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4.4 O desenvolvimento da pesquisa: procedimentos

4.4.3 As entrevistas

Bauer e Gaskell (2004, p. 65) observam que a entrevista qualitativa ou de aprofundamento fornece dados básicos para que possamos compreender as relações entre os atores sociais e sua situação, destacando que “[...] o objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos”. Ainda segundo Bauer e Gaskell (2004, p. 190), a maioria das pesquisas sociais se baseia em entrevistas, que podem ser estruturadas ou não. Os autores acreditam que as pessoas, quando falam, exprimem suas opiniões a respeito de determinado assunto, da mesma maneira que a fala revela seus pensamentos. O texto é a forma escrita de expressar esses pensamentos. Para eles, “a análise de conteúdo é apenas um método de análise de texto desenvolvida dentro das ciências sociais empíricas” (BAUER; GASKELL, 2004, p. 190), afirmando que:

Embora a maior parte das análises clássicas de conteúdo culmine em descrições numéricas de algumas características do corpus do texto, considerável atenção está sendo dada aos “tipos”, “qualidades” e “distinções” no texto, antes que qualquer quantificação seja feita. Deste modo, a análise de texto faz uma ponte entre um formalismo estatístico e a análise quantitativa dos materiais. No divisor quantidade/qualidade das ciências sociais, a análise de conteúdo é uma técnica híbrida que pode mediar esta improdutiva discussão virtudes e métodos (BAUER; GASKELL, 2004, p. 190).

Entendemos, dessa forma, que a análise de conteúdo tem o seu ponto de partida na mensagem verbal ou escrita. Em nosso trabalho, foi obtida dos sujeitos a mensagem verbal com as entrevistas realizadas. Segundo Franco (2003, p. 13), toda mensagem expressa um significado e um sentido que não pode ser considerado como um ato isolado, além disso, “[...] torna-se indispensável considerar que a relação que vincula a emissão das mensagens está, necessariamente, vinculada às condições contextuais de seus produtores”. O significado, segundo a autora, é o que pode ser absorvido, compreendido e generalizado a partir de suas características definidoras; já o sentido implica atribuição de um significado pessoal. Acrescenta a autora que condições contextuais são as condições históricas, sociais, econômicas e culturais em que os emissores estão envolvidos, pois “[...] toda análise de conteúdo implica em comparações contextuais” (FRANCO, 2003, p. 16).

A escolha de entrevistas como método para a pesquisa também partiu do exposto por Bogdan e Biklen (1994, p. 134), quando sustentam que: “as entrevistas podem constituir a estratégia dominante para a escolha dos dados ou podem ser utilizadas em conjunto com a observação participante, análise de documentos e outras técnicas”. Os autores colocam que,

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na observação participante, “[...] o investigador geralmente já conhece os sujeitos, de modo que a entrevista se assemelha muitas vezes a uma conversa entre amigos” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 134). Nossa primeira parte de entrevistas iniciou-se já nos momentos de encontro com os professores nos HTPCs. Para os autores, quando ocorre uma observação participante, “[...] não se pode separar facilmente a entrevista das outras atividades de investigação” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 134), pois a cada momento livre tivemos a oportunidade de ouvir a posição dos professores a respeito da nossa questão de pesquisa, dados que foram devidamente anotados em nosso diário de pesquisa de campo.

No final do ano de 2010 e início de 2011, especificamente ao final dos estudos realizados com os professores e gestores no processo de implantação da nova Proposta Curricular, demos início às entrevistas mais formais. Solicitamos que aqueles que se interessassem em participar de nossa pesquisa, que foi devidamente divulgada e teve os seus objetivos explicitados, deveriam nos procurar para marcarmos um local e horário destinado a esse fim. A partir desse momento, iniciamos as entrevistas com professores e gestores.

Segundo Stake (2011, p. 208), as entrevistas podem ser usadas com diferentes propósitos; entretanto, para um pesquisador qualitativo, os principais são:

1. Obter informações singulares ou interpretações sustentadas pela pessoa entrevistada.

2. Coletar uma soma numérica de informações de muitas pessoas.

3. Descobrir sobre “uma coisa” que os pesquisadores não conseguiram observar por eles mesmos.

Tais afirmações vinham ao encontro de nossos propósitos, e demos início às entrevistas informando os sujeitos do nosso objetivo e que garantíamos que aquilo que seria dito na entrevista seria tratado confidencialmente. Dentro de uma estrutura aberta de questionamento, incentivamos os professores e gestores entrevistados a se expressarem livremente, emitindo suas opiniões sobre o tema da entrevista que foi exposto já no primeiro momento: quais os aspectos facilitadores e os dificultadores que eles encontraram em seu trabalho no processo de implantação da nova Proposta Curricular do estado?

Foram entrevistados oito professores, quatro professores coordenadores, dois vice- diretores e dois diretores, totalizando 16 entrevistas com sujeitos envolvidos no processo de implantação da nova Proposta Curricular.

Com as entrevistas realizadas, passamos a transcrever a fala dos professores e gestores para possibilitar a análise mais detalhada. Sabíamos que, em situações como esta, segundo Symanski (2010, p. 12), “a entrevista face a face é fundamentalmente de interação humana em que está em jogo as percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos,

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preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistados”. Dessa forma, tentamos transcrever respeitando a forma da fala dos entrevistados, assinalando os momentos de pausas, de reflexões e dúvidas.

Com o material em mãos, iniciamos a nossa atividade. Como nos indica Bardin (1977, p. 96), quando aponta as atividades de pré-análise, “[...] esta fase é chamada de leitura flutuante [...], pouco a pouco a leitura vai se tornando mais precisa, em função das hipóteses emergentes, da projeção de teorias adaptadas sobre o material e da possível aplicação de técnicas utilizadas em materiais análogos”.

Após um longo processo de idas e vindas da teoria ao material colhido nas entrevistas, estabelecemos como critérios no levantamento de indicadores para possíveis categorias as regras da exaustividade e da representatividade. Segundo Franco (2008, p. 53), na regra da exaustividade, após definido o corpus de análise, em nosso caso as entrevistas, devem ser considerados todos os elementos desse corpus, “[...] com o objetivo de configurar e esclarecer o contexto e as condições sociais e políticas presentes e, historicamente, contidas nas mensagens emitidas”. Na regra da representatividade, podemos apontar o que apresenta maior relevância, o que possui maior significado e maior consistência, enfim, destacar o que realmente pode aprofundar o estudo em questão.

Na elaboração dos indicadores, observamos as orientações de Franco (2008), quando ressalta que, em grande parte das investigações, o que passa a ter importância para a análise dos dados é o que é continuadamente mencionado. “Neste caso, o indicador correspondente será a frequência observada acerca do tema em questão.” (FRANCO, 2008, p. 58).

Passamos a ler o material com especial atenção, e desse processo foram surgindo as primeiras categorias. No dizer de Franco (2008, p. 63), “inicialmente, classificamos as respostas em categorias de menor amplitude e, em seguida, sem nos afastar dos significados e dos sentidos atribuídos pelos respondentes, criamos marcos interpretativos mais amplos para reagrupá-las”. A autora define como significado “[...] o que pode ser absorvido, compreendido e generalizado a partir de suas características definidoras ou pelo seu corpus de significação”; e, como sentido, “[...] o que implica a atribuição de um significado pessoal e objetivado que se concretiza na pratica social e que se manifesta a partir das Representações Sociais, cognitivas, subjetivas, valorativas e emocionais, necessariamente contextualizadas”. (FRANCO, 2008, p. 13).

Cabe observar que formular categorias, em análise de conteúdo, é um processo longo e difícil. Para Franco (2008, p. 59), “a categorização é uma operação de classificação de

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elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação seguida de um reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios definidos”.

Segundo Laville e Dionne (1999, p. 223), “as categorias devem possuir certas qualidades caso se queira que a análise se mostre significativa”, como, por exemplo: serem pertinentes, convindo aos conteúdos analisados; serem verificadas o mais exaustivamente possível para englobar o máximo dos conteúdos; não serem muito numerosas, tendo em vista que a finalidade é reduzir os dados; e serem precisas e mutuamente exclusivas, pois o conteúdo de uma não pode encontrar-se também em outra.

Com base nas entrevistas com os professores e com o núcleo gestor, organizamos as respostas tabulando-as por fatores dificultadores e facilitadores do processo de implantação da Proposta Curricular do estado de São Paulo, buscando também, identificar as condições em que a Proposta foi implantada na escola a partir da fala dos professores e gestores.

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5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este necessário alargamento de horizontes que nasce da tentativa de resposta à necessidade primeira que nos fez refletir sobre a prática tende a aumentar seu espectro. O esclarecimento de um ponto aqui desnuda outro ali que precisa igualmente ser desnudado.

(PAULO FREIRE)

Com base nas entrevistas com os professores e o núcleo gestor, organizamos as respostas trabalhando-as por fatores dificultadores e facilitadores no processo de implantação da Proposta Curricular do estado de São Paulo. A partir desses procedimentos, selecionamos indicadores e os organizamos em categorias para a análise.