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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Letras. Sônia Cristina Tavares Vilela Chamone

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Sônia Cristina Tavares Vilela Chamone

A IMAGEM QUESTIONADA NA SABATINA POLÍTICA ELEITORAL:

uma análise discursiva da sabatina política e da interação popular mediada por chat.

Belo Horizonte 2014

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Sônia Cristina Tavares Vilela Chamone

A IMAGEM QUESTIONADA NA SABATINA POLÍTICA ELEITORAL:

uma análise discursiva da sabatina política e da interação popular mediada por chat.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa.

Orientador: Dr. Hugo Mari

Belo Horizonte 2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Chamone, Sônia Cristina Tavares Vilela

C448i A imagem questionada na sabatina política eleitoral: uma análise discursiva da sabatina política e da interação popular mediada por chat / Sônia Cristina Tavares Vilela Chamone. Belo Horizonte, 2014.

185.: il.

Orientador: Hugo Mari

Dissertação (Mestrado)- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Letras.

1. Discursos de campanha eleitoral. 2. Discussões e debates. 3. Internet Relay Chat. 4. Instituto Ethos. I. Maria, Hugo. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Letras. III. Título.

CDU: 82.085

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Sônia Cristina Tavares Vilela Chamone

A IMAGEM QUESTIONADA NA SABATINA POLÍTICA ELEITORAL: uma análise discursiva da sabatina política e da interação popular mediada por chat.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa.

_____________________________________________________

Dr. Hugo Mari (PUC Minas) - Orientador

_____________________________________________________

Dr. Cláudio Humberto Lessa (CEFET-MG)

_____________________________________________________

Dr. Juliana Alves Assis (PUC Minas)

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Saudade

Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora,

mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca,

é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás,

é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades,

passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

(Pablo Neruda)

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AGRADECIMENTOS

A todos que contribuíram para a realização deste trabalho, deixo expressa aqui a minha gratidão, especialmente:

Ao Prof. Dr. Hugo Mari por ter tido paciência com os meus limites, por ter me orientado nesse longo percurso de escrita e, acima de tudo, por ter me mostrado que ser professor vai além de possuir conhecimentos e didática.

Aos meus professores doutores Jane Quintiliano Guimarães Silva, Arabie Bezri Hermont, Maria Ângela Paulino Teixeira Lopes, João Henrique Rettore Totaro, Juliana Alves Assis, Josiane Andrade Militão, Marco Antônio de Oliveira, Sandra Maria Silva Cavalcante e Milton do Nascimento por terem me ensinado perspectivas diversas que formam a visão que tenho hoje da língua(gem) e por terem se mostrado sempre disponíveis a reflexões teóricas. E ao professor Alexandre Veloso de Abreu pelos apontamentos produtivos neste trabalho.

Ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e a toda equipe administrativa que sempre serviu com dedicação.

A CAPES, pela bolsa de estudos concedida.

A Deus, primeiramente. Depois a toda a minha família, em especial, a minha querida mãe e minha irmã Helena.

Ao meu amado esposo Fabiano Chamone que, movido pelo desejo de ver o meu sonho se realizar, não poupou esforços em ajudar-me nesta conquista.

Aos meus amigos e amigas que, direta ou indiretamente, torceram por mim. De forma especial, agradeço ao meu amigo de mestrado, Romison Eduardo, pelo apoio e amizade.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo verificar como os candidatos a prefeito de Belo Horizonte, em uma situação de sabatina política-eleitoral, utilizam a linguagem para criar uma imagem de si por meio da promessa, da crítica e do autoelogio; e como os entrevistadores e internautas, em um processo enunciativo, veem tais candidatos, isto é, projetam suas imagens, seus ethé. As sabatinas foram transmitidas pelo Portal Uol e tiveram a participação via chat da instância cidadã. A partir da descrição e análise do corpus, buscamos verificar as condições de produção do discurso político-eleitoral, analisando a interação entre a instância midiática (Folha/Uol), os candidatos à eleição (Patrus Ananias) e reeleição (Márcio Lacerda) e a instância cidadã por meio de seus comentários no chat e pelas perguntas enviadas pelo eleitorado nas redes sociais (Twitter e Facebook), sendo estas mediadas nas sabatinas pelos entrevistadores. Partimos da hipótese de que os modos de organização discursivo-enunciativos dos candidatos tendem a denunciar uma orientação “argumentativa” propagandística na resposta às perguntas propostas pela instância midiática e pelos internautas; essa orientação pode ser refletida no valor ilocucional e perlocucional dos enunciados; por sua vez, os entrevistadores da sabatina e internautas podem perceber esse direcionamento, corroborando ou refutando tais proposições. Em síntese, dentre as especificações teórico-metodológicas para análise desse objeto (sabatina política), concernentes ao dispositivo contratual (gênero), instância locutora (EUc/EUe), instância alocutiva (TUi/TUd), suporte e outras especificidades que influenciam a materialização desse discurso, tomamos a linha de análise Semiolinguística proposta por Patrick Charaudeau, no que concerne ao Ato de linguagem (contrato comunicacional). Tomamos ainda a teoria dos Atos de Fala (TAF) para compreender a ação dos sujeitos na produção e recepção desse discurso. E reportamo-nos também a teóricos que problematizam a questão da argumentação para fundamentar as reflexões que aqui se pretende, principalmente, a categoria ethos.

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ABSTRACT

This study aims to determine how the political candidates for mayor of Belo Horizonte, in political-electoral debates, use language to create an image of themselves through the promise, the criticism and self-promotion, and how interviewers and internet users in an enunciative process, see such candidates, i.e. their images, their ethé. The debate was transmitted by Web Portal UOL and had the participation, via chat, of voters. From the description and analysis of the corpus, we seek to verify the conditions of political-electoral discourse production, analyzing the interaction between the media (Folha/UOL), candidates for election (Patrus Ananias) and re-election (Márcio Lacerda), citizens, through their comments in chat, and questions sent by the electorate on social networks (Twitter and Facebook), which were mediated by the interviewers in the debate. We hypothesized that the candidates’ modes of discursive-enunciative organization tend to demonstrate a propagandistic, "argumentative” orientation in response to questions posed by the media and internet users; this orientation may be reflected on illocutionary value and perlocutionary statements; in turn, interviewers of the debate and internet users can realize this direction, corroborating or refuting such propositions. In summary, among the theoretical and methodological specifications for the analysis of this object (political debate), concerning the contractual arrangement (gender), speaker (EUc /EUe), listener (TUi/TUd), support and other specifics that influence the materialization of this discourse, we take the line of Semiolinguistic analysis proposed by Patrick Charaudeau, regarding the Act language (communicational contract). Further, we take the theory of Speech Acts (TSA) to understand the actions of the subjects in the production and reception of this discourse. Additionally, we reference theorists who problematize the issue of arguments in support of the reflections that concern, mainly, the ethos category.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Quadro enunciativo da teoria Semiolinguística... 18

Quadro 2 Quadro enunciativo da teoria Semiolinguística: instâncias empíricas e discursivas... 19 Quadro 3 Quadro enunciativo de uma entrevista jornalística... 23

Quadro 4 Quadro enunciativo de um debate... 24

Quadro 5 Quadro enunciativo de uma sabatina política... 24

Quadro 6 Quadro enunciativo do chat... 26

Quadro 7 Possibilidades de realização de CCP dos pontos... 39

Quadro 8 Possibilidades de realização de CP dos pontos... 40

Quadro 9 Possibilidades de realização de CS dos pontos... 41

Quadro 10 Parâmetros: ato de fala pergunta... 42

Quadro 11 Quadro comparativo dos atos diretos e indiretos... 47

Quadro 12 Quadro comparativo dos atos assertivos e comissivos... 48

Quadro 13 Quadro enunciativo da sabatina no âmbito da pergunta... 60

Quadro 14 Quadro enunciativo da sabatina no âmbito da resposta... 61

Quadro 15 Cena enunciativa da sabatina – projeto de dala dos integrantes... 63

Quadro 16 Cena enunciativa da sabatina – projeto de fala dos integrantes diretos... 65

Quadro 17 Cena enunciativa da sabatina – projeto de fala dos internautas... 71

Quadro 18 Análise do comentário do internauta Marcelo Advogado – projetos sociais... 72

Quadro 19 Análise do comentário do internauta Observador – projetos sociais... 73

Quadro 20 Cena enunciativa da sabatina – projeto de fala dos integrantes diretos... 77

Quadro 21 Cena enunciativa da sabatina – projeto de fala dos internautas... 96

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 10

1 QUADRO TEÓRICO-METODOLÓGICO... 14

1.1 Teoria Semiolinguística: quadro enunciativo e contrato comunicacional... 15

1.1.2 Sobre o contrato de comunicação: a encenação do ato de linguagem... 18

1.1.3 Análise descritiva do nível situacional da sabatina política... 21

1.1.4 O nível discursivo-comunicacional da sabatina política: os papeis enunciativos como possibilidades das “maneiras” de dizer... 27

1.2 A Teoria dos Atos de Fala: o direcionamento ilocucional na sabatina política na campanha eleitoral para prefeito de Belo Horizonte... 30

1.2.1 As direções de ajustamento e as forças ilocucionais: perguntas e respostas... 35

1.3 Ethos: uma abordagem interdisciplinar... 54

1.3.1 Um estudo discursivo das emoções... 56

2 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DISCURSOS DE ELEIÇÃO NA SABATINA POLÍTICA: cruzamento teórico... 59

2.1 O enquadramento da “mise en scène” e os atos de fala da sabatina política... 59

2.1.1 Pergunta do jornalista e resposta do candidato... 63

2.1.2 Tema 1: Rompimento da aliança – candidato Patrus Ananias... 64

2.1.3 Tema 1: Rompimento da aliança – candidato Márcio Lacerda... 75

2.1.4 Tema 2: “Lulodependência” – candidato Patrus Ananias... 80

2.1.5 Tema 2: “Aéciodependência” – candidato Márcio Lacerda... 85

2.1.6 Tema 3: Mensalão – candidato Patrus Ananias... 87

2.1.7 Tema 3: Mensalão – candidato Márcio Lacerda... 93

2.2 Pergunta do internauta mediada pelo jornalista como projeção do ethos do candidato... 96

2.2.1 Pergunta do internauta editada pelo jornalista e direcionada a Márcio Lacerda... 97 2.2.2 Pergunta do internauta editada pelo jornalista e direcionada a Patrus Ananias... 105 2.3 A projeção do ethos da instância midiática a partir dos comentários dos internautas... 108

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CONSIDERAÇÕES FINAIS... 117

REFERÊNCIAS ... 123

ANEXOS A Sabatina com Patrus Ananias – 1º bloco... 127

B Sabatina com Patrus Ananias – 2º bloco... 133

C Sabatina com Patrus Ananias – 3º bloco... 140

D Sabatina com Márcio Lacerda – 1º bloco... 146

E Sabatina com Márcio Lacerda – 2º bloco... 152

F Sabatina com Márcio Lacerda – 3º bloco... 157

G Bate-papo da sabatina com Patrus Ananias... 163

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INTRODUÇÃO

Através da linguagem, interagimos socialmente e orientamos nosso discurso a fim de estabelecer relações, incitar reações e comportamentos desejados. Utilizamo-la para provocar efeitos em nossos interlocutores e, em contrapartida, tornamo-nos sujeitos às suas orientações argumentativas.

Segundo Koch (2001, p. 9), a língua vem sendo interpretada de formas diferentes no decorrer da história, como: representação do mundo; como um meio de comunicação e como ‘lugar’ de ação e interação. Sabe-se, porém, que a língua não é somente um meio de representar o mundo, tampouco, é um mecanismo de mera transmissão de informações. A língua é uma forma de ação orientada, pois: “[...] quando se diz algo, alguém o diz de algum lugar da sociedade para outro alguém também de algum lugar da sociedade e isso faz parte da significação” (ORLANDI, 1987, p. 26). A língua(gem) é, portanto, o meio de interação pelo qual os sujeitos estabelecem variados tipos de discursos e, a partir deles, constroem relações sociais, políticas e ideológicas.

Se antes o sujeito do discurso era visto como um sujeito passivo, hoje ele é visto como um ser ativo que, através de sua linguagem, age argumentativamente sobre o outro por meios afetivos e/ou racionais. Mas, o que realmente significa argumentar? Antônio Suarez Abreu, em sua obra intitulada A Arte de Argumentar (2001, p. 25), orienta-nos que:

Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente, significa VENCER JUNTO COM O OUTRO (com + vencer) e não contra o outro. Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. A origem dessa palavra está ligada à preposição PER, “por meio de” e SUADA, deusa romana da persuasão. Significa “fazer algo por meio do auxílio divino”. Mas em que CONVERCER se diferencia de PERSUADIR? Convencer é construir algo no campo das ideias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize.” (Destaques do autor)

A argumentação é um fator intrínseco à linguagem e é por meio dela que buscamos alcançar nossos objetivos, gerando no outro os efeitos e reações que desejamos desencadear. Por isso, conforme Citelli (2005), podemos afirmar que não há neutralidade argumentativa no discurso, já que até mesmo sua negação direciona

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para a intenção de se representar neutra. Desse modo, “a linguagem passa a ser encarada como forma de ação sobre o mundo, dotada de intencionalidade, veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto, pela argumentatividade.”. (KOCH, 2002, p. 10).

Daí advém o interesse de nosso estudo: verificar como a linguagem torna-se instrumento para a ação no discurso e como os sujeitos se posicionam diante desse discurso e dessa argumentação. Para isso, escolhemos como corpus de nosso trabalho o discurso político-eleitoral, já que ele se enquadra explicitamente em um perfil argumentativo, o qual podemos até mesmo chamar de contrato de “propaganda” devido ao forte direcionamento argumentativo-discursivo dos candidatos que buscam a conquista do voto do eleitorado.

Assim, escolhemos para análise duas sabatinas políticas realizadas no período de campanha eleitoral para prefeito de Belo Horizonte no ano de 2012. Essas duas situações de interação face a face tiveram como entrevistadores alguns jornalistas da Agência Folha e do Portal Uol: Josias de Souza (colunista do Uol), Paulo Peixoto (correspondente da Agência Folha em Belo Horizonte), Vera Magalhães (editora do Painel da Folha) e Eduardo Scolese (coordenador da Agência Folha). Os entrevistados/sabatinados foram os candidatos Patrus Ananias (PT) e Márcio Lacerda (PSB).

As sabatinas foram realizadas em dias diferentes e transmitidas ao vivo pelo Portal Uol, na internet. No primeiro dia, 27/08/12, o candidato sabatinado foi Patrus Ananias e, no dia seguinte, 28/08, Márcio Lacerda. Em ambas, a instância cidadã pode interagir com os entrevistadores e candidatos por meio de perguntas realizadas nas redes sociais Facebook e Twitter e na sala de bate-papo do Portal Uol. O material para análise (os discursos das sabatinas) foi coletado por meio de gravação em vídeo e depois transcritas (em anexo), e o do chat, foi impresso.

A partir da descrição e análise desse corpus, buscaremos verificar as condições de produção do discurso político-eleitoral, analisando a interação entre a instância midiática, os candidatos à eleição e reeleição e a instância cidadã, por meio de comentários no chat e pelas perguntas enviadas pelo eleitorado nas redes sociais citadas acima e mediadas nas sabatinas pelos entrevistadores.

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Desse modo, tem-se o objetivo de verificar como os candidatos utilizam a linguagem para criar uma imagem de si por meio da promessa, da crítica e do autoelogio; e como os entrevistadores e internautas, em um processo enunciativo, veem tais candidatos, isto é, projetam suas imagens, seus ethé.

Partimos da hipótese de que os modos de organização discursivo-enunciativos dos candidatos tendem a denunciar uma orientação “argumentativa” propagandística na resposta às perguntas propostas pela instância midiática e pelos internautas; essa orientação pode ser refletida no valor ilocucional e perlocucional dos enunciados; por sua vez, os entrevistadores da sabatina e internautas podem perceber esse direcionamento, corroborando ou refutando tais proposições.

Em síntese, dentre as especificações teórico-metodológicas para análise desse objeto (sabatina política), concernentes ao dispositivo contratual (gênero), instância locutora (EUc/EUe), instância alocutiva (TUi/TUd), suporte e outras especificidades que influenciam a materialização desse discurso, tomamos a linha de análise Semiolinguística proposta por Charaudeau (2009), no que concerne ao Ato de linguagem (contrato comunicacional). Tomamos ainda, a Teoria dos Atos de Fala (TAF), para compreender a ação dos sujeitos na produção e recepção desse discurso. E reportamo-nos também a teóricos que problematizam a questão da argumentação, para fundamentar as reflexões que aqui se pretende, principalmente, a categoria ethos.

Separamos o trabalho em dois grandes capítulos: um destinado à descrição das teorias em que nos apoiamos, inserindo nele breves descrições analíticas do corpus como modo de exemplificação; outro destinado à análise, propriamente dita, e, por último, as considerações finais.

No capítulo 1, destacamos o quadro teórico-metodológico. Descrevemos assim o quadro enunciativo e o contrato comunicacional da sabatina política; fazendo uma breve análise de seu nível situacional e discursivo-comunicacional. Apresentamos a descrição da teoria dos Atos de Fala, verificando o direcionamento ilocucional, as direções de ajustamento e as forças ilocucionais (perguntas e respostas). Além dessas duas teorias, apontamos a categoria Ethos como uma abordagem interdisciplinar. Inserimos também neste capítulo algumas informações relevantes, tais como: o processo de levantamento de dados, a delimitação desse

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corpus, a apresentação dos locutores e interlocutores deste corpus, a justificativa, objetivos e hipóteses.

No capítulo 2, apresentamos uma análise contrastiva dos discursos selecionados a partir de seu enquadramento na teoria Semiolinguística, Atos de Fala e da categoria retórico-argumentativa Ethos. Separamos a análise dos dados da seguinte forma: i) análise das perguntas dos jornalistas x respostas dos candidatos em três temas mais recorrentes (rompimento da aliança, lulodependência/aéciodependência e mensalão); ii) análise de perguntas dos internautas e, por último, a projeção do ethos da instância midiática a partir dos comentários dos internautas.

Por fim, na última parte do trabalho, apresentamos as considerações finais analíticas deste estudo.

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CAPÍTULO I: QUADRO TEÓRICO-METODOLÓGICO

Uma dificuldade na pesquisa linguístico-enunciativa é devida à complexidade conceitual demandada ao definir instrumentos teórico-metodológicos que permitam descrever e analisar, satisfatoriamente, as atividades discursivas. Aliás, ao se tratar do discurso político, acreditamos que outro obstáculo enfrentado pelo analista na descrição e análise desse discurso, grosso modo, seja pelo vasto número de trabalhos desenvolvidos por diferentes áreas de estudo das Ciências Humanas que se dedicam a estudar o modo de apresentação e organização desse universo prático-discursivo e a sua repercussão a partir de diferentes lentes epistemológicas.

Não obstante, principalmente na Linguística, vêm se desenvolvendo inúmeras abordagens apontando a multifacetada manifestação e adaptação dessa prática discursiva. Há uma gama de possibilidades de abordagem analítica do discurso político dentro dos estudos da Análise do Discurso e a dificuldade de se ater a uma teoria que dê conta de explicar efetivamente essa atividade, implica avaliar como se dá o processamento do sentido por um viés enunciativo-discursivo-pragmático. Um dos motivos para análise do discurso político é pensar esse fenômeno no âmbito midiático/virtual com a participação ativa de internautas.

A partir da escolha desse objeto de estudo, representado sob a forma da Sabatina Política, buscamos, nesse primeiro momento, apresentar e discorrer sobre algumas proposições teóricas que visam analisar esse discurso, captando aspectos de sua constituição e organização.

Dentre as especificações metodológicas para análise desse objeto (Sabatina Política), concernentes ao dispositivo contratual (gênero), instância locutora (EUc/EUe), instância alocutiva (TUi/TUd), suporte e outras especificidades que influenciam a materialização desse discurso, tomamos a linha de análise Semiolinguística proposta por Charaudeau (2009), no que concerne ao Ato de linguagem (contrato comunicacional). Optamos por tal teoria por acreditar que é a que, dentre os estudos da Análise do Discurso, melhor atende as razões que motivaram esta proposta. Tomamos ainda a teoria dos Atos de Fala (TAF) para melhor compreender a ação dos sujeitos na produção e recepção desse discurso. E reportamo-nos também a teóricos que problematizam a questão da argumentação

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no discurso, na figura do Ethos, para fundamentar as reflexões que aqui se pretende.

Enfim, na tentativa de integração das categorias dos modelos acima mencionados, apresentaremos a seguir um breve panorama das considerações teórico-metodológicas desenvolvidas por esses quadros, bem como breves análises que evidenciam a nossa hipótese que é: os modos de organização discursivo-enunciativos dos candidatos tendem a denunciar uma orientação “argumentativa” propagandística na resposta às perguntas propostas pela instância midiática e pelos internautas; essa orientação pode ser refletida no valor ilocucional e perlocucional dos enunciados; por sua vez, os entrevistadores da sabatina e internautas podem perceber esse direcionamento, corroborando ou refutando tais proposições.

1.1 Teoria Semiolinguística: quadro enunciativo e contrato comunicacional

A Teoria Semiolinguística1, modelo teórico contemplado nesta dissertação,

fundada por Charaudeau, apoia-se, entre outros aspectos, numa concepção de ato de linguagem que considera a intencionalidade dos sujeitos falantes numa relação de troca. Nessa perspectiva, o processamento enunciativo discursivo/linguístico é dado sob o comando de um sujeito dotado de intencionalidade que, por sua vez, elabora um projeto de fala com o objetivo de influenciar o outro em um dado tempo e lugar enunciativo. Em consonância com a concepção de ato de linguagem, considerada uma forma de ação dos sujeitos na sociedade, o contrato comunicacional da teoria supracitada, um dos modelos teórico-metodológicos da Análise do Discurso, oferece um referencial teórico produtivo para a análise dos discursos institucionalizados que permeiam a sociedade justamente por levar em consideração que o sentido é socialmente construído a partir dos processos enunciativos engendrados na interação linguística.

1 Semiolinguística - “Sémio-, de ‘sémiosis’, lembrando que a construção do sentido e sua configuração são feitos através de uma relação forma-sentido (em diferentes sistemas semiológicos), sob a responsabilidade de um sujeito de intencionalidade, tomado no quadro de ação, movido por um projeto de influência social; ‘linguística’, enfatizando que a forma de ação pretendida neste projeto de influência está constituída principalmente de uma matéria linguageira – a das línguas naturais – que, pelo fato de sua dupla articulação, da particularidade combinatória de suas unidades (sintagmático-paradigmática, em vários níveis: palavra, frase, texto), impõe um procedimento de semiotização do mundo.”. CHARAUDEAU, P. Une analyse sémiolinguistique du Discours. In: Langages, nº 117, 1995, pp. 98).

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Este modeloposiciona a realidade extralinguística como fator essencial para a produção de sentido dos discursos, a qual, integrada aos componentes linguísticos, possibilita uma análise do sentido implícito na linguagem, ou seja, de uma significação que não se concebe apenas pelo sentido dos vocábulos de um enunciado, mas especialmente por meio de sua relação com as circunstâncias de enunciação. É assim que o autor situa a relação entre a dimensão externa e a dimensão interna dos fenômenos discursivos.

Há, portanto, na proposta do referido autor, uma ancoragem de toda a atividade discursiva que pode ser dividida em dois espaços: um espaço de posicionamentos e condicionamentos relativos aos sistemas de valores que circulam em uma sociedade e aos diferentes formatos de comunicação – denominado circuito externo - e um espaço enunciativo/discursivo ligado às diferentes maneiras e estratégias de falar em cada situação de comunicação – denominado circuito interno.

A concepção do papel do sujeito nessa teoria é complexa, visto que o homem é considerado um sujeito social, pertencente e condicionado pela cultura em que vive, mas que possui também uma individualidade. Como reflexo disso, os indivíduos, no desempenho efetivo de suas práticas comunicativas, estão subordinados a contratos e convenções, mas espera-se, todavia, que os sujeitos semiolinguísticos empreguem certo número de estratégias inseridas no contrato comunicacional com seu eventual parceiro para alcançar assim o seu objetivo discursivo.

Por isso, entende-se que nenhuma atividade discursiva é aleatória. De acordo com Machado (2001, p. 46), o sujeito tanto constrói o discurso, como também é construído pelos discursos que circulam em seu meio. Na opinião desta autora, “o “eu” se constrói em colaboração. Mas tal colaboração pode ser impedida por forças sociais” (MACHADO, 2001, p. 48), o que nos leva a compará-la a um “jogo comunicativo, ou seja, o jogo que se estabelece entre a sociedade e suas produções linguageiras” (MACHADO, 2001, p. 46). Nas palavras de Charaudeau (2011), o homem é o:

lugar de produção da significação linguageira, para o qual esta significação retorna, a fim de constituí-lo. O sujeito não é pois nem um sujeito preciso, nem um ser coletivo particular: trata-se de uma abstração, sede da

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produção/interpretação da significação, especificada de acordo com os lugares que ele ocupa no ato linguageiro.”. (p. 30)

Para efeito de leitura, o termo discurso, para o referido autor, “ultrapassa os códigos de manifestação linguageira, na medida em que é o lugar da encenação da significação, sendo que pode utilizar, conforme seus fins, um ou vários códigos semiológicos” (2001, p. 25). Do mesmo modo, não deve ser confundido com o texto, que é o objeto que representa a materialização da encenação da atividade discursiva e, tampouco, como uma unidade transfrástica. Em ambos os casos, para que se faça discurso é preciso que essa sequência de frases faça parte de um processo particular de encenação linguageira, realizada por um sujeito específico em relação a outro, em circunstâncias determinadas.

Por fim, não deve também ser entendido em termos da oposição discurso/ história. São, todavia, componentes do conjunto da encenação da significação: discurso (enunciativo) e história (enuncivo).

Segundo Charaudeau (2001, p. 26), o termo discurso pode ser utilizado em dois sentidos:

I. como encenação do ato de linguagem, que depende de um dispositivo que compreende dois circuitos: um externo (lugar do fazer psicossocial) e um interno (lugar da organização do dizer);

II. como conjunto de saberes (supostamente) partilhados, inconscientemente, pelos indivíduos de um grupo social..

Tais apontamentos fazem-se necessários ao se conceber a ação enunciativa da sabatina como sendo um ato de linguagem2 específico. Charaudeau (2009)

argumenta que ao se estabelecer um tipo de discurso (quer seja político, publicitário, religioso, educacional, jornalístico), um sujeito comunicante (EUc) tem a intenção de interagir com o outro, um sujeito interpretante (TUi), por meio de um material linguageiro (texto oral, escrito ou imagético), pelo qual são engendradas estratégias para a realização de suas expectativas.

Com efeito, tem-se o ato de linguagem como resultante de um fenômeno que combina o dizer e o fazer, isto é, se realiza num duplo espaço de significância,

2 O ato de linguagem não pode ser considerado somente como um ato de comunicação: tal ato não é apenas o resultado de uma única intenção do emissor e não é o resultado de um duplo processo simétrico entre Emissor e Receptor. Todo ato de linguagem resulta de um jogo entre o implícito e o explícito e, por isso: i) vai nascer de circunstâncias de discurso específicas; ii) vai se realizar no ponto de encontro dos processos de produção e de interpretação; iii) será encenado por duas entidades, desdobradas em sujeito de fala e sujeito agente (CHARAUDEAU, 2009, p. 52)

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interno e externo à sua verbalização. O espaço interno (lugar da organização e encenação do dizer) é chamado de instância discursiva, e o externo (lugar do fazer psicossocial) de instância situacional, ambas indissociáveis uma da outra.

Partindo do objetivo de expor aqui as condições básicas de encenação do discurso político em análise, entendemos o “discurso” como sendo a linguagem posta em ação, em função da intersubjetividade dos interlocutores e das condições históricas e sociais determinadas nas quais se insere.

Trata-se, portanto, de uma inter-relação entre um componente linguístico e um componente situacional. É desse modo que se opera a significação, não apenas no nível explícito do enunciado, mas em sua interação com um nível relacional que opera-se entre dois espaços enunciativos: de produção (eu) e de interpretação (tu).

1.1.2 Sobre o contrato de comunicação: a encenação do ato de linguagem

O ato de linguagem constitui a mise en scène da significação, isto é, a encenação da qual participam os parceiros da interação verbal subordinados a contratos e convenções e possuindo, cada um deles, um projeto de fala. O ato de linguagem é assim o resultado de duas práticas que se relacionam entre si: a de produção e a de interpretação, ambas dependentes dos saberes partilhados que circulam entre os parceiros de linguagem.

A fim de possibilitar a visualização do quadro analítico proposto por Charaudeau, apresentamos a seguir a configuração sumária da proposta do contrato comunicacional.

Quadro 1: Quadro enunciativo da teoria Semiolinguística

Fazer - Situacional

Circuito Interno - Dizer

EUc EUe TUd TUi

Circuito Externo – Fazer

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O contrato de comunicação resulta, como se observa no esquema acima, da articulação entre dois circuitos interativos, um situacional (dados externos) e um “linguageiro” (dados internos). No circuito externo, encontram-se os parceiros empíricos, seres psicossociais: o EUc (comunicante), considerado instância de produção do ato e o TUi (interpretante), considerado instância de recepção, os quais se reconhecem mutuamente dentro do jogo comunicativo. No circuito interno, esses sujeitos tornam-se seres de fala, protagonistas da encenação do dizer e são propriamente discursivos: o EUe, enunciador, e o TUd, destinatário.

Desse modo, quando o sujeito comunicante, ser empírico, promove o seu discurso, ele o faz de acordo com a imagem que constrói do sujeito destinatário. Para transmitir a sua mensagem, projeta um sujeito enunciador e um sujeito destinatário imaginário, de forma que tanto o enunciador quanto o destinatário constituem desdobramentos do próprio comunicante. Similarmente, o destinatário elabora uma imagem do comunicante em função do enunciador instaurado no ato de linguagem. É a partir das imagens criadas pelos sujeitos empíricos que a comunicação se instaura no mundo das palavras, isto é, no universo discursivo.

Observe o seguinte esquema:

Quadro 2: Quadro enunciativo da teoria Semiolinguística: instâncias empíricas e discursivas Ato de Linguagem Dispositivo Contratual EUc (instância empírica) EUe (instância discursiva) TUd (instância

discursiva) (instância TUi interlocutiva

empírica) Circuito Interno (dizer)

Circuito Externo (fazer)

(Fazer-crer)

Quadro adaptado de Charaudeau (2009, p. 77)

Essa situação interacional dos parceiros de comunicação se estabelece por meio de uma relação contratual e é organizada em função do espaço (externo) de limitações e de um espaço (interno) de estratégias, a partir dos quais se obtém a sua

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intencionalidade e sua significância. A relação contratual é, portanto, dependente de três componentes do ato de linguagem, a saber: o nível situacional, o nível comunicativo e o nível discursivo.

O nível situacional refere-se ao espaço externo do ato de linguagem, ou seja, aos elementos da situação, constituindo o espaço das limitações do ato que determina, por conseguinte, a estrutura do contrato de comunicação. É o lugar em que os parceiros da atividade comunicacional se interagem em um dado campo de prática social, levando em conta quatro condições de enunciação da produção linguageira que possibilitam a produção/interpretação do ato de linguagem, a saber: a sua finalidade (Para que dizer ou fazer?), a identidade dos parceiros (Quem fala a quem?), o seu propósito, isto é, o seu domínio temático (Do que se trata?) e, por fim, o dispositivo que descreve as circunstâncias materiais em que o ato de linguagem se desenvolve, ou seja, o ambiente, o lugar físico e/ou o canal de transmissão que é utilizado pelos parceiros engajados no ato comunicativo.

Já o nível comunicacional implica um espaço de cruzamento entre as limitações do contrato e as estratégias discursivas que possibilitam as possíveis ‘maneiras de dizer’ ou de escrever, indicando também os papeis linguageiros que os sujeitos comunicante e interpretante precisam assumir para terem o direito à palavra. Na situação discursiva analisada, as duas principais estratégias são a de credibilidade e a de captação.

A de credibilidade consiste em querer ‘fazer crer’, ou seja, querer levar o outro a pensar que o que está sendo dito é verdadeiro (ou possivelmente verdadeiro). A de captação baseia-se em ‘fazer sentir’, ou seja, provocar no outro um estado emocional, atingindo seus universos de crenças e valores, usando para isso a dramatização.

Por último, o nível discursivo diz respeito ao espaço de estratégias discursivas realizadas pelo sujeito comunicante, tornado sujeito enunciador a partir de seu projeto de fala colocado em discurso, considerando as restrições do nível situacional e das possibilidades do nível comunicacional, satisfazendo também as condições de credibilidade e de captação. Essas estratégias são realizadas a partir do conhecimento que cada um dos parceiros possui sobre o outro, isto é, da construção da imagem que cada um faz do outro, como também de si mesmo.

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Desse modo, podemos então considerar que todo discurso realiza-se dentro de um contrato de comunicação e configura-se na inter-relação dos três níveis acima colocados.

1.1.3 Análise descritiva do nível situacional da sabatina política

Antes de iniciarmos uma análise descritiva do contrato comunicacional do corpus deste trabalho que se delimita na forma da sabatina política-eleitoral, pretende-se primeiramente verificar como se caracteriza esse gênero e, para isso, é preciso considerá-lo em termos de um imbricamento de três contratos comunicacionais, quais sejam: o discurso político-eleitoral, a entrevista jornalística e o debate eleitoral.

O discurso político-eleitoral se enquadra num quadro denominado contrato de “propaganda”, já que se faz necessária a construção de uma imagem positiva do candidato que quer ser visto pela sociedade como um representante capaz de suprir suas demandas. Analisando o nível situacional desse discurso, percebe-se que a sua finalidade se fundamenta na apresentação de um programa de governo proposta pelo candidato ao eleitorado e na demonstração de que esse programa é passível de ser realizado, conquistando, desse modo, a preferência do eleitor e o seu voto.

A temática desse discurso, isto é, o seu propósito, se articula em prol da exposição das condições que possibilitam a realização desse programa, como também do conhecimento que o candidato supõe possuir das necessidades da população, considerando que o termo ‘necessidade’ deva aqui ser relativizado. O discurso político pode utilizar, de acordo com os seus fins e o público que almeja alcançar, diversos dispositivos para a veiculação de seu discurso, tais como a televisão, o rádio, o jornal impresso, etc.

Já o debate eleitoral pode ser visto como uma extensão do discurso político-eleitoral ou um desdobramento deste, isto é, um modo específico de sua realização. Nele, os mediadores questionam os programas de campanha político-eleitoral propostos pelos candidatos através de perguntas a eles dirigidas, como também os próprios candidatos se dirigem diretamente uns aos outros e, indiretamente, à população. A intenção dos candidatos ao se dirigirem aos seus adversários é a de

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apontar que estes não são capazes de exercer o cargo e que lhes falta conhecimento das demandas sociais, demonstrando, com efeito, a sua melhor capacitação e domínio das necessidades da população. Tal como o discurso político-eleitoral, o debate eleitoral pode também ser veiculado através de diversos dispositivos (gêneros).

Quanto à entrevista, o candidato entrevistado tem a necessidade de responder a perguntas que lhe são diretamente dirigidas por um jornalista entrevistador que busca esclarecer questões, polêmicas ou não, referentes ao seu programa de governo e às suas intenções, tendo em vista sempre um terceiro-ouvinte, a instância cidadã, conforme nos diz Charaudeau (2006, p. 214): “entrevistador e entrevistado são ouvidos por um terceiro-ausente, o ouvinte, num dispositivo triangular.”.

O entrevistador tem o objetivo de levar ao conhecimento da população, ou seja, à instância cidadã, o que o candidato entrevistado pretende realizar em posse, como também de trazer à tona, através de suas perguntas, aquilo que o candidato tenta, aparentemente, ocultar. Em resposta a esta disposição do jornalista entrevistador, o candidato entrevistado busca por meio de seu discurso mostrar sua capacidade de governar, representando o seu partido político e o seu modo particular de ver o mundo, ao mesmo tempo que tenta descreditar o seu adversário através das críticas. O ouvinte, por sua vez, busca construir uma opinião sobre o candidato entrevistado, julgando o programa de governo que lhe é proposto, observando o seu discurso, aceitando ou refutando-o como um possível político mandante.

É importante destacar que certos contratos comunicacionais podem se relacionar com outros a partir de suas semelhanças, gerando, em virtude disso, algumas variantes. Todavia, apesar de suas semelhanças com outros contratos, essas variantes apresentam certas particularidades que as definem. Em virtude disso, como dissemos anteriormente, podemos caracterizar o gênero sabatina como um imbricamento entre os gêneros entrevista e debate eleitoral (ambos parte do todo: discurso político-eleitoral) devido as suas semelhanças, mas a sabatina possui características que lhe são próprias. Vejamos a descrição do quadro enunciativo da sabatina em comparação ao da entrevista:

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Quadro 3: Quadro enunciativo de uma entrevista Ato de Linguagem Entrevista Individual EUc (Empresa Midiática) EUe

(Entrevistador) (Entrevistado) TUd TUi (Leitores/ Expectadores) Circuito Interno (dizer)

Circuito Externo (fazer)

(Fazer-saber)

Quadro adaptado de Charaudeau (2009, p. 77)

Como podemos ver acima, no circuito externo de uma entrevista encontram-se os sujeitos empíricos: o sujeito comunicante (EUc), empresa de mídia que veicula e realiza a entrevista; e o sujeito interpretante (TUi), leitores e/ou expectadores. No circuito interno, esses sujeitos tornam-se propriamente discursivos e projetam um enunciador (EUe) e um destinatário (TUd) da mensagem transmitida. O enunciador (EUe) exerce o papel de entrevistador, ou seja, aquele que por ter a prerrogativa da palavra realiza perguntas ao seu destinatário (TUd), o entrevistado. A diferença que vemos em relação à sabatina política é que o EUe da entrevista, normalmente, é um único sujeito. Na sabatina, porém, esse papel é realizado por diferentes interlocutores, como veremos mais adiante.

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Quadro 4: Quadro enunciativo de um debate

Ato de Linguagem Debate Político Eleitoral

EUc (Empresa midiática e internautas) EUe (mediador) ↓ Candidatos TUd (Candidato 1) (Candidato 2) (Candidato 3...) TUi (eleitores)

Circuito Interno (dizer)

Fazer-saber/crer

Circuito Externo

(Fazer-saber/fazer)

Quadro adaptado de Charaudeau (2009, p. 77)

No debate político, no circuito interno, o EUe é, como na sabatina, coletivo, porém, formado por outras pessoas: o mediador do debate e os candidatos opositores. A principal diferença entre esses dois gêneros (debate x sabatina) está no sujeito destinatário (TUd) que é ocupado por diversos candidatos e ambos são questionados pelo mediador do debate e candidatos adversários. Na sabatina, diferentemente, o enunciador (que é coletivo) direciona suas perguntas a um só candidato.

Quadro 5: Quadro enunciativo de uma sabatina política

Ato de Linguagem Sabatina Política EUc (Empresa midiática e internautas) EUe (coordenador/ entrevistador) ↓ Conj. entrevistadores ↓ Internautas TUd (candidatos) TUi (Candidatos/ Eleitores em potencial)

Circuito Interno (dizer) Circuito Externo (fazer)

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Já na sabatina política, no circuito externo, o sujeito comunicante (EUc) é representado pela empresa de mídia e pelos internautas que dela participam via chat ou pelas perguntas enviadas pelo Facebook/Twitter para serem feitas ao entrevistado; além deles há ainda o sujeito interpretante (TUi), os eleitores em potencial e candidatos. Uma diferença entre a entrevista3 e a sabatina se encontra

no circuito interno: como sujeitos discursivos, o papel de enunciador (EUe) passa a ser exercido pelo coordenador e pelo conjunto de entrevistadores que participam da sabatina. Em outras palavras, um grupo de pessoas entrevista o candidato, ao invés de apenas uma pessoa, como na entrevista. No corpus em análise, esse papel (de fazer perguntas) também é exercido pelos internautas que enviam perguntas para serem feitas ao candidato entrevistado através do coordenador ou jornalistas entrevistadores da sabatina.

Em resumo, percebemos assim que a sabatina se aproxima ao gênero entrevista por ambas possuírem um único sujeito destinatário (entrevistado) e ao gênero Debate por possuírem um enunciador que se desdobra em vários papeis (entrevistadores). Podemos então dizer que o gênero sabatina é, portanto, como dissemos anteriormente, um cruzamento entre esses dois gêneros, partes de um todo chamado discurso político-eleitoral.

As sabatinas escolhidas para análise neste trabalho são situações de interação face a face em que os interlocutores – Josias de Souza (colunista do Uol), Paulo Peixoto (correspondente da Agência Folha em Belo Horizonte), Vera Magalhães (editora do Painel da Folha) e Eduardo Scolese (coordenador da Agência Folha) se posicionam como jornalistas entrevistadores e os candidatos Patrus Ananias e Márcio Lacerda (sabatinados em dias diferentes) como candidatos sabatinados/entrevistados.

O material para análise foi coletado por meio de gravação em vídeo e por transcrições das transmissões ao vivo ocorridas nos dias 27 e 28 de agosto de 2012, através do Portal Uol. No primeiro dia, o candidato sabatinado foi Patrus Ananias e, no dia seguinte, o candidato Márcio Lacerda. Em ambos os dias, a instância cidadã

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pode interagir com os entrevistadores e candidatos por meio de perguntas realizadas nas redes sociais Facebook e Twitter4 e na sala de bate-papo do Portal Uol.

Vejamos a seguir, a descrição deste último quadro enunciativo que se refere, portanto, ao contrato de comunicação que se estabelece entre o chat e a sabatina.

Quadro 6: Quadro enunciativo do chat

Ato de Linguagem Chat EUc (Posição ideológica de cada participante) EUe (internautas) ↓ Posição ideológica TUd (internautas) ↓ Integrantes da sabatina TUi (Integrantes da Sabatina e visitantes da sala) Circuito Interno (dizer)

Circuito Externo (fazer)

(Fazer-crer/sentir)

Quadro adaptado de Charaudeau (2009, p. 77)

No chat, o sujeito comunicante (EUc) são as pessoas que se posicionam ideologicamente sobre política, as quais se projetam como enunciadores (EUe) das perguntas que serão encaminhadas aos integrantes da sabatina, como também aos internautas que estão no chat (TUd/ TUi).

Como se observa, a situação enunciativa do chat e da sabatina consiste na tensão entre a opinião pública e o posicionamento do ator político. Os candidatos respondem às perguntas tendo em vista a instância cidadã e o seu voto. E esta constrói uma imagem desses candidatos, confrontando e questionando suas opiniões em busca de um candidato ideal, passível de suprir as suas demandas. Essa relação é, pois, um jogo de imagens que cada sujeito faz de si e do outro, norteando assim o que deve ser dito e o como deve ser dito, de acordo com a finalidade, a identidade dos parceiros, o propósito e o dispositivo da situação

4 Foram analisadas algumas perguntas de internautas que enviaram perguntas pelo Facebook ou Twitter (Ver seção 2.2). Essas perguntas foram repassadas aos candidatos pelos entrevistadores da

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comunicacional. Vejamos a seguir, para finalizar a descrição do nível situacional, como se comportam tais elementos em uma situação de sabatina.

i) Finalidade (Para que dizer?): o entrevistador deve buscar fazer-saber, a qualquer preço, as intenções e/ou críticas político-administrativas do candidato, de modo a esclarecer a população sobre as demandas do município. O entrevistado, por seu turno, deve fazer-crer que o que ele diz é verdade e que, de fato, o exercício de seu cargo será uma contribuição para o desenvolvimento da capital mineira.

ii) A identidade dos parceiros (Quem se dirige a quem?): a sabatina política, tal como a entrevista midiática, tem a finalidade de tornar públicas as opiniões que suscitam o interesse dos telespectadores, por isso o entrevistador, comumente, é representado por um indivíduo capacitado a interpelar objetivamente o candidato. Por sua vez, os candidatos interpelados são figuras públicas reconhecidas pelos eleitores e que buscam a eleição ou a reeleição em 2012, como Patrus Ananias e Márcio Lacerda, respectivamente. iii) O propósito/domínio do saber (Falar sobre o quê?): aos entrevistadores cabe

buscar temas pertinentes e que evidenciem a clareza e segurança dos candidatos quanto aos temas escolhidos; e aos entrevistados cabe responder sobre suas propostas políticas e eventuais acusações e/ou críticas.

iv) O dispositivo (Falar em que quadro de veiculação?): o meio comunicacional utilizado para a transmissão desse discurso foi a internet, através do Portal Uol e Folha. As sabatinas foram transmitidas ao vivo, juntamente com a interação dos internautas que ocorreu em simultaneidade às sabatinas.

1.1.4 O nível discursivo-comunicacional da sabatina política: os papeis enunciativos como possibilidades das ‘maneiras’ de dizer

Em continuidade à caracterização do processo enunciativo da sabatina, propomos agora uma análise da configuração de seu ato de linguagem na dimensão discursivo-comunicacional.

Como anteriormente exposto, sob a ótica da Semiolinguística, o discurso é entendido como um jogo entre interlocutores que, envolvidos num contrato, se

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reconhecem mutuamente como parceiros de comunicação e são movidos por intenções. Mas, para que os parceiros envolvidos neste ato sejam reconhecidos é necessário que lhes seja conferido o direito à palavra através da pertinência intencional de seu projeto de fala.

Assim, para que uma relação contratual se estabeleça, é necessário haver um reconhecimento mútuo entre os parceiros, o qual dependerá de um conjunto de competências que deverão ser efetivadas no momento da interação. Nesta, a identidade social dos sujeitos são ratificadas ou refutadas na caracterização do ato de linguagem instaurado. Se os sujeitos se furtarem dos papeis que lhe são atribuídos, estarão se negando enquanto parceiros da interação e, por conseguinte, romperão o contrato. Em contrapartida, ao se reconhecerem como seres implicados numa relação contratual, os sujeitos utilizarão diversas maneiras para exercer eficientemente os seus papeis enunciativos.

Assim, Charaudeau aponta três condições que fundamentam o direito à palavra:

i) Reconhecimento do saber: Representa certo conjunto de universos de referência, em termos de sistemas de crenças e valores, que permitem que os parceiros assumam as suas representações supostamente partilhadas sobre o mundo;

ii) Reconhecimento do poder: Diz respeito à posição sócio-institucional ocupada pelos parceiros do contrato de comunicação, articulada aos papeis linguageiros que os sujeitos assumem no discurso em razão da realidade psicossocial em que se dá o jogo enunciativo;

iii) Reconhecimento do saber fazer: Refere-se à capacidade do sujeito comunicante, tornado enunciador, de confirmar as duas condições acima citadas através da sua enunciação, ou seja, através da efetivação de seu projeto de fala por meio do discurso, adequando o circuito interno (do dizer) ao externo (do fazer).

Em síntese, a noção de contrato proposta pela Semiolinguística nos remete à ideia de legitimidade e credibilidade, pressupostos inerentes a uma relação contratual. A legitimação dos sujeitos se dá em função da posição que eles ocupam

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na diferentes situações de interação, através da sua identidade social, cristalizada historicamente. Já a sua credibilidade é constituída pela própria enunciação, ou seja, pela capacidade que o sujeito possui de se instaurar como autoridade através do seu discurso.

Para Charaudeau5, tais implicações (reconhecimento do saber e

reconhecimento do poder) são as responsáveis por instaurar a dimensão de legitimidade do sujeito falante, conferida a ele em razão da posição que ele assume nas diferentes práticas sociais. Por outro lado, o saber fazer é que confere credibilidade ao sujeito falante. A credibilidade é conquistada e negociada no desenvolvimento das práticas de linguagem e está diretamente associada ao desempenho enunciativo apresentado pelo sujeito comunicante, tornado enunciador.

A habilidade de ‘jogar’ com os dois espaços – interno e externo – e seus componentes é que levará o saber fazer do sujeito a ser julgado e que, consequentemente, levará o sujeito a ter reconhecido o seu direito de fala. Sem a credibilidade não é possível para o ator político realizar seu projeto de fala, mesmo que possua legitimidade pelo Saber ou pelo Poder6.

Questionar a legitimidade, segundo Charaudeau (2011), é questionar o próprio direito de dizer; questionar a credibilidade é questionar a pessoa, uma vez que ela não apresenta provas de seu poder dizer ou fazer. Nesse sentido, a legitimação do sujeito se dá em função da posição que ele ocupa nas diferentes situações de interação; e a sua credibilidade é constituída pela própria enunciação: pela eficiência discursiva do sujeito de se instaurar como autoridade no ato de linguagem em função de um conjunto de manobras discursivo-linguísticas que visam a produzir determinados efeitos sobre o interlocutor. Sendo assim, nas sabatinas, devido a certa margem de manobra, como também ao fato de ser uma interação oral e face a face, os sujeitos podem inverter os papeis, seja por uma provocação polêmica em que o entrevistador provoca o entrevistado e este, no exercício de sua resposta, responda a essa pergunta com outra pergunta, interpelando-o.

5 CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.

6 O esquema de Charaudeau é claro e bem articulado ao estabelecer duas categorias: legitimidade e credibilidade; importantes para a compreensão do contrato comunicacional, mas a credibilidade e legitimidade não decorrem apenas da habilidade do orador de costurar coerentemente o dizer ao fazer. Ou melhor, o sucesso do contrato não deriva apenas disso, visto que as ideologias dos auditórios serão sempre um contraponto a esse esquema.

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1.2 A teoria dos Atos de fala: o direcionamento ilocucional na sabatina política na campanha eleitoral para prefeito de Belo Horizonte

Esta parte do trabalho visa apresentar as contribuições da Teoria dos Atos de Fala (TAF), cuja abordagem descreve as condições mínimas requeridas para a constituição de determinados objetos discursivos. Uma vez que no centro de nossas inquietações está o gênero sabatina-política em espaço digital e a participação de internautas, recorremos à Teoria dos Atos de Fala para analisar a interação entre estas partes, tendo em vista o objetivo de verificar como os candidatos utilizam a linguagem para criar uma imagem de si por meio da promessa, da crítica e do autoelogio; e como os entrevistadores e internautas, em um processo enunciativo, veem tais candidatos, isto é, projetam suas imagens, seus ethé.

Uma vez que o processo linguístico se atualiza em discurso e tendo em vista não apenas a materialidade linguística dos enunciados, mas também as condições de sua produção que possibilitam entender os atos de fala como formas de linguagem que conduzem à realização de ações, consideramos os atos de fala como componentes que integram as diversas práticas linguageiras. Grosso modo, uma das raízes da TAF é remetida à Teoria dos Jogos de Linguagem proposta pelo filósofo Wittgenstein (MARI, 2001, p. 96). Apesar de este trabalho não assumir o compromisso com o detalhamento do traçado histórico da Teoria dos Atos de Fala, é interessante destacar aqui a ideia central desse autor.

Para esse teórico, cada domínio de práticas corresponde a uma multiplicidade de cenários de comunicação, de Jogos de Linguagem, que apresentam um conjunto de regras e/ou estratégias à medida que a validação dos enunciados engendra comportamentos e ações em determinadas situações interlocutivas. Essa associação entre rituais e conjuntos de regras é especificada, segundo Mari (2001), através de uma tipologia de pontos e modos em decorrência de parâmetros que são usados para definir cada um desses conceitos. Nesse sentido, destacar a necessidade da fixação de condições que regulam a integração de interlocutores em um ato e das condições sociais que traduzem a competência, socialmente reconhecida, de interlocutores para proferir certos tipos de atos, parece-nos relevante nos estudos linguístico-discursivos.

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Desse modo, interessa-nos, mais de perto, alguns aspectos da teoria apontados por alguns filósofos da linguagem: Austin (1990), ao abordar a performatividade e o processamento de um ato de fala, e também as considerações de Searle (2002) e Vanderveken (1985), identificando os parâmetros de sua descrição, os componentes de uma força ilocucional e as condições preparatórias, importantes na sustentação de um ato.

A proposição austiniana, ao estabelecer a diferença entre atos constatativos e performativos7, preconiza que dizer não é somente veicular informações sobre o objeto de que se fala, mas é também uma forma de agir sobre o interlocutor e o mundo. Assim, além de comportar uma realidade de significação/referenciação, têm a propriedade de realizar ações. Tais estudos, segundo Mari (2001, p. 102 – 104), postulam que o processamento discursivo se dá pela implementação de três dimensões dos atos, a saber: a) o Locucional: referente à apropriação da linguagem por parte do locutor no âmbito fonético, gramatical e semântico; b) o ato Ilocucional: referente à força que os enunciados assumeme c) o Perlocucional: que se relaciona aos efeitos de sentido produzidos pela linguagem, relacionando-se assim à enunciação (Austin, 1990). Decerto, ao considerar as três dimensões, é um equívoco acreditar que o ato nasça apenas do resultado de uma série de palavras proferidas por uma pessoa, é necessário levar em conta se o ato é proferido num tempo adequado, em circunstâncias convenientes, e o estatuto assumido pelo locutor para proferir X ou Y etc. Assim, o êxito dos atos de fala supõe o respeito a um certo número de condições a que o teórico denominou de condições de felicidade (satisfação).

A partir de fundamentos dos atos de fala apontados por Austin, outros importantes autores também começaram a empreender um desenvolvimento sistemático dessa teoria, buscando entender a relação entre linguagem e ação para além dos performativos e das convenções, como Searle (2002) e Vanderveken (1985) se propuseram ao estabelecer um conjunto de parâmetros que fazem parte da constituição do ato de fala.

7 Austin (1990) supunha que poderíamos fazer proferimentos para ‘falar sobre as coisas’, isto é, para constatar fatos, enunciar estados de coisas, relatar ocorrências, descrever objetos, narrar acontecimentos, expor opiniões etc (Atos Constatativos), como também, para fazer proferimentos que realizam atos/ações através da utilização de certas palavras e verbos performativos, como prometer, avisar, advertir, jurar, assegurar, agradecer, mandar, ordenar, etc (Atos Performativos).

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Estes autores partem do princípio que toda forma de linguagem está relacionada a um tipo de ação e que a orientação entre a linguagem e ação pode ser compreendida por dimensões de ajustamento em que a linguagem orienta a construção de um estado de coisas ou que um estado de coisas orienta a construção da linguagem. Desse modo, há circunstâncias em que a linguagem cria a realidade e outras em que a ação determina formas de construção de linguagem.8

Apresentamos a seguir uma síntese desse direcionamento a partir das palavras de Mari:

O conceito de ato de fala está associado à necessidade de mostrar como certas formas de linguagem se prestam à estruturação de ações. Assim, o conjunto das mais diversas ações que permeiam o nosso convívio social, ora são representadas, ora são desencadeadas por arranjos linguísticos, construídos em razão de algum alcance prático específico. Quando se deseja que certos fatos sejam realizados no futuro, dão-se ordens, fazem-se promessas, fazem-se pedidos, ou, simplesmente, manifesta-se uma intenção particular de sua efetivação. Muitas vezes, reportam-se certos estados de coisa já acontecidos, descrevendo e mostrando detalhes a eles associados. Outras vezes, usa-se da linguagem para instituir um novo estado de coisas, ou ainda para comprometer os integrantes de uma interlocução com o curso de ações futuras. (MARI, 1997, p 34)9

Como resultado, os atos ilocucionais são concebidos como formas naturais de uso da linguagem; falar é agir sobre o outro e sobre o mundo, de modo que todo indivíduo que utiliza um enunciado com uma intenção de comunicação tem sempre a intenção de realizar um ato ilocucional no processo enunciativo. Dessa maneira, ao dizer algo, o falante não somente reporta a fenômenos, seres ou atos, como também a si mesmo. Como indivíduo detentor da palavra, propõe ações mediadas pela linguagem: assevera, promete, abençoa, ameaça, avisa, pergunta, ordena, elogia etc., fazendo com que ele mesmo e/ou o seu interlocutor desempenhe uma determinada ação intelectual ou física a partir de seu proferimento, podendo, ainda, proferir algo apenas para reportar um estado de coisas no mundo.

Tendo em vista o nosso corpus, o entrevistador, ao fazer uma pergunta ao candidato sobre um determinado fato, pressupõe que esse fato seja do conhecimento desse candidato e que este esteja apto a respondê-la, ampliando

8 Essa questão é importante ao considerarmos a dimensão dos atos de fala analisados na sabatina: a promessa e a pergunta, que se configuram a partir do ponto comissivo/diretivo (palavra-mundo), e a crítica, que se configura a partir do ponto assertivo (mundo-palavra). Retomaremos esta questão mais à frente, na parte destinada à análise das respostas dos candidatos.

9 MARI, Hugo. A promessa como ato de fala: suas implicações no discurso político. Geraes Revista de Comunicação Social, FAFICH/UFMG, Belo Horizonte, v. 1, n. jun/97, p. 34-41, 1997.

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assim o ambiente intelectual dos interlocutores. Um objeto de linguagem como uma promessa somente é proferida quando se pressupõe que o locutor tem uma intenção de realizá-la, desde que ela seja benéfica ao alocutário, caso contrário, se for maléfica, não teremos mais uma promessa e sim uma ameaça. A crítica, todavia, deriva sempre de uma avaliação negativa do locutor sobre um fato.

Para Mari (1997, p. 35), um ato é, antes de tudo, um engajamento em graus diferenciados, que leva um dos usuários ao desempenho de certos papeis ou à responsabilidade por certos estados de coisas. Assim, a TAF, entendida como um instrumento de explicação da relação linguagem e ação, possui pressupostos que nos permitem identificar os efeitos práticos decorrentes da participação desses interlocutores na atividade discursiva. Avaliar estes efeitos, seguramente, nos leva a considerar a necessidade de se trabalhar com o formato estrutural da enunciação, reconhecendo assim que um Ato de Linguagem impõe certas restrições ao locutor e que este deve assumir certo papeis sociais, afetando também o alocutário, que pode ou não ser cooperativo com a representação do locutor, isto é, com o seu ethos construído no discurso.

Surge assim a necessidade de se considerar, na realização de alguns atos de fala, a condição de sinceridade10 do falante como condição para que o proferimento

represente, de fato, uma condição para o sucesso de uma realização ilocucional. Tomando como exemplo as práticas eleitorais, não podemos descrever as condições de um proferimento em que uma pessoa faz uma promessa sem mencionar que seu dizer, num contexto adequado e com as palavras apropriadas, deixa implícito ou subentendido que se tem a intenção de fazer algo (mesmo que, de fato, não a tenha, no caso de uma promessa insincera).

Isso significa que o ato realizado através de um proferimento é definido, não por uma experiência subjetiva, mas por uma convenção invocada pelo sujeito linguístico e social, que estabelece que o proferimento de tais palavras tenha a força ou valor de tal ou qual ato, o que acarreta, por sua vez, certas consequências (obrigações e sanções) de ordem social. Desse modo, mesmo que o candidato não tenha a intenção de fazer o que promete, o fato de dizer “prometo,” em

10 Não é a sinceridade ou a existência de uma intenção subjetiva que constitui uma condição necessária para que haja o proferimento performativo, mas, sim, a implicação de sinceridade ou a pretensão de sua existência no ato.

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