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CAPÍTULO 2 DESENVOLVIMENTO E READEQUAÇÕES DO PROGRAMA

2.3 O QUE OS ALUNOS TÊM A DIZER

A aplicação do questionário nos alunos visou obter informações que qualificassem o perfil do público que participa do Programa no tocante às suas trajetórias de trabalho, suas expectativas, perspectivas em relação ao Programa Integrado de Qualificação, e sobre a forma que tem interferido em suas vidas. Procurou-se, também, em algumas das questões, suscitar, nos alunos, o interesse por temas relacionados ao campo da educação e trabalho, e, dessa maneira, viessem a indicar a sua visão da escola, a importância que lhe atribuíam enquanto instituição responsável pela transmissão de saberes e qualificação.

Foram pesquisadas seis salas, sendo duas de cada Centro Público. Todos os alunos responderam ao questionário, perfazendo um total de 79 alunos, sendo 38 homens e 41 mulheres. As salas pesquisadas foram, por Centro Público, uma de cada nível (PIQ II e PIQ III) e do período noturno, onde se concentra a maior procura da população e apresenta uma maior diversidade de segmentos de público, uma vez que nos períodos da manhã e tarde há uma maior concentração de mulheres e adolescentes.

Os Centros Públicos escolhidos apresentam particularidades no que se refere à sua área de atuação. A escolha dos Centros se deu em função de dois critérios principais: maior tempo de atividade e área de atuação consolidada. Os Centros Públicos Júlio de Grammont,

Valdemar Mattei e Armando Mazzo iniciaram suas atividades, em 1998, e tiveram sua área de atuação definida desde 2002. Os Centros Públicos Valdemar Mattei e Armando Mazzo mudaram de prédio e de denominação, mas continuaram em suas áreas de atuação, no mesmo bairro onde antes estavam instalados.

No Centro Público de Formação Profissional Armando Mazzo, dos 23 alunos pesquisados, apenas duas são mulheres. Neste Centro, que trabalha com a área de construção civil e que ofertou qualificação profissional somente no ensino médio, assim como os outros, durante o ano de 2006, nota-se que nesta modalidade a turma é formada na sua totalidade por homens, sendo que as duas mulheres pesquisadas pertencem ao ensino fundamental. Este Centro, em abril de 2006, atendia a 356 alunos no seu conjunto. Apresenta, também, uma particularidade referente ao atendimento. Nos anos de 2005 e 2006, não conseguiu formar turmas de PIQ no horário da tarde. Suas turmas concentraram-se nos horários da manhã e mais, acentuadamente, no noturno.

No Centro Público de Formação Profissional Júlio de Grammont, oito dos alunos são homens e 30, mulheres. Neste Centro, que trabalha com estética, a turma de ensino médio é formada, na sua totalidade, por mulheres. Com base também em abril de 2006, este Centro atendia 512 alunos.

As particularidades relacionadas a estes dois Centros serão tratadas adiante, na análise dos resultados do questionário.

Já no Centro Público de Formação Profissional de Tecnologia da Informação em Software Livre Valdemar Mattei, há a mesma proporção entre homens e mulheres: 9 homens e 9 mulheres e esta proporção se mantém também no ensino médio. Este Centro atendia em 2006, tomando-se, também, como base o mês de abril, 611 alunos no total.

Com relação à faixa etária dos alunos pesquisados, no que diz respeito aos jovens entre 18 e 26 anos de idade, o público alvo do Programa, constituem 15% dos alunos. A maior concentração ocorre na faixa etária dos 39 aos 45 anos, que corresponde a 21,5%, seguida pelos alunos que possuem entre 46 e 52 anos, 20,2%, e, por fim, pelos que têm entre 25 e 31 anos, 18,9%. Essa é uma característica do Programa, que se mantém desde o seu início, em 2003. Os jovens, público alvo escolhido com o propósito de promover sua retenção fora do mercado de trabalho através de bolsa auxílio e trabalho social, expresso nos objetivos iniciais do Programa, não correspondem à maioria da demanda. Grande parte dos que procuram o Programa, geralmente já possuem alguma trajetória de trabalho e, segundo as diretoras dos Centros, como já foi observado, aproximadamente metade dos alunos interessam-se apenas pela elevação de escolaridade.

Com relação às informações levantadas pelo questionário, uma, em particular, que se mostrou muito interessante e torna possível estabelecer algumas relações com outras questões da pesquisa, refere-se à trajetória dos alunos. É possível observar o que entendem como trabalho (que lhe propicia satisfação ou não), o que consideram ser uma profissão, e como se dá o processo de sua construção. Para 65,8% dos entrevistados, a vida na atividade produtiva se iniciou antes dos 15 anos de idade, sendo que destes, 34,1% a iniciaram antes dos 13 anos. Dos alunos pesquisados, apenas duas mulheres nunca trabalharam. Com relação ao primeiro trabalho, 55,6% o iniciaram em Santo André; 15,1% na região da Grande São Paulo, incluindo o ABC; 2,5%, no interior do estado de São Paulo; 12,6%, na região Nordeste; 5%, na região Sul; e 3,7%, em algum estado da região Sudeste.

Em se tratando da primeira atividade desenvolvida entre os homens que iniciaram sua vida produtiva antes dos 15 anos, estes apontaram, basicamente, as profissões de ajudante e auxiliar de diversos ramos (07 alunos), de vendedor (04 alunos), balconista (03 alunos), office-boy (03 alunos), e lavrador (05 alunos), sendo que, esta última, concentra-se na faixa etária que vai dos 07 aos 10 anos de idade.

Entre as mulheres, para a mesma faixa etária, as profissões apontadas foram as de ajudantes de diversos ramos (05 alunas), empregada doméstica (04 alunas), babá (04 alunas), balconista e atendente (04 alunas), costureira (02 alunas), lavradora (02 alunas), guarda-mirim (02 alunas) e panfleteira (01 aluna). O interessante a observar nesse campo, é que o número de atividades apontadas pelos homens (que para efeito de melhor visualização foram aqui condensadas), foi maior do que o apontado pelas mulheres. Os homens indicaram, para a faixa etária até 14 anos, dezoito atividades, enquanto que as mulheres indicaram dez. A diversidade de ramos apontada pelos homens é maior, já que, para as mulheres, os trabalhos ligados às atividades domésticas e, por isso mais restritos, aparecem em maior número. Com relação às mulheres, também é possível verificar que uma delas começou a trabalhar antes dos 07 anos de idade, na feira. Com relação às horas de trabalho da primeira atividade, dos pesquisados, 25,3% trabalhavam de quatro a seis horas; 45,5% trabalhavam de sete a nove horas por dia; e 18,9% trabalhavam dez ou mais horas por dia. Este último grupo desempenhava basicamente as atividades de ajudante de produção (uma aluna), ajudante geral (dois alunos), costureira (uma aluna), lavoura (três alunas e um aluno), office-boy (um aluno), empregada doméstica (uma aluna) e vigilante em sistema de revezamento (um aluno).

Uma das questões colocadas aos alunos estava relacionada a conhecimentos pessoais e profissionais adquiridos com o trabalho. Entre os homens, os itens mais citados foram o domínio técnico da atividade (citado por treze alunos), atender ao público, honestidade e ser

respeitado no trabalho. Os restantes, com apenas uma indicação para cada um, apresentam, na sua maioria, preocupação com atitudes e valores: compromisso com o trabalho, responsabilidade, saber ouvir, caráter, humildade, entendimento, sabedoria. Outro bloco trata das questões interpessoais: fazer amizades, saber relacionar-se com as pessoas, conviver com a sociedade, entender orientações, lidar com pessoas de todos os tipos, conviver em grupo, auxiliar as pessoas com o seu conhecimento. Um grupo menor detalha os conhecimentos adquiridos: informática, fazer novas coisas, interpretar desenhos, conhecer medidas.

As mulheres colocam, como principais conhecimentos adquiridos, a experiência com as pessoas, conviver e respeitar as pessoas, atendimento ao público, domínio técnico da função, fazer amizades, perder a timidez e melhorar a comunicação. Há uma série de outros itens citados apenas uma vez, que trata das relações interpessoais, atitudes e valores e mudanças pessoais. São citados: separar a amizade do pessoal, diferenciar o que é certo e errado, bom comportamento no trabalho, compromisso com o trabalho, consciência da importância de seu trabalho para os outros, trabalhar em grupo, adquirir consciência de vida, tolerância, persistência, gostar de criança, cuidar bem dos filhos, independência, pagar as próprias contas, cumprir horários, autocontrole, auxiliar as pessoas com seu conhecimento, limites, criatividade, liderança, honestidade, confiança, conhecer costumes e lugares diferentes e necessidade de estudar. De maneira geral, os alunos encontraram muita dificuldade em responder a esta questão e, tanto homens quanto mulheres, atribuem a esse aprendizado um forte conteúdo moral e de formação de caráter.

Não menos importante, as questões relacionadas às mudanças pessoais e interpessoais são muito presentes. Alguns depoimentos são interessantes para auxiliar a entender o universo dos alunos. Samanta, 31 anos, CPFP Júlio de Grammont, PIQ III, ao responder quais foram os conhecimentos adquiridos com o trabalho colocou: “Liderança e idéias criativas. Antes de trabalhar não era assim, todos falavam menos eu”. Josiane, 20 anos, mesmo Centro e mesma turma: “Aprendi a engolir sapo, a cumprir horários, ter responsabilidade, pagar minhas próprias contas e a andar sozinha”. Vilmar, 19 anos, mesmo Centro, PIQ II: “Quando eu era novato eu aprendi a não ser mandado pelos funcionários que gostam de abusar”. Eduardo, 39 anos, PIQ II: “Concepção de vida: lidando com o público aprendi a conviver com pessoas e com isto moldar uma consciência de vida”. Pedro, 46 anos, CPFP Armando Mazzo, PIQ III: “Profissional interpretação de desenho e conhecimento de medidas. Pessoal é quando consigo entender as coisas”. Rosana, 29 anos, Centro Júlio de Grammont, PIQ III: “Aprendi que pessoas têm limites e que devemos respeitar todos”.

Patrícia, 30 anos, PIQ II: “O de respeitar o próximo, trabalhar em grupo, e se comunicar melhor, pois era extremamente tímida”.

Apesar de a amostra da pesquisa ser restrita, é possível observar que os conhecimentos adquiridos no exercício do trabalho influenciam na constituição da subjetividade de quem o realiza, o que se expressa claramente nos registros dos alunos. Apesar de atribuírem ao trabalho uma forte característica negativa, de não se sentirem realizados no exercício de suas atividades, é ele que possibilita mudanças, principalmente as pessoais e inter pessoais, além de ser um forte elemento na constituição do caráter. Nesse sentido, a fala dos alunos confirma observações realizadas por Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005, p.21):

Na relação dos seres humanos para produzirem os meios de vida pelo trabalho, não significa apenas que, ao transformar a natureza, transformamos a nós mesmos, mas também que a atividade prática é o ponto de partida do conhecimento, da cultura e da conscientização. (2005, p.21)

Os alunos trazem em suas colocações uma multiplicidade de elementos contraditórios acerca do trabalho. O emprego é visto como a possibilidade de ter a sobrevivência garantida; o trabalho, uma atividade que via de regra é cansativa e não possibilita crescimento; a profissão, o espaço onde a realização no trabalho pode se dar, ao mesmo tempo em que é através do trabalho que o ser humano se constitui enquanto uma pessoa digna e respeitada. Interessante notar que, apesar de o Programa ter, em seu terceiro eixo relativo à proposta pedagógica, uma perspectiva político-ideológica, a dimensão ontológica do trabalho consiste, ainda, em uma exigência a ser contemplada na proposta pedagógica.

No que se refere ao percurso de trabalho dos alunos e à satisfação pessoal que as atividades lhes trouxeram, os motivos apontados pelos homens referem-se, em primeiro lugar, à afinidade com a atividade; em segundo, à renda, seguida da satisfação em trabalhar com o público, da descoberta de novas habilidades e experiências, do domínio da atividade, do sentir-se útil, do orgulho do trabalho realizado e seu reconhecimento. Com menos indicações, aparecem, também: aprender a operar uma máquina, fazer algo e ver o resultado, aprender uma profissão e fazer novos amigos. Um dos alunos, Ildeu, de 53 anos, do CPFP Valdemar Mattei, PIQ II, fez questão de registrar todo o seu percurso profissional:

Aos 12 anos trabalhei como ajudante de relojoeiro, aos 13, trabalhei no laticínio Itambé, aos 14, já com carteira assinada, trabalhei na Editora Agir

até os 18 anos, depois resolvi partir para outras atividades. Em 1970, vim para SP e comecei a trabalhar em metalúrgica. Trabalhei como ajustador, plainador, mesa limadora, frezador e, nos últimos 28 anos, como mandrilhador.

Alguns outros depoimentos são interessantes no que toca à satisfação conseguida através do trabalho. No CPFP Armando Mazzo, da turma de PIQ III, como Milton de 49 anos, alguns alunos se colocam ao tratar das atividades desenvolvidas e que lhes deram satisfação:

Mecânico de manutenção, serralheiro, encarregado de montagem, encarregado de manutenção, supervisor de montagem e tubulação industrial, técnico de montagem. Todos os trabalhos realizados por mim foram satisfatórios, pois à medida em que fui evoluindo profissionalmente, fui desenvolvendo habilidades que desconhecia frente a cada dificuldade que eu enfrentava e vencia.

Rogério, de 39 anos: “Com pintura e também como impressor gráfico. Porque é um serviço em que a gente faz e vê o resultado”. Pedro, 41 anos: “Organização de arquivos administrativos em empresas de grande porte, multinacionais. Trabalho como arquivista desde o ano de 1985, e organizei alguns arquivos de empresas multinacionais”. Na mesma direção coloca Roberto, de 37 anos:

Office-boy, vendedor, comprador, editor de vídeo. O que mais me deu satisfação foi editor de vídeo. Porque eu trabalho em uma produtora que insere os vídeos em emissoras de TV, e quando você vê que seu trabalho gera resultados positivos para o cliente, eu me sinto vencedor.

Ao se referir ao trabalho que trouxe satisfação, dois alunos colocaram o orgulho em relação à sua profissão e, ao mesmo tempo, a frustração com as alterações ocorridas, decorrentes das políticas de trabalho. José, de 49 anos, CPFP Valdemar Mattei, PIQ II, coloca:

Ajudante de elétrica, que recebi classificação de eletricista porque tinha prática; ao passar dos anos perdi o emprego e aí piorou a situação. Porque teve mudanças de governo e aí piorou a minha vida financeira

José mostra que, mesmo sem escolaridade ou curso de qualificação, recebeu classificação de eletricista em função dos conhecimentos adquiridos na prática e que foram reconhecidos. Para Paulo, 33 anos, CPFP Júlio de Grammont, PIQ II:

Bom o trabalho com o qual mais me desempenhei foi como promotor de vendas. È um trabalho que tenho 17 anos de carteira. Mas, com minha idade, acham que já estou velho para trabalhar. E fora isso tenho 4 diplomas, mas faz 1 ano que estou parado com toda essa experiência. Porque quando vai chegando a idade, parece que você não precisa mais sobreviver.

Como se observa, ao contrário de José, Paulo tem uma profissão reconhecida por quatro certificados de qualificação, não tem a escolaridade completa, o que não o impediu que ficasse desempregado.

Quanto às mulheres, a afinidade com a atividade também aparece, em primeiro lugar, e, diferentemente dos homens, antes da obtenção da renda, na satisfação de trabalhar com o público e na descoberta de novas habilidades e experiências, seguidas pelo orgulho do trabalho realizado, pelo reconhecimento, no fazer novos amigos e conhecer pessoas, pela transformação pessoal, pelo registro na carteira, e por exercer um trabalho menos pesado. Com menos indicações, estão: trabalhar com pessoas educadas, conhecer todas as tarefas da atividade, exercer a muito tempo a mesma atividade, trabalho digno, permanência do que foi aprendido no trabalho.

Com relação às atividades apontadas que trouxeram satisfação pessoal, é possível observar a diferença entre homens e mulheres e, também, algumas diferenças entre os Centros. A diferença entre homens e mulheres se dá no tipo de trabalho, onde é possível observar o leque de atividades que homens e mulheres exerceram e exercem. Os homens dos CPFP’s Armando Mazzo e Valdemar Mattei exercem um maior número de atividades industriais, como mecânico de manutenção, encarregado de montagem, supervisor de montagem e tubulação industrial, eletricista, ajustador mecânico, torneiro mecânico, almoxarife, ferramenteiro, frezador de peças, plainador, entre outras. Referem-se, também, a atividades ligadas ao comércio e serviços, mas, é interessante notar no que, percurso profissional dos alunos desses dois Centros, há uma presença significativa de ocupações qualificadas, ligadas aos postos de trabalho que a indústria oferece ou ofereceu. No CPFP Júlio de Grammont, essa característica não está presente (três alunos apenas indicaram postos de trabalho relacionados à indústria), porque havendo quase o mesmo número de homens pesquisados no CPFP Valdemar Mattei, não há, neste Centro, homens cursando o ensino médio. Por essa razão, pode-se supor que a baixa escolaridade apresentada (estão cursando o ensino fundamental) explique o fato de, em sua trajetória, exercerem funções mais ligadas ao comércio e serviços, e de ajudante ou auxiliar ligado à indústria, e de que mostrem satisfação no desempenho dessas atividades, em contraposição aos outros, que colocam essas ocupações como insatisfatórias.

Com relação às mulheres, a diferença é visível. Nos três Centros Públicos em questão, de todas as mulheres pesquisadas, apenas oito tiveram postos de trabalho na indústria e todas na função de operadora de máquina, auxiliar de produção ou atendente. O restante das atividades, estão relacionadas ao comércio e aos serviços, em funções que não exigem qualificação ou pressupõem uma baixa qualificação (empregada doméstica, vendedora, copeira, cozinheira, balconista, costureira, bordadeira, artesã, revendedora de cosméticos, recepcionista, feirante, balconista, entre outras). Rita, de 30 anos, CPFP Júlio de Grammont, PIQ II, ao se referir aos trabalhos que lhe deram satisfação, observa: “Foram 2. No Vale do Rio Doce trabalhava de atendente e vendedora. Porque foi onde eu comecei a ter um trabalho digno e registrado”. Lenira, 44 anos, do mesmo Centro e mesma turma: “Sempre trabalhei como doméstica fora e em casa. Porque desde cedo comecei nesse ramo, trabalhava com minha mãe e, depois, passei a trabalhar sozinha”. Rosana, 29 anos, da turma de PIQ III:

Trabalhei com vendas e reportagens fotográficas assistente de dois arquitetos, vendedora de perfumaria importada, revelação de filmes, massagista e mãe que é um grande trabalho, adoro o que faço hoje graças a meu curso, sou esteticista.

O curso de estética abriu caminho para minha independência tanto financeira quanto espiritual, é importante se sentir cidadão e poder ter o que é seu por sonho e conquistar o que deseja.

Sebastiana, 34 anos, também PIQ III:

Onde eu morava eu gostava muito do meu trabalho, aqui em São Paulo trabalhei no sacolão que também foi bom, depois fui montar peças de telefones e por fim trabalhei de ajudante de cabeleireiro e por último em casa de família.

Todos eles tive uma grande satisfação pessoal porque gostava do que eu fazia. Estou há 10 anos trabalhando como doméstica e queria muito poder exercer outra profissão.

Darci, 42 anos, do PIQ II:

Foi trabalhar de operadora de máquina quando me deram oportunidade de aprender lidar com a máquina de enchimento de pomada. Ali eu estava aprendendo ter um bom conhecimento, foi uma satisfação.

Ao entrar na questão que trata da insatisfação com o trabalho, pode-se observar que os homens, de modo geral, colocam como insatisfatórias as atividades que não requerem qualificação, na maioria ligadas aos serviços e que se caracterizam por “bicos” (vendedor,

balconista, pipoqueiro, sorveteiro, empacotador, ajudantes de diversos ramos, lavador de carros, vigilante, office-boy, catador de lixo reciclável, lavrador). Para os homens, os motivos que levaram a insatisfação em tais atividades foram: a ausência de perspectiva de melhora, por ser cansativo e desgastante, falta de afinidade com a função, trabalho insalubre ou perigoso, sem direitos ou benefícios, pouco remunerados, não valorizados, humilhantes. Outras situações apareceram com menor evidência: o trabalho não permitiu continuar os estudos, trabalho muito solitário, muita exploração, sem qualificação, não exigia nenhum esforço mental, não era uma profissão, era instável, oscilante.

Alguns depoimentos contribuem para ilustrar o que foi colocado. Antônio, de 53 anos, do CPFP Valdemar Mattei, PIQ III, ao se referir aos trabalhos que desempenhou e que não trouxeram satisfação, afirma: “Ajudante de pedreiro. Sofre muito”. Lucas, de 43 anos, do mesmo Centro e da mesma turma: “Catar lixo reciclável para vender foi humilhante. Ninguém conversava comigo e tinha poucos amigos”. Do CPFP Armando Mazzo, algumas colocações também foram bastante interessantes. Celso, 29 anos, PIQ III, sobre a mesma questão: “Foram os de pipoqueiro, sorveteiro e empacotador. Porque é um serviço leve e fácil de executar”, referindo-se ao fato de essas atividades não lhe exigirem qualificação ou conhecimentos mais elaborados. Ele colocou em seu questionário que nunca teve um trabalho que lhe deu satisfação. Pedro, 46 anos, do mesmo Centro e mesma turma: “Servente de pedreiro, trabalhar com herbicida, cortar cana e fazer faxina. É cansativo e perigoso”. Anderson, 27 anos: “Lava rápido, ajudante de pedreiro. É muito pesado e nada reconhecido e um pouco humilhante”. Jorge, 47 anos: “É trabalhar na área de construção civil como servente. É como se fosse para lugar nenhum, carregando massa de concreto, tijolos, etc”.

No caso das mulheres, elas também colocam como insatisfatórias as ocupações de ajudante e auxiliar de ramos diferentes; as ocupações que não requerem qualificação,