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4. METODOLOGIA: ESCOLHAS, LIMITES E POSSIBILIDADES

4.2. Os (des)caminhos do campo-tema

Devido à pesquisa realizada no desenvolvimento da monografia de conclusão de curso da especialização (RODRIGUES, 2006) e dos relatos de outros pesquisadores (LYRA-DA-FONSECA, 1997; ORLANDI, 2006; dentre outros), já se possuía ciência de que conseguir entrar em contato com jovens pais não é das tarefas mais fáceis. A invisibilidade da paternidade na adolescência é facilmente percebida não só no que se refere à ausência de dados sócio-demográficos sobre

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reprodução masculina de maneira geral e paternidade em particular, como apontado por Lyra e Medrado (2000), mas também na ausência dos homens em instituições ou espaços dedicados à saúde reprodutiva e ao cuidado infantil, geralmente classificados como pertencentes à alçada feminina. Isto implica que, na maioria das vezes, para se chegar ao pai, deve-se passar antes pela mãe.

O contato anterior com a mãe como meio para se chegar ao pai nem sempre se apresenta como uma boa alternativa. Diferentes configurações e relações entre os genitores podem gerar situações que inviabilizam o acesso a alguns homens e/ou que poderiam gerar constrangimentos por conta dos sentimentos suscitados e comportamentos adotados. Em algumas circunstâncias, pode acontecer o aparecimento de incômodos por parte da mãe das crianças, de modo a impedir que seus companheiros participem da pesquisa ou que só possam participar dentro de certas condições que por vezes acabam assumindo um caráter restritivo: ele contribui a partir da aprovação dela, dentro dos limites impostos por ela, seguindo a noção – algumas vezes percebida e indiscutivelmente questionável – de que é incompreensível o interesse pela paternidade, já que a maternidade seria muito mais rica e poderia oferecer informações muito mais relevantes.

Em outras situações, há também a possibilidade de que sejam eclodidas disputas que visariam convencer o(a) pesquisador(a) sobre o ponto de vista dos diferentes personagens envolvidos, acusando uma conjuntura específica que ultrapassaria os propósitos em questão. Portanto, pode ser citada uma série de ocorrências que envolveria a pesquisa sobre paternidade que optasse por utilizar a mãe como informante inicial. Julga-se que há uma diferença substancial em buscar contato com jovens pais em um lócus privilegiado para este público e onde se sabe que, apesar das possíveis interferências de outras pessoas, a comunicação com o jovem pai poderá ser efetivada de forma mais direta, sem a necessidade de recorrer a intermediários de tanto peso para a situação pesquisada. Buscar diretamente o pai se constitui numa maneira de evitar mal-entendidos sobre a finalidade do estudo e, ao mesmo tempo, valorizar a sua participação, tendo em vista a conjuntura social que tende a manter o pai em um lugar de coadjuvante.

Vários caminhos foram, então, experimentados com a finalidade de tornar possível efetivar a união entre um campo com informações relevantes e objetivos de pesquisa capazes de trazer novidades dentro de um tema que, apesar de ter despertado o interesse recente dos pesquisados – por volta do final da década de 90

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– pode-se dizer que possui uma ampla produção de trabalhos que têm, no entanto, focalizado questões semelhantes (REIS, 1993; LYRA-DA-FONSECA, 1997; CALAZANS, 2000). Além disto, ao percorrer estes caminhos, empreender estas tentativas, foi possível experienciar e avaliar aquele que fosse viável para a realização de um estudo sobre a paternidade na adolescência.

A idéia inicial, apresentada durante a seleção para o programa do mestrado, de usar os serviços de saúde como porta de entrada e seus profissionais como importantes participantes, logo foi desencorajada, devido à amplitude que a pesquisa poderia assumir ao buscar em diferentes atores sociais5 a ponte para os jovens pais. A partir de então, foi pensada a alternativa de utilizar um cartório da cidade do Recife onde se sabia haver coleta de informações sobre os pais que iam registrar seus filhos. As informações registradas se referiam, dentre outras, ao nome e à idade do pai, subsídios julgados suficientes para selecionar aqueles que poderiam participar da pesquisa, num determinado recorte de tempo.

No entanto, depois de seguidas visitas ao cartório e tentativas de contato por telefone, ao final, apesar da confirmação de que estas informações sobre os pais ainda eram notificadas, não foi permitido o acesso aos documentos, sob alegação de que a oficial do cartório encontrava-se de licença, sem previsão de retorno e que nenhuma outra pessoa poderia autorizar a consulta. Ademais, nenhuma das vezes em que se ligou para esta oficial, ela atendeu. Todas as informações que já haviam sido conseguidas sobre as maternidades cobertas por este cartório e, por conseguinte, sobre o público por elas atendido, tiveram que ser abandonadas. E, em contato com outros cartórios, mais uma vez pôde-se constatar, bem como por volta de dez anos atrás, quando Lyra-da-Fonseca (1997) realizou seu estudo, que este é o único cartório da cidade do Recife a registrar informações tais como nome e idade do pai, os outros se resumem a no máximo notificar o bairro onde o genitor reside e sua profissão, quando o fazem.

Novas alternativas foram levantadas e discutidas. Poder-se-ia chegar aos jovens pais por meio de escolas ou em determinada comunidade, tendo nos agentes comunitários de saúde – ACS – e Programas de Saúde da Família – PSF – pontes fundamentais. Foi então que, tendo em vista aspectos tais como a localização bem definida, a faixa etária do público atendido, e a viabilidade de contactar com jovens

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O termo atores sociais foi retirado do texto de Costanzo Ranci (2005) e leva em conta a construção ativa dos participantes em relação às informações de pesquisa e ao contexto em que vivem.

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pais em um mesmo local, surgiu a idéia de ter um dos núcleos do Centro da Juventude como espaço de encontro destes jovens, participantes da pesquisa.

Além dos motivos já explicitados anteriormente para a definição do Centro da Juventude como lócus da pesquisa, foi preponderante o fato da pesquisadora responsável por esta dissertação já ter trabalhado em uma de suas sedes, conhecendo, portanto, desde as características do público atendido até a estrutura de funcionamento da instituição. Vale destacar também que uma das profissionais do Centro, tendo já trabalhado em outra ocasião com a pesquisadora, colocou-se à disposição para servir de intermediária no que fosse preciso. Por isto, o núcleo escolhido foi aquele ao qual ela pertencia.