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As comunidades indígenas e tradicionais

2.2 Filosofia da Propriedade e Propriedade Coletiva

2.2.3 As comunidades indígenas e tradicionais

Sobre nacionalidade, etnia, tribo e mentalidade etnocêntrica escreve Julio César Olivé, sobre a dificuldade em distinguir etnia de nação, tribo de nação,

280 LIFSCHITZ, Op. Cit. pág. 115 281 LIFSCHITZ, Op. Cit. pág. 118 282 LIFSCHITZ, Op. Cit. pág. 127

posta a realidade social em movimento, repousando a distinção na subjetividade do investigador283 (OLIVÉ, 1993).

Escreve também sobre a soberania como atributo do Estado, história do México, mestiçagem cultural, natividade, política de integração nacional, igualdades política, econômica, social e lei especial indígena. Entende por metafísica a pergunta do que é ser índio, seja pelo critério da língua, seja pelo critério do território, como os grupos indígenas reduzidos pela legislação colonial a “resguardos e congregaciones”, as reservas estadounidenses, o apartheid sulafricano, considerando a organização de castas na Índia ser por nascimento e não território. Viveiros de Castro, igualmente, em entrevista ao Instituto Socioambiental, advertiu tratar-se a pergunta “Quem é índio?” de pergunta jurídica do Estado e não de pergunta antropológica. Entende, igualmente, a autenticidade como invenção da metafísica ocidental284

(CASTRO apud DARELLA & MELLO, 2011, pág. 173).

Para lei especial indígena, Julio César Olivé propõe direito à personalidade jurídica das comunidades indígenas e mestiças, com regime de direito público, como sindicatos, cooperativas e associações profissionais a distinguir-se das sociedades civis e mercantis285 (OLIVÉ, 1993).

283 OLIVÉ, León. La igualdad jurídica. In: OLIVÉ, León. Ética y diversidad cultural, Fondo de

Cultura Económica, México, 2004, Pág. 174

284 DARELLA, Maria Dorothea Post & MELLO, Flávia Cristina de. Laudos antropológicos e sua

contribuição ao direito. In: COLCAÇO, Thais Luzia (org.). Elementos de antropologia jurídica. Conceito, São Paulo: 2011, Págs. 165-201.

Da Constituição do México pode ser referida a discussão em termos de regulamentação do art. 4º e art. 27, inc. VII, parágrafo primeiro, item 4, com a discussão do art. 133, “ley suprema de la nación”, para a Convenção 169 da OIT286 (RIVERA, 1994).

Sobre a natureza jurídica da comunidade indígena inclina-se Sonia Roges Jordy Barbieri para pessoa jurídica de direito privado (BARBIERI, págs. 59-74). Alude o termo comunidade indígena do art. 210, §2º e art. 232, C.F., o termo grupos indígenas do art. 231,§5º, C.F., o termo índios do art. 20, inc. XI, art. 231, caput e §§ 1º e 2º, C.F., o termo populações indígenas do art. 232, C.F. e o termo terras indígenas, art. 231, §3º e art. 67 da ADCT, C.F287. (BARBIERI, 2008, págs. 60 e 61). Em São Paulo, reporta-se o Decreto nº 52.645, para o Conselho Estadual de Assuntos Indígenas. Houve proposta de personalidade jurídica dos povos indígenas para a Declaração Interamericana dos Direitos dos Povos Indígenas288.

Define-se comunidade como um conjunto de indivíduos a partilhar residencialmente habitat, com estratégias de sobrevivência comuns, com cultura comum. É o “sentido de sobrevivência compartilhado289” (ROCHA,

2008, pág. 47).

286 RIVERA, 1994, Op. Cit.

287 BARBIERI, Sonia Roges Jordy. Os direitos constitucionais dos índios e o direito à diferença,

face ao princípio da dignidade da pessoa humana. Almedina, Coimbra: 2008.

288 Séptima reunión de negociaciones para la búsqueda de consensos. Brasília, Brasil, 21 a 25

de marzo de 2006, OEA/Ser.K/XVI GT/DADIN/doc.255/06 rev. 1 25 marzo 2006

O termo comunidade vem do uso feito pelas Comunidades Eclesiais de Base, trata-se de “jargão popular”, segundo Elisa M. Camarote, caracterizando-se pela proximidade geográfica com busca de melhorias de serviços, em contexto urbano, e pela proximidade geográfica com busca de titulação fundiária, em contexto rural290 (CAMAROTE, 2009, pág. 8).

Estuda as comunidades de fundo de pasto de Lages de Aroeiras, Bahia, “os

fechos de pasto, gerais, soltos, abertos, terra do bode solto, o umbu, a caatinga livre” (CAMAROTE, 2009, pág. 12). Relata a luta por classificações

(BOURDIEU apud CAMAROTE, 2009), se povos indígenas, quilombolas ou comunidades tradicionais e o critério de auto-atribuição de identidade da Convenção de 169, compreendendo-as como movimento social, em estudo etnográfico da família extensa com casamentos entre “primos carnais”, caracterizando-se pela conjugação de terras de herança – patrimônio de linhagem – com roças e quintais próximos às casas e terras soltas, com direito costumeiro de uso comum da terra solta: a pastagem comunitária na criação extensiva de caprinos e ovinos (CAMAROTE, 2009).

A Lei 9.985 de 2000 nos arts. 18 e 20 contempla a população extrativista com exploração sustentável dos recursos naturais, com agricutura de subsistência e criação de animais de pequeno porte291 (BENATTI, 2002, pág. 136). O Decreto nº 6040 de 2007 institui a política nacional de desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais.

290 CAMAROTE, Elisa M. Comunidades de fundo de pasto: afinal quem são seus habitantes?

Disponível em: www.ram2009.unsam.edu.ar Acesso em: 13/03/2011.

A noção população tradicional do conservacionismo internacional aplicado ao campesinato amazônico, às sociedades caboclas, do Baixo Rio Negro, passa pela análise de Henyo T. Barreto Filho, a expressar conjuto de valores culturais coletivos relativos ao meio ambiente a orientar políticas ambientais292

(BARRETO FILHO, 2006, pág 110).

Há o zoneamento de parques, com áreas com atividades permitidas e proibidas e a definição “população tradicional” surge no contexto de presença humana em áreas protegidas. O caboclo afigura-se a par da galeria de “tipos humanos

exóticos293” (BARRETO FILHO, 2006, pág. 130), dos caiçaras, caipiras, vargueiros, comunidade pantaneira, comunidade ribeirinha, os jangadeiros, o vaqueiro, o gaúcho, etc.

“O estabelecimento de uma tipologia de ‘personagens histórico-culturais’ leva à

definição de grupos sociais segundo uma combinação de traços substantivos, restituindo, subrepticiamente, a noção de raça e, com esta, a idéia de um código natural no qual cada espécie ou tipo – diferenciado tanto no tempo quanto no espaço – ocupa uma posição biológico-cultural determinada numa escala evolutiva. Trata-se, portanto, de uma noção que, por um lado, conspira contra a autonomia destes grupos decidirem sobre o seu futuro frente às aspirações modernas de níveis de consumo e definição de bem-estar e, por outro, implica uma relação instrumental para com os mesmos, ao torná-los

292 BARRETO FILHO, Henyo T. Populações Tradicionais: introdução à crítica da ecologia

política de uma noção. In: ADAMS, Cristina & MURRIETA, Rui & NEVES, Walter (orgs.) Sociedades Caboclas Amazônicas. Modernidade e Invisibilidade. FAPESP, Annablume, São Paulo: 2006, 109-143

reféns de uma definição exterior de si próprios e do problema que vivem294” (LIMA, 1997, apud NUGENT, 1997 e MURIETA, 1998 apud BARRETO FILHO, 2006, pág. 131).

Refere o Decreto n. 96.944/1988, Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazônia Legal, a Lei 7.735/1989, do IBAMA, o Decreto nº 98.897/1990, sobre reservas extrativistas, o Decreto nº 98.683/1990 da Reserva Extrativista do Alto Juruá, Acre, a Lei 9.985/2000, do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o Decreto Estadual nº 32.412/1990, Estação Ecológica Juréia-itatins, a Resolução nº 11/1993 da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e a Lei Estadual nº 293/1995 sobre a permanência de populações nativas em áreas de conservação, do Estado do Rio de Janeiro295 (BARRETO FILHO, págs. 132, 133 e 134).

Aponta-se o contraste entre a vontade dos atores sociais locais e os interesses de secretarias, órgãos técnicos do Estado e ONGs296 (KOLHY, 2003, pág. 2797). Quanto à constitucionalide do art. 42 da Lei nº 9.985/2000 e os Decretos nº 9.927/1999, nº 4.340/2002 e nº 5.758/2006, Márcia Dieguez Leuzinger analisa a constitucionalidade da criação das unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável em face dos direitos culturais297 (LEUZINGER, 2007, págs. 87-117).

294 BARRETO FILHO, Op. Cit. pág. 131

295 BARRETO FILHO, Op. Cit. pags. 132, 133 e 134

296 KOLHY, Lélio Marcos Munhoz. Espaços territoriais, proteção ambiental e conflitos

socioambientais – questionamento sobre a exclusão das populações tradicionais. Revista de Direitos Difusos, Vol. 20 – Jul.Ago./2003, Esplanada-ADCOAS, Instituto Brasileiro de Advocacia Pública, págs. 2793-2799.

297 LEUZINGER, Márcia Dieguez. Legalidade dos procedimentos de criação de unidades de

Acerca da sobreposição de Unidades de Conservação, lei geral, em terras indígenas, lei especial, admite-se esta possibilidade “desde que as restrições

de seu uso não importem em obliteração do usufruto indígena298” (GAZOTO,

2006, págs. 171-172) e não haja transmissão da posse ao Poder Público.

Há presença indígena Guarani no Parque Nacional Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul; Javaé no Parque Nacional do Araguaia, Ilha do Bananal; e Pataxó, Pataxó Hã-Hã-Hãe no Parque Nacional do Monte Pascoal, Bahia299

(ARAÚJO, 1999, pág. 16).