• Nenhum resultado encontrado

Como já foi dito, foram as Reformas Educacionais Estaduais um dos fatores que impulsionaram as mudanças educacionais da década de 1920 e cujo ideal reformador deu origem ao texto do Manifesto dos Pioneiros. Tais Reformas “significaram a estruturação de sistemas educacionais, antes inexistentes” (COSTA; SCHENA e SCHIMIDT, 1997, p. 5).

A primeira Reforma, realizada em São Paulo no ano de 1920, foi conduzida

por Sampaio Dória26; em 1922-1923 foi a vez da reforma no Ceará por Lourenço

Filho27 e no Distrito Federal em 1927 realizada por Fernando de Azevedo28.

Romanelli (1984) elucida que houve ainda as reformas nos estados: de Pernambuco

26 Formado em Ciências Jurídicas e Sociais (1908), Sampaio Dória assumiu em 1914 a Cadeira de Psicologia, Pedagogia, Educação Cívica na Escola Normal Secundária de São Paulo, atuação a partir da qual adquirira uma posição de destaque no campo educacional paulista, nas primeiras décadas o século XX. Participou da Liga Nacionalista de São Paulo, a partir de 1917. Em 1920, assumiu a Diretoria Geral da Instrução Pública, dirigindo a Reforma Educacional, que ficou conhecida pelo seu nome. No final dos anos de 1920, saiu da Escola Normal, mas permaneceu como professor da Faculdade de Direito de São Paulo, passando a dedicar-se à carreira jurídica e pública.

27 Lourenço Filho foi acima de tudo, educador e pedagogo, depois advogado e administrador. Conhecido sobretudo por sua participação no Manifesto dos Pioneiros e pelo movimento da Escola NovaSofreu duras críticas por ter colaborado com o Estado Novo de Getúlio Vargas. Foi um intelectual educador extremamente ativo e preocupado com a escola em seu contexto social e nas práticas pedagógicas.

28 Fernando de Azevedo nasceu em São Gonçalo do Sapucaí – MG, em 20 de abril de 1894 e faleceu em 17 de setembro de 1974. Embora formado em Direito, optou pelo Magistério. Em 1920 lecionou na Escola Normal de São Paulo a cadeira de latim e literatura. Paralelamente ao Magistério se dedicou ao jornalismo e foi como jornalista que publicou o Inquérito sobre a Instrução Pública no Estado de São Paulo e que “granjeou-lhe grande notoriedade no campo educacional” (SAVIANI, 2011, p. 208).

em 1928, por Carneiro Leão; em Minas Gerais, em 1927 com Francisco Campos e

no mesmo ano, no Paraná, com Lysímaco Ferreira da Costa29; na Bahia, foi em

1928, por meio de Anísio Teixeira30.

Não foi por acaso que as Reformas na Instrução dos diversos estados brasileiros apresentavam características comuns. De acordo com Bomeny (1993, p. 24):

[...] cruzando o país, os profissionais da ciência [...] chega a vez dos educadores, espalhados pelos estados com seus experimentos empíricos, um verdadeiro laboratório de reformas, idéias e projetos, inspirados, em sua grande maioria, em modelos estrangeiros. [...] Belisário PENA, Artur NEIVA, Carlos CHAGAS, Clementino FRAGA, Ezequiel DIAS - os cientistas da saúde —, e Anísio TEIXEIRA, LOURENÇO FILHO, Fernando de AZEVEDO, Francisco Campos — os cientistas da pedagogia. (BOMENY, 1993, p. 24).

Além de serem contemporâneos na formação, os intelectuais do período empreendiam viagens nas quais trocavam informações e experiências com outros intelectuais.

As mudanças sugeridas pelas Reformas Estaduais para a Educação brasileira deveriam atender às necessidades da nação em seu ideal de

modernidade31. Tais mudanças estavam pautadas em novas teorias e métodos

educacionais, oriundos de pedagogos europeus e americanos, como Maria Montessori, Froebel e Dewey e dos quais seriam extraídas as ideias e os métodos necessários às mudanças na realidade educacional e social do país.

29 Lysimaco Ferreira da Costa, nascido no Paraná, faleceu aos 48 anos com uma carreira política brilhante no estado em que nasceu. Seus maiores feitos na Instrução Pública se referem à publicação das "Bases Educativas para a Organização da Nova Escola Secundária do Paraná", e dois anos após, quando assume o cargo de Diretor Geral do Ensino do Estado do Paraná, substituindo, Cesar Prieto Martinez. Foi também, professor de Physica. Chimica Agronomia e diretor da Escola Normal. Em 1928, assumiu a Secretaria da Fazenda do Paraná. Faleceu em 1941. (cf. Costa, org., 1995). 30 Anísio Teixeira, baiano, jurista, intelectual, educador e escritor brasileiro. Personagem central na história da educação no Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros, difundiu os pressupostos do movimento da Escola Nova, que tinha como princípio a ênfase no desenvolvimento do intelecto e na capacidade de julgamento, em contraponto à memorização. Entre outros feitos, Anísio Teixeira foi pioneiro na implantação de escolas públicas de todos os níveis, que refletiam seu objetivo de oferecer educação gratuita para todos.

31

Esse ideal de modernidade perpassava o ideário de um “projeto de nacionalidade e de racionalidade capitalista, cujo instrumento seria a educação” (COSTA, SCHENA e SCHMIDT, 1997, p. 81) e foi na década de 1920 “que a versão tradicional da pedagogia liberal foi suplantada pela versão moderna” (SAVIANI, 2011, p. 177). Embora possamos ter diversos significados para o termo ‘modernidade’ como aponta Carvalho (1999) e Nagle (1977), entre outros, o referido termo explicita aqui uma postura e que passava por uma Educação que tivesse novos métodos que romperiam com a Educação mais tradicional e que não mais cumpria o seu papel social.

Quanto à Reforma no Paraná, faz-se necessário entender primeiramente, alguns aspectos econômicos e sociais da Educação das duas primeiras décadas do século XX: o Paraná era um Estado em franca expansão, apresentando um grande desenvolvimento econômico. No censo de 1920, de acordo com Trindade e Andreazza (2001), o Paraná ocupava o 13º lugar no país e sua população atingia 685.711 habitantes, 2,2% da população brasileira. Nesse tempo, com os governantes providenciando a organização de forças policiais para a vigilância, criavam-se os “padrões de comportamento adequados a um novo convívio urbano” (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001, p. 72), denotando no Paraná, as características dos grandes centros urbanos.

Na apresentação do livro “O Estado do Paraná”, do ano de 192332, o editor

Roberto Capri, proporciona ao leitor aspectos singulares sobre esse Estado brasileiro e seu progresso:

O Paraná, e podemos affirmal-o sem receio de erro ou exaggero, offerece a todas as formas de trabalho humano, um campo favorabillíssimo, dotado como é de excellente clima, de esplêndidas terras e de grandes reservas mineraes. [...] e a sabia Administração do seu Governo e das suas Municipalidades, tudo concorre para tornar o Paraná um Estado dos mais privilegiados da Federação brasileira (CAPRI, 1923, p. 03).

No mesmo Volume, Ermelino de Leão33 (1923) afirma que dos 14.600

habitantes recenseados em 1882, já havia no Paraná do início dos anos de 1920, cerca de 700.000 habitantes. Tais dados confirmam os registros de Trindade e Andreazza (2001) e demonstram o crescimento desse Estado num intervalo de aproximadamente 50 anos.

A cultura, no contexto citadino, se fazia também por meio de teatros, cines- teatros e ‘cynematographos’. Muitas cidades do Paraná do início do século XX contavam com cinemas, entre as quais, Curitiba, Ponta Grossa, Castro e Paranaguá. E “inovação das inovações, em 1924 foi inaugurada em Curitiba a

32 A publicação “O Estado do Paraná” foi editado pela Empreza Editora Brasil e seus autores são CAPRI & OLIVERO. A data é escrita em algarismos Romanos, MCMXXIII (1923). O exemplar pode ser encontrado na Biblioteca Diva Vidal, do Instituto de Educação Caetano Munhoz da Rocha, antiga Escola Normal Primária, em Paranaguá (CAPRI & OLIVERO, 1923, capa).

33 Agostinho Ermelino de Leão nasceu em Paranaguá a 25 de março de 1834. Foi presidente da Província do Paraná por diversas vezes: de 19 de agosto a 18 de novembro de 1864, de 23 de março a 15 de novembro de 1866, de 28 de agosto a 26 de novembro de 1869, de 3 de maio a 24 de dezembro de 1870 e de 2 a 8 de maio de 1875.

primeira estação de rádio do Estado, terceira do país. Era a Rádio Clube Paranaense [...]” (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001, p. 76). De acordo com essas autoras, nesse tempo, outro local privilegiado de lazer foram os clubes, que proliferaram nas grandes e pequenas cidades do Paraná. As praças e locais públicos já estavam sendo aprimorados desde a virada para o século XX e se constituíam áreas de lazer público em grandes e pequenas cidades.

Trazia o Paraná dos anos vinte, a marca dos seus imigrantes que junto com sua cultura trouxeram seus professores e construíram suas escolas, nas quais essa cultura, seu idioma, valores e religião eram transmitidos em uma organização didático-pedagógica voltada para a sua própria cultura (PARANÁ, Relatório Cesar Martinez, 1920). Nesse tempo, aumentou também em todo o estado do Paraná, o número de escolas particulares, “dos pequenos estabelecimentos, às escolas de

maior prestígio34” (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001, p. 82).

Assim, no Paraná da Primeira República o ideal de formação da criança e do jovem era sua instrução de maneira global cuja base seria o tripé: formação moral, intelectual e física, porém, sem descuidar da ‘nacionalização’ dos imigrantes e do

cultivo da valorização da nacionalidade35 em todos os brasileiros.

Nesse contexto, o projeto para a educação paranaense estava inteiramente relacionado ao Projeto Republicano que permeava os projetos dos demais estados do Brasil. Embora tenha sido um período de grandes reformas na Educação, o

sistema de ensino público no Paraná não havia ainda sido organizado36 ao longo

dos anos de 1920.

Com a finalidade de organização e inovação da instrução pública, Miguel (1997) afirma que o Estado do Paraná foi o segundo no Brasil a propor uma Reforma Educacional. Apesar de possuir a economia especialmente voltada para a exploração a erva mate e da madeira, já se começava a cultivar também o café

34 Entre as escolas particulares laicas, com o decorrer do tempo, aumentaram o número de escolas de imigrantes, que não raro eram construções precárias nos lugares mais distantes e apresentavam melhores condições nas cidades, “caso da Escola Communa Alemã de Curitiba”. As escolas particulares laicas opunham-se as confessionais, introduzidas gradativamente no Estado do Paraná de 1880 a 1930. (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001, p. 82).

35

Maria Cecília Marins de Oliveira (1999) expõe que a questão da nacionalidade foi ressaltada pelas autoridades que temiam a “desnacionalização” por alunos das escolas estrangeiras gerando em 1920 a Lei 2005/1920, que determinou o ensino compulsório em língua nacional nessas escolas. Oliveira explica ainda que “Em muitos casos, havia escolas que ensinavam na língua do grupo - polonês, italiano ou alemão – num desconhecimento total da língua nacional, com a ideia de preservação da identidade cultural” do país de origem do grupo (OLIVEIRA, 1999, p. 6).

36 A autorização para a criação da Inspetoria Geral do Ensino e remodelação do Ensino Primário foi aprovada no Congresso pela Lei Nº 1999/1921 (PARANÁ, Mensagem de governo, 1921).

nesse estado e, em última instância, a industrialização começava a se instalar e, minimamente, a influenciar também a Educação.

Miguel (1997, p. 22), explica ainda que a industrialização nos anos de 1920 “[...] gestou modificações sócio-econômicas e político-culturais, propiciando alterações no contexto educacional, entre as quais, a reforma do ensino”. A escola agora não mais servia somente para a formação das elites, era uma escola para todos e necessária também para organizar a mão de obra mais qualificada do trabalhador que ajudaria a construir a nação.

No ano de 1917 o Paraná registrava uma população escolar de 15.101 alunos de ambos os sexos e , em 1922, esse total já havia alcançado 34.676 alunos (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001, p. 80).

Apesar do número crescente de matrículas e do aumento do número de escolas, havia ainda a necessidade de novas escolas e professores para atendê-las. As ações relacionadas à educação têm origem nas questões políticas e sociais e emergem por determinadas necessidades que impulsionam tais ações. Para Barros (2011, p.51):

Um sistema educativo inscreve-se em uma prática cultural, e ao mesmo tempo inculca naqueles que a ele se submetem determinadas representações destinadas a moldar certos padrões de caráter e a viabilizar um determinado repertório linguístico e comunicativo que será vital para a vida social, pelo menos tal como a concebem os poderes dominantes. (BARROS, 2011, p. 51)

O autor explica que nesse caso e em muitos outros, as “práticas” e “representações” são sempre resultantes de determinadas “motivações e necessidades sociais” (BARROS, 2011, p. 51). No Paraná, como em todo o Brasil, a instrução pública continuava a preocupar os governantes, pois a concepção do período era de que somente pela instrução popular o país conseguiria a estrutura necessária para o seu crescimento e alfabetizar a população era o mínimo necessário para que se conseguisse galgar o primeiro degrau nessa ‘missão’.

De 1920 até 1924, a Inspetoria Geral da Instrução Pública37 do Paraná foi

administrada por César Prieto Martinez que detalhava em seus Relatórios38 para o

37

A “Inspectoria Geral da Instrucção Pública” tinha em seu comando o Inspetor Geral do Ensino, cujas atribuições eram a organização e administração da Instrução Pública paranaense. (STRAUBE, 1993).

então Presidente do estado do Paraná, Caetano Munhoz da Rocha, as ações empreendidas sob seu comando, visando a reformulação da Instrução Pública, aliada ao projeto republicano.

Martinez também sugeria propostas que tiveram na década de 1920 um momento de efetivação no campo da Educação. Em seu relatório do ano de 1920,

enviado para o então Presidente do Estado, Caetano Munhoz da Rocha39, Martinez

(PARANÁ, Relatório Cesar Prieto Martinez, 1920, p. 25), enfatiza a necessidade de elaboração de um novo Código de Ensino:

As necessidades de épocas successivas, acompanhando a marcha dos factos, requerem de continuo novas leis, regulamentos diversos, a instituição de novos direitos e deveres que não existiam. O código de ensino do estado, feito para as condições de hontem, exige agora accrescimos e suppressoes, que o adaptem ao estado actual do apparelhamento escolar e à orientação escolar que vem sendo imprimida. [...] Peço a Vossa Excelência que seja apresentado ao Congresso um projetcto de lei para o novo código, de accordo com as idéias que presidem a reforma do ensino. (PARANÁ, Relatório do Inspetor Geral da Instrução Pública, 1920, p. 25).

Antes do projeto de reforma da Instrução Pública do Paraná, proposto por Caetano Munhoz da Rocha, esse Estado havia tido, ainda na primeira República, duas importantes reformas no ensino, que se traduziram no Código de Ensino de

38

Os Relatórios de Governo começaram a ser confeccionados com a emancipação da Província do Paraná, em 1853. Elaborados devido a uma exigência contida em um Aviso Circular Imperial, do ano de 1848, todo ocupante do cargo de presidente da Província e depois de governador do Estado, tinha o dever de no início de um novo ano apresentar à Assembleia provincial/estadual um Relatório, uma mensagem ou uma exposição prestando contas da situação da Província/Estado do período anterior. Em suma, tais documentos elaborados até os atuais dias constituem um retrato da situação do Paraná nos mais diversos períodos. Sobre os Relatórios de Governo – Arquivo público do Paraná. Disponível em: http://www.arquivopublico.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=44. Acesso em 21/08/2014. As mensagens dos presidentes de Estado, dos interventores e dos governadores constituem- se em documentos enviados ao Congresso Legislativo e à Assembleia Legislativa por ocasião da abertura do ano legislativo. Compostas por diversas seções, relatam as iniciativas do executivo e de seus secretários, no que se refere às práticas de governo (SCHELBAUER, 2014).

39 Caetano Munhoz da Rocha nasceu em Antonina em 14 de maio de 1879. Em 1896, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, concluindo o curso em 1902. Em 1904, foi eleito deputado ao Congresso Legislativo do Paraná para o biênio 1904-1905; foi reeleito para várias legislaturas. Em 1908, foi eleito prefeito de Paranaguá para o quatriênio 1908-1912; reelegeu-se para o período 1912-1916 e renunciou ao cargo em 1915. Foi eleito vice-presidente do Paraná para o quatriênio 1916-1920. Assumiu a presidência do estado em 1920-1924 e foi reeleito para 1924-1928. (cf. Coleção “Genealogia Paranaense” organizada por Francisco Negrão e ilustrações de Pedro Macedo. Curityba: Impressora Paranaense, 1926, 1o. volume, p. 246-248). Enquanto Presidente do Estado, Caetano Munhoz da Rocha beneficiou a Educação paranaense criando uma Inspetoria Geral do Ensino e sancionando o projeto de lei que dimensionava nova distribuição das escolas públicas do Estado.

191540 e no Código de Ensino de 1917, dos quais Martinez faz referência implícita em seu relatório.

No final da 1ª Guerra Mundial, o entusiasmo pela educação deu origem ao Código de Ensino de 1917 (PARANÁ, Decr. nº 17/1917, p. 9-91), que enfatizava a propagação do ensino e a promoção de conferências visando a valorização da educação e a formação dos professores. Repetia bastante o Código de 1915 e o nacionalismo estava presente nos programas de várias Matérias. Ainda visando a formação dos professores em relação aos métodos e técnicas do ensino moderno, este Código criou a Revista Pedagógica.

De acordo com Martinez (1920), a necessidade do Estado de uma reorganização educacional advinha não somente das questões pedagógicas, mas também administrativas, visto que a economia paranaense e o crescimento do Estado dependiam de uma boa organização educacional. Enfatizava por isso, que “[...] os méthodos, bem processados, representam o que de melhor pode ter um apparelho escolar, mas do funccionamento desse apparelho é que dependem os fructos que taes méthodos pretendem produzir.” (PARANÁ, Relatório do Inspetor Geral da Instrução Pública, 1920, p. 05).

Cesar Martinez, muito além das questões pedagógicas, tinha também uma preocupação especial com a administração do Sistema Educacional do qual era o responsável, visando uma construção sólida de suas ideias. Essas características aparecem em seus Relatórios de 1920 à 1923 e na sua forma de conduzir o Aparelho Educacional paranaense daquela década. No que se refere à Reforma paranaense da Instrução pública, observamos esse fato por suas palavras na entrevista concedida à Revista Nacional (1923), ainda em exercício na função de Inspetor Geral da Instrução Pública do Paraná:

40

O Código de Ensino de 1915 foi aprovado em 1915 (PARANÁ, Decr. nº 710/1915, p. 335-95) e regulamentou as leis especiais, instituídas desde 1901, a partir de escolas maternais, jardins de infância, seriação do ensino em quatro séries consecutivas e categorização dos tipos de escolas, em simples, ambulantes, combinadas ou grupos escolares. Um curso intermediário foi criado entre o Ensino Primário e o Ensino Secundário. Em relação aos professores, o Capítulo III desse Código do Ensino trata do Magistério Publico Primário e o Capitulo IV, das faltas de comparecimento dos professores.

Figura 1 - Entrevista de Martinez à Revista Nacional Fonte: Revista Nacional, Vol. 06 1923, p.353.

Ainda nessa entrevista, Martinez explica que em sua Reforma procurou implantar diversas inovações na Instrução Pública sem, contudo, desagradar os professores mais antigos.

No tocante ao contexto político do país, ao longo dos anos de 1920, muitas crises abalavam a República Brasileira. Em 1922 elege-se Presidente do Brasil,

Artur Bernardes41, cujo governo sofreu a oposição das revoltas tenentistas e do

movimento operário. O Brasil ficou em estado de sítio durante os quatro anos de seu

mandato. Nesse mesmo ano, foi fundado o Partido Comunista Brasileiro42 (PCB) e

realizada a Semana da Arte Moderna43 em São Paulo.

Com a criação da Associação Brasileira de Educação – ABE em 1924, começaram as Conferências Nacionais de Educação, sob o seu patrocínio, sendo que a primeira delas foi realizada em Curitiba, de 19 a 23 de dezembro de 1927, com a organização de Lysímaco Ferreira da Costa, nessa época, Inspetor Geral da Instrução Pública do Paraná.

Antes porém, da realização dessa primeira Conferência Nacional, Lysímaco da Costa já havia coordenado em Curitiba o I Congresso do Ensino Primário e Normal, que havia sido promovido pela Inspetoria Geral do Ensino. Esse primeiro Congresso realizou-se de 19 a 22 de dezembro de 1926. Seu objetivo era a

41 Artur da Silva Bernardes nasceu em Viçosa – MG em 08 de agosto de 1875. Formado na Faculdade Livre de Direito, foi também político, passando pelo cargo de vereador e presidente da Câmara Municipal de Viçosa em 1906. Foi deputado federal (1909 -1910) e Secretário de Finanças de Minas Gerais em 1910. Foi eleito para um novo mandato de deputado federal (1915-1917), tornando-se o líder principal do Partido Republicano Mineiro. Foi também Presidente de Minas Gerais (1918-1922) e Presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926. 42

De acordo com Saviani (2011), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi fundado em 1922 com a participação de um grupo de anarcossindicalistas e, embora tenha sido posto na ilegalidade no mesmo ano de sua fundação. O PCB constituiu o Bloco Operário-Camponês e lançava pro essa via candidatos a postos eletivos e teve participação em vários setores, incluindo a Educação. O PCB estava integrado ao processo que desembocou na Revolução de 1930.

43

A Semana de Arte Moderna ocorreu em São Paulo no ano de 1922, no Teatro Municipal da cidade e seu objetivo era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade. O governador Washington Luís, apoiou o movimento e patrocinou a apresentação de artistas do Rio de Janeiro.

apresentação e debate de temas ligados à Educação elementar e secundária do Paraná. O Jornal “O Estado do Paraná” noticiou em sua edição do dia 11 de dezembro de 1926 que esse Congresso tinha “o fim de tratar de assumptos pedagógicos que se relacionem com á unidade e melhoramento do ensino público e particular do Paraná” (O ESTADO DO PARANÁ, 11/12/1926). Noticiou também que os participantes deveriam ser “os diretores e professores das Escolas Complementares; os diretores e professores dos Colégios particulares; os diretores