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Sobre a Instituição e a Institucionalização: Clarificação Conceptual no Contexto da Bioética

CAPÍTULO III – O DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO TEÓRICO

3.2 Sobre a Instituição e a Institucionalização: Clarificação Conceptual no Contexto da Bioética

O que é que estamos a falar, quando falamos de instituição e de institucionalização? Antes de entrarmos propriamente na análise institucional e para não corrermos o risco dos conceitos de instituição, institucionalização, se tornarem um obstáculo que dificulte a nossa análise, é nosso objetivo delimitá-las e enquadrá- las no contexto do nosso objeto de estudo. A noção de institucionalização e de instituição não são claras; fazem parte daquele grupo de conceitos com extensão no seu estiramento, podendo remeter o leitor para alguma indefinição na sua análise. A verdade é que a maioria dos autores que se dedicaram ao seu estudo tiveram sempre a preocupação de preliminarmente explicar a que conceção se estão a referir no seu uso. No domínio das ciências da saúde, o termo tem outros significados, nomeadamente ligados ao local de prestação de cuidados, formalização do internamento, (Wing, 2000). A sua tradução para outras línguas, pode não significar a mesma realidade. No caso português e em Bioética, quer o conceito, quer o início de uma reflexão sistematizada sobre este tema foi utilizada por (Neves, 1994).

Contudo, partilhamos as dificuldades apontadas por (Ostrom, 2007) cit. In (Sabatier, 2007) quando se estuda a problemática das instituições: (i) a instituição refere-se a muitos e diferentes tipos de entidades, incluindo organizações, regras, modelos de interação dentro e em torno das organizações; (ii) as instituições de uma forma geral têm um carácter invisível, apesar de se materializarem em pessoas, edifícios e construções concretas; (iii) porque as instituições são variadas no tipo, o seu estudo implica o recurso a diversas disciplinas; (iv) é urgente a constituição de um quadro teórico institucional coerente em virtude das diferentes linguagens utilizadas pelas várias disciplinas de forma a permitir uma comparação entre as várias teorias; (v) decisões e regras são estruturadas num quadro de regras que envolve diferentes níveis de análise, por isso os estudos institucionais precisam de envolver múltiplos níveis de análise e combinações. Também cada uma das três teorias decorrentes do novo institucionalismo apresentou uma noção de instituição, decorrentes das suas próprias metodologias e visões de análise.

O Institucionalismo Histórico define instituição como os procedimentos, protocolos, normas e convenções oficiais e oficiosas inerentes à estrutura

estende-se desde as regras de uma ordem institucional, de procedimentos habituais, de funcionamento de uma organização até às convenções que governam o comportamento dos sindicatos ou as relações entre bancos e empresas. O Institucionalismo Histórico associa as instituições às organizações e às regras ou convenções editadas pelas organizações formais, (Hall, P. y Taylor, 1996).

O Institucionalismo da Escolha Racional e partindo da leitura que (Shepsle, 2009) faz deste assunto apresenta a noção de instituição em torno dos mesmos conceitos: ação e comportamento; a noção de instituição tem duas formas padrão de serem abordadas: em primeiro lugar elas são vistas como um constrangimento externo, na medida em que uma instituição é um script que rotula os atores, os seus comportamentos, as suas estratégias, a sequência na qual os atores escolhem a informação que possuem quando tomam as suas decisões e os resultados provenientes das escolhas dos atores. Em segundo lugar a noção de instituição é vista como um formulário de jogo exógeno que indica as várias opções que esta interação estratégica pode desenvolver. Em vez de uma prestação externa, as regras do jogo são elaboradas pelos próprios jogadores. Nesta visão não há nada de exógeno relativamente às regras do jogo. Os arranjos institucionais são direcionados e provocam coordenação em torno desses arranjos. As instituições são simplesmente uma forma equilibrada de fazer as coisas … se um jogador decisivo decide jogar com regras diferentes, as regras ficam desequilibradas e a instituição fragilizada. (Shepsle, 2009) apresenta ainda uma outra forma que a teoria da escolha racional tem de apresentar a noção de instituição que de alguma forma contrastam com as duas anteriores como práticas macrossociológicas definidas e alteradas pela contingência histórica. Uma instituição é algo que muda muito lentamente sem que o humano se aperceba. O autor diz que provavelmente até precisaríamos de forjar um outro nome dada esta especificidade.

O Institucionalismo Sociológico olha para a cultura e normas como instituições, (Steinmo, 2008b). Os percursores desta teoria definem instituição de uma forma mais global, incluindo não só as regras, procedimentos ou normas formais, mas também os sistemas de símbolos, os esquemas cognitivos, os modelos morais que fornecem “padrões de significação” que guiam a ação humana. Há para o Institucionalismo Sociológico uma interpenetração entre as noções de instituição e cultura.

AS instituições são fundamentalmente ideias partilhadas, existem na mente dos participantes e por vezes são partilhadas em forma de conhecimentos implícitos em vez de explícitos ou na forma escrita, (Ostrom, 2007) in (Sabatier, 2007). Por isso alguns estudiosos referem-se a estas enquanto instituições estruturadas e instituições desestruturadas. Instituições formais e instituições informais (Steinmo, 2008b).

Adotámos neste trabalho, a noção de instituição assente em ideias, conceitos partilhados por seres humanos em situação de repetição, organizadas por regras, normas e estratégias, (Crawford, Ostrom 2005), e como regras, como base de sustentação para todo o comportamento político. As instituições podem ser formais ou estruturadas, como por exemplo as regras constitucionais, como também podem ser informais ou desestruturadas, como as regras culturais; no entanto sem instituições não existe uma política organizada, (Steinmo, 2008b). Uma das muitas razões que reforça o estiramento do conceito de instituição é porque elas, apesar de poderem ser visíveis, a maior parte das vezes elas são invisíveis. Neste trabalho referir-nos-emos, tanto às instituições estruturadas e formais, como às instituições desestruturadas e informais da Bioética, na medida em que cada uma delas desempenha um papel a ter em conta no processo de institucionalização da Bioética.

A noção de institucionalização é mais clara e será abordada sempre no sentido de criação de instituições; ou seja, como é que após o aparecimento Bioética enquanto saber organizado se transpõe para a ação, para o terreno das instituições, da criação institucional; qual o processo, os fatores, os elementos e as condições da sua institucionalização?

A noção de Institucionalismo neste trabalho referir-se-á à abordagem elaborada no contexto do neo-institucionalismo e à forma como esta corrente se debruça na organização política centrada no estudo das instituições. Para o institucionalismo, a política, as políticas e o comportamento só pode ser compreendido no contexto das instituições, (Steinmo, 2008b)

Muitos estudos referem o termo instituição querendo-se referir a organização. Na nossa abordagem a noção de instituição, não se refere a questões organizacionais. O termo organização aponta para uma certa nudez, um sistema pobre com falta de senso e de atividades conscientemente coordenadas. Refere-se a uma ferramenta descartável, um instrumento racional para fazer um trabalho. Uma instituição, por outro lado, aproxima-se mais de um produto natural das necessidades e pressões