• Nenhum resultado encontrado

As modalidades de intermediação proporcionadas pelas plataformas eletrônicas

PARTE I COMÉRCIO ELETRÔNICO

4.2. As modalidades de intermediação proporcionadas pelas plataformas eletrônicas

Apesar de favorecer uma forma mais eficiente entre a procura e oferta de bens e serviços, a propiciar inclusive o acesso de pequenos empreendedores e particulares ao mercado massificado da internet mediante baixo custo de investimento, as plataformas eletrônicas de intermediação atuam de maneiras distintas. Enquanto umas podem interferir mais ativamente na celebração dos negócios, outras atuam de forma mais passiva, até em nada intervir por ocasião da contratação entre seus usuários. Como será visto, referida forma de atuação terá reflexos na própria imputação das obrigações contraídas, motivo pelo qual importante se faz expor cada uma dessas modalidades de intermediação.

Primeiro, existem plataformas que se constituem em verdadeiros comparadores de preços, ao se limitar a buscar na rede mundial de computadores ofertas veiculadas em outros endereços eletrônicos, agrupando-as conforme filtros pré-fixados pelo interessado, a fim de promover um comparativo entre as condições ofertadas por cada um dos anunciantes. É o caso de plataformas como Momondo, Skyscanner e Buscape, onde não há diretamente uma oferta de qualquer anunciante, mas simplesmente uma procura de ofertas veiculadas em outros estabelecimentos eletrônicos, listando-os consoante a necessidade do interessado.

Em tais plataformas, sua programação limita-se à busca de outros anúncios, não havendo qualquer espaço para a interatividade entre o anunciante e o usuário interessado. Após a listagem das ofertas encontradas pelo software, disponibiliza-se um link de acesso direto para o estabelecimento virtual do vendedor, de modo que todo o negócio é realizado fora da plataforma eletrônica. Como não são responsáveis pela realização de qualquer fase do negócio, as plataformas comparativas são remuneradas por anúncios publicitários ou até por quantidade de cliques no link referente ao endereço eletrônico do vendedor, a não deter qualquer conhecimento sobre a efetivação, ou não, de algum negócio, bem como receber qualquer percentual sobre o valor de alguma transação porventura efetivada a partir de uma busca efetuada em seu sítio eletrônico. São intermediários ao aproximar os vendedores de

96 compradores interessados, mas não detém qualquer informação sobre os produtos desejados e tampouco sobre os respectivos vendedores, além de em nada intervir para a concretização do negócio.

Outra modalidade de intermediação consiste em plataformas eletrônicas que veiculam ofertas realizadas por seus usuários cadastrados, que poderão ser particulares ou profissionais, mas não dispõem de uma programação apta à concretização do negócio. Possibilitam até uma certa interação entre o vendedor e o usuário comprador ao disponibilizar o contato ou correio eletrônico do vendedor cadastrado, como também através de canais diretos de comunicação por ela criados, de modo a ser possível estabelecer uma fase de negociação contratual. Todavia, apesar dessa possibilidade de discussão das cláusulas contratuais através desses canais diretos disponibilizados, não detém a plataforma qualquer controle sobre a condução e conclusão do negócio, tudo a ocorrer mediante manifestação de vontade direta das partes, que em momento algum interagirão com o sistema eletrônico da plataforma digital. Difere-se das plataformas comparativas de preços, por não realizar qualquer busca de ofertas similares em outros sítios eletrônicos, a limitar a veicular a oferta, nos moldes em que foi postada pelo particular ofertante. Assemelha-se, contudo, das mesmas na forma de remuneração por seus serviços, na medida em que recebem por anúncios publicitários em suas páginas, ou mesmo por taxas cobradas por ocasião da colocação da oferta, mas não recebem qualquer percentual ou comissão por negócios concretizados a partir de seus serviços. Assemelham-se a anúncios classificados, nos mesmos moldes daqueles veiculados por jornais e revistas impressas, televisão ou rádio, uma vez que os negócios são celebrados sem sua participação direta224, mas tão somente veiculam as ofertas nos moldes formatados por seus anunciantes e fornecem dados para contado entre as partes negociantes. Exemplo bem frequente no cotidiano dessa modalidade de plataforma é a OLX, na qual fornece o serviço apenas de veicular a oferta de um usuário cadastrado, mediante o pagamento de uma taxa previamente fixada. Dispõe ainda os contatos do vendedor, mas sem qualquer ingerência na concretização do negócio, ou mesmo na execução contratual e seu respectivo pagamento, a ficar tudo sob o encargo direto das partes contraentes.

Outra modalidade de atuação das plataformas eletrônicas é a de permitir a intermediação entre vendedores/prestadores de serviços e compradores, mas desta vez com

224 Cf. T

ARCÍSIO TEIXEIRA, Comércio eletrônico: conforme o marco civil da internet e a regulamentação

97 uma efetiva interatividade entre as partes. A exemplo das plataformas assemelhadas aos classificados, os interessados cadastram-se e ofertam produtos e serviços que desejam negociar ao mercado. Contudo, diversamente das plataformas anteriores, a fase negocial, inclusive a exteriorização da vontade, dar-se-á diretamente na própria plataforma eletrônica. O sistema informático é programado de tal modo que o usuário adquirente, ao aceder o estabelecimento virtual da plataforma e encontrar o produto desejado, promove uma verdadeira interação com o site. Não apenas seleciona o item para fins de obter maiores informações sobre suas características, mas também prossegue em todas as etapas já programadas no sistema para a conclusão do negócio, ao escolher o produto e adicioná-lo no carrinho de compras, preencher formulários para a identificação do adquirente e fornecimento do endereço de entrega, adesão às condições de contratação previamente estabelecidas, bem como promover o respectivo pagamento pela contratação concretizada e até mesmo, receber diretamente o objeto contratado, nos casos de execução contratual on line.

Será justamente essa modalidade de atuação das plataformas eletrônicas que despertarão maiores controvérsias a respeito da imputação das obrigações nela contraídas. Se por um lado suas condições gerais de contratações dispõem a todo o momento que as mesmas são simples intermediárias, em nada interferindo no processo de contratação como parte contraente e, por conseguinte, não deter qualquer responsabilidade pelas obrigações contraídas entre os seus usuários225, por outro, é inegável que toda a fase negocial, inclusive com a externalização e transmissão eletrônica de vontades ocorre no próprio sítio eletrônico mantido e programado pela plataforma. O titular do estabelecimento virtual criou o seu negócio de modo a promover a circulação de bens e serviços, não apenas aproximando indivíduos, mas como também promoveu a criação de um sistema informático a possibilitar a celebração de negócios eletrônicos interativos, organizou uma marca, endereço eletrônico e demais fatores de produção, tudo no intuito de tornar-se conhecido e confiável no mercado e favorecer um incremento dos negócios em seu estabelecimento eletrônico. Detém informações sobre todos aqueles que estão a contratar, monitoram os seus comportamentos,

225

No sentido de excluir expressamente a responsabilidade da plataforma pelas obrigações contratuais assumidas pelos seus usuários, cf., dentre outros, Airbnb – Airbnb Terms of Service, https://www.airbnb.com/terms/; Amazon – Conditions of use, https://www.amazon.in /gp/help/custumer/display.html?nodeld=201909000; Ebay – User Agreement,

https://www.ebay.com.au/help/policies/member-behaviour-poilicies/user-agreement?id=4259; MarketPlace

Fnac.Pt, https://www.fnac.pt/CondicoesVenda-Marketplace; Uber – Legal Terms of Use, item 6, https://www.uber.com/legal/terms/us;

98 fixam as regras de contratação no âmbito de seu mercado e ainda aplicam sanções pelo seu descumprimento226. Ao contrário das plataformas meramente comparativas e daquelas que tão somente veiculam ofertas públicas de seus usuários como serviços de classificados, mantém um estreito controle sobre as transações realizadas entre seus usuários227. Sem prejuízo das rendas também auferidas com mensagens publicitárias veiculadas em seu site, o explorador da plataforma interativa tem como principal fonte de remuneração a obtenção de uma porcentagem sobre os negócios realizados, bem como oferece ainda serviços de cobrança garantida e seguros sobre referidas transações.

Enquadram-se nessa modalidade de intermediação a ampla maioria das plataformas conhecidas no comércio eletrônico mundial, como, por exemplo, a Amazon, Ebay, Booking, Uber, Airbnb, Mercado Livre, além de MarketPlaces mantidos por grandes lojas de departamento, como FNAC.pt e Worten.pt.