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3.1 NAS BASES EDUCATIVAS, A NOVA ESCOLA NORMAL PARANAENSE

3.1.3 No entrelaçamento das bases, alguns pontos comuns

A construção e instauração das três primeiras Escolas Normais do Paraná simbolizam muito mais do que um edifício ou uma escola, traziam em si o símbolo do progresso, pela educação e qualificação dos seus futuros professores primários. Para toda a população paranaense, constituíam-se verdadeiros ‘Palácios do Saber’, como foi chamada a Escola Normal de Curitiba. A pesquisadora Rosa Fátima Souza (1998) em seus estudos sobre os Grupos Escolares paulistas destaca que os edifícios construídos para abrigar esses Grupos Escolares e, posteriormente as Escolas Normais, obedeciam também a um Projeto de República calcado na ordem, moral, higiene e valores patrióticos. Desse modo, a construção desses edifícios tinha como finalidade política “extrair todo o sentido da escola graduada como ‘templo de civilização’, voltada a moralizar e civilizar a população brasileira” (SOUZA, 1998, p. 285). As mesmas finalidades políticas teve a construção das Escolas Normais paranaenses, visto que, da mesma forma que os Grupos Escolares paulistas, os prédios construídos para abrigar as Escolas Normais do Paraná eram verdadeiros palácios que simbolizavam a “Instrução Pública” voltada para educação e formação dos professores primários desse estado, buscando “convencer” ao “dar-se a ver” (SOUZA, 1998, p. 284).

Dessa forma, além das Reformas educacionais que se propagaram em muitos estados brasileiros e também no Paraná, o nascimento de mais Escolas Normais teve causas políticas e sociais se deve a um encadeamento de necessidades que surgiram com a evolução da economia que deixava de ser

agrícola e passava a ser também industrial e com a chegada das primeiras colônias estrangeiras que se instalaram em diversos pontos do Estado, forçando a expansão do ensino primário e, em função disso a necessidade de instituições de ensino adequadas à formação de mais professores para suprir a demanda que crescia.

Nas Escolas Normais repousavam as esperanças da população e das autoridades no que se refere à formação adequada dos futuros professores do Paraná, tanto da Escola Primária como dos futuros formadores de novos professores. Segundo as palavras de Martinez (PARANÁ, 1924, p. 110), as Escolas Normais se constituíam em:

[...] fontes preciosas destinadas a reformar o quadro de professores que tomará a si a tarefa honrosa de educar a infancia do sertão e da cidade, pois que localizadas em pontos differentes do Estado, terão a concurrencia de candidatos vindos das cidades e dos sertões. (PARANÁ, Relatório Cesar Martinez, 1924, p. 110).

A Escola Normal Secundária foi sem dúvida modelo para as outras duas Escolas Normais Primárias que vieram depois. Estas últimas, por haverem sido criadas pelo mesmo Decreto Nº 135, possuíam o mesmo Regulamento e as Normas eram em comuns a ambas.

Embora todas tivessem a finalidade comum de formar professores para suprir a demanda do estado que crescia, havia para cada uma, finalidades diferentes em relação ao lugar geográfico que ocupavam. Apesar dessas diferenças, algumas características eram comuns a todas: os Programas, as formas de seleção para seus alunos e docentes; o período e o tempo previsto para cada aula, os exames escolares finais e outras.

Em todas havia seleção para ‘entrada’ e ‘saída’ do Curso Normal. Se havia algumas barreiras para entrar, havia também para concluir esse Curso. Desde as primeiras providências para o acesso até a conclusão, a seleção se dava de diversas formas.

Quanto aos exames escolares finais, para a promoção dos alunos, parece que apresentavam grau de dificuldade idêntico aos exames de seleção para o Curso Normal dessas Escolas. Havia provas parciais e finais, além dos exames para os alunos que não obtivessem a aprovação por média, que seria

a nota mínima 3,5. O normalista poderia ser aprovado com distinção se sua média fosse acima de 8; plenamente, com médias entre 6 e 7,9 ou simplesmente se sua média fosse até 5,9. Caso obtivesse média abaixo de 3,5, o aluno seria reprovado.

As sabatinas parciais, finais e os exames eram tão discutidos nas reuniões de congregação das Escolas Normais do Paraná quanto os programas e os métodos a serem seguidos. Essas reuniões eram também momentos privilegiados para as discussões dos encaminhamentos dados às atividades aplicadas em classe e para casa, a fim de que o aluno aprendesse e pudesse ser avaliado. A ata Nº 2 da Reunião de Congregação da Escola Normal Primária de Paranaguá do dia 28 de abril de 1934, trata entre outros assuntos, das atividades que cada professor propõe aos seus alunos, como atividades para casa, interrogatório do assunto dado em aula, arguição do assunto da aula anterior e outros (PARANÁ, 1934).

O professor Guilherme da Motta, diretor da Escola Normal Primária de Paranaguá estabeleceu algumas regras para aplicação das sabatinas nessa Escola, pela Portaria Nº 47 de 1932. O diretor justifica sua resolução, “Considerando que se faz mister que as últimas sabatinas sejam feitas com rigor, porquanto das notas a serem dadas nestas depende a aprovação, por médias, de muitos alunos” (PARANÁ, Portaria Nº 47, 1932) e complementa que “esta diretoria resolveu o seguinte”:

a) As sabatinas terão a duração de 90 minutos improrrogáveis [...];

b) Os alunos não deverão assinar a prova, bastará colocar o número que tiverem no respectivo livro; as provas assinadas serão anuladas; c) Os lentes organizarão uma lista dos assuntos marcados para a

sabatina afim de se fazer, no momento do início, a escolha dos que serão objeto de dissertação ou solução;

d) As listas não podem ser organizadas sem que nelas entrem pelo menos 5 pontos do programa;

e) Três serão os assuntos da sabatina: o 1º será escolhido pelo professor da cadeira; o 2º pelo diretor e o 3º será sorteado;

f) Os alunos deverão estar suficientemente distanciados durante a sabatina; parte dos alunos do 1º ano realizará a prova na sala de desenho (PARANÁ, Portaria Nº 47, 1932).

Nos anos de 1930, embora estivesse surgindo o termo atribuído a Ralph

Tyler90 “avaliação da aprendizagem” e esse autor evidenciasse a relação entre

“instrumentos de avaliação” e “objetivos” (Tyler, 1981, p. 166), na prática permaneceram as provas (sabatinas) e os exames nos moldes tradicionais.

Wagner Valente (2006) ao discutir a avaliação em Matemática no trabalho intitulado “Dos exames para as provas e das provas para os exames” explica que no Ensino Secundário, “O trabalho didático-pedagógico do professor de matemática consistia, então, em fazer com que seus alunos fixassem os pontos”. Aos alunos cabia a memorização e “Com a lista deles, o candidato preparava-se para as provas escritas e orais” (VALENTE, 2006). O autor expõe ainda que “Exames, com provas escritas e orais” constituíam “o modo de avaliar alunos nos diferentes ensinos escolares”, com bancas formadas por professores que priorizavam “a justiça, o rigor e a imparcialidade” e por isso muitas vezes “eram estranhos aos estabelecimentos de ensino” (VALENTE, 2006).

Embora a concepção de avaliação tenha passado por modificações nas três últimas décadas, algumas das deliberações de Guilherme da Motta na Portaria Nº 47 parecem encontrar eco ainda nos dias atuais, como o tempo determinado para as provas, a antecipação da lista de conteúdos para a prova e a prática de provas individuais e sem consulta com o cuidado de separar os alunos entre si.

A importância dada aos exames finais pode ser retratada nas publicações dos resultados finais das escolas do Paraná em jornais comerciais

do período, entre os quais “O Correio do Paraná91”, de Curitiba e “O Diário do

Comércio92”, de Paranaguá.

Outra característica comum às três Escolas Normais paranaenses foi a ênfase dada à formação geral dos normalistas, visto que a carga horária

90 Educador norte americano que se dedicou à pesquisa de um ensino eficiente, Ralph Tyler foi um dos primeiros autores a enfatizar a necessidade de definir claramente os objetivos educacionais como comportamento manifesto do aluno Tyler nasceu em 22 de abril de 1902, em Chicago, em uma família de trabalhadores e faleceu em 1994, tendo se dedicado aos estudos sobre avaliação por pelo menos oito anos. Disponível em: http://abhb.blogspot.com.br/p/ralph-w-tyler.html. Acesso em 12 jan. 2015.

91

O Jornal comercial Correio do Paraná foi criado em com o objetivo de divulgar as notícias de Curitiba e Região Metropolitana.

92 O Jornal “Diário do Comércio” foi criado nos Oitocentos e continua sendo editado no ano de 2015, levando notícias à Paranaguá e demais municípios do litoral do estado.

semanal das disciplinas como Português, História, Matemática e outras era de 4 aulas semanais, enquanto que às disciplinas pedagógicas, como Metodologia, eram dedicadas 3 aulas semanais.

Apesar do trabalho conjunto e colaborativo entre os professores das duas novas Escolas Normais e da Normal Secundária, ao que indicam os Relatórios, parece não ter sido resolvido o problema da necessidade da formação de mais professores para esse estado, visto a continuidade da necessidade de professores nesse estado. Essas questões vinham sendo discutidas desde 1924, quando Martinez explicava em seu Relatório para o Presidente do Estado que:

E, quando em terras muito distantes, o Governo não póde mandar professor, ou este se revela pouco trabalhador, contractam um particular, ainda que de ensino pouco saiba.

Encontram-se ás vezes, professores ambulantes, que contractam os seus serviços por seis mezes ou um anno, até dar ageitada uma turma.

É gente rude, que ensina por vocação, empregando processos atrazados, alguns verdadeiramente extravagantes (PARANÁ, Relatório Cesar Martinez, 1924, p. 106).

Pela dificuldade para se encontrar professores com a formação específica para lecionar nas escolas primárias nos anos de 1920 e 1930, entre as ações das autoridades educacionais, desde os anos de 1920 já havia um projeto de Cesar Martinez para a construção da Escola Normal Complementar de Guarapuava.