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2. ESTUDO DAS PAISAGENS DAS ENCOSTAS SOB A ÓTICA DA ABORDAGEM

2.3 O GEOSSISTEMA NO ESTUDO DA PAISAGEM

2.3.1 AS ENCOSTAS COMO CATEGORIA DE ANÁLISE DA PAISAGEM

No estudo integrado da paisagem, outro tipo de análise de grande importância para a compreensão dos processos geomorfológicos, operantes sobre a transformação do relevo, são os estudos de encostas, uma vez que todas ou quase todas as atividades que os seres humanos desenvolvem na superfície terrestre estão sobre algum tipo de relevo ou de solo (GUERRA e

46 MARÇAL, 2006). O relevo decorre das ações das forças ativas dos processos endógenos e das forças ativas dos processos exógenos sendo, portanto, o palco onde os homens desenvolvem suas atividades e organizam seus territórios (GUERRA e CUNHA, 2009,) deixando aí as suas marcas e transformações no modelado da Terra, de modo a ser considerado um dos agentes exógenos mais atuantes sobre a superfície terrestre.

O modelado da Terra apresenta diversas formas no relevo, estando estreitamente relacionados com a geologia, solos e hidrografia da área de interesse. A intervenção humana sobre estas áreas, quer sejam urbanas ou rurais, requer a ocupação e a modificação da superfície do terreno, o seu uso de forma inadequada pode causar danos ambientais que resultam em prejuízos para o homem e, dependendo da situação, pode provocar perdas de vidas humanas.

Dessa forma, nas últimas quatro décadas, as encostas têm sido o foco central na geomorfologia e grande esforço tem sido feito para se avançar no seu conhecimento por meio do monitoramento da sua evolução e das taxas de perda de solo (GUERRA, 2011, p. 13). Este monitoramento contribui para informações que evidenciam a necessidade de políticas adequadas para o planejamento territorial, levando em consideração as influências do meio físico-biótico. Neste sentido, Marques (2005 apud GUERRA e MARÇAL 2006, p. 72) chama atenção para os relevos que

Constituem os pisos sobre os quais se fixam as populações e são desenvolvidas suas atividades, derivando daí valores econômicos e sociais que lhes são atribuídos. Em função de suas características e dos processos que sobre elas atuam, oferecem, para as populações, tipos e níveis de benefícios ou riscos dos mais variados. Suas maiores ou menores estabilidades decorrem, ainda, de suas tendências evolutivas que podem sofrer dos demais componentes ambientais ou da ação do homem.

O enunciado exposto justifica, sem dúvida, a importância do papel da Geomorfologia, bem como da Pedologia e da Geografia física no diagnóstico de áreas degradadas, posto que estas atividades, de modo geral, ocorrerão sobre a base geomorfológica. Daí Guerra e Marçal sinalizarem que

As encostas possuem uma evolução natural, mas nos ambientes que o homem ocupa e, na maioria das vezes, provoca grandes transformações, praticando extrações mineral, construindo rodovias, ferrovias, casas e prédios, ruas, represa, terraços etc., são produzidas encostas artificiais, podendo abalar o equilíbrio anterior à ocupação humana (GUERRA e MARÇAL , 2006, p. 77).

47 Para os estudos ambientais urbanos, esta feição adquire relevância, à proporção que sua evolução, resultante da ação intempérica e da erosão, pode influenciar sobre os assentamentos urbanos.

O reconhecimento das diferentes unidades de uma encosta pode fornecer dados sobre a relação entre processos pedológicos e geomorfológicos. As suas unidades variam quanto a forma, comprimento e declividade, de um lugar para outro e, algumas vezes, podem variar bastante num mesmo lugar. Essas variações devem-se a diferenças geológicas, pedológicas, geomorfológicas e climáticas, caracterizando-se em formas como: plana, convexa, côncava e penhasco ou unidades inclinadas. Para Ross (2000, p. 9), “essas formas, por mais que possam parecer estáticas e iguais, na realidade são dinâmicas e se manifestam ao longo do tempo e do espaço de modo diferenciado, em função das combinações e interferências múltiplas dos demais componentes do estrato geográfico”. Assim, o referido autor salienta que

O estrato geográfico configura-se como um conjunto de componentes do ambiente natural em seus três estados físicos - sólido, líquido e gasoso -, que compreende a crosta terrestre e marinha, a hidrosfera, os solos, a cobertura vegetal, o reino animal e a baixa atmosfera - troposfera e parte da estratosfera - (ROSS, 2000, p. 10).

Esse ambiente é caracterizado como um sistema aberto onde ocorre troca de energia e matéria, dando condições à existência de vida animal e vegetal na Terra, bem como a perpetuação das referidas espécies.

Por meio do estudo da ação antropogênica é bem mais fácil mostrar o relacionamento entre o homem e as encostas. O homem como ser social interfere, criando novas situações, ao construir e reordenar os espaços físicos através do uso da terra, desmatamento, mecanização intensa, monocultura e corte das encostas para construção de casas, prédios e ruas. Estes são arquétipos de atividades humanas que desestabilizam as encostas e promovem ravinas, voçorocas e movimentos de massa. “Essas modificações inseridas pelo homem no ambiente natural alteram o equilíbrio de uma natureza que não é estática, mas que apresenta quase sempre um dinamismo harmonioso em evolução estável e contínua, quando não afetada pelos homens” (ROSS 2000, p. 12).

Sobre tal aspecto, Guerra (2011, p. 21) afirma que, “para a ocupação nas encostas urbanas, é necessária a abertura de ruas e a instalação de dutos para o escoamento de esgoto e águas pluviais, bem como para a passagem de cabos subterrâneos”. Estas intervenções,

48 aliadas às condições climáticas do Brasil, contribuem para que haja o aumento de movimento de massa no país. Ressalta-se ainda, que os movimentos de massa ocorrem no Brasil com frequência bem elevada, oriundos de processos naturais, contudo são acentuados pela ação antrópica. A esse despeito Guerra se expressa (2011, p. 20/21):

O desmatamento, seguido da ocupação intensa de algumas encostas, através da construção de casas, prédios, ruas etc., causando uma grande impermeabilização do solo, sem ser acompanhado de obras de infraestrutura, como galerias pluviais e redes de esgoto, podem causar grandes transformações no sistema encosta, provocando deslizamentos e outros processos geomorfológicos catastróficos.

Neste contexto, estão inseridas diversas metrópoles brasileiras que sofrem com estas catástrofes geomorfológicas a exemplo do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte entre outras.

Além disso, evidencia-se também que:

A ação antrópica sobre as encostas tem causado toda uma gama de impactos ambientais negativos onsite (no próprio local) e offsite (fora do local), ou seja, a erosão tem suas consequências danosas não apenas onde ela ocorre, mas seus efeitos podem ser notados vários quilômetros afastados de onde o processo erosivo esteja acontecendo (GUERRA e MENDONÇA, 2007, p. 231).

Sendo assim, a abordagem geomorfológica nos estudos ambientais e, sobretudo das encostas deve elaborar diagnósticos que possam minimizar estas catástrofes. Neste contexto, estão inseridas as medidas mitigadoras, as quais podem envolver:

Construção de galerias pluviais, valas podem ser cavadas e preenchidas com cascalho, para facilitar o escoamento das águas, diminuindo, dessa forma, os riscos de deslizamentos nessas encostas urbanas ocupadas. O replantio de árvores em áreas críticas, bem como a construção de muros de gabião e muros de arrimo, na base dessas encostas, onde foram feitos os cortes para a construção de ruas e casas, podem ser outras medidas mitigadoras, que diminuirão bastante os riscos de movimentos de massa (GUERRA, 2011, p. 22/23).

As medidas mitigatórias realizadas nas encostas urbanas, por menores que sejam, sempre trarão benefícios e uma margem de segurança para a população que mora nas áreas sujeitas aos riscos que as intervenções humanas causam quando feitas de forma inadequadas. E quando se trata de cidades onde o planejamento urbano assegura uma boa infraestrutura de rede de esgotos, galerias pluviais, ruas pavimentadas, praças, áreas verdes entre outras, os riscos tornam-se quase inexistentes.

49 Está cada vez mais claro e aceito pelos cientistas que os problemas ambientais não podem ser compreendidos isoladamente. No estudo dos processos que desestabilizam as encostas e promovem ravinas, voçorocas, erosões e movimentos de massa, por exemplo, as relações entre a Geomorfologia e a Pedologia, bem como da Geografia Física, para citar apenas esses três ramos do conhecimento, são fundamentais para a compreensão e resolução dessa forma de dano ambiental que tanto assola as encostas, dando dinamicidade às transformações de uma determinada paisagem por meio dos eventos naturais, que muitas vezes são acelerados pela ação humana como se verifica na Serra do Periperi, em Vitória da Conquista.

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3. VITÓRIA DA CONQUISTA: SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E