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CAPÍTULO 2 DESENVOLVIMENTO E READEQUAÇÕES DO PROGRAMA

2.1 AS DIFICULDADES DA GESTÃO

A principal dificuldade do Programa, como já foi colocado anteriormente, diz respeito ao seu financiamento. Como decorrência da falta de recursos, algumas modificações foram ocorrendo, entre elas, na oferta dos cursos profissionalizantes, na forma de contratação dos professores e na oferta (redução) das turmas de PIQ III. Outras modificações, que afetaram menos estruturalmente o PIQ, dizem respeito à sua gestão pedagógica.

Em 2005, segundo informações extra-oficiais, problemas com o Tribunal de Contas22 fizeram com que os cursos livres praticamente deixassem de ser oferecidos. Mantiveram-se aqueles que menos oneravam o orçamento do Departamento. No entanto, promove-se maior oferta de turmas. A princípio, houve uma orientação na elaboração do plano de trabalho, de modo a ficar previsto um número maior de turmas no PIQ II, e menor, no PIQ III. Em 2005, o número de matriculados nas turmas de PIQ II era ligeiramente maior do que nas turmas de PIQ III. Em 2006, no entanto, o número de matriculados no PIQ III superava o PIQ II, conforme mostram os quadros abaixo:

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O Tribunal de Contas não teria aprovado a prestação de contas da Secretaria de Educação, pois a verba da educação não pode ser utilizada para qualificação profissional.

Tabela 10 – Número de matriculados no PIQ por ciclo em 2005.

CPFP PIQ I PIQ II PIQ III

Valdemar Mattei 57 427 338

Júlio de Grammont 81 275 221

Armando Mazzo - 190 128

TOTAL 138 892 687

Fonte: Observatório da Educação e do Trabalho/ DET/ SEFP/ PSA.

Tabela 11 – Número de matriculados no PIQ por ciclo em 2006.

CPFP PIQ I PIQ II PIQ III

Valdemar Mattei 52 283 332

Júlio de Grammont 89 215 250

Armando Mazzo - 193 211

TOTAL 141 691 793

Fonte: Observatório da Educação e do Trabalho/ DET/ SEFP/ PSA.

Esse movimento, que mereceria ser analisado nos anos seguintes para confirmação, ocorreu pelo fato de os alunos do PIQ II darem continuidade aos estudos no PIQ III. De acordo com o depoimento das diretoras do Centros, ocorreu, também, na época, aumento do número de inscrições no PIQ III, em relação ao PIQ II. Dois motivos podem ser levantados para explicar essa situação. O PIQ III apresenta um tempo de duração seis meses menor que o ensino médio, na modalidade EJA, ofertado pelas escolas da rede estadual, e, oferece, de forma diferenciada, uma qualificação profissional integrada à escolaridade. Como não há pesquisa a respeito, levantam-se aqui essas hipóteses. É interessante observar de 2003 a 2006 a evolução geral das matrículas no Programa.

Tabela 12 – Número de matrículas no PIQ de 2003 a 2006.

CPFP 2003 2004 2005 2006

Valdemar Mattei 227 321 822 667

Júlio de Grammont 194 215 577 554

Armando Mazzo 43 80 318 404

TOTAL 464 616 1717 1625

Fonte: Observatório da Educação e do Trabalho/ DET/ SEFP/ PSA.

Há um crescimento no atendimento, que se estabiliza em 2006. De 2003 para 2004, o crescimento é de 32,7%; de 2004 a 2005, a taxa é de 178,7%, e, entre 2005 e 2006, a variação é de - 5,.3% Esses dados indicam o crescimento da adesão da população ao Programa. Não é

possível precisar os motivos da pequena queda no atendimento em 2006, mas, neste ano, o PIQ II dividiu-se em dois ciclos. Então, se antes os alunos concluíam o segundo segmento do ensino fundamental em um ano, agora passam a fazê-lo em dois. Além disso, como será visto adiante, este foi o ano em que ocorreu uma importante alteração, não exatamente na proposição dos cursos, mas na proposta do itinerário formativo e na possibilidade de cursá-los durante os diferentes ciclos do PIQ. Em 2006, houve também uma redução da carga horária dos cursos profissionalizantes no PIQ II, em virtude da autorização de funcionamento do PIQ pelo Conselho Municipal de Educação. Esta alteração será abordada mais à frente.

Ainda em 2005, a direção do Departamento explicitou às diretoras e aos assistentes pedagógicos dos Centros que, formalmente, o Programa estava pautado em três eixos políticos: elevação de escolaridade, qualificação profissional e trabalho social, eixos que estariam presentes na Lei de criação do PIQ.

Em dezembro de 2005, foi aprovada pela Câmara de Vereadores de Santo André a Lei 8.804, que trata da Criação do Programa Integrado de Qualificação. A importância da aprovação desta lei, para o DET, é a possibilidade de oferecimento da bolsa auxílio através da assinatura, pelo aluno, de um termo de compromisso de atividade sócio ocupacional (trabalho social) e a outorga de bolsa poder se efetivar em parceria com instituições públicas e privadas. Em seu Artigo 2º, especifica os objetivos do Programa:

Art. 2º. O Programa Integrado de Qualificação - PIQ tem por objetivo estimular a inserção sócio-econômica, valorizar as vocações ocupacionais, desenvolver a formação integral, a experimentação e a habilitação profissional no local de trabalho, bem como facilitar a reinserção na vida escolar e a continuidade dos estudos de jovens e adultos [...].

O Artigo 6º trata das diretrizes do Programa:

I -Propiciar o resgate da cidadania dos jovens e adultos de Santo André;

II -propiciar aos jovens e adultos ações voltadas à construção de sua

autonomia, a formação inicial e continuada de trabalhadores, priorizando as atividades voltadas às ações coletivas e sociais, bem como a sua experimentação nas atividades públicas e privadas, incentivando também as experiências no campo da autogestão, da economia solidária, do cooperativismo e de empreendimentos populares:

III -potencializar a integração do educando em ações voltadas para uma

inter-relação em seu local de moradia, possibilitando condições que o tornem referencial para seu grupo social, desenvolvendo atividades de caráter comunitário que melhorem a qualidade de vida e o sentimento de pertencer à comunidade onde reside;

IV -possibilitar alternativas de geração de trabalho e renda, fomentando a

V -propiciar aos educandos a complementação do ensino e da aprendizagem com programação didático-pedagógica, na linha de formação ocupacional prática, na iniciativa privada, pública ou sob a forma de ação comunitária; VI -viabilizar aos educandos formação técnico-profissional compatível com o seu desenvolvimento integral.

A partir do que foi exposto acima, é possível observar que não está explícita, como prioridade, a formação aos jovens. A lei trata dos jovens e adultos, o que leva a crer que esta diretriz do Programa foi modificada. No entanto, pelo fato de não ter sido realizado o levantamento das matrículas por faixa etária, uma vez que esses dados só foram conseguidos de forma parcial e dispersa, não se tem esta informação. Por outro lado, é de conhecimento público que, apesar do número de jovens vir aumentando em relação às matrículas, o número de maiores de 26 anos ainda supera o número de matrículas na faixa dos 18 aos 26.

Tabela 13 – Inscritos por sexo e faixa etária na área da construção civil em 2003.

18 a 26 27 a 35 36 a 40 41 a 50 51 a 60

Homens 18 18 06 11 03

Mulheres 04 01 03 01 00

Total 22 19 09 12 03

Fonte: Observatório da Educação e do Trabalho DET/ SEFP/ PSA.

Dos 65 inscritos, 33,8% correspondem à faixa etária prioritária do Programa, e 66,2% estão acima dessa faixa.

A lei é clara no que toca ao desenvolvimento do terceiro eixo do Programa, a bolsa via monitoria. Como na proposição anterior, a intenção de angariar verbas por meio de uma cesta de recursos propiciada por ação entre Secretarias não se viabilizou; a intenção agora é abrir essa possibilidade à iniciativa privada. O que ocorre é que esta oferta de “experimentação e habilitação profissional no local de trabalho” pode ocorrer em ocupação diferente daquela para a qual o aluno está se formando. Para contornar essa dificuldade, o PIQ deveria oferecer formação profissional em uma área, ligada a várias ocupações. De acordo com DET3,

[...] o terceiro eixo pode trabalhar com a iniciativa privada, com regras claras para não substituir trabalhadores, e também para ele não ser explorado e nem tampouco trabalhar em área insalubres; pode atuar na área das organizações sociais civis, as OSCIP’s, as ONG’s, prestando serviços ou até mesmo em políticas públicas, como a prevenção na saúde, agente de saúde, ou manutenção de equipamentos etc. Todo esse leque foi elaborado e proposto por escrito ao DET, inclusive vinculado às áreas da CBO/Classificação

Brasileira de Ocupações. Nos balizamos nisso inclusive para apresentar em que áreas esses jovens ou esses adultos poderiam exercitar esse processo de aprendizagem prática a partir do terceiro eixo do PIQ. [...] Você pega um setor, a área dele está vinculada a esse setor, porque nós consideramos hoje, [...] que os cursos que podem propiciar uma viabilidade da entrada do jovem ou adulto no trabalho, são aquelas que consigam transitar em um maior número de ocupações possíveis. Posso citar por exemplo um engenheiro que pode atuar em várias áreas, pode atuar na área que um economista atua, pode ser um professor, pode ser um ajudante, pode ser na área de logística, quer dizer, a profissão de engenheiro pode atuar em qualquer área, praticamente. Ele (o aluno) precisa, obviamente,se especializar em alguns momentos, para determinada área. Então nós pensamos que alguns cursos, nas áreas técnicas, eles teriam que ter essa capacidade de transitar por diversas áreas ou diversas ocupações profissionais, para que o trabalhador ou o jovem, quando tiver sendo formado por esses cursos, ele não fique preso numa armadilha de um determinado cenário que foi apresentado em determinado momento da vida dele. (DET3, 2008)

O que merece ser destacado, neste trecho, é a existência do risco de se pensar a formação para a polivalência, na perspectiva do modelo da competência. É sabido também que a noção de competência, pautada na flexibilização do trabalho e na polivalência do trabalhador, refere-se às alterações na organização do trabalho, o que exigiria trabalhadores com maiores “conhecimentos”. O risco da noção de competência está em que ela se refere ao sujeito, e não ao posto de trabalho. Oliveira (2006, p.15) observa isso ao tratar da diferença entre o conceito de qualificação e a noção de competência:

Enquanto a noção de qualificação surgiu referenciada no paradigma fordista de produção, a noção de competência derivou da sua crise e substituição por um novo paradigma, o da produção flexível. No primeiro caso, demandava- se do trabalhador a capacidade de cumprir o que lhe fora prescrito, donde a qualificação exigida é parte da prescrição atribuída a cada posto de trabalho – havia, aqui, um realce social-coletivo e objetivo. No segundo caso, a demanda do sistema produtivo para o trabalhador passou a concentrar-se na capacidade deste em colaborar criativa e comprometidamente com a empresa no seu desafio de enfrentar eficientemente a crescente competitividade do mercado – o realce passou a ser mais presentemente no aspecto individual e subjetivo-motivacional. Em um contexto de crescente instabilidade das relações de emprego, ao trabalhador coloca-se, cada vez mais, a exigência de uma qualificação mais ampla, mais versátil e mais continuada, de modo a garantir melhores oportunidades de inserção em um mercado de trabalho mais exigente, mais restrito e submetido a uma dinâmica de mutações cada vez mais acelerada.

Um aspecto a se destacar é que ainda se convive com diferentes formas de organização do trabalho, daquelas caracterizadas pela produção fordista àquelas que se pautam pelas novas tecnologias e automação. Além disso, como colocado anteriormente, o conceito de qualificação se refere a uma relação construída na relação entre capital e trabalho

e na validação que a sociedade faz dessa qualificação. Dessa maneira, a qualificação é sempre baseada na relação entre o trabalhador e as mediações necessárias para a realização de seu trabalho, e não apenas nos atributos pessoais que possa vir a ter.

Nesse sentido, a colocação de DET3 pode estar pautada pela visão dos arcos ocupacionais. O arco ocupacional é entendido como:

Um conjunto de ocupações relacionadas, dotadas de base técnica comum, que podem abranger as esferas da produção, da circulação de bens e da prestação de serviços, garantindo uma formação mais ampla e aumentando as possibilidades de inserção ocupacional do/a trabalhador/a (assalariamento, auto-emprego e economia solidária). (BRASIL, 2005)

É preciso estar atento à perspectiva de formação que se pretende. É necessário que os cursos e a formação pretendidos pelo Programa dêem conta da articulação com o mercado de trabalho, mas a qualidade da formação não pode se limitar a esse aspecto, realizando seus objetivos de ensino integrado de conhecimentos relativos à ciência, à técnica e à cultura. O problema está em se superar o plano das intenções e implementar efetivamente uma proposta de ensino que não reproduza a dissociação, existente no ensino regular, entre ciência e técnica, entre cultura e trabalho.

O desafio, então, é pensar uma formação, uma oferta de cursos que dê conta do contexto atual, sem cair na armadilha das competências, da formação “polivalente”. Como pensar um ensino que propicie a articulação entre teoria e prática, a apropriação das bases estruturais de conhecimentos gerais e profissional, que permita uma compreensão crítica do trabalho e de sua realização na sociedade capitalista, para além do limite do “saber fazer” e do “saber ser”?

Quando inqueridos nessa direção, a respeito do entendimento e da incorporação da noção de competência no Programa, tanto DET1 quanto DET2 afirmaram que essa discussão nunca foi aprofundada e que o PIQ não a assume23.

Em 2006, duas mudanças importantes ocorreram. A qualificação profissional passou a ser ofertada somente no PIQ III. A justificativa do Departamento de Educação do Trabalhador foi a de que no PIQ II era necessário trabalhar com a questão da tecnologia e inclusão digital em todas as unidades, a fim de que os alunos se apropriassem desse conhecimento que é fundamental para o mundo do trabalho e para a vida pessoal. Sem discutir o mérito dessa orientação, o que vale perceber é que o que pauta essa decisão já foi

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A forma como o Programa se dispõe a integrar o ensino profissional e as diferentes áreas do conhecimento, estará desenvolvida posteriormente, no item que trata da proposta pedagógica.

colocado por DET3 em entrevista citada neste texto, em que aponta o fato do DET ter realizado adaptações, nem sempre na direção dos objetivos do Programa, mas a fim de mantê- lo, diante das dificuldades de sua gestão financeira.

Com relação à oferta dos cursos profissionalizantes somente no PIQ III, isso causou uma séria preocupação nas equipes dos Centros Públicos, uma vez que isto rompia com a idéia do itinerário formativo. Dessa maneira, os alunos dos PIQ’s I e II estariam tendo acesso à informática em substituição aos cursos profissionalizantes. Mas estes cursos tinham um caráter de instrumentá-los como usuários de informática e não os qualificavam profissionalmente nesta área.

Para melhor compreensão do que foi esse processo, segue abaixo um quadro com a evolução dos cursos a partir de 2004 em um dos Centros Públicos.

Tabela 14 – Oferta de itinerário formativo CPFP Armando Mazzo - 2004 a 2006.

2004 2005 2006

PIQ I Pedreiro Pedreiro Inclusão Digital

PIQ II Encarregado

de Obras

Encarregado

de Obras Inclusão Digital

PIQ III Mestre

de Obras Mestre de Obras Elétrica Hidráulica Comandos Elétricos Pintura e Gesso Autoconstrução Fonte: Observatório da Educação e do Trabalho DET/ SEFP/ PSA.

Os cursos que se distribuíam em um itinerário formativo nos quatro ciclos do PIQ, passaram a se localizar como cursos desenvolvidos apenas no PIQ III. Os cursos que constam do PIQ III eram ofertados em módulos durante os anos em que o aluno estivesse estudando, com exceção do curso Autoconstrução que foi criado em 2006, que, na verdade, consistiu na tentativa de colocar em um único curso conhecimentos básicos sobre construção civil, de modo que pudessem ser mobilizados pelos alunos para finalidades domésticas ou comunitárias: levantamento de paredes, pintura, pequenos trabalhos em hidráulica. O itinerário oferecido anteriormente pode ser observado na Tabela 9.

Em 2007, ocorre mais uma alteração. Em uma reunião com a equipe diretiva do DET, foi comunicado às diretoras e assistentes pedagógicos dos Centros Públicos que, a partir deste ano, não haveria mais atendimento no PIQ III, com exceção das salas de continuidade dos PIQ’s II. Essa decisão de seu em virtude do cumprimento da LDB, que atribui ao Estado a

responsabilidade do ensino médio, e não ao município. Dessa maneira, nenhuma matrícula nova deveria ser efetuada nesse ciclo, o que trouxe apreensão à equipe, uma vez que somente no PIQ III era ofertada a qualificação profissional, e isso significaria praticamente extingui-la. Dessa maneira, a razão de ser do Programa, integração entre elevação da escolaridade e formação profissional, estaria descaracterizada, uma vez que o PIQ I e o PIQ II estavam trabalhando apenas com formação em informática básica.

A fala de uma das diretoras reflete essa preocupação:

Então, a questão é da indefinição de continuidade do PIQ III, que a gente só vai ter a continuidade por conta do PIQ II final e do término do profissionalizante. Eu acho que o profissionalizante se tornou o carro-chefe, eu vejo. O aluno nos procura porque tem um outro olhar, tem um outro encaminhamento, ele só não vem buscar escolaridade, elevação de escolaridade. É junto, elevação de escolaridade com algo mais, onde ele possa sair e se inserir no mercado de trabalho logo que ele sai já. Eu acho que a gente tem que buscar uma continuidade e eu acho que existem, existem parcerias. Eu acho que não cabe a nós buscarmos essas parcerias. Eu acho que aí é à Secretaria, Departamento-Secretaria, mas não deixar o programa acabar. Eu acho que é um programa que vem crescendo. Pelo pouco que eu conheço, pelo pouco que eu fiz parte, eu vejo um crescimento, um trabalho de uma equipe bem comprometida, pelo menos a nossa aqui. Mas, assim, essas indefinições, se o PIQ 2 vai poder, o que é o fundamental, ter o profissionalizante, como que vai ser isso, como que vai, junto com a Informática, a Informática vai ser mais uma matéria do núcleo comum? Porque, hoje, é de quatro horas. E o profissionalizante, com quantas horas ficaria? Eu acho que os que nos procuram, eles nos procuram porque eles vêm o programa, um programa bom, um programa que deu certo. E eles querem voltar. É gozado que os que estão se formando não querem ir embora. Já fizeram cadastro de interesse pra cursos livres. Então, é porque eles se sentem bem aqui. E muito dos nossos alunos não estão nem na área, estão em outras áreas, mas querem continuar. Então, eu acho que não dá pra falar “não, pronto, acabou, fecha o livro porque não vai dar mais certo”. (DIR3, 2006)

Apesar de estarem presentes, na fala da diretora, idéias relacionadas ao mito da empregabilidade, ou seja, a de que o aluno faz o curso e consegue se inserir no mercado de trabalho, é importante chamar a atenção para a situação descrita de indefinição e instabilidade do Programa.

Segundo o depoimento de uma das professoras:

[...] a gente sabe que é importante o PIQ III, pra cidade e principalmente pra essas pessoas que vêm fazer o PIQ aqui, a gente sabe como é a possibilidade de inclusão, a gente atende bastante o aluno com deficiência e sabe que apesar de toda a desestrutura que tem o programa, ainda é um programa bom, quando a gente compara com os outros programas que a gente tem, que

a gente já acompanhou em outras escolas, e agora a gente sabe que o programa vai acabar e a gente se sente assim muito triste, por que eu acho que dá pra continuar, que dava pra conseguir verba pra ele, porque em São Bernardo por exemplo, é uma prefeitura e também oferece. Bom, eu estava falando que a prefeitura de São Bernardo também oferece o ensino médio, então a gente fica pensando, por que então que vai acabar aqui, os professores pelo menos acreditam que tem demanda que só vinha crescendo, então a única questão que deixa a gente, agora, no momento assim mais... com uma incógnita maior é como sustentar esse programa em Santo André, como fazer, se tem demanda pra ele, como conseguir através da lei, ou com outros recursos, ou com parceria, como conseguir sustentar esse programa. (Gisela, 2006)

É visível, por um lado, nos dois relatos, o comprometimento com o Programa e sua defesa como uma experiência que apresenta bons resultados e que precisa ser mantida. Por outro lado, a idéia da parceria é muito evidente, como se isso fosse um caminho já naturalizado. A professora Gisela levanta, ainda, a possibilidade de uma forma de financiamento para o Programa e também coloca a parceria como uma saída.

Em 2007, não foram abertas novas matrículas para o PIQ III e as salas foram compostas apenas com os alunos oriundos das turmas de PIQ II Final. As diretoras elaboraram um documento propondo que os cursos profissionalizantes voltassem a ser oferecidos nas turmas de PIQ II, e não perdessem uma das principais características do