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Rio Grande da Serra e a formação de redes migratórias e religiosas

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Produção social do espaço nas periferias urbanas: redes religiosas, e migratórias, no município de Rio Grande da Serra.

2.3 O processo migratório em Rio Grande da Serra

2.3.2 Rio Grande da Serra e a formação de redes migratórias e religiosas

Quando os migrantes chegaram à cidade, três ou quatro décadas atrás, encontraram um lugar com características interioranas, pessoas acolhedoras, e, acima de tudo, muita vegetação, garoa e neblina.80 No período em que a cidade recebeu o contingente de

pessoas que vieram trabalhar nas indústrias de São Paulo e Grande ABC, principalmente entre 1960 e 1980, havia poucos habitantes. Em determinados bairros, as casas e o comércio ainda eram escassos. “Para você ter uma ideia, quando eu vim pra cá tinha 71

casas e 2 barracos [no bairro Santa Tereza]. Eu sou a segunda casa de alvenaria [construída] nessa rua” (Palhares, entrevista realizada em 17/03/2014).81

80 Para a caracterização de Rio Grande da Serra no período em que os migrantes para lá chegaram, além dos

relatos dos migrantes (registradas nas entrevistas), utilizamos como apoio relatório do VII Congresso de História do Grande ABC (no 2º painel o tema foi “povos que formaram Rio Grande da Serra”).

Esse foi um período posterior à imigração estrangeira (italianos, alemães, japoneses, entre outros) que ocorreu, com maior importância, nas primeiras décadas século XX. A migração interna, vinda dos Estados brasileiros se deu, principalmente, pelo fato de Rio Grande da Serra estar próxima a importantes centros industriais, e, ao mesmo tempo, ser uma local em que se encontravam terrenos baratos. Os migrantes chegaram de várias partes do país, mas, mineiros e nordestinos vieram em maior quantidade (SERRANO, 2007 e 2010).

Encontraram uma cidade ainda em construção. As ruas não eram asfaltadas e caminhar por elas em dias de chuva, o que era comum, impunha a necessidade de andar de botas ou com sacos plásticos nos pés. “Não era como é hoje não. Era diferente! Não tinha

rua, era tudo lama. Era dificuldade para levar as crianças para a Escola, a gente tinha que por bota. Agente punha bota e punha um plástico para não escorregar” (Solange,

Minas Gerais, entrevista realizada em 02/11/2013). Para quem veio de regiões com um clima tão diferente, a adaptação foi um grande desafio. Os dois próximos depoimentos reforçam o que foi dito, sobre o município, há décadas atrás.

Só que naquela época que mudamos para cá era muito difícil, porque não tinha asfalto, não tinha luz, era uma neblina. Era uma cidade totalmente verde. Tinha muita área verde. Onde era a [Empresa] Polloni era tudo mato. Então garoava muito. Chovia muito aqui. Às vezes a gente ficava até três meses sem ver o sol aqui. Então era o maior sacrifício para secar roupa, e tal (Pedro, Minas Gerais, entrevista

realizada em 11/09/2013).

Eu saí do Estado do Piauí, de Dom Expedito Lopes, e cheguei em Rio Grande da Serra em [19]62 (...). Só tinha rua do centro, comércio só tinha o João Paraíba, (...) o Maneco, o Flavio e a portuguesa. Não tinha mais comércio nenhum. Só tinha a rua do centro e só mato (...) Aquela chuvinha de vento, assim, oito horas do dia chegava aquela cerração. Terminava a cerração, quando chegava uma hora da tarde chegava de novo. Era a noite toda cerração. Aí no outro dia acabava a cerração e a chuva chegava. E tinha vez que encerrava a chuva até 60 dias (...) Agente para secar uma roupa aqui (...) tinha que lavar a roupa, deixar uma semana dentro de casa, porque não via o “olho” do sol, e aí botava em cima da cama, depois de uma semana, passava uma coberta por cima e deitava por cima para acabar de enxugar (José, Piauí, entrevista

realizada em 10/09/2013).

Além das dificuldades com o clima, outro ponto em comum, observado na fala dos respondentes, é o motivo da migração. Os migrantes vieram para São Paulo, e Grande ABC, em busca de trabalho e de uma vida que não encontravam em seus locais de origem.

O que motivou meus pais saírem de Uberaba e virem para cá é que meus pais abriram uma firma. Meu pai era costureiro, minha mãe também era costureira. Eles vieram aqui mesmo para trabalhar, para poder construir alguma coisa aqui em São Paulo (Solange, 02/11/2013).

No Paraná eu trabalhava na roça, tinha um sofrimento muito grande, eu fui criado na roça, [eu e] a família toda. Eu trabalhava na roça (...). Então eu queria ter uma vida diferenciada. Tinha que mudar minha história. Eu vim para São Paulo, por quê? Eu tinha que procurar um jeito de crescer. Estudei, mas o estudo que eu tinha lá, não tinha como eu deslanchar. Aqui em Rio Grande da Serra tive oportunidade (Valdeir,

Paraná, entrevista realizada em 11/09/2013).

São Paulo era o “símbolo” de uma vida melhor. Mas, era muito comum que os migrantes vivessem em várias regiões antes de se acomodar em uma cidade. Palhares, por exemplo, que deixou o interior do Maranhão, antes de chegar em Rio Grande da Serra passou pela capital de seu Estado, por Diadema e São Bernardo do Campo. Mas, a região da Grande ABC e sua indústria era o sonho de muitos migrantes. “Todo mundo tinha um sonho. O carro naquela época estava um pouco despontando. O sonho era trabalhar numa [indústria automobilística como] Wolks, numa Ford, numa General Motors, numa Mercedes” (Pedro, 11/09/2013.).

A migração não foi um processo, de tudo, espontâneo. Muitos se deslocavam através de agenciamentos que estimulavam a vinda para cá. Com o passar do tempo, a “ponte” começou a ser feita entre os próprios conterrâneos (FONTES, 2008). Há um padrão a ser observado no processo, que é o deslocamento inicial de migrantes – se instalando no local de destino – para, em seguida, possibilitar a vinda de outras pessoas, sejam familiares, amigos ou vizinhos (FOERSTER, 2009; FAJARDO, 2011). Isso não foi diferente em Rio Grande da Serra. Em seus relatos é comum os respondentes afirmarem que, parentes ou amigos, já estivessem por aqui quando migraram.

O acolhimento de vizinhos, formando redes de solidariedade, também foi importante para os migrantes nos primeiros momentos de estabelecimento, e adaptação, na cidade. O testemunho, a seguir, aponta para isso.

Quando eu cheguei em Rio Grande da Serra, [o que marcou foi o fato] de as pessoas te acolherem né! Além de ser uma cidade do interior, eu sinto como se estivesse em uma cidade do interior, as pessoas ainda têm aquele acolhimento, assim de ajudar. Por mais que não tenham muito, mas o pouco que eles têm eles repartem. Então quando eu precisava, diziam: “Solange, se faltar alguma coisa ...”. Tem gente que até me ajudava, trazendo um fubá, um leite, até eu me adaptar, mesmo, no lugar

onde eu estava. Então a união, isso me chamou a atenção aqui (Solange,

02/11/2013).

As redes familiares, ou de vizinhança, construídas nos locais de destino foram importantes, entre outras coisas, pelo fato de que muitos migrantes não tinham um nível escolar avançado quando chegaram no Grande ABC ou São Paulo. Os relatos apontam para dificuldade, também, em continuar os estudos, entre outras coisas, porque precisavam trabalhar. Quando viam, o tempo já tinha passado! Assim, mesmo em uma época em que a “escolaridade” não era um empecilho em muitos ramos de trabalho, contar com a ajuda de conhecidos, para conseguir emprego, era importante.

No contexto que estamos analisando, as redes religiosas tiveram sua importância. No período inicial da migração, ainda não havia muitas igrejas evangélicas. Aliás, uma hipótese da pesquisa está baseada, justamente, no pressuposto da contribuição do processo migratório para o crescimento das redes evangélicas no município. Sendo assim, os primeiros migrantes, que tinham o catolicismo como pertença, encontravam nesse

universo simbólico espaço para uma forma de sociabilidade religiosa.

(...) quando nós chegamos aqui em Rio Grande da Serra, devido (...) a iniciativa da minha mãe, praticamente (...) a gente, que vem assim do interior, já é uma questão da cultura mesmo, a gente que tem religião, que tem fé, carrega mesmo [a religião], porque se não tivesse fé não estaria nem aqui. Então automaticamente agente já começa se organizar, a rezar, e aí vem essa questão das festas juninas, todas aquelas tradições que você tem na sua terra, de certa forma você traz para cá. É um processo natural, se reúne para rezar o terço, tem as novenas, Natal, quaresma, (...) todas essas datas mais festivas, que marcam o calendário da Igreja. Não adianta, você tá lá, mas você também vive ela aqui. Eu lembro que era importante mesmo essa questão do Natal. O Natal era muito importante, porque as pessoas rezavam, faziam a ceia, então basicamente eu acho que foi uma construção mútua. O povo da igreja ajudou, mas nós ajudamos também a questão da Igreja, devido até a formação que a gente tem. A questão da catequese! (...). A minha mãe, ela tem 79 anos e foi uma das pioneiras nessa questão da catequese. Catequisou muitas pessoas daqui (Pedro, 11/09/2013).

Como a Paróquia de São Sebastião foi construída somente no final da década de 1970, os católicos se reuniam em torno da Capela de Santa Cruz, local de celebração e festas. Também as comunidades tinham uma grande importância aos católicos.

As coisas positivas eram a união que tinha. Tinha bem mais união. Eu lembro na naquela época lá, tinha muito baile na garagem, com vitrola, todo mundo socializava, brincava. Como não tinha luz, tinha vela,

lampião, os namorinhos que a gente tinha, e a questão da Igreja. Tinha a missa, o padre que mais marcou foi o frei José. (...) Ele era muito aberto, ele foi muito importante, ajudou a evangelizar o povo. Ele é que priorizou a questão das comunidades. Praticamente ele não centralizava aqui na Paróquia, ele centralizava nas comunidades. Deu liberdade para os ministros celebrarem. Foi na época que as CEBs foram muito forte aqui. Os movimentos populares, naquela época, eram fortes. Todas as conquistas que temos hoje foram fruto de luta (Pedro, 11/09/2013).

A grande presença de “mineiros”, entre os migrantes, possivelmente tenha contribuído para a vitalidade do catolicismo na cidade, pelo menos por algum tempo. Mas a diversidade, em termos de região de origem, colaborou para que a migração trouxesse novos “ingredientes” para o contexto religioso. Isso porque o processo migratório não tem como característica a “manutenção” dos elementos culturais. Aquele que deixa sua terra natal (ou seus descendentes) está, muitas vezes, sujeito a novas práticas sociais/religiosas.

Eu sou de uma família de católicos e permaneci católico até hoje. Fui criado nesse meio, gosto da minha religião e não houve um motivo para mudar. Muito embora eu tenha filhos em outras religiões, tenho um filho umbandista, tenho filhos evangélicos, mas eu permaneci na Igreja Católica Apostólica Romana (Ivanildo, baixada santista, 10/06/2014).

A forma como os migrantes construíram sua pertença religiosa demostram essa realidade. José, Palhares e Ivanildo, por exemplo, se mantiveram dentro da religião de origem, o catolicismo. Solange nos disse que era umbandista antes de se tornar evangélica pentecostal. Célio, antes de ser pentecostal, passou pelo kardecismo e afirma não ter, este, influenciado no processo de adaptação, de Minas Gerais, em Santo André e Rio Grande da Serra (entrevista em 07/03/2014). Valdeir, por sua vez, ao chegar à cidade permaneceu um tempo “fora” da religião, até se converter ao pentecostalismo.

As igrejas evangélicas, notadamente as pentecostais, foram crescendo a partir da década de 1970. Há indícios que a vinda de migrantes contribuiu para seu desenvolvimento na cidade, devido a capacidade que as redes pentecostais possuem de “reestruturação” social, fundamental no enredo migratório. Embora migrantes vindos do nordeste do país, tivessem a Igreja Católica como espaço de sociabilidade, ao longo do tempo, muitos se converteram às religiões evangélicas.

Dados coletados, dos participantes, através de questionários sobre seu local de

analisar (tabelas 19, 20 e 21) o processo migratório no município e refletir sobre possíveis influências na formação de redes religiosas.82

Tabela 19 – Indicação por grupo religioso sobre local de nascimento dos participantes – (%)

Participante da pesquisa Total Católicos Pentecostais Evang. Não Evangélicos pentecostais Kardecistas Umbandistas

Rio Grande da Serra 18,57 21,88 14,29 19,13 8,00 6,67

Outras cidades / Grande ABC 26,57 22,50 37,14 26,09 20,00 60,00

São Paulo (capital) 7,43 5,63 8,57 9,57 12,00 -

Outras cidades do Est. De SP 8,29 6,88 8,57 6,96 28,00 -

Região Sul 4,56 1,25 11,43 8,70 - -

Região Sudeste sem SP e MG 1,43 1,25 2,86 1,74 - -

Estado de Minas Gerais 14,57 22,50 - 8,70 12,00 13,33

Região Norte / Centro Oeste 0,29 - - 0,87 - -

Região Nordeste 18,29 18,14 17,14 18,24 20,00 20,00

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Entre os participantes, 18,57% afirmam ter nascido em Rio Grande da Serra.83

Nesse caso, 81,43% são oriundos de “fora” da cidade. Do total dos respondentes, 60,86% nasceram no Estado de São Paulo, 18,29% na região nordeste, 16% na região sudeste (excluindo o Estado de São Paulo), 4,56% vêm do sul do país e 0,29% da região Norte/Centro-oeste. Ressalte-se que os mineiros representam 14,57% do total. Embora seja importante o percentual dos que tenham nascido em solo paulista, 39,17% são oriundos de outros Estados, o que não é pouco em termos de diversidade migratória.

No caso do local de nascimento dos católicos, se destacam os nascidos em Minas Gerais (23,75%). Entre os evangélicos não pentecostais, o destaque é para os nascidos em outras cidades do Grande ABC e na região Sul do país. No caso dos kardecistas, o destaque fica para aqueles que são natos de outras cidades de São Paulo, e, entre os umbandistas, é significativo os que nasceram em outras cidades do Grande ABC. Entre os pentecostais, se destacam os nascidos no sul país. Os nascidos no Nordeste se distribuem, equilibradamente, em todos os grupos religiosos.

Observa-se que não é pequena a migração intraurbana, pois, 26,57% são oriundos de cidades do Grande ABC, mas mineiros e nordestinos, juntos, representam 32,86%. O fluxo de pessoas para Rio Grande da Serra, embora tenha diminuído nas últimas décadas, continua existindo.

82 Devido à quantidade expressiva de mineiros na cidade – respondentes e seus pais – destacamos os dados

nas tabelas que tratam do “local de nascimento”.

83 Por não haver maternidade, identificamos, entre os respondentes, aqueles cuja família já morava em Rio

Abaixo (figura 8), apresentamos o tempo de moradia dos participantes.

Figura 8 – Tempo de moradia dos participantes no município de Rio Grande da Serra – (%)

3,43% 4,00% 8,29% 13,14% 14,00% 57,14% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% De zero a cinco De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos De 16 a 20 anos De 21 a 25 anos De 26 anos ou mais

Tomaremos como base, em nossa análise, os que estão na cidade há mais de 26 anos e os que estão há menos de 15 anos, ressaltando assim, os grupos religiosos que mantêm, entre seus adeptos, os moradores mais antigos e aqueles que assimilam, em maior quantidade, aqueles que mudaram, recentemente, de universo sociocultural.

Nota-se que 57,14% têm mais de 25 anos na cidade e 15,72% menos de 15 anos. Os dados variam de acordo com o grupo religioso. Kardecistas (68%), umbandistas (66,67%) e católicos (63,23%) apresentam percentuais maiores entre os que têm acima de 26 anos na cidade. Entre os evangélicos, o percentual é de 48%. Entre os que se declaram ter menos de 15 anos na cidade, o percentual é maior entre evangélicos (18%) e umbandistas (33,43%). Católicos têm 12,51% e kardecistas 12%.

Observa-se que católicos e kardecistas possuem, entre seus adeptos, um público com mais tempo na cidade. Já evangélicos, se destacam por um percentual maior de moradores mais recentes, o que reforça a ideia que esse grupo se constitui de uma oferta religiosa ajustada às pessoas que passam por processos de readaptação social.

As tabelas 20 e 21 apresentam dados dos locais de nascimento materno e paterno dos participantes. Embora não tenhamos a indicação que seus ascendentes tenham migrado para o município, pressupomos que pelo menos em parte o seja. Isso é importante pelas implicações envolvidas. Participamos da opinião de Martins (2012) de que o processo migratório não envolve somente aqueles que se deslocaram, mas, também as gerações futuras, pois sofrem suas consequências. A ideia é analisar, com base nas três

tabelas – considerando os dados apresentados sobre local de nascimento do respondente (tabela 19) –, em que medida o local de origem pode influenciar na pertença religiosa. Tabela 20 – Indicação por grupo religioso sobre local de nascimento materno – (%)

Nascimento materno Total Católicos Pentecostais Evang. Não Evangélicos pentecostais Kardecistas Umbandistas

Rio Grande da Serra 1,71 1,25 5,71 0,87 4,00 -

Outras cidades / Grande ABC 6,29 5,63 2,86 5,22 12,00 20,00

São Paulo (capital) 4,29 2,50 5,71 5,22 12,00 13,33

Outras cidades do Est. De SP 12,00 11,84 17,14 9,57 16,00 -

Região Sul 3,14 1,88 8,57 4,35 - -

Região sudeste sem SP e MG 3,14 3,13 5,71 2,61 4,00 -

Estado de Minas Gerais 27,42 36,25 5,71 26,93 8,00 20,00

Região Norte / Centro Oeste 0,86 0,63 - 0,87 4,00 -

Região Nordeste 34,86 31,26 48,59 37,40 24,00 40,00

Outro país 1,43 - - 0,87 12,00 6,67

Não sabe / não respondeu 4,86 5,63 - 6,09 4,00 -

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Tabela 21 – Indicação por grupo religioso sobre local de nascimento paterno – (%)

Nascimento paterno Total Católicos Pentecostais Evang. Não Evangélicos pentecostais Kardecistas Umbandistas

Rio Grande da Serra 1,71 2,50 - 0,87 4,00 -

Outras cidades / Grande ABC 3,14 1,25 2,86 2,61 8,00 20,00

São Paulo (capital) 5,14 3,72 2,86 6,94 12,00 -

Outras cidades do Est. De SP 11,43 11,25 8,57 9,57 28,00 6,67

Região sudeste sem SP e MG 1,71 1,25 5,71 0,87 4,00 -

Estados de Minas Gerais 28,00 33,13 14,29 30,43 8,00 20,00

Região Sul 3,71 2,50 11,42 4,35 - -

Região Norte / Centro Oeste 0,86 0,63 2,86 0,87 - -

Região Nordeste 35,16 33,76 48,59 34,79 20,00 46,66

Outro país 1,43 0,63 - 0,87 12,00 -

Não sabe / não respondeu 7,71 9,38 2,86 7,83 4,00 6,67

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Verifica-se que, de forma geral, os dados “maternos”, do local de nascimento, se assemelham com os dados “paternos”, pelo menos no que diz respeito ao conjunto de locais que concentram maior percentual, seja no total de participantes, seja na distribuição por grupo religioso. Duas regiões se destacam com referência ao local de nascimento, materno e paterno. A região Nordeste com 34,86% e 35,16% respectivamente e Minas Gerais com 27,42% e 28% respectivamente.

Tendo como base os locais de nascimento materno e paterno, entre os católicos, o destaque é para a migração mineira. Entre os evangélicos não pentecostais, sobressaem os nascidos na região sul e nordeste do país. No caso dos pentecostais se destacam os

mineiros (em menor proporção que católicos) e nordestinos. Entre os kardecistas, o maior grupo se reúne em torno dos nascidos em “outras cidades de São Paulo” e entre os umbandistas os nascidos no Grande ABC e nordestinos.

Depreende-se dos dados apresentados, acima, que é possível identificar alguma influência do local de nascimento na afiliação religiosa. Como a influência dos pais, nesse pertencimento também pode ocorrer, pode-se explicar o porquê filhos de migrantes, de uma determinada região, manter, em termos de pertença religiosa, relativa similaridade com a pertença de mães e pais.

A migração, em Rio Grande da Serra, no que diz respeito à formação de redes religiosas, seguiu uma tendência: mineiros contribuíram para a formação de redes católicas. Há que se destacar que na época, de maior intensidade do processo migratório, era muito forte a presença do catolicismo em Minas Gerais. Nesse caso, a maior parte dos mineiros manteve-se no catolicismo. Com relação aos migrantes nordestinos, embora a presença do catolicismo em sua região de origem também fosse importante, encontraram nas igrejas evangélicas maior espaço de “acolhimento”.

É possível afirmar que os mineiros não encontraram, em São Paulo, diferenças culturais expressivas, e que a mudança de “lugar” não engendrou, nesse aspecto, fortes modificações facilitando a permanência no campo católico? Os nordestinos, por sua vez, teriam encontrado, em seu local de destino, maiores variações culturais? Tais reflexões não pretendem ser deterministas. Não temos a pretensão de ser conclusivo, tampouco afirmar, nessa questão, que os mineiros tornaram-se, obrigatoriamente, católicos e os nordestinos evangélicos. Entretanto, os dados indicam que o processo migratório contribuiu, a partir de elementos relacionados com o processo de “readaptação cultural”, para a construção oferta religiosa no município.

Analisamos, neste capítulo, a formação social do espaço urbano. O pressuposto é que o “espaço” não é conformado aleatoriamente. Atende, quando do processo de urbanização e industrialização, aos interesses do sistema econômico vigente – com maior concentração de políticas públicas, sistemas de transporte, entre outras coisas. A produção do espaço, nesse sentido, gera riqueza e pobreza. A caracterização, que realizamos sobre as periferias urbanas se deu nesse contexto. Um dos aspectos, inerentes à periferia, que destacamos foi a questão da homofilia, que nos remete à similaridade de condições

imposta a um determinado grupo de pessoas. O conceito é importante porque permite compreender o papel das redes sociais em regiões em que a falta de oportunidades se sobressai.

Foram apresentados dados, coletados em pesquisa de campo, sobre o perfil socioeconômico dos participantes dos grupos religiosos estudados. Observamos que há diferenças, em termos de renda e escolaridade, que indicam grupos (católicos tradicionais, pentecostais, umbandistas, mulheres e pretos) em situação de maior vulnerabilidade social dos que outros. Os dados também revelaram que há regiões (bairros) em maior situação de precariedade do que outras. Nessas regiões se encontram uma parcela significativa da população mais vulnerável socialmente falando.

Ao se discutir a importância das redes sociais, no contexto da periferia, analisamos sua importância durante o processo migratório. As redes construídas nesse processo, especialmente nos locais de destino, não apenas ajudam no processo de adaptação em um novo contexto social e simbólico, mas, no caso das redes religiosos contribuem para uma reorganização social.

Capítulo 3

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