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Comunicação não verbal vs comunicação verbal

Capítulo I Comunicação não verbal – em jeito de apresentação

2. Comunicação não verbal vs comunicação verbal

“We actively employ such messages [nonverbal] to add color to what we say” (Burgoon & Saine; 1978: 4). Será possível transmitir a relação entre a linguagem verbal e não verbal de forma assim tão simplista? Isto significa, então, que o papel da linguagem não verbal é funcionar como um complemento da linguagem verbal e que a sua função é enfatizar a mensagem transmitida verbalmente, assegurar a sua autenticidade, determinar a sua intensidade ou simplesmente acompanhar a linguagem verbal. “In fact, some people have even defined nonverbal communication as only those other-than-verbal messages that taked place in the presence of a verbal message. We see nonverbal communication as much broader in scope than merely clarifying and amplifying the verbal stream” (Burgoon & Saine; 1978: 13). A linguagem não verbal tem um papel muito mais complexo do que simplesmente limitar-se a apoiar o discurso verbal.

Segundo Leathers: “We should recognize that nonverbal communication rarely occurs in the absense of verbal communication” (1997: 14). Porém, esta afirmação foi avançada tendo em mente apenas os elementos não verbais que servem muitas vezes para enfatizar o discurso verbal ou para ajudar a definir o tom do discurso ou a intensidade. De facto, dificilmente imaginamos um discurso verbal sem algum apoio de marcadores não verbais do discurso, pois a comunicação verbal por si é muito pobre e muito pouco clara. Por outro lado, torna-se muito mais fácil imaginarmos uma mensagem exclusivamente não verbal e dotada de significado, “[…] l’espéce humaine peut élaborer des langues non verbales parfaitment autonomes et fonctionelles” (Cosnier et al; 1982: 282). Assim, não podemos deixar de considerar que são cada vez mais frequentes as situações em que a

comunicação não verbal domina inteiramente o discurso, ou situações em que a linguagem verbal é mesmo inexistente.

Na generalidade, defende-se que a comunicação não verbal é muito mais autêntica do que a verbal, o que se traduz em inúmeras vantagens que justificam que a tenhamos em grande conta. Dá-se cada vez mais importância a estes elementos pois considera-se que para além de eles expressarem muito mais abertamente e naturalmente o que o comunicador pretende dizer, mesmo quando obedecendo a uma ordem do inconsciente, será também por vezes muito mais fácil para o receptor interiorizar uma mensagem não verbal e descodificá-la. Na maioria dos casos os recursos não verbais são decisivos na apreensão do significado da mensagem.

No entanto, não queremos com isto dizer que poderíamos dispensar o discurso verbal. Na verdade, os dois sistemas, verbal e não verbal, para além de estarem ligados pela necessidade constante de interagirem cooperativamente em muitas situações, são dotados de uma complexidade que os une como nos é dito por Ana Maria Mancera:

“En este sentido tenemos que tener presente que, tal y como afirman Ekman y Friesen, “cada acto es como una palavra”. El acto significa siempre algo, pêro variará según determinadas características de la persona que lo utilice: la edad, la constituición corporal, el médio, etc, o del acto de hablar, igual que la palabra se ve modificada por la entonación o la voz de la persona que habla” (1998: 79).

Até este momento temos estado a considerar as duas dimensões da comunicação transmitindo mensagens congruentes, mas se tal não acontecer? “When communication systems are functioning in the congruent state (communicating essencially the same or suplemental meanings), communication is apt to be of high quality. It is when the systems begin to function incongruently that trouble begins” (Leathers; 1997: 16). Quando os dois sistemas estão a transmitir mensagens inconsistentes, o sistema não verbal é por norma considerado o mais credível, dada a sua espontaneidade, involuntariedade e autenticidade2. Também se considera que este é mais eficaz em desenvolver a empatia, o respeito e o sentimento de que o comunicador é genuíno, possivelmente porque terá mais facilidade em expressar emoções. Outra grande vantagem da comunicação não verbal diz respeito à capacidade que tem para transmitir várias mensagens em simultâneo, enquanto a verbal fica limitada a transmitir um conteúdo de cada vez. Por último, é fácil de reparar que a comunicação não verbal tem a capacidade de estimular os

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“People generally assume that nonverbal behaviours are unconcious and automatic rather than concious and manipulated and consequently believe that nonverbal messages are more honest and thrustworthy” (Burgoon & Saine; 1978: 21).

sentidos directamente. “People who witnessed the incident from their living rooms were undoubtedly much more horrified than those who read about it in the newspaper the next day” (Burgoon & Saine; 1978: 21). As pessoas que assistem a um incidente ficam muito mais impressionadas do que as vêem a notícia no jornal. Note-se ainda que enquanto a linguagem não verbal implica apenas um dos cinco sentidos, a não verbal implica mais três (excepto o paladar). Assim, o poder da comunicação não verbal transmite-se em quatro situações essenciais: a sua capacidade para expressar emoções; a possibilidade de transmitir várias mensagens simultaneamente; a sua espontaneidade e a estimulação dos sentidos. Gostaríamos de terminar esta reflexão sobre a relação entre a comunicação verbal e não verbal com um ponto que será bastante útil no desenvolvimento deste trabalho e que lanço com a seguinte citação:

“1. In general adults rely more heavily on nonverbal than verbal cues in determining ‘social meaning’.

2.

Conversely, children attach greater importance to verbal than nonverbal cues before they reach puberty” (Leathers; 1997: 16).

Interrogamo-nos se estas afirmações corresponderão à realidade. Quanto às crianças, parece-nos que desde muito cedo aprendem a interpretar intuitivamente os signos não verbais, principalmente os emitidos pelos pais. Um beijo em sinal de elogio pode significar mais do que muitas palavras. Um tom de voz grave e agressivo diz mais sobre o estado de espírito do professor ou do pai do que um imenso discurso. É pelo tom de voz e expressão facial que as crianças se apercebem se a situação é ou não grave. Já para não falar da forma como aprendem desde muito cedo a usar a linguagem não verbal para se fazerem entender como o sorriso ou o choro. Assim, parece-nos que tanto adultos como crianças aprendem a valorizar desde cedo a importância desta dimensão da linguagem.

3. Cinco funções dos signos dos sistemas da comunicação não