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Havia nas Escolas Normais de Paranaguá e Ponta Grossa no ano de 1933, o Curso Normal, o Curso Complementar, o Curso Primário da Escola de Aplicação e o Jardim de Infância. As Escolas Normais a partir do Decreto nº

274 de 1923, dividiram seus Cursos em Geral e Especial. Assim, o Curso Normal era dividido em Curso Geral, onde constavam todas as matérias do currículo do Curso Normal e o Curso Especial, com as disciplinas pedagógicas. O Curso Geral era destinado aos candidatos que ainda não tivessem concluído um Curso Secundário e o Curso Especial àqueles que quisessem complementar a sua formação em nível secundário, com o Curso Normal, podendo assim adquirir um Diploma de Professor Normalista.

Esse Curso Geral tinha duração de três anos de duração e o Curso Especial era de um ano e meio. Para completar o seu Curso, o normalista que iniciasse no Curso Geral precisava também fazer o 4º e o 5º ano, esse último composto por apenas um semestre.

As formas de ingresso no Curso Normal poderiam acontecer por duas vias: por meio de Exames de Admissão ou com o Certificado do Curso Complementar, também chamado Complementar Primário e oferecido em Grupos Escolares ou nas Escolas de Aplicação, anexas às Escolas Normais paranaenses, juntamente com o Curso Primário (chamado anexo e mais tarde Escola de Aplicação) e com a Educação Infantil:

Escola de Applicação – A matrícula no anno lectivo de 1928 á 1929 foi a seguinte:

Curso complementar...360 alumnos Curso annexo...949 alumnos Curso infantil...199 alumnos Soma...1528 alumnos (PARANÁ, 1929, p. 15).

Os dados acima possibilita visualizar o número elevado de alunos que buscavam o Curso Complementar Primário em finais dos anos de 1920, possivelmente como possibilidade para seguir seus estudos nas Escolas Normais, visto serem essas Escolas, na época, a possibilidade para o nível máximo de escolarização alcançado no interior do Estado, nesse caso, em Paranaguá.

Na Mensagem de Governo de 1929, o Relatório do Governador traz em números as matrículas da Escola Normal Secundária:

Matrícula Curso normal. Curso geral: 1º anno ...232 alumnos 2º anno...118 alumnos 3º anno... 74 alumnos Curso especial:

1º e 2º semestre do 4º anno...53 alumnos 1º semestre do 5º anno ... 46 alumnos Somma... 523 alumnos (PARANÁ, 1929, p. 15).

O quadro de docentes no Paraná continuava insuficiente no último ano da década de 1920: Provisórios ... 770 Subvencionados do estado ... 40 Subvencionados federais ... 120 Total ... 1225 Jardins de infância:

Professores de categoria especial ... 12 Professores normalistas de 1ª ... . 13 Professores normalistas de 2ª ... . 1 Professores effectivos de 1ª ... 3 Professores provisórios ... ... 2 Adjunctas ... 30 Somma ... 69 Escola Maternal:

Professores de categoria especial .... . 4 Adjunctas ... 1

Somma... 5 Resumo:

Professores regentes de classe durante o anno findo inclusive licenciados: Normalistas ... 410 Effectivos ... 389 Provisórios ... 850 Subvencionados do Estado ... 40 Subvencionados federaes ... 120 Categoria especial ... 18 Somma ... 1.827

No quadro acima não figuram 199 adjunctas e substitutas effectivas sendo:

Nos Jardins de Infância ... 38 Nos Grupos Escolares e Escolas

Isoladas ... 161 Somma ... 199 (PARANÁ, 1929, p. 9).

Os esforços do governo pareciam continuar em relação tanto á busca pela formação mais qualificada quanto pelas formas de seleção de professores

para o ensino primárioe continuavam osExames para provimento de vagas de

professores:

Figura 18 - Testes Seletivos e Concurso para Normalistas (1929) Fonte: Relatório Mensagem 1929 – MFN 1022. Arquivo Público do Paraná.

Havia diferenças nas denominações dos professores de acordo com o tipo de exames de habilitação para o magistério primário, que poderiam ser: professores provisórios ou adjuntos dos Grupos Escolares do interior do Estado.

No ano de 1929 foram publicados editais chamando professores do interior do Estado, em especial os provisórios e adjuntos dos Grupos Escolares para prestar Exames de Habilitação ao Magistério, em que se inscreveram 118 candidatos e participaram 113, sendo todos aprovados.

Entretanto, não houve Concurso para Normalistas nesse ano, visto que do ocorrido no ano anterior, dos 45 candidatos aprovados, 20 ainda não tinham sido ‘aproveitados’. (PARANÁ, Mensagem de Governo, 1929).

Para exercer a função de professor nas Escolas Normais do Paraná, o professor teria que prestar concurso autorizado pelo governo e nos anos de 1928 e 1929 não houve tais concursos.

A construção das Escolas Normais, Secundária e Primárias foi um marco para a Educação paranaense e, em especial, para a formação dos professores primários. Porém, pela recorrência na falta de professores primários no Estado do Paraná, a alternativa utilizada por esse Estado, assim como São Paulo e outros Estados brasileiros, foi a criação das Escolas Normais Complementares

Esse terceiro capítulo tratou especificamente das Escolas Normais do Paraná e sua características: forma de ingresso de discentes e docentes, tipos de Cursos ali presentes, programas das disciplinas, métodos de ensino, semelhanças e diferenças entre essas Escolas Normais paranaenses.

O estudo apontou que as Escolas Normais paranaenses, não foram suficientes para a formação dos professores primários de todo o Estado e esse fato, gerado por questões políticas e sociais, suscitou a criação das Escolas Complementares para suprir a demanda.

A natureza da formação dos professores primários parece ter influenciado o ensino nos cursos primários de todo o Paraná, incluindo o ensino de Matemática.

Para a compreensão de como se desenvolveu a formação matemática dos professores primários do Paraná, fazemos um estudo mais detalhado no capítulo 4.

4 A FORMAÇÃO MATEMÁTICA EM ESCOLAS NORMAIS DO PARANÁ

Nos caminhos do tempo, Os fatos permanecem brilhando, Como estrelas no céu à noite. Sejamos curiosos e observadores, Para desvendar ocorrências, Descobrir personagens, E revelar esse inquieto espírito humano.

A. Morgenstern

Os estudos sobre a formação matemática dos professores primários paranaenses nos permite ampliar a visão no que se refere às (re)criações e/ou transformações daquilo que foi proposto e que constituem os elementos de determinada cultura escolar, nos conduzindo à reconstituição da história da formação do professor primário do Paraná.

Nessa reconstituição podemos distinguir duas etapas que marcaram a trajetória dessa formação no Paraná: a primeira, anterior à criação das Escolas Normais e a segunda, iniciada com a estruturação e ampliação dessas escolas feitas a partir de reformas educacionais e com a construção de prédios próprios se estendendo até a década de 1930.

A formação nos Cursos de Professores foi alvo de diversas reformas112,

que em espaços e tempos diferente foram operando mudanças: no currículo, nos métodos, nas formas de ser e de pensar o ensino e, consequentemente, nos modos de fazer das escolas e dos seus integrantes, em especial, os professores.

Integrantes de diferentes culturas escolares, os professores de cada nível de ensino possuem características que lhes são próprias. Dominique Julia ao citar Chartier (1992) concebe que “Contrariamente ao trabalho do professor

112

Tais Reformas ocorreram em esfera nacional, como a Lei Francisco Campos, em esfera estadual, como as Reformas dos diversos estados brasileiros nas décadas de 1920 e 1930 e em esfera municipal, a partir da década de 1990 e não se articula com o nosso objeto de estudo.

secundário, no professor primário existe uma espécie de corpo a corpo físico com a aula do qual seria preciso reconstituir as modalidades históricas” (JULIA, 2001, p. 32). A principal característica que torna os professores primários diferentes dos professores dos demais níveis parece estar na responsabilidade de ensinar para uma mesma turma todas as matérias existentes na grade curricular daquele período letivo.

Nesse sentido, para a formação do professor primário há a necessidade de mobilização de saberes os mais diversos, dos fundamentos de cada matéria à prática em sala de aula. A Escola Normal visava suprir essas necessidades proporcionando uma formação que se adequava aos novos princípios e ideais educacionais, entretanto, os normalistas paranaenses da década de 1920 ainda tinham uma formação alicerçada na cultura secundária, para trabalhar na cultura primária.

No Paraná, a formação ‘oficial’ para ensinar Matemática nas Escolas Normais dos anos de 1920 advém de dois tipos de ‘formações’: a primeira, para a instrução geral do normalista, na Matemática ensinada no chamado Curso Geral e a segunda, nas Metodologias da Aritmética e da Geometria onde os conteúdos para ensinar Matemática estão atrelados àquilo que era ensinado dessa matéria no ensino primário.

Assim, a organização das disciplinas e dos programas de Matemática da Escola Normal caminhava numa via de mão dupla: havia as disciplinas para a instrução geral dos normalistas em disciplinas que eram Aritmética, Álgebra e Geometria e, como em São Paulo, “constituem conteúdos de referência, que parecem permanecer imutáveis na formação do magistério primário” (VALENTE, 2006). No caso do Paraná, os programas dessas disciplinas eram idênticos aos do Ginásio Paranaense, e que não eram pautados nas necessidades do professor primário para ensinar os conceitos matemáticos aos seus alunos; por outro lado, havia as disciplinas Metodologia e Prática de Ensino, que ensinavam entre outras matérias, a Aritmética e a Geometria para ensinar nas Escolas primárias, sendo propostas de acordo com os programas dessas escolas. Quanto aos métodos de ensino, a dualidade se repetia: os normalistas aprendiam por métodos tradicionais aquilo que deveriam ensinar pelo método intuitivo.

Da mesma forma que nos dizeres de Valente (2006) sobre a formação de professores primários paulistas, nesse estado também “O ‘como ensinar’ aparta-se do ‘o quê ensinar’ nos cursos normais. Prima-se pela formação geral do professor, com um currículo enciclopédico, que vá capacitá-lo aos ensinos através de estágios práticos” nas Escolas de Aplicação (VALENTE, 2006). Os normalistas paranaenses, cuja formação matemática advinha de um ensino clássico e de caráter propedêutico e preparatório ao nível superior, terminavam o Curso Normal com uma certificação que os habilitava a lecionar a matemática da vida prática, por meio do método intuitivo e com diferentes materiais didáticos. Em suma, formavam-se numa escola de cultura elitista para lecionar em escolas de cultura popular, adquiriam um saber matemático avançado para lecionar os saberes matemáticos, voltados às necessidades da vida.

Em função dessa dupla situação, houve orientações do Diretor da Escola Normal Lysímaco da Costa em seu Projeto de Reforma do Ensino Paranaense a esse respeito, sobre todas as disciplinas e na postura do lente responsável, com a prática na Escola de Aplicação, inclusa aí, a Matemática:

A obrigação do professor de uma cadeira do curso geral é ensinar a methodologia respectiva no curso especial, levando ao mesmo tempo os alumnos á pratica diaria das lições dessa doutrina e fazendo cumprir os programmas do ensino primário, na Escola de Applicação, resolve um duplo problema que constitui duas grandes aspirações a realizar no ensino normal – a de pôr o lente da Escola Normal em contato com o ensino primário, do qual se acha divorciado, e a de obrigar o futuro normalista a praticar em todas as lições que mais tarde deverá ministrar á frente da sua escola.

Assim, o lente da Escola normal conhecerá mais de perto as necessidades do ensino primário, guiando seus alumnos na pratica desse ensino e saberá apreciar melhor para a formação do professor, o valor relativo das doutrina que professa em sua cathedra, sem faltas lamentáveis ou sem excessos desnecessários na execução de programmas.

Por sua vez ao alumnos, ao serem diplomados, estarão perfeitamente senhores dos programmas de ensino que deverão executar e do modo mais eficaz dessa execução (PARANÁ, Relatório Alcides Munhoz, 1924, p. 68).

Apoiamo-nos na historiografia existente para afirmarmos que há fortes indícios dessa desconexão entre os profissionais de um nível de ensino e os processos de ensino do nível imediatamente anterior. De acordo com as palavras de Alcides Munhoz, esse era o caso dos professores das Escolas

Normais em relação às Escolas Primárias. Estudando ”A disciplina Complementos de Matemática na formação dos Pedagogos em meados do Século XX”, Neuza Bertoni Pinto (2013), a autora considerou que “é possível identificar a filiação da disciplina à cultura profissional dos formadores, um rastro deixado nas representações profissionais dos formandos por aqueles que para além da sala de aula conquistaram status profissional no meio acadêmico” (PINTO, 2013, p. 11).

Há duas possibilidades de análise para as consequências da indicação contida na proposta de Lysímaco da Costa de maior aproximação entre a Escola Normal e a Primária: na primeira, os lentes das diversas disciplinas se adequaram à proposta de Reforma ensinando os conceitos das disciplinas aos normalistas e os efeitos foram positivos, com esses normalistas aprendendo, a Matemática dos programas da Escola Normal e aplicando para seus alunos quando já formados; e a segunda possibilidade, que nos parece mais provável, de que ao tentar se adequar às necessidades da escola primária os lentes tenham, aos poucos modificado os programas, gerando uma mudança nos conteúdos matemáticos das Escolas Normais. Nesse caso, seria justificado o discurso recorrente, numa visão do matemático, de que a Matemática ensinada nas Escolas Normais é mais fácil porque é voltada para o Ensino Primário e não para preparar para a entrada no Ensino Superior, não havendo, portanto, necessidade do ensino de conteúdos matemáticos mais complexos.

A segunda possibilidade poderia já estar incorporada à cultura da escola. Em sua definição sobre o que é entendido por cultura escolar, Julia (2001, p. 10-11) destaca que:

Normas e práticas não podem ser analisadas sem se levar em conta o corpo profissional dos agentes que são chamados a obedecer a essas ordens e, portanto, a utilizar dispositivos pedagógicos encarregados de facilitar sua aplicação, a saber, os professores primários e os demais professores. Mas, para além dos limites da escola, pode-se buscar identificar, em um sentido mais amplo, modos de pensar e de agir largamente difundidos no interior de nossas sociedades, modos que não concebem a aquisição de conhecimentos e de habilidades senão sociedades, por intermédios formais de escolarização [...] (JULIA, 2001, p. 10-11).

Nesse quarto capítulo, apresentamos o resultado da nossa busca por vestígios da formação matemática dos professores primários do Paraná e do entendimento de como a matemática foi se desenvolvendo ao longo de dezesseis anos nas Escolas Normais da Primeira República (1920-1936).

Assim, destacamos os Programas e métodos para o ensino das disciplinas que proporcionavam aos normalistas a formação para ensinar Matemática no Curso Primário do Paraná. Procuramos também, saber o que dizia a legislação do período estudado e o que dizia o ideário em circulação nos documentos relativos às Escolas Normais.

Devido à dificuldade de encontrarmos fontes não nos aprofundaremos na análise relativa às práticas dos professores, entretanto, precisamos “levar em conta o corpo profissional” (JULIA, 2001, p. 10) das Escolas Normais do Paraná para entender suas posturas e ações e as possíveis implicações no cumprimento do seu ofício.

Então, quem eram os professores que ensinavam Aritmética, Álgebra e Geometria aos normalistas? Pedagogos, Engenheiros ou matemáticos? Que implicações essa formação poderia trazer para o ensino de matemática das Escolas Normais? Situaremos essas questões inseridas na retomada da formação matemática desses professores, antes do aumento do número de Escolas Normais no Paraná.