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4. O Percurso metodológico

4.3. Os instrumentos e métodos utilizados

4.3.2. As entrevistas com roteiro semiestruturado

Boni e Quaresma (2005, p. 68) argumentam que os trabalhos acadêmicos desenvolvidos no campo das humanidades têm 3 momentos imprescindíveis: a pesquisa bibliográfica, a visita de campo e a aplicação de entrevistas. Concordando com esta perspectiva, Rosália Duarte defende que as entrevistas são extremamente importantes para se obter um conhecimento mais detalhado acerca de diferentes culturas, dando margem para esclarecer valores e sistemas classificatórios, principalmente quando estes são velados:

...se forem bem realizadas, elas (as entrevistas) permitirão ao pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundidade, coletando indícios dos modos como cada um daqueles sujeitos percebe e significa sua realidade e levantando informações consistentes que lhe permitam descrever e compreender a lógica que preside as relações que se estabelecem no interior daquele grupo, o que, em geral, é mais difícil obter com outros instrumentos de coleta de dados (DUARTE, 2004, p. 231).

A realização de entrevistas com roteiro semiestruturado tem um grande potencial de revelar as experiências dos sujeitos e, tal como defende Duarte (2004), permitir a discussão de ocorrências “veladas” nos contatos mais superficiais. Este tipo de instrumento é importante para trabalhar questões que envolvem relações de poder e exijam que grupos específicos manifestem suas formas de entender um dado contexto.

Flick (2008) descreve que as entrevistas semiestruturadas têm cada vez mais chamado a atenção de pesquisadores em todo o mundo. O interesse em suas aplicações se deve ao fato de que a realização de uma entrevista, que segue um planejamento flexível, pode ser mais eficaz para captar os pontos de vista dos sujeitos. O autor cita a relevância da teoria subjetiva, ou seja, a noção de que os entrevistados possuem um arcabouço complexo de conhecimento em relação à temática estudada, incluindo suposições explícitas e implícitas que organizam suas formas de apreender uma dada realidade. Tal instrumento permite aos pesquisadores articularem os elementos componentes da teoria subjetiva dos sujeitos entrevistados em relação à temática estudada (FLICK, 2008, p. 149).

As entrevistas semiestruturadas podem ser compostas por perguntas abertas e fechadas, permitindo aos informantes/entrevistados discorrerem sobre os temas

sugeridos pelo pesquisador. É fundamental que o entrevistador esteja atento para intervir durante o processo de aplicação, de forma sutil, buscando aprofundar certos assuntos ou até mesmo evitar fugas em relação ao tema investigado, introduzindo novas perguntas ou estimulando a fala. É importante ressaltar que o tom de informalidade ajuda a potencializar a aplicação desta técnica, já que as pessoas se sentirão mais à vontade para falar e expressar suas opiniões.

Para Boni e Quaresma (2005, p. 74),

... a interação entre o entrevistador e o entrevistado favorece as respostas espontâneas. Elas também são possibilitadoras de uma abertura e proximidade maior entre entrevistador e entrevistado, o que permite ao entrevistador tocar em assuntos mais complexos e delicados, ou seja, quanto menos estruturada a entrevista maior será o favorecimento de uma troca mais afetiva entre as duas partes. Desse modo, estes tipos de entrevista (aberta e semi-estruturada) colaboram muito na investigação dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos. As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes têm podem fazer surgir questões inesperadas ao entrevistador que poderão ser de grande utilidade em sua pesquisa.

Duarte (2004) enfatiza que a flexibilidade permitida pelas entrevistas semiestruturadas é fruto de um rigoroso planejamento, em que o pesquisador deve ter bom embasamento teórico e metodológico, além de procurar testar, ensaiar, sua atuação em campo. Para a autora,

A realização de uma boa entrevista exige: a) que o pesquisador tenha muito bem definido os objetivos de sua pesquisa (e introjetados — não é suficiente que eles estejam bem definidos apenas “no papel”); b) que ele conheça, com alguma profundidade, o contexto em que pretende realizar sua investigação (a experiência pessoal, conversas com pessoas que participam daquele universo — egos focais/informantes privilegiados —, leitura de estudos precedentes e uma cuidadosa revisão bibliográfica são requisitos fundamentais para a entrada do pesquisador no campo); c) a introjeção, pelo entrevistador, do roteiro da entrevista (fazer uma entrevista “não-válida” com o roteiro é fundamental para evitar “engasgos” no momento da realização das entrevistas válidas); d) segurança e autoconfiança; e) algum nível de informalidade, sem jamais perder de vista os objetivos que levaram a buscar aquele sujeito específico como fonte de material empírico para sua investigação (DUARTE, 2004, p. 128).

Para a realização deste trabalho, escolhi a escola General Emídio Dantas Barreto, situada no Recife. O universo de aplicações abrangeu:

Tabela 8 - Universo de Aplicação – Entrevistas com Roteiro Semi-Estruturado

Sujeitos Quantidade de entrevistados

Professoras 06

Gestoras 03

Monitores de Informática 03

Para a escolha da amostragem, adotei a determinação a priori da estrutura da amostra (FLICK, 2008, p. 118) em que as decisões relativas à seleção dos sujeitos a serem pesquisados são tomadas com o objetivo de escolher grupos ou casos específicos. Desse modo, optei por professoras, gestoras e monitoras de informática que participam do PROUCA na EGEDBA. O segmento aluno não foi incluído nas entrevistas pelo fato de serem, em sua maioria, crianças de até 12 anos.

O roteiro ou guia de entrevistas foi composto por perguntas abertas, perpassando pelas temáticas: a valorização da escola; crescimento do interesse por frequentar as aulas ou outras atividades escolares; a ressignificação dos espaços que envolvam escola e comunidade; a questão do PROUCA e a empregabilidade e as principais mudanças ocorridas em sala de aula e na escola. Além de observar – como já expresso – que tais temas são recorrentes nas falas e ações de professoras e alunos, a minha pesquisa bibliográfica apontou que tais temáticas precisam de um maior aprofundamento.

As entrevistas foram realizadas mediante agendamento prévio com os sujeitos, que optaram por participar de tal atividade na própria escola, nos momentos de intervalo ou então em negociação com a gestão, para que algum substituto assumisse suas atividades. Vale ressaltar que tomei o cuidado para elaborar um roteiro que desse conta das questões de fundamental importância para a pesquisa, mas sem que isso gerasse um extenso guia de questões.