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AS ESTATÍSTICAS MUNICIPAIS E A IMPLANTAÇÃO DOS CICLOS DE FORMAÇÃO (1995)

No documento O RENDIMENTO DA ESCOLA BRASILEIRA EM QUESTÃO (páginas 139-142)

A Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre foi palco de muitas transformações entre 1989 e 2004, analisadas em pesquisas que discutiram as diferentes gestões na educação36, de governos com hegemonia do Partido dos Trabalhadores e pela marca de inovações nas políticas relacionadas ao conhecimento, ao acesso e à gestão democrática. A democratização do conhecimento foi uma dimensão desenvolvida pelo projeto de Escola Cidadã, com início na segunda gestão da Administração Popular, em 1993- 1996. O objetivo era romper com o discurso pedagógico que legitimava os processos de exclusão escolar e estabelecer uma nova política educacional que se responsabilizasse pela aprendizagem de todos. Essa concepção estava expressa, também, nas palavras do então Secretário-adjunto Municipal de Educação37: “[...] a escola ‘que queremos’, não pactua com a exclusão, considerando, por isso, a evasão e a repetência como uma anomalia inaceitável.” (AZEVEDO, 1998, p. 316). Assim, sob essa orientação e fruto 36 Como pode ser visto nas teses de Machado (2005), Medeiros (2003), entre outras.

37 José Clóvis de Azevedo foi secretário adjunto na segunda gestão da Administração Popular e secretário

também do processo Constituinte Escolar realizado em 1994, foi construído o Projeto Político-Pedagógico dos Ciclos de Formação, sendo arquitetado junto à comunidade da Escola Municipal de 1º Grau Vila Monte Cristo38, com implantação em 1995. Essa proposta foi expandida para toda a RME e ficou registrada no Caderno Pedagógico nº 9, cuja primeira versão foi publicada em dezembro de 199639. O Ensino Fundamental aumentou em um ano, passando de oito para nove anos. Acompanhavam essa publicação as reflexões sobre o currículo, a avaliação, os princípios de convivência e a gestão democrática. Esses eixos de debates apontavam para a direção do combate à reprovação e à evasão e buscavam a aprendizagem para todos superando, assim, o fracasso escolar que se concentrava principalmente nas classes populares, como afirma a pesquisadora Oyarzabal (2006, p. 60):

Tal proposta fundamenta-se no postulado da inserção social e escolar [...], procurando reverter a perversa situação que os alunos das classes populares vivenciam cotidianamente, de fracasso escolar, de exclusão da escola, de defasagem idade/série, entre outros aspectos, a organização dos ciclos busca ser uma alternativa [...] A lógica é a do sucesso e não a do fracasso escolar.

Cabe salientar que a escola seriada instituiu a ideia de reprovação e repetência para aqueles alunos que não conseguiam acompanhar o grupo, diante da concepção de classes homogêneas definidas pelo conhecimento e ritmos de aprendizagem dos alunos (GIL, 2018). Afirma-se, então, que a escola seriada, apontada como um modelo tradicional e linear, é estruturada por uma sequência de séries que se articulam por conteúdos fixos a serem ensinados, sendo o domínio desses conteúdos pré-requisito para o aluno seguir adiante com sua turma. Barbosa (2013, p. 75) explica que

[...] as escolas são vistas como um espaço e um tempo de passagem, uma trajetória dividida em anos ou séries, onde o conteúdo curricular de um ano é pré-requisito para o outro, onde os conhecimentos são fragmentados em disciplinas, onde o aprender é acumular, onde o grupo, para realizar um percurso coletivo, precisa ser homogêneo.

38 Histórico do processo vivido na EMEF Vila Monte Cristo poderá ser visto em Scherer (2007).

39 A implantação gradativa dos Ciclos de Formação na RME teve início em 1995 na Escola Municipal de

1º Grau Vila Monte Cristo, seguindo com quatro escolas em 1996, sete escolas de ensino fundamental regular e quatro escolas especiais com implantação total e cinco com implantação parcial no ano de 1997. Desse modo, pouco a pouco, ano após ano, foi atingida a totalidade das escolas no ano 2000 [com exceção as escolas EMEF Porto Alegre e o Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores (CMET), cuja organização de ensino se dava por Etapas].

Esse modelo vem provocando muitos processos de exclusão, deixando alunos pelo caminho via repetência ou evasão. Por isso, a representação de um funil na Figura 2, a seguir, evidencia o processo excludente e seletivo, no qual poucos dos ingressantes concluem os estudos.

Figura 2: Escola Seriada x Escola Ciclada

Fonte: II Congresso Municipal de Educação - Teses. SMED (1999).

Já a escola ciclada, implantada em Porto Alegre, organizava os tempos em três grandes ciclos e procurava evitar rupturas do percurso escolar, assegurando assim a continuidade do processo de aprendizagem com respeito aos diferentes ritmos e experiências de cada aluno. A centralidade nessa estrutura era a “[...] compreensão das fases da vida do aluno” (OYARZABAL, 2006, p. 61), relacionando os tempos escolares aos tempos do desenvolvimento humano40. Ainda foi incorporada à proposta a constituição das Turmas de Progressão para enfrentar as significativas taxas de distorção idade-série existentes na Rede. As Turmas de Progressão eram organizadas para atender alunos com defasagem entre sua faixa etária e a escolaridade, com no máximo 20 alunos em cada turma, sendo estruturadas para “[...] atender ao ritmo próprio da aprendizagem

40 1º Ciclo – fase da Infância – 6 aos 8 anos; 2º Ciclo – fase da pré-adolescência – 9 aos 11 anos; 3º Ciclo

destes alunos [...]” (FREITAS et al., 1999, p. 17) e vinculadas a cada Ciclo de Formação41. Apresentava novas estratégias de trabalho com o aluno, além das Turmas de Progressão, havia também atendimento de alunos com dificuldades em Laboratório de Aprendizagem e atendimento especializado a alunos de inclusão em Salas de Integração e Recursos. A Figura 2 mostra claramente o que representava a escola por Ciclos com relação ao acesso e à permanência para a RME, considerando que com o fluxo “normalizado” seria possível abrir mais vagas para o acesso da população nas escolas municipais.

AS CATEGORIAS DE RENDIMENTO ESCOLAR NAS ESCOLAS CICLADAS

No documento O RENDIMENTO DA ESCOLA BRASILEIRA EM QUESTÃO (páginas 139-142)

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