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2 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DISCURSOS DE ELEIÇÃO NA

2.1 O enquadramento da “mise en scène” e os atos de fala da

2.1.3 Tema 1: Rompimento da aliança – candidato Márcio Lacerda

Assim como no dia anterior, o tema rompimento da aliança também é proposto na sabatina de Lacerda, vejamos:

Exemplo 15 (SML, Bloco 1, E15): JOSIAS DE SOUZA/BLOGUEIRO DO UOL: Prefeito, tem uma coisa que me chama muito a atenção é que os senhores estavam... o senhor e o PT, o Pimentel, estavam todos de braços dados até o dia da Convenção, há fotos na Convenção com o Pimentel do lado, o vice do lado e hoje estão aí, um falando mal do outro, não é, PSB falando mal do PT. Houve uma reunião em que um amigo seu, o Ciro Gomes, saiu dessa reunião falando horrores do Aécio, disse que Aécio teve pouquíssima sensibilidade e que ele ficou muito decepcionado com o Aécio Neves. Até que ponto essa ruptura tem a digital de Aécio Neves, até que ponto foi o Prefeito que decidiu, foi o PSB que decidiu... Em essência, por que houve a ruptura do PSB com o PT?

(E16): PREFEITO MÁRCIO LACERDA/CANDIDATO PSB: Bem,

Josias, a ruptura aconteceu porque o PT Municipal não aceitou a recusa do PSB Municipal em fazer coligação na proporcional com o PT. Essa recusa já tinha vindo do PSDB e também de outros partidos, toda a bancada de vereadores, de candidatos do PSB, ameaçaram, inclusive formalmente renunciar, caso isso viesse a acontecer, inclusive alegando que a posição... a oposição ao Prefeito ia aumentar na Câmara. A partir do momento que a tese da candidatura própria foi derrotada na reunião do PT Municipal, essa oposição na Câmara foi ampliada, os defensores da candidatura própria passaram a fazer uma oposição acirrada à nossa administração. A reunião eu, Ciro Gomes e Aécio foi no sentido de convencê-lo a tentar buscar um entendimento mais amplo, ou seja, rever todas bases da aliança dentro de uma nova perspectiva. Mas ele tinha dificuldades, porque ele foi muito agredido durante a discussão dessa aliança, inclusive pelo nosso opositor...

Podemos sistematizar esse momento da sabatina, a partir do Quadro 16, utilizado para interpelar o candidato Patrus Ananias.

Quadro 20: Cena enunciativa da sabatina – projeto de fala dos integrantes diretos

Análise do exemplo 15 - Rompimento da aliança (aloc: Márcio Lacerda)

EUc CRENÇA de que houve um rompimento da aliança entre PT/PSB; DESEJO de que a explicitação desse rompimento precisa ser assumida pelos partidos;

EUe EUe [JS] problematiza o conteúdo em questão pela necessidade de se esclarecer se se trata de uma decisão partidária ou de um acordo com Aécio Neves.

TUd → EUe EUe [ML] esclarece a ruptura em razão da não aceitação pelo PSB sobre a proporcionalidade das vagas para vereador. Em razão disso o PT lançou candidatura própria, rompendo a aliança.

TUi → EUe (a ser avaliado mais à frente)

Da mesma forma que Patrus, o tema Rompimento da Aliança é proposto na sabatina de Lacerda. O locutor Josias de Souza questiona o motivo e a responsabilidade desse rompimento. Para isso, ele apresenta um ato assertivo modo avaliativo “[...] tem uma coisa que me chama muito a atenção”, ancorando seu relato em um suposto comentário de Ciro Gomes criticando Aécio Neves: “Houve uma reunião em que um amigo seu, o Ciro Gomes, saiu dessa reunião falando horrores do Aécio, disse que Aécio teve pouquíssima sensibilidade e que ele ficou muito decepcionado com o Aécio Neves.”. No exemplo 15 - E15, o jornalista apresenta uma postura enunciativa provocativa ao utilizar a expressão “Uma coisa que me chama muita a atenção” introduzindo uma estrutura sintática comparativa “[...] estavam todos de braços dados até o dia da Convenção [...] e hoje estão aí, um falando mal do outro” que tematiza duas atitudes aparentemente incoerentes desse candidato. A atualização desse ato tem como orientação perlocucional gerar um efeito de provocação ao ironizar esse fato e ainda o de confrontar Márcio Lacerda com a opinião expressa por uma importante autoridade política dentro de seu partido, o PSB, Ciro Gomes, o qual é contrário à indicação de Aécio Neves à candidatura presidencial.

Essa introdução à pergunta de Josias tem como objetivo explicitar um conjunto de crenças amplamente difundidas na mídia mineira que sugere que Márcio Lacerda não possui autonomia política, visto que não tem um histórico político e que foi eleito graças à união entre PT (Pimentel) e PSDB (Aécio Neves). A expressão “Até que ponto” que inicia o ato diretivo aponta para uma avaliação do jornalista de que Aécio Neves teve participação nessa ruptura: “Até que ponto essa ruptura tem a digital de Aécio Neves[..]”, demonstrando também o grau de poder de intervenção política na aliança PSB e PT. A pergunta também solicita que o candidato avalie sua parcela de responsabilidade e finaliza pedindo uma avaliação geral sobre os motivos do rompimento: “[...] até que ponto foi o Prefeito que decidiu, foi o PSB que decidiu... Em essência, por que houve a ruptura do PSB com PT?” Podemos afirmar que a finalidade da pergunta é esclarecer o suposto envolvimento de Aécio na quebra da aliança. Em resposta a essa pergunta, da mesma forma que Patrus culpou o PSB, o candidato Márcio Lacerda responsabiliza o PT por esse distanciamento: “[...] a ruptura aconteceu porque o PT municipal não aceitou a recusa do PSB municipal em fazer coligação na proporcional com o PT.” O locutor justifica a ruptura relatando a “intransigência” do partido petista “[...] os defensores da candidatura própria passaram a fazer uma oposição acirrada à nossa administração” e argumentando que a participação de Aécio, apesar de ter um caráter conciliatório, “[...] A reunião eu, Ciro Gomes e Aécio foi no sentido de convencê-lo a tentar buscar um entendimento mais amplo, ou seja, rever todas bases da aliança dentro de uma nova perspectiva”, segundo ele, teve uma má interpretação e grandes divergências. O sabatinado classifica algumas ações empreendidas na referida reunião como sendo agressões a Aécio: “[...] Mas ele tinha dificuldades, porque ele foi muito agredido durante a discussão dessa aliança, inclusive pelo nosso opositor...”. O ato de fala que fecha essa resposta representa uma defesa à legitimidade da participação do político tucano na discussão sobre as diretrizes da aliança entre os partidos.

Exemplo 16 (SML, Bloco 1 E19): EDUARDO

SCOLESE/COORDENADOR AGÊNCIA FOLHA: Candidato, essa ruptura em Belo Horizonte do PT com o PSB também se repetiu em Recife e em Fortaleza. Ontem, o candidato Patrus do PT aqui disse que essa aliança nacional PT/PSB tem que ser repensada, será repensada. O senhor concorda?

(E20): PREFEITO MÁRCIO LACERDA/CANDIDATO PSB: Eu... Eu

acho que cada fato de rompimento PSB/PT tem uma história própria e não existe um link, uma motivação única por trás disso, apesar disso ter sido divulgado por algumas áreas do PT naquele momento. O caso de Salva... desculpe, o caso de Recife é bem conhecido e o de Fortaleza também e são absolutamente diferentes um do outro e aqui também foi outra realidade. Portanto, uma certa coincidência, mas motivada a um link comum entre elas que é a extrema dificuldade do PT de entrar em acordo dentro dele entre as suas diversa correntes.

Já no exemplo acima, vemos que a partir da forma da pergunta com a fala reportada do candidato petista “Ontem, o candidato Patrus do PT aqui disse que essa aliança nacional PT/PSB tem que ser repensada, será repensada”, o jornalista busca uma resposta confirmativa ou negativa desse fato. O sabatinado tenta avaliar coerentemente a real situação, dizendo que: “[...] não existe um link, uma motivação única por trás disso...”, apontando assim para uma pluralidade motivacional de outras rupturas (Recife e Fortaleza). É observado na estrutura argumentativa da resposta um posicionamento de acusação ao adversário e seu partido político (Patrus/PSB) quando afirma “Portanto, uma certa coincidência, mas motivada a um link comum entre elas que é a extrema dificuldade do PT de entrar em acordo dentro dele entre as suas diversa correntes.”. No entanto, tal afirmação conclusiva gera uma contradição ao que foi informado no início de sua resposta quando disse que não havia um link e motivação comum.

Vimos anteriormente que o ato ilocucional da pergunta não é realizado isoladamente, mas quase sempre introduzido por um comentário do jornalista. Ao apoiar o ato diretivo em outros tipos de atos ilocucionais, principalmente o assertivo, o locutor tem como objetivo confrontar o interlocutor com um conjunto de crenças/fatos construídos socialmente, por exemplo quando reporta ao discurso de Ciro ou ainda a fala de Patrus. A pergunta impõe, desse modo, algumas restrições de ordem ilocucional discursiva à resposta que nos fornecem indícios do que é uma resposta apropriada ou não e se certas condições foram satisfeitas em relação à pergunta. Assim, a partir do agenciamento do tema “rompimento da aliança”, é possível observamos o modo como os jornalistas direcionam intencionalmente o foco da resposta e quando percebem que não foram satisfatoriamente respondidas, retomam o objetivo original da pergunta ou problematizam um novo tópico a partir do que foi respondido. Nesse sentido, vemos que há um jogo de intenções, tanto do

sujeito comunicante quanto do sujeito interpretante, tendo em vista a situação enunciativa em que se enquadram e a finalidade de seus discursos.

Vejamos a seguir a análise da pergunta do jornalista x resposta do candidato relacionada ao segundo tema: “lulodependência”, direcionada a Patrus Ananias.