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1 QUADRO TEÓRICO-METODOLÓGICO

1.2 A Teoria dos Atos de Fala: o direcionamento ilocucional na

1.2.1 As direções de ajustamento e as forças ilocucionais: perguntas

Certamente, a correspondência entre o dizer e o fazer não é aleatória, já que todo dizer pressupõe uma intenção. Como vimos, a ação adequada, expressa por um locutor mediante uma proposição em determinada situação, depende da observação de um conjunto de regras. Estas, por sua vez, funcionam como parâmetros de intercompreensão e padrões convencionais de análise do uso da linguagem. Nessa perspectiva, competiria à Pragmática estudar essas condições de proferimento dos enunciados, ou seja, sua ligação factual e real do ato ilocucional, resultantes da posição social dos falantes e capazes de explicar, para além de seu significado objetivo e invariante, sua capacidade de evocar as crenças, atitudes, sentimentos e valores dos indivíduos que os utilizam. Assim, para Mari (1997), todo ato de fala tem, como condição de existência, não só o estado da relação entre falante e ouvinte, como também a relação entre o falante e os aspectos da realidade, pois é a natureza deste estado de relação que pode determinar, por exemplo, a diferença entre uma ordem e um pedido ou entre uma asserção e uma emoção.

Outro ponto relevante para entendermos o modo de funcionamento dos proferimentos na sabatina-política é a direção de ajuste entre a palavra e o mundo e/ou mundo e a palavra. A orientação entre linguagem e ação pode ser compreendida por dimensões de ajustamento em que a linguagem orienta a

construção de estado de coisas ou um estado de coisas orienta a construção da linguagem. Em conformidade, Searle (2002) declara que alguns proferimentos têm, como parte de seu propósito ilocucional, fazer as palavras (mais precisamente, seu conteúdo proposicional) corresponder ao mundo, como os atos assertivos; outras, fazer o mundo corresponder às palavras, como os atos diretivos e comissivos.

Na visão desse autor, a direção de ajuste é sempre uma consequência do propósito ilocucional que, segundo Searle (2002, p. 4), é parte da força ilocucional, mas não é o mesmo que ela. Assim, uma força ilocucional que se realiza, por exemplo, no ponto assertivo tem como direção de ajustamento PALAVRA→MUNDO, pois há uma correspondência entre o conteúdo proposicional a um estado de coisas. Segundo o mesmo autor, os membros da classe assertiva são avaliáveis na dimensão verdadeiro e falso. Observe o seguinte exemplo:

Exemplo 1 (SML, Bloco 1, E4)12: Repórter da Folha/Uol: Atual prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda tem 66 anos e nasceu na cidade de Leopoldina, região da Zona da Mata Mineira. Formado em Administração de Empresas em 1977, Lacerda entrou na vida pública apenas em 2003 quando aceitou o convite para ser Secretário Executivo do Ministério da Educação Nacional do Governo Lula, na gestão de Ciro Gomes. [...]

No trecho acima, o repórter faz uma breve apresentação do candidato Márcio Lacerda. Vemos que há um ajustamento Palavra-Mundo, isto é, os atos assertivos constatativos relatam a sua origem e trajetória política. Assim, não há uma ação a ser desencadeada num tempo futuro à enunciação, apenas a constatação de um estado de coisas do mundo.

Já os membros da classe diretiva e comissiva têm como direção de ajuste MUNDO→PALAVRA, uma vez que uma alteração da realidade poderá acontecer, em razão da enunciação do conteúdo proposicional de um ato. Se nos diretivos o propósito ilocucional consiste no fato de que são tentativas do falante levar o alocutário a fazer algo, por outro lado, os comissivos têm por propósito ilocucional comprometer o falante com alguma ação futura em relação ao alocutário. Como veremos abaixo:

12 Optamos por enumerar as perguntas e respostas por enunciados (E1, E2, E3...). Dessa forma, a 1ª pergunta (o enunciado E1) terá como resposta o E2 e assim sucessivamente. A enumeração por bloco foi feita de acordo com o intervalo da sabatina que também foi dividida em 3 blocos. Leia Sabatina com Patrus Ananias (SPA) e Sabatina com Márcio Lacerda (SML).

Exemplo 2 (SPA, Bloco 1, E9): Pergunta de Eduardo Scolese

(Coordenador da Agência Folha): E o que manter da gestão?

E10: Patrus Ananias/Candidato do PT: Nós vamos governar, é claro,

para todos, mas teremos um foco muito especial entorno da criança e da juventude. Com relação ao atual Governo, todas as obras que estiverem sendo feitas, as obras viárias, as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) com recursos do Governo Federal, as obras da Copa do Mundo, o BRT, todas as obras que estiverem sendo feitas serão implementadas, realizadas e nós procuraremos dar um pouco mais de agilidade para que a população não seja penalizada com a demora dessas obras.

No primeiro enunciado, feito pelo entrevistador Eduardo Scolese, não há uma apresentação de um estado de coisas, ao contrário, há um direcionamento de ajuste que leva à necessidade de uma ação futura a partir do ato diretivo, modo pergunta. Espera-se assim que a instância alocutiva responda a este proferimento. Isso se justifica através de elementos prosódicos representados pelo ponto de interrogação e pelos elementos linguístico-discursivos recorrentes em perguntas, como ‘O que [...]?’; ‘Como [...]?’; etc.

Já no segundo enunciado, na resposta de Patrus, não observamos a apresentação de um estado de coisas, mas sim o desejo da realização desse estado. Em outras palavras, o ato comissivo, modo promessa, só será realizado a partir de uma ação futura feita pelo locutor em benefício do alocutário. Isso pode ser depreendido a partir das locuções verbais “vamos governar”, “teremos”, “serão implementadas”, “procuraremos dar” que apontam para um compromisso futuro assumido pelo candidato caso seja eleito.

Outra classe de atos ilocucionais é a dos expressivos, neles não há direção de ajuste (DIREÇÃO NULA). Searle (2002) declara que, ao realizar um ato expressivo, o falante não está tentando fazer com que as palavras correspondam ao mundo; ao contrário, a verdade da proposição é pressuposta.

Exemplo 3 (SPA, Bloco 1, E2): Patrus Ananias/ Candidato PT:

“Bom dia, Eduardo; bom dia, Vera; bom dia, Paulo; bom dia, Josias; bom dia a todas as pessoas, amigos e amigas aqui presentes. É um prazer estar aqui conversando com vocês. 13

O proferimento acima não apresenta direção de ajuste, pois não tem um compromisso com fatos do mundo e nem implica uma ação futura do locutor ou alocutário. Seu conteúdo proposicional tematiza um ato protocolar de saudação, apresentando um estado de satisfação do locutor que pode ser depreendido a partir do seguinte enunciado “É um prazer estar aqui conversando com vocês.”

Por fim, a última classe é a dos declarativos. A característica definidora dessa classe, segundo Searle, é que a realização bem-sucedida de um de seus membros produz a correspondência entre o conteúdo proposicional e a realidade. Para realização de duplo ajuste (MUNDO↔PALAVRA) dos atos declarativos, considera- se não somente a forma linguística que realiza o ato, mas também um sistema de regras constitutivas que envolvem uma realidade extralinguística que se acrescentam às regras constitutivas da linguagem para que a declaração possa ser realizada com sucesso, como veremos a seguir:

Exemplo 4 (SPA, Bloco 1, E64): Eduardo Scolese (Coordenador da

Agência Folha): Nós vamos fazer agora o nosso primeiro intervalo. Voltamos já. Folha Uol – Eleições 2012.14

A partir deste proferimento, Scolese não apenas relata um estado de coisas como realiza uma ação que é interromper a sabatina momentaneamente. Isto se deve ao lugar que ele ocupa nesse evento como coordenador. Evidentemente, este ato pode apresentar nuances de um ato assertivo por ser uma afirmação ou um anúncio, mas é possível também reconhecer na leitura deste ato um forte aspecto declarativo a partir da ação que é desencadeada pelo seu proferimento, a interrupção do evento.

A partir das direções de ajustamento, a TAF propõe, em resumo, uma interpretação elementar de cinco tipos de usos de enunciados linguísticos: assertivo, diretivo, comissivo, declarativo e expressivo.

Nesse intento, podemos ainda situar os conceitos de ponto e modo; e situar três condições para o sucesso de um ato de fala: condições de conteúdo proposicional (CCP); condições preparatórias (CP); e condições de sinceridade (CS). Sendo assim, para que se entenda, por exemplo, o ato “Feche a janela”, no ponto diretivo, como sendo uma ordem (modo) e não um pedido (modo) é necessário que

tal proposição atenda às seguintes condições: CCP – que as formas linguísticas sejam reconhecidas pelo interlocutor e que expressem, em relação ao momento de enunciação, uma orientação para sua ação futura, evidenciado na desinência verbal imperativa cujo aspecto é injuntivo; CP – que o sujeito falante tenha um estatuto que lhe permita dar ordens ao alocutário, numa relação hierárquica superior a seu alocutário, e que o alocutário também reconheça esse estatuto do locutor; e CS – é o estatuto que aponta para um desejo de que a ação seja realmente desenvolvida pelo alocutário e que esta não seja lesiva ao locutor.

Em resumo, para que um ato ilocucional se realize com sucesso, é necessário que, no contexto de interação, o sujeito realize o ponto ilocucional de força (F) sobre a proposição (P) e essa proposição satisfaça algumas condições de conteúdo proposicional.

Assim, as CCP são um conjunto de fatos linguísticos (gramaticais ou lexicais)15 que estão implicados na construção semântico/discursiva de uma

proposição e são fixadas em termos do tempo da realização verbal, implicado nas ações decorrentes do proferimento de um ato. Considerando o nosso objeto de estudo, ao analisarmos as perguntas feitas pelos entrevistadores, as respostas dos candidatos e os comentários dos internautas, teremos, provavelmente, em seus planos de conteúdo proposicional, a predominância das seguintes possibilidades:

Quadro 7: Possibilidades de realização de CCP dos pontos

Diretivo Possui verbo no presente, modo imperativo e/ou injuntivo; ação projetiva e conteúdo lexical lesivo e não lesivo ao Alocutário (por exemplo, pedido ou ordem).

Comissivo Apresenta uma ação projetiva; tempo verbal futuro / pressupõe ação não lesiva ao Locutor, nem ao Alocutário (no caso da promessa).

Assertivo Apresenta verbo no tempo presente e/ou passado; pressupõe a verdade e/ou factualidade de P. Excepcionalmente, verbos no futuro para formas gerais de predição.

15 É salutar dizer que o teor das propriedades de itens lexicais e das relações entre eles é determinante na percepção de um conteúdo lesivo ou não-lesivo ao alocutário no caso de uma ordem; mas será de percepção e de respondibilidade do alocutário, no caso de uma pergunta. Esses fatores podem ser determinantes também na percepção de factividade de uma promessa a ser realizada pelo locutor. Outro ponto é o teor locutivo e alocutivo das formas verbais que deve ser levado em conta. Provavelmente, muitos aspectos das propriedades lexicais podem ser resolvidos a partir das condições preparatórias.

Expressivo Não existe, a priori, uma condição geral de seu funcionamento proposicional (apesar de ser caracterizado muitas vezes por frases nominais).

Declarativo Apresenta verbo no presente; ação consecutiva ao proferimento, geralmente, ações formais, vinculadas a instâncias institucionais.

Além disso, outra condição consiste na pressuposição do locutor sobre as proposições determinadas pelas condições preparatórias de (F) relativamente a (P) nesse contexto. Assim, as CP são um conjunto de fatos e estados de coisas que são imputados ao locutor e ao alocutário e que são pressupostos para a realização de um ato.

Estas condições diferem das CCP por serem supostas tanto na dimensão do locutor quanto na do alocutário (sem que haja um registro para elas em termos da proposição), e, portanto, são condições representadas no plano do Ato de Linguagem (enunciação) e não do enunciado, como fica evidenciado para as CCP. Desse modo, teríamos, provavelmente, referente às condições preparatórias para alguns atos de fala encenados, tanto na sabatina, quanto nos comentários dos internautas, as possíveis condições preparatórias gerais:

Quadro 8: Possibilidades de realização de CP dos pontos

Diretivo O locutor (entrevistador) é hierarquicamente superior ao alocutário (entrevistado). O entrevistador tem a prerrogativa da pergunta e o entrevistado a ‘obrigatoriedade’ de responder.

Comissivo O locutor (candidato) está apto a prometer P ao alocutário (eleitores de Belo Horizonte).

Assertivo i. O locutor (entrevistador) está apto a avaliar e/ou criticar as proposições do alocutário (candidato).

ii. O locutor (candidato) está apto a avaliar e/ou criticar as proposições do alocutário (adversário político) e/ou concordar ou refutar as proposições do entrevistador).

Expressivo O locutor (candidato) deseja elogiar e/ou criticar o alocutário (o adversário político) em relação à realização de P (obras públicas/governo).

Declarativo O locutor (entrevistador) faz parte de uma instituição (Folha e/ou Uol); O alocutário (entrevistado) passa a agir a partir da permissão do locutor = concessão da palavra pelo entrevistador.

É necessário, portanto, que o locutor exprima os estados mentais determinados pelas condições de sinceridade. Grosso modo, a CS traduz a

compatibilidade que o locutor reflete entre o proferimento de um ato e o seu estado mental (SEARLE, 2002). Dessa forma, pressupõe-se que todo ato precisa ser compatível com o estado mental (EM) do locutor. Por exemplo, no momento de uma saudação dos candidatos, pressupõe-se que ocorra um EM de satisfação; no caso de uma promessa, exige-se o EM de desejo/ possibilidade de realização de P em benefício do alocutário; já a pergunta pressupõe um EM de dúvida ou questionamento em relação ao desconhecimento de P. Em suma, a CS precisa ser compatível com EM do locutor. A seguir apresentamos um esquema ilustrativo do que foi dito:

Quadro 9: Possibilidades de realização de CS dos pontos

Diretivo O locutor (entrevistador) deseja/ crê que o alocutário (candidato) possa responder P (às perguntas); pois P é importante para ‘ajudar’ na decisão do eleitor.

Comissivo O locutor (candidato) deseja realizar P (promessa). O locutor crê que P é benéfico ao eleitor.

Assertivo i. O locutor (candidato) crê/deseja que convencerá o eleitor a partir de P (informações); ii. O locutor (entrevistador) crê que o candidato possa responder P (perguntas); iii. O locutor (o entrevistador e o candidato) deseja/crê informar o público a partir de P (afirmações, constatações, explicações, etc.).

Expressivo i. O locutor (o candidato) crê que o alocutário (adversário político) não realizou P satisfatoriamente, logo deseja criticá-lo; ii. O locutor (o candidato) crê que realizou P satisfatoriamente, logo deseja se elogiar.

Declarativo O locutor tem consciência da autenticidade de sua ação; ele faz parte de uma instituição x, o que o torna apto a proferir P e P é um ato de linguagem e ação no mundo. Quando o entrevistador diz: “Nós vamos fazer agora um intervalo. Voltamos já [...].”, é tolhido o direito de continuação do evento, por exemplo, e seu proferimento ocasiona uma ação.

É importante deixar claro que os componentes que definem a estrutura de um ato de fala pretende avaliar as direções de ajustamento, buscando caracterizar: a) os tipos de ações que estão previstas na atividade discursiva e b) os tipos de ação que essa atividade pode engendrar.

O ato de fala com força realizada no ponto diretivo, cujo modo de realização se traduz na pergunta, por exemplo, pressupõe que o locutor deste ato efetive sua enunciação com o objetivo de fazer com que o interlocutor realize uma ação futura

sob a forma de um ou vários outros atos de fala que constituirão a resposta, efetivando, assim, a troca interativa. Nessa interação, o locutor estabelece para si o direito de obter uma resposta do interlocutor e este, por conseguinte, o dever de responder à pergunta.

O ponto diretivo tem uma direção de ajustamento MUNDO-PALAVRA, pois implica a realização de uma ação representada no seu conteúdo proposicional a ser desencadeada num tempo futuro da enunciação. No caso da pergunta, pode-se dizer que é sempre um ato iniciativo que engendra (se tem expectativa de) um ato reativo, seja ele, assertivo, comissivo, etc. Essa relação interdependente entre pergunta e resposta diz respeito à “imposições/restrições” discursivas e ilocucionais à resposta, dando-nos indicações do que pode ser uma resposta adequada ou não, assim, as respostas nos indicarão se certas condições do Ato de Linguagem foram satisfeitas ou não. Observe o esquema:

Quadro 10: Parâmetros: ato de fala pergunta

Ponto Diretivo (direção mundo-palavra) /ação futura

Modo Tentativa do locutor obter a informação do interlocutor, criando assim um dever para o interlocutor.

Condições de conteúdo proposicional

Qualquer conteúdo proposicional, pertinente à atividade política em discussão.

Condições

preparatórias O locutor não sabe a resposta e supõe que o interlocutor seja capaz de oferecê-la. Condições de

sinceridade O locutor deseja obter uma resposta de seu interlocutor e assume a responsabilidade desse desejo ou intenção.

A título de exemplificação dos parâmetros definidores do ato de fala pergunta, tomemos o seguinte exemplo:

Exemplo 5 (SPA, Bloco 1, E5): EDUARDO

SCOLESE/COORDENADOR AGÊNCIA FOLHA: Candidato a primeira pergunta: Se o senhor for eleito, o que o senhor pretende mudar de imediato na administração da Prefeitura e quais ações do atual prefeito Márcio Lacerda que o senhor pretende manter?

(E6): PATRUS ANANIAS/ CANDIDATO PT: Belo Horizonte hoje tem

cinco desafios fundamentais que serão prioridades do nosso governo. Claro que a prioridade não implica em exclusão. Mas a primeira grande prioridade é a Saúde. A Saúde não está bem em Belo Horizonte. Nós temos um projeto claro para enfrentar o desafio da Saúde em Belo Horizonte desde a melhoria no atendimento de base com Centros de Saúde, que nós queremos que funcionem aos fins de semana, os Centros de Saúde não funcionam nos fins de semana em Belo Horizonte. Consolidando também, ampliando as equipes de Saúde da Família. Depois, no nível intermediário implantando mais nove unidades de especialidades para atender a demanda; um centro para exames especializados: imagem, né, tomografia, ultrassonografia; concluir as obras do Hospital do Barreiro, integrar com a Rede Hospitalar Municipal, nós temos também o Hospital em [Ininteligível], fazer nossa parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, o Hospital das Clínicas e também envolver a rede privada nesse atendimento. Um segundo desafio também fundamental em Belo Horizonte é o combate à violência. A questão da segurança pública cidadã. Um compromisso nosso, na Prefeitura de Belo Horizonte é assumir, como responsabilidade do prefeito, todas as questões que disserem respeito à população de Belo Horizonte, nenhum problema vai ser desconsiderado, “Ah, é responsabilidade do Governo do Estado, responsabilidade do Governo Federal...”. Não. O que for do Governo Municipal, vamos fazer.

A partir desse ato podemos, até certo ponto, falar da identidade e intencionalidade desse sujeito engendrado no jogo pergunta/resposta. O exemplo acima pode ser entendido como um diretivo sob a forma de pergunta, resultante do conteúdo proposicional composto por itens lexicais significativos, como exemplo, os pronomes interrogativos “o que” e “quais” que orientam o tema da resposta “o que mudar e quais ações manter”, que, para se ajustar à pergunta, deve preencher esta variável. Além disso, o entrevistador tematiza discursivamente que se trata de uma primeira pergunta, “candidato a primeira pergunta”, validando assim uma condição preparatória que o posiciona como aquele que faz perguntas.

Outra característica que podemos assinalar aqui, que distingue o ponto diretivo de outros atos, é a alocutividade. Como dito em outros momentos neste trabalho, o interlocutor é interpelado diretamente. A marca linguística dessa alocutividade se traduz nesse ato pelo pronome de tratamento “senhor”, em outros momentos da sabatina pelas formas recorrentes “candidato” e “Ministro”.

Observemos também a entonação ascendente ao final do enunciado (detectada na forma oral da pergunta), característica dos proferimentos interrogativos.

Outro aspecto diz respeito à ideia de uma ação futura a ser desempenhada pelo interlocutor caso seja eleito: “o que pretende mudar de imediato” e “quais ações [...] pretende manter”. Somam-se a isto as convenções de uso que regulam a interação entrevistador/entrevistado, conferindo ao primeiro o valor hierárquico de fazer com que o segundo realize esta ação linguageira, ou seja, responder à pergunta. A pergunta impõe, assim, restrições de ordem ilocucional e discursiva à resposta. Tais restrições, em função da situação de comunicação, nos fornecem indícios sobre o que seria uma resposta apropriada e o que não seria. Por sua vez, a resposta pode também nos mostrar se certas condições foram ou não satisfeitas em relação à pergunta.

Vemos que o entrevistador apresenta um EM de crença na capacidade do entrevistado responder a P, para isso delimita o tema que deverá aparecer na resposta do alocutário que pode ser resumido como - “O que mudar e o que manter da gestão municipal atual?”. A resposta do entrevistado, por sua vez, em forma de assertivos e comissivos, parece não satisfazer a pergunta inicial, uma vez que o interlocutor ‘peca’ pela evasão de sua resposta, aparentemente, não dando a informação solicitada. Entretanto, como veremos adiante, outro entrevistador interpela novamente o candidato “acusando-o” de fugir do tema desta primeira pergunta. Vejamos:

Exemplo 6 (SPA, Bloco 1 – E11): VERA MAGALHÃES/EDITORA

PAINEL FOLHA: E o que o senhor pretende mudar, o senhor não disse ainda, ministro, o que o senhor acha que está muito ruim e que precisa ser mudado?

(E12): PATRUS ANANIAS/CANDIDATO PT: Eu já mencionei alguns

pontos. A Saúde em Belo Horizonte está muito ruim. A mobilidade