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O Papel da Institucionalização na Estruturação de Comportamentos Sociais em Bioética

CAPÍTULO III – O DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO TEÓRICO

3.24 O Papel da Institucionalização na Estruturação de Comportamentos Sociais em Bioética

A análise institucional tem igualmente a particularidade de se focar na compreensão da relação que se estabelece entre instituição e comportamento: quer

estabelecimento de uma relação institucional que se estende ao indivíduo e ao grupo. No estabelecimento desta relação existem por um lado, assimetrias associadas ao funcionamento e desenvolvimento das instituições e por outro lado, trajetórias, situações críticas e consequências imprevisíveis, (Hall, P. y Taylor, 1996).

A introdução desta abordagem no nosso trabalho, decorre da necessidade de saber, como é que se estabeleceu esta ligação entre a institucionalização da Bioética e os comportamentos sociais em Bioética. É possível destacar na trajetória de institucionalização, momentos que possam ser identificativos da influência que a institucionalização da Bioética possa ter provocado nos comportamentos sociais. Não poderíamos deixar de referir, no fenómeno em torno da eutanásia que está a surgir em Portugal. O surgimento do movimento “pró-eutanásia”, que agenda esta questão em 2012. À data em que escrevemos este capítulo, acabamos de ter informação acerca do surgimento de um outro movimento social, “stop eutanásia”, duas semanas antes do assunto ser discutido na Assembleia da República. Este fenómeno ilustra bem, por um lado o momento de maturidade, vivido atualmente pela Bioética, e por outro lado, o surgimento destes movimentos são um reflexo do processo de institucionalização da Bioética em Portugal.

A análise institucional, através do Institucionalismo Sociológico41, tem a

preocupação de saber como é que as instituições afetam o comportamento dos indivíduos coletivamente. É por intermédio das ações dos indivíduos que as instituições exercem influência sobre as situações políticas. Esta questão é respondida

pelo Institucionalismo Histórico através de duas perspetivas42.

O Institucionalismo Sociológico está especialmente interessado no estudo da

cultura e das normas como instituições43. Colocam a ênfase dos seus estudos nos

41 Existem duas dimensões dentro do institucionalismo sociológico que nos ajuda a compreender

melhor a forma acerca do impacto que as organizações têm na sociedade: a dimensão normativa do impacto das instituições e a dimensão cognitiva do impacto das instituições. A primeira refere-se à forma como os indivíduos através da socialização são levados a desempenhar papéis e neste ponto as instituições têm uma grande influência na determinação dos comportamentos. A segunda refere-se à forma como as instituições influenciam o comportamento, ao fornecer esquemas, modelos cognitivos, que são indispensáveis à acção, sem os quais seria impossível interpretar o mundo e o comportamento dos outros atores. Espera-se que as instituições ofereçam as condições de atribuição de significado à vida social (Hall & Taylor, 1996).

costumes, modelos de comportamento e mapas cognitivos e argumentam que as instituições sociais são fundamentais na compreensão da interação das estruturas sociais, políticas e económicas, (March And Olsen 1989; DiMaggio and Powell 1991). Ao mesmo tempo os defensores desta teoria mostram que existe uma relação entre as instituições formais e a estrutura dos modelos de comportamento e crenças.

Este enquadramento através do Institucionalismo Sociológico serve para sedimentar as bases que nos poderão levar a compreender a componente das

instituições da Bioética na promoção de comportamentos44. No seguimento de abrir as

instituições da bioética ao público em geral, o Prof. João Lobo Antunes, teve a iniciativa, aquando da Presidência do CNECV de o abrir à sociedade, através de debates, que aconteceram m parceria com Pavilhão do Conhecimento. Outras iniciativas aconteceram com a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Apesar de tudo, as instituições da Bioética continuam longe do grande público.

As instituições da Bioética emitem pareceres sobre matérias complexas. Esta tarefa envolve um saber altamente especializado. Estes pareceres têm como objetivo esclarecer, debater, aclarar, desmontar situações que inevitavelmente irão formar opiniões. Os pareceres emitidos pelas comissões nacionais, constituem um património institucional em Bioética (ethics capacicy). Estes pareceres estão disponíveis para consulta e poderão servir como guia orientador da ação.

Há uma pergunta que é fundamental fazer: que influência gera as instituições da Bioética nos indivíduos e na sociedade? O Institucionalismo Sociológico surge no quadro da teoria das organizações e defende que as instituições exercem uma influência fundamental sobre os indivíduos. As instituições influenciam não apenas os cálculos estratégicos dos indivíduos, como sustenta a escolha racional, mas também as suas escolhas mais fundamentais. A relação que liga o indivíduo à instituição repousa sobre uma espécie de raciocínio prático em que para se estabelecer uma linha de ação o indivíduo utiliza os modelos institucionais disponíveis, (Hall, P. y Taylor, 1996). O que não implica que os indivíduos não sejam dotados de intenções, ou sejam irracionais. Por isso eles consideram ação racional aquilo que também é socialmente construído.

humana. Este tipo de institucionalismo rompe com a dicotomia entre instituição e cultura levando-as a uma interpenetração.

A institucionalização de procedimentos organizacionais não era utilizada simplesmente porque eram mais eficazes, mas implicava outra coisa explicada pela noção de racionalidade transcendente. (explorar esta noção no contexto da Bioética). Segundo eles essas formas e procedimentos deveriam ser considerados como práticas culturais que dessem origem a uma transmissão mais geral, o que implicava uma explicação das práticas burocráticas em termos culturais. Os sociólogos institucionalistas escolhem uma problemática porque querem difundir uma prática pela sociedade, (Hall, P. y Taylor, 1996).

Do ponto de vista da mudança, as instituições adotam com frequências novas práticas porque elas têm um valor reconhecido num ambiente cultural mais amplo. Há uma lógica das conveniências sociais versus lógica instrumental. Aqui podemos adaptar a adoção de medidas externas por conveniência social, por imposição externa (europeização) e não porque fosse a forma mais eficaz de fazer as coisas.

O que é que então confere legitimidade face a certos arranjos institucionais? Quais as fontes desta autoridade ao desenho institucional e autoridade cultural. Será a expansão do papel regulador do estado que pela via da autoridade impõe práticas às organizações? Qual a origem do desenho institucional em Bioética, sobretudo a constituição institucional? O que é que determinou quem são os grupos profissionais que podem fazer parte do desenho e porquê? A crescente profissionalização de numerosas esferas de atividade engendra comunidades dotadas de uma autoridade cultural suficiente para impor aos seus membros certas normas e certas práticas, (Hall, P. y Taylor, 1996). Para o Institucionalismo Histórico as instituições estruturam de forma única a maneira como as pessoas veem o mundo. Na perspetiva do Institucionalismo Sociológico as pessoas de uma forma geral seguem uma lógica daquilo que é apropriado ou correto fazer. E nesta perspetiva as instituições (as regras) são normas sociais através das quais são governadas o dia-a-dia e as interações sociais.