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CAPÍTULO IV – A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA BIOÉTICA EM PORTUGAL – ESTUDO

4.5 As Fases da Bioética em Portugal

Uma análise mais atenta sobre o processo de institucionalização da Bioética em Portugal permite-nos identificar 3 fases distintas, com características diferentes,

com tipos de intervenção diferentes e com atores diferentes56, a saber: 1ª fase – pré-

institucionalização; 2ª fase – institucionalização e 3ª fase – maturidade e desenvolvimento. O que iremos fazer de seguida é, em primeiro lugar, identificar57, situar e caracterizar as diferentes fases que a Bioética atravessou em Portugal e em segundo lugar analisar de forma crítica e com as lentes do Institucionalismo Histórico o percurso e trajetória da Bioética em Portugal. O fenómeno de criação institucional é comum a todas estas fases.

Figura 5 - Fases da Bioética em Portugal

4.5.1 Primeira Fase – A Pré – Institucionalização da Bioética

Esta fase, que vai desde 1970 a 1988, carateriza-se por um período de institucionalização desestruturada; pelo aparecimento de grupos de reflexão impulsionadores do processo de institucionalização; por um grupo de atores que conduz o processo; pela influência do pensamento Cristão, pela Associação de Médicos Católicos.

Do ponto de vista científico, é nesta fase que a Bioética começa a ganhar consistência e respeito, enquanto saber sistematizado, registando-se uma passagem da

ética médica à Bioética científica58. Contudo, este período carateriza-se por

iniciativas, ainda que embrionárias, que ajudaram a dar visibilidade ao assunto. Os

56 Apesar de tudo é possível encontrar em todas as fases de institucionalização da Bioética em Portugal

os atores que estiveram na sua origem.

57 As fases descritas não vêm mencionadas na literatura que já existe em Portugal sobre a

institucionalização da Bioética; trata-se de nomes e atribuições forjados por nós.

58 A designação de Bioética científica aparece por oposição à ética médica. No contexto da nossa

análise foi muito utilizada na entrevista com Rui Nunes.

1ª fase: Pré-

Institucionalização 2ª fase: Institucionalização

3ª fase: Desenvolvimento / Maturidade

Tabela 11 - Iniciativas de Pre-Institucionalização da Bioética

registos anteriores à institucionalização59 da Bioética implicam sensibilidade na sua leitura, os autores referem-se a problemáticas relacionadas com a humanização, sem

alguma vez se referirem ao nome da Bioética60; no entanto, estes registos constituem

já elementos de início de atenção a estas problemáticas. Exemplo disso pode ser evidenciado no “Jornal O Encontro” da Juventude Universitária Católica, (João Lobo Antunes, entrevista 2015) abordando já assuntos, que apesar de não fazerem apelo à Bioética, tocavam já a sensibilidade da humanização dos cuidados, medicina e a evolução da ciência.

A tabela nº 11 elenca algumas destas iniciativas e atores institucionais (palestras, conferências, seminários), que apesar se apresentarem ainda de forma desconexa mostram já o início de um percurso e atenção política ao tema.

59 A que M Patrão Neves chama de pré-história da Bioética em Neves P., A Origem da Bioética em

A cidade de Coimbra, através do Centro de Estudos de Bioética, Centro de Direito Biomédico (FDUC), e a Comissão de Ética Hospitalar dos Hospitais da Universidade de Coimbra, constitui, a partir de 1986 o local berço da Bioética em Portugal.

4.5.2 A segunda fase – Institucionalização

A segunda fase fica marcada pela institucionalização do CNECV em 1990, e em 2009 esta comissão sai da tutela do Conselho de Ministros e passa para a tutela da Assembleia da República. Trata-se de uma fase de criação estruturada, e onde se criam a maioria das instituições, que consolidam, estruturam e sustentam a Bioética

em Portugal - Capacidade Institucional da Bioética61. Surgem ainda iniciativas de

âmbito privado, como é o caso da Associação Portuguesa de Bioética (APB) e a Comissão Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA).

A Bioética académica, ainda que desestruturada, teve, nesta fase, um contributo fundamental, na solidificação da Bioética, através da dinamização de cursos e formação avançada em Bioética.

No capítulo assistencial, a institucionalização das CES, traz consigo um novo desenho, uma nova constituição profissional e simultaneamente novas preocupações de investigação e assistenciais. Contudo as CES não se conseguiram impor no

policymaking da Bioética, arrastando consigo um longo período de permanência

institucional. Podemos concluir que esta 2ª fase se carateriza pelo amadurecimento da discussão Bioética e a criação de instituições estruturadas

4.5.3 A terceira fase – Desenvolvimento / Maturidade

Esta fase compreendida entre 2010 e 2017 carateriza-se por um período de amadurecimento; e com a entrada de novos atores; continuam a ser criadas

61 Esta expressão surge em: Myser, Catherine (edited by), Bioethics Around the Globe, Oxford

University Press, New Your, 2011 e que nós adotámos neste trabalho na medida em que representa a resposta das instituições da Bioética à sua missão essencial.

instituições da Bioética62, tais como: A dimensão assistencial mostra alguma vontade de mudança. A Redética dinamiza em 2015, junto da Assembleia da República, uma proposta de alteração da Lei 97/95 de 10 de maio.

A discussão em torno da profissionalização da Bioética ganha alguma relevância. Este assunto percorre uma trajetória de “assunto tabu” a assunto discutível, no sentido em que se começa agora a observar alguma abertura à profissionalização da Bioética.

Esta fase carateriza-se por alguma distribuição do poder da Bioética em Portugal, na medida em que a CEIC começa a ganhar protagonismo na condução da agenda da Bioética em Portugal.

A terceira fase carateriza-se ainda pela constituição de movimentos cívicos que congregam determinados esforços, sobretudo o que se formou em torno da liberalização da eutanásia. Manifesto “Pró-eutanásia” e um segundo movimento “Stop-Eutanásia”.

A mudança na trajetória institucional do CNECV e a sua abertura à sociedade, através da dinamização de discussões sobre temas emergentes. Esta abertura dá-se sobretudo devido ao surgimento e discussão do tema da eutanásia. O CNECV teve um papel relevante na ajuda à promoção de um debate esclarecedor e imparcial em várias instituições.

A politização da Bioética, assunto oriundo do contexto norte americano, começa a ser introduzido em Portugal (Marques Dos Santos, 2015a). Esta é a fase mais politizada da Bioética em Portugal.