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4. METODOLOGIA: ESCOLHAS, LIMITES E POSSIBILIDADES

4.6. As entrevistas

Após a autorização para a realização da pesquisa, foi iniciado o processo de identificação dos jovens pais que seriam entrevistados. Para isto, foram feitas visitas em cada uma das turmas, nos turnos da manhã e tarde, e perguntado quais dos jovens homens tinham filhos(as)14. Aqueles que respondessem afirmativamente saiam temporariamente da sala com a pesquisadora, para que fossem registradas

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O sexo das crianças não foi uma informação privilegiada neste estudo. Por conta disto, a partir deste momento a referência será feita sempre no masculino, numa tentativa de que o texto não se torne poluído. No entanto, é importante destacar que a referência ao masculino e ao feminino se constitui numa importante forma de, através da linguagem, desconstruir padrões hegemônicos – que por vezes denotam dominação – e, por conseguinte, visibilizar e valorizar outras alternativas de expressões.

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as seguintes informações: nome do jovem, idade atual, idade com que se tornou pai e quantidade de filho(s), além da especificação da turma à qual faziam parte. Faz-se importante destacar que dois jovens se manifestaram quando a pergunta foi feita alegando que não eram pais, mas tinham os filhos de suas companheiras. A partir de suas atitudes, a pesquisadora avaliou que eles estavam afirmando suas paternidades, sendo, portanto, incluídos na listagem. Nestes casos, as idades com que se tornaram pais foram consideradas aquelas em que passaram a conviver na mesma casa que os filhos de suas companheiras.

Nesta primeira listagem, foram identificados 23 jovens pais. A partir de então, para que outros casos de paternidade fossem anotados, começou-se a consultar as fichas de inscrição dos jovens e a conversar informalmente com educadores, professores e jovens mulheres e homens em busca de mais informações. Nestas conversas de corredor e pátio, surgiram situações de relatos de paternidades não reconhecidas, acompanhados de brincadeiras e acusações nas quais alguns jovens eram apontados pelos colegas como pais e estes negavam. Além disto, apareceram muitos questionamentos sobre o porquê de querer saber sobre os pais e não sobre as mães. Em tal contexto, apenas mais um caso foi registrado.

Em posse das informações sobre os jovens que eram pais, foram identificados aqueles que tiveram o primeiro filho com idades até 19 anos15, independente da idade atual. Dos 180 jovens constantes na lista de freqüência do programa referente ao mês de maio, sendo que três eram monitores16, havia 82 mulheres e 98 homens, dos quais 12 se tornaram pais com até 19 anos de idade. Estes foram, então, selecionados para participar como informantes diretos da pesquisa.

Assim sendo, houve a aplicação de uma entrevista piloto para que fosse verificada a necessidade de possíveis ajustes no roteiro, especialmente no que se refere ao uso de um vocabulário mais adequado. O jovem assistido pelo Centro da

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De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, a faixa etária estipulada para a adolescência é de 10 a 19 anos (TONELI-SIQUEIRA, 2002). O presente estudo, apesar de reconhecer a impossibilidade de demarcação etária e a diversidade de juventudes, adotou esta faixa etária por motivos de delimitação dos informantes a serem contactados. Trata-se apenas de um recurso metodológico que pode, inclusive, viabilizar a equiparação deste com outros trabalhos sobre o tema (CABRAL, 2002).

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Os monitores são jovens que já participaram do programa em edições anteriores e devido ao bom desempenho foram contratados para monitorar as atividades dos outros jovens recebendo para isto um salário mínimo. Para que eles participem do projeto não é exigida a idade máxima de 24 anos como ocorre com os outros jovens.

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Juventude que contribuiu para a entrevista piloto tornou-se pai aos 20 anos e, portanto, não fazia parte do grupo de jovens selecionados para participar da pesquisa.

De acordo com George Gaskell (2002), a entrevista pode ser considerada um processo social de cooperação e interação, que faz uso das palavras como principal meio de troca e envolve entrevistador e entrevistado na produção do conhecimento. Por meio de entrevistas, pode-se compreender as relações entre as pessoas e suas situações, com vistas ao entendimento das crenças, atitudes, valores e motivações que permeiam comportamentos.

Deste modo, Rosália Duarte (2002) salienta que a postura do pesquisador é de fundamental importância para o momento da entrevista e deve ser coerente com a abordagem teórico-metodológica adotada. A entrevista é, portanto, entendida como uma prática discursiva, na qual se busca o processo, o movimento e o sentido, o que implica dizer que ela é uma ação permeada por uma relação negociada. Nesta interação, pesquisador e participante se posicionam e posicionam o outro (PINHEIRO, 2004).

Para o desenvolvimento desta dissertação, decidiu-se pela utilização de entrevistas semi-estruturadas, tendo em vista a promoção de uma conversação continuada entre pesquisadora e participante guiada pelos objetivos do estudo (DUARTE, 2002). Neste sentido, o roteiro de entrevista17 servia de orientação, mas não era seguido rigorosamente, de modo a tornar a interação mais fluida sem deixar de lado os propósitos da entrevista. O roteiro é composto por seis blocos: 1) Dados pessoais; 2) A descoberta da gravidez; 3) A rede de apoio; 4) As configurações familiares; 5) A paternidade; e, 6) A vida atual. Tais blocos possuem questões que almejam o alcance dos objetivos geral e específicos desta pesquisa. Contudo, é importante frisar que quem ditava a ordem, necessidade de realização ou exclusão de uma questão era o andamento da entrevista, o roteiro servia apenas como mero apoio para a organização da situação.

Foram realizadas entrevistas com os 12 jovens pais listados e todas elas foram feitas pela pesquisadora responsável por esta dissertação. As entrevistas aconteceram no núcleo de Peixinhos do Centro da Juventude, com um jovem de cada vez, individualmente, em dias diferentes, tanto no turno da manhã quanto no

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da tarde, em salas providenciadas por uma das educadoras. As salas poderiam ser de aula ou da equipe, desde que estivessem desocupadas no momento. As entrevistas foram gravadas em um aparelho de áudio mp3 e posteriormente transcritas integralmente. A duração mínima foi de 17 minutos e a máxima de 55 minutos, tendo uma média geral de 31 minutos.

Foi requerida dos jovens a leitura e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido18, momento em que também eram fornecidas informações sobre os objetivos e métodos da pesquisa, esclarecidas possíveis dúvidas e solicitada a autorização para gravação da entrevista em áudio. Não houve nenhuma recusa. No entanto, dois dos jovens ainda não haviam atingido à maioridade e apesar de terem assinado o documento e cedido a entrevista, não trouxeram a assinatura de uma pessoa maior de 18 anos, como lhes foi pedido.

Levando-se em conta que o arquivo da gravação da entrevista é um documento e que a gravação inclui a leitura do termo de consentimento, onde se pode verificar a aceitação do jovem, avaliou-se que as entrevistas poderiam ser incluídas no corpus da pesquisa. Ao conceder a entrevista, os participantes estão sinalizando uma autorização. Ademais, estes jovens, apesar de menores de 18 anos, assumem responsabilidades e tarefas incompatíveis com a classificação de menor incapaz, estabelecida pelo sistema judiciário, tornando, algumas vezes, incoerente a exigência de assinatura de um maior responsável.

Em respeito ao princípio de sigilo e anonimato que guia a pesquisa com seres humanos, mas em contrapartida, para não tornar este anonimato incongruente em relação ao referencial teórico-metodológico adotado, os nomes dos jovens foram substituídos por nomes fictícios escolhidos por eles mesmos. Assim, suas identidades não foram desconsideradas, numa tentativa de respeitar suas condições de pessoas. Ao escolher o nome que substituiu o seu verdadeiro, os jovens podem se identificar no texto e reconhecerem-se como co-autores (KRAMER, 2002)19.