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CAPÍTULO 1 CONTEXTO E IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA INTEGRADO

1.2 O PROGRAMA INTEGRADO DE QUALIFICAÇÃO NO CONTEXTO ATUAL

1.2.3 A implantação do Programa Integrado de Qualificação

1.2.3.1 Proposta pedagógica

A proposta pedagógica do programa foi construída pela coordenação pedagógica de então e submetida, em primeiro lugar, aos núcleos pedagógicos através de um espaço de formação criado, denominado Fórum Pedagógico, e, depois, encaminhado ao conjunto dos professores do Programa. Os Fóruns Pedagógicos, vistos como espaço de formação pelas equipes diretivas dos Centros, ocorriam mensalmente e reuniam os núcleos pedagógicos de todos os Centros, com o objetivo de discutir as orientações para a educação profissional no município. Com o passar dos anos, sua característica foi se modificando, tornando-se, cada vez mais, um espaço destinado à formação, e, nos anos de 2005 e 2006, deixou de existir em sua configuração inicial que tinha o objetivo de reunir os núcleos dos Centros e discutir as

orientações e o planejamento dos programas. Em seu lugar, ocorreram algumas reuniões ampliadas de assistentes pedagógicos, diretoras e coordenação do programa, para discutir, em geral, questões pontuais de execução do Programa.

Essa proposta, a maior parte ainda em vigor, pelo menos no plano formal, orienta-se segundo três eixos centrais de trabalho: a autogestão do conhecimento, a qualificação técnica e a perspectiva político-ideológica.

Ao ser debatida, com o conjunto dos professores, estes agregaram, a partir de suas escolas e de encontros gerais, mais alguns objetivos para cada eixo.

O eixo “autogestão do conhecimento” propõe, como uma das principais preocupações do Programa, a apreensão, por parte dos alunos, de instrumentos que lhes propiciem a autonomia na busca do conhecimento e no exercício profissional.

Foi o que apresentou maiores dificuldades na elaboração dos objetivos concretos, os quais ficaram assim definidos:

Propiciar mediações pedagógicas que possibilitem ao aluno:

Desenvolver capacidades de construção do conhecimento dentro e fora do âmbito escolar;

Estimular a pesquisa e procurar novas fontes de conhecimento;

Valorizar a importância dos conhecimentos do núcleo comum como parte da formação integral;

Relacionar entre si as diversas áreas do conhecimento e suas aplicações práticas;

Planejar, desenvolver e gerenciar o seu projeto de vida com autonomia; O estímulo à reflexão, ao espírito investigativo, no processo de aquisição do conhecimento. (PREFEITURA DE SANTO ANDRÉ, 2003b)

É possível observar que, neste eixo, há a presença de diferentes idéias, advindas de diferentes matrizes. Os seus objetivos referem-se à concepção do “Aprender a Aprender”, presente na “nova educação profissional” do governo Fernando Henrique Cardoso, mas é marcado, ao mesmo tempo, não só pelas propostas originárias da participação do coletivo dos professores, da coordenação e dos núcleos pedagógicos, como por outras idéias portadoras de um outro entendimento, que não é exatamente aquele proposto pelo PLANFOR, no sentido da formação para a polivalência e a flexibilidade do trabalhador. A proposta de construção do conhecimento, presente no primeiro objetivo, orienta-se na teoria construtivista, um dos aportes teóricos que fundamentam as ações da Secretaria de Educação e Formação Profissional. Na valorização do Núcleo Comum como parte da formação profissional está presente a idéia de trabalhar, junto com o aluno, a necessidade de sua formação geral, na compreensão de que o conhecimento escolar, além de ser direito, é base para qualquer

formação, idéia que se contrapunha ao “novo conceito” do PLANFOR. Planejar, desenvolver e gerenciar o seu projeto de vida com autonomia diz respeito a uma idéia corrente na formação profissional do Município desde sua implantação, na qual o ensino profissional tem como objetivo contribuir com o trabalhador em suas escolhas, a partir do conhecimento da realidade. O sentido deste eixo, no entendimento da maior parte do conjunto dos trabalhadores do Programa, referia-se muito mais à construção da autonomia intelectual do trabalhador, a partir da apropriação de saberes das diferentes áreas, incluindo a profissional, no sentido de conhecer a realidade para poder nela atuar, do que as competências para atender às novas necessidades do mercado de trabalho.

O eixo da “qualificação técnica” refere-se aos dois campos, o profissional e o dos conhecimentos gerais. É o ensino de técnicas profissionais e de seu desenvolvimento histórico, no propósito de ampliar esses conhecimentos, associando o aprendizado do técnico operacional aos conhecimentos das diferentes áreas científicas que o fundamentam, de modo a promover um aprendizado mais significativo e global.

Seus objetivos são os seguintes:

Articular os diversos saberes e fazeres no contexto da realidade do aluno e do mundo do trabalho:

Acessar os conteúdos específicos de cada área profissional para o seu crescimento pessoal possibilitando vivencias práticas;

Integrar os conhecimentos do núcleo comum e da especificidade profissional na perspectiva da interdisciplinaridade;

Estimular discussões criticas sobre ética profissional;

Propiciar atualização tecnológica para melhoria contínua de qualidade. (PREFEITURA DE SANTO ANDRÉ, 2003b)

Para relacionar o ensino profissional aos conhecimentos das diferentes disciplinas, define-se uma alternativa metodológica que se pauta na interdisciplinaridade. O terceiro eixo da proposta pedagógica é a “perspectiva político ideológica”, que trata da apreensão, por parte dos alunos, dos conceitos fundamentais para a compreensão histórica da sociedade atual e a possibilidade de mudança social, por meio da participação política e social. Foi o eixo mais polêmico, uma vez que na equipe havia representantes de diferentes grupos políticos. Os objetivos definidos foram:

Estimular a vivência dos valores de união, solidariedade e não- discriminação:

Estimular a participação ético-político-social transformadora da sociedade: Orientar e propiciar a vivência de aspectos que os levem a conquistar a consciência de classe;

Possibilitar informações e análises sobre a realidade econômica e social e a possibilidade de superação da mesma. (PREFEITURA DE SANTO ANDRÉ, 2003b)

Uma das discussões mais candentes desse eixo referiu-se à decisão de se explicitar ou não, no documento, a luta pelo socialismo. Ao final, o coletivo optou por não explicitá-la no documento, mas em torná-la presente nas ações cotidianas dos professores, visando favorecer a “conquista da consciência de classe”, traduzida como um dos objetivos a ser alcançado. É importante destacar que nem todas as pessoas do grupo estavam envolvidas nessa discussão, embora tenha sido um importante momento de discussão conjunta, uma vez que o grupo tinha composição diversificada e os professores, muitos com história de militância e experiência em movimentos sociais, contribuíram de modo significativo para a manutenção dos objetivos políticos do Programa, perdidos no decorrer dos anos.