalhos de agulha, madeira, pintura e graphicos levada a effeito com mais de 2.000 trabalhos, tendo sido visitada pelas autoridades do ensino, além de outras”. Tais detalhes nos “falam” um pouco da cultura escolar

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As exposições escolares começaram a ser feitas no início da década de 1920, quando o Inspetor Geral do Ensino era o professor César Prieto Martinez e, sob sua ordem ao final de cada ano letivo, os alunos de cada escola apresentavam seus trabalhos manuais para toda a comunidade. Nessas ocasiões, algumas escolas abriam suas portas para as autoridades educacionais e para a sociedade em geral, outras chagavam a alugar locais mais amplos para que seus alunos expusessem os seus trabalhos, sob a supervisão da professora encarregada dessa tarefa. No caso da Escola Normal no anos de 1929, o diretor dessa Escola Normal no Relatório de 1929, relata o conteúdo do ofício Nº 1684, de 20/11/1929 recebido da Inspetoria Geral da Instrução Pública do Paraná: “[...] Esta directoria, tendo em consideração o brilhante resultado da 2ª exposição escolar dos trabalhos apresentados pelos alumnos do Jardim da Infância, da Escola de Applicação, da Escola Complementar e dessa Escola Normal, manda que seja louvado todo o corpo docente desse estabelecimento” (PARANÁ, Relatório 1929, p. 65).

e reafirmam o pensamento de Julia (2001) ao afirmar que a cultura escolar não pode ser estudada sem o exame preciso das relações conflituosas ou pacíficas que ela mantém, a cada período de sua história, com o conjunto das culturas que lhe são contemporâneas (JULIA, 2001, p. 10). Nessas exposições, abertas à toda a comunidade, a Matemática estava presente nos detalhes geométricos do trabalhos de agulha, nos trabalhos em madeira e nos gráficos apresentados pelos alunos de todos os Cursos da Escola Normal.