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Capítulo II Família, Escola e Educação

1. Família e Educação…sem esquecer a Escola

1.6 As crianças e o divórcio

“Na Suécia, desde 1975 que um casamento em cada três é rompido. […] Os índices de divórcio sobem sem cessar. Em França e na Alemanha Federal passam de 15,6 por cento para 30,4 por cento, na Áustria de 19,7 para 30,8 por cento, na Holanda de 20 para 34,4 por cento, etc. Em Inglaterra, atingem-se os 43,8 por cento – em 1960 o valor era de 10,7 por cento!” (Sullerot; 1993: 94).

De facto, pensamos que já todos se teriam apercebido que há alguns anos que o divórcio tem vindo a ganhar terreno, mas estas taxas mostram-nos uma realidade preocupante. Outrora, os casais, principalmente os casais com filhos, hesitavam bastante diante de uma separação, devido às dificuldades materiais que a mulher teria que enfrentar porque não trabalhava, devido à vergonha de passarem a ser divorciados e devido ao sofrimento que causariam aos filhos. “Although children still act as a barrier to divorce, their function as a barrier to divorce has lessened as family sizes have decreased and women have gained in educational levels with access to alternatives” (Attridge in Socha & Stamp; 1995: 13). As mulheres e, neste caso mães, temiam realmente pelos seus filhos, e não é que tenham deixado de temer, simplesmente passaram a interpretar a situação de forma diferente. As mulheres têm vindo a tomar consciência das suas aspirações e do desejo de se realizarem pessoal e profissionalmente e não lhes parece justo sacrificarem-se num casamento que as sufoca e que as faz sentirem-se derrotadas – sendo o divórcio uma porta de saída que definitivamente parecem ter aprendido a usar. Senão vejamos: “O aspecto mais impressionante dos divórcios que ocorreram entre 1965 e 1985 reside no facto de terem sido pedidos pelas mulheres em proporções que vão dos dois terços aos três quartos – em França esse valor foi de 74 por cento” (Sullerot; 1993: 97).

Há alguns anos atrás as mulheres com filhos que exprimiam a intenção de se divorciar imergiam num sentimento de profunda culpabilidade, nem se atreviam a comunicar o seu projecto aos sogros ou aos pais, temiam que todos as reprovassem, receavam vir a ser responsáveis por um rol de problemas emocionais nos filhos. Depois, ano após ano, começaram a chegar mulheres cada vez mais decididas e corajosas. Não terão as crianças, para ser felizes, necessidade de uma mãe realizada? Esta era a máxima que as movia. A dependência matrimonial sem felicidade era como uma derrota para estas mulheres. Para elas, o divórcio representa a ruptura com um homem de que já não gostam e ao lado de quem já não se sentem felizes, mas não implica nenhuma ruptura com os filhos. “As mulheres devem ser autónomas, sexualmente realizadas, mas boas mães. É essa a moral dominante” (Sullerot; 1993: 98). Elas assumem que a guarda dos filhos é um “direito natural” já que o elo que prende os filhos às mães é muito mais forte

do que o que os prende aos pais, e para além disso estes últimos nunca foram de participar muito na educação dos filhos. Esta realidade começou a ser cada vez mais aceite, e a questão do divórcio já não surge envolta em tabus.

O divórcio não tem necessariamente um efeito traumático grave nas crianças. “Se após a separação cada um procurar desenvolver-se e adotar uma atitude melhor perante a vida, será melhor para a criança do que uma união destrutiva” (Simula; 1990: 53). Naturalmente que devemos esperar sempre alguma reacção da sua parte como receios, pesadelos, dependências, choros e eventualmente alguma agressividade e descida nos resultados escolares. Não podemos esquecer que parte da sensação de segurança da criança está relacionada com o facto de ter o pai e a mãe a viver na mesma casa e quando ouvem falar de divórcio desencadeiam-se dentro de si uma série de preocupações e mesmo de temores, ou até de culpa. A verdade é que, “por qualquer estranha lógica infantil”, sentem que são as culpadas pelo divórcio e isso fá-las sentir péssimas. Temem que o cônjuge que sai de casa irá desaparecer e deixará de ser o seu pai ou a sua mãe. Outro dos seus grandes temores é que se um dos cônjuges irá embora no momento, é possível que o outro também vá um dia deixando-as sós e órfãs. “Por isso é fundamental que os casais que vivem em conflito permanente não usem a ameaça do divórcio nas suas discussões, a menos que já tenham tomado essa decisão” (Spock; 1988: 97).

Os efeitos que o divórcio tem na criança depende em grande parte da atitude que os pais adoptam perante ele e depois dele. A atitude que os pais adoptam perante a vida é fundamental para a criança porque é, em parte, através dela que esta aprende o que é viver. É importante que ambos continuem a passar tempo com a criança e a mostrar o quanto se preocupam com ela de modo a fazê-la sentir que não vão deixar de ser seus pais e de a amar só porque já não vivem na mesma casa. Relativamente a ela nada mudou e poderá contar sempre com eles. Na relação entre si, é importante que os pais procurem comportar-se amigavelmente, ou simplesmente cordialmente, quando estão na presença da criança, porque forçá-la a assistir a mais discussões só fará com que se sinta mais angustiada. Os pais devem evitar cair num dos seguintes erros para o bem dos filhos: tentar colocar a criança contra o outro parceiro pois isso fará com que a criança sinta que tem que escolher um dos dois; o pai que não fica com a criança se afaste dela, por vezes mesmo a ponto de nunca mais a procurar; com a intenção de comprar a criança, mimarem-na demasiado fazendo todas as suas vontades, oferecendo-

lhe brinquedos a toda a hora. Qualquer uma destas situações será muito prejudicial para a criança e para a sua educação.