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As constribuições para o desenvolvimento econômico do Grande ABC

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Rio Grande da Serra e o Regionalismo

1.1 A industrialização no Grande ABC

1.1.2 As constribuições para o desenvolvimento econômico do Grande ABC

O desenvolvimento, acelerado, da indústria em São Paulo impactou não somente no crescimento demográfico que “seduziu” migrantes e estrangeiros que buscavam uma vida melhor. Atraiu, para seu em torno, toda uma estrutura de comércio e serviços, ampliação da mobilidade urbana, além do incremento de meios técnico-científicos. Tudo isso possibilitou que se tornasse uma cidade importante, nas primeiras décadas do século XX, influenciando regiões à sua volta, que, gradativamente, apresentaram crescimento urbano e desenvolvimento industrial.

O Mapa, a seguir, indica a forma como se deu o desenvolvimento das cidades situadas ao redor de São Paulo, o que inclui a região do Grande ABC. Observamos que o núcleo de expansão, que é a própria capital paulista, tem início a partir da década de 1930. Figura 1 – Mapa da evolução da mancha urbana na região em torno de São Paulo

11 Entre 1940 e 1980 o PIB brasileiro expandiu-se em média 6,7% a.a. (CONTI, 1988). Registre-se, contudo,

que em 1969, 35,6% da do PIB já se concentrava em São Paulo (KOWARICK e BRANT, 1976). Fonte: PEREIRA MARQUES (2008).

Este período coincide com as duas Grandes Guerras Mundiais e o “Crash de 1929” (EUA) – momento de fragilidade econômica mundial – testemunhando, no Brasil, duas “eras” de notável desenvolvimento econômico.12 Tanto o presidente Vargas (1930-1945),

com um impeto nacionalista – adotando uma indústria de base capaz de aliviar as importações – como Kubichek (1956-1961), reconhecido por seu plano de metas – construindo grandes obras, como rodovias e hidrelétricas –, procuraram fortalecer a indústria nacional (FRENCH, 1995; CONCEIÇÃO, 2004).

Os principais motivos que levaram a região do ABC a concentrar tamanho parque industrial estão relacionados a um contexto nacional e internacional favorável (…) [regidos pela] introdução de uma política governamental de incentivo à industrialização, particularmente a substituições de importações na área de bens de consumo duráveis e ao setor automobilístico (CONCEIÇÃO, 2004).

Além da contiguidade territoral com São Paulo – importante mercado consumidor e gerador de mão de obra –, o Grande ABC (figura 2) se valeu, também, de sua proximidade com o Porto de Santos (figura 3), essencial para seu desenvolvimento, sobretudo pelas vantagens econômicas que proporcionou, por exemplo, menor custo de exportação, principalmente relacionado com o transporte de produtos (CONCEIÇÃO, 2004). Nesse aspecto, a construção de rodovias, como a Via Anchieta (em 1947) e Imigrantes (década de 1970) foi fundamental para a proximidade com a cidade portuária (KLINK, 2001).

Figura 2 – Mapa da Região do Grande ABC / Divisão administrativa dos sete municípios

12 O referido “desenvolvimento econômico” não atingiu, equitativamente, todas as camadas da população. A

distribuição de riquezas produzidas ocorreu de forma desproporcional entre os mais ricos e os mais pobres. Mesmo nesse período de crescimento, surgiram favelas e periferias.

Figura 3 – Mapa da localização do Grande ABC entre São Paulo e Baixada Santista

No início do século XX já havia indústrias na região. Algumas de relativa importância e concentradas no ramo moveleiro e têxtil (FRENCH, 1995; PRAUN, 2012). Um exemplo é a Tecelagem Ipiranguinha, com aproximadamente 500 funcionários. Situada na localidade em que atualmente está o município de Santo André protagonizou, em 1906, uma das grandes greves da região (FRENCH, 1995; SILVA, 1996). Destaque-se que nesse período (até 1932) ocorreram importantes movimentos operários liderados por

sindicatos anarquistas e comunistas, tanto na região de São Paulo como na região do

Grande ABC.13 Na época, além das questões salariais, a diminuição da jornada de trabalho

para oito horas e a regulamentação de um Código de Menores, que reivindicava uma jornada de seis horas para menores de 18 anos, estavam entre as principais lutas (SILVA, 1996).

No que diz respeito ao setor automobilístico, a General Motors já havia se instalado, em 1930, na localidade que atualmente está situada a cidade de São Caetano do Sul (PRAUN, 2012). Aqui se destaca a proximidade do município com a “estrada de ferro” que também fazia importante ligação com o Porto de Santos (KLINK, 2001). Mas o impulso industrial, e suas consequentes transformações, se dão pela implantação, a partir de 1950,14 de indústrias automobilísticas (montadoras e autopeças), entre elas a

Volkswagen, Mercedes-Benz e Karmann-Ghia (KLINK, 2001; GARCIA, 2007; PRAUN,

13 Entre os anos de 1932 e 1937, o movimento operário entra em uma nova fase com a implantação, pelo

Governo Vargas, de Leis Trabalhistas (CLT) e um Sindicalismo Oficial controlado pelo Estado. Continuam os movimentos e greves, mas, com menor autonomia da classe operária.

14A partir de 1956 instaura-se, no país – não de forma homogênea, mas concentrada em determinas regiões,

como a sudeste – um processo de industrialização pesada em que se assistiu a um crescimento acelerado da capacidade produtiva do setor de bens de produção e de consumo duráveis (LEITE, 1994).

Região do Grande ABC

São Paulo (capital)

Baixada Santista

2012).15 Essas se situam principalmente em São Bernardo do Campo. Indústrias no setor

químico e petroquímico – como o Polo Petroquímico de Capuava – foram instaladas pouco tempo depois (LEITE, 2000) contribuindo para a expansão industrial da região.

Essa conjuntura fará do Grande ABC uma das regiões mais importantes, e industrializadas, do país. “O ABC tornou-se o coração do ‘milagre brasileiro’ quando a economia crescia a taxas superiores a 10% a.a.” (LEITE, 2000, p.89).16 Entretanto, os

altos e baixos da economia nas décadas seguintes, como “a crise do petróleo” na década de 1970, a “estagnação econômica” dos anos 1980 (a chamada “década perdida”) ou ainda o “neoliberalismo”, nos anos 1990, imputaram um conjunto de transformações no eixo industrial de São Paulo.

Passados, contudo, os anos de glória, a região [do Grande ABC] começou a experimentar, a partir do início da década de 80, um acelerado processo de crise que se expressa no fechamento de unidades produtivas e transferência para outras regiões, retração do investimento, diminuição do volume de emprego, queda do rendimento médio da população, redução da participação no PIB industrial brasileiro (LEITE, 2000, p.89).

O processo, acima descrito, revela um quadro conjuntural de mudanças no cenário econômico-industrial. Indústrias deixaram a região devido, pelo menos em parte, a “isenções fiscais” encontradas em outras localidades como Nordeste ou mesmo o interior de São Paulo (KLINK, 2001). Daniel (1996) destaca, nesse caso, o que se evoca por “economia” e “deseconomia” de aglomeração. A economia de aglomeração ocorre pela vantagem que setores econômicos têm ao se estabelecer em determinada localidade, explicado pela concentração de equipamentos urbanos, como boa infraestrutura ou proximidade com rodovias ou portos. A deseconomia de aglomeração, por outro lado, se dá num agregado de situações, entre elas, a falta de mobilidade urbana ou ausência de terrenos, com preços acessíveis, para expansão.

15 Há uma ambiguidade no processo de “nacionalização” da indústria. Por um lado há o incentivo à produção

nacional, contudo, as medidas protecionistas ao mercado nacional eram acompanhadas por incentivos financeiros às multinacionais, o que, em grande medida, faria com a economia ficasse dependente do capital estrangeiro (PRAUN, 2012). Registre-se que o esforço “material” gasto para a implantação industrial (aquisição de bens e equipamentos necessários) impactou soberbamente na “dívida externa” brasileira (PEREIRA MARQUES, 2008).

16O “milagre brasileiro” refere-se ao período compreendido entre “1968 -1973” – durante o regime militar –

Nesse quadro, se discutem, ainda, questões como mão de obra barata (salários e benefícios) ou qualificada (especialmente a formação técnica), ou a capacidade da região investir em pesquisa e tecnologia voltadas para sua vocação econômica. É nesse contexto que se costumou imputar à região o chamado “custo ABC”, com referência, sobretudo, aos salários conquistados, pelo movimento sindical, notadamente no ramo metalúrgico. Daniel (1996) questiona essa ideia afirmando que:

(...) o uso da expressão "Custo ABC" para designar as condições de competitividade da região é rigorosamente equivocado, por captar apenas um lado das referidas vantagens e desvantagens (o dos custos), omitindo os benefícios. Tal engano expressa uma fragilidade conceitual que não é, contudo, inocente: a mistificação da realidade – através do realce dos custos e da omissão dos benefícios – serve ao propósito de justificar, de um prisma unilateral, toda redução de custos salariais e tributários inspirada nas teses neoliberais da liberdade de mercado e do Estado mínimo (DANIEL, 1996, p.141).

Para o autor, a perda relativa da participação do Grande ABC nas economias paulista e brasileira remonta já à década de 1970 (anteriormente às lutas sindicais). Isso em consequência das desvantagens comparativas da região, no que se refere ao alto custo dos terrenos, com outras localidades. Daniel, ao contrário dos que consideram um problema as conquistas salariais dos trabalhadores do Grande ABC, chama à atenção para suas vantagens, pois reflete uma importante capacidade de consumo.

O exame sistêmico dos custos e benefícios relativos ao grau de atratividade econômica do Grande ABC coloca em relevo a existência de contradições entre eles. Assim, a redução de custos salariais (tida por muitos como condição para a competitividade regional) conflita com a preservação e a expansão do mercado regional, fonte do dinamismo do terciário, que demanda elevação do nível de renda e emprego e, portanto, do poder de compra dos assalariados da indústria (DANIEL, 1996, p.141).

Não obstante, ao maior ou menor nível de industrialização, houve, na região do Grande ABC, especialmente a partir da década de 1980, a expansão no setor do comércio e serviços (KLINK, 2001). A região possui atualmente um setor de serviços com aproximadamente 44 mil empresas, e uma ampla rede de comércio, com cerca de 37 mil empresas (Revista MÊS, 2009). Nesse período, grandes redes de supermercados e

shoppings foram instaladas na região. No entanto, tais modificações na composição dos

em sua vocação industrial,17 tampouco este deixou de ser um mercado consumidor

importante.18 Com a melhora da economia da última década “fez com que o setor

industrial e produtivo do ABCD voltasse a ser chamado de [motor da economia nacional] ou [Detroit brasileira]” (Revista MÊS, 2009).

O debate, acima, que tem como fio condutor a industrialização e desenvolvimento econômico da região, faz emergir uma questão central no presente capítulo da tese: o propalado “desenvolvimento” alcançado pela região do Grande ABC, que se localiza não somente em suas indústrias ou rede de comércio e serviços, mas também, no volume de infraestrutura urbana e equipamentos públicos, está distribuído de forma homogênea, em todas as cidades que a compõe?

Os dados socioeconômicos comparativos, entre as sete cidades, demonstram que não. Ao contrário! Observam-se grandes disparidades de uma cidade para outra, com diferenças, econômicas e estruturais, significativas dentro dos próprios municípios. Regiões “centrais” convivem, territorialmente falando, lado a lado com as regiões de “periferia”, essa com sua população vivendo, em grande maioria, em situação de segregação e alta vulnerabilidade social.

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