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As novas tecnologias vem, em linhas gerais, proporcio- nar uma melhora na vida das pessoas. São como

[...] um entrelaçamento de linhas, um conjunto de nós interconecta- dos. Rede remete à forma, à morfologia de um sistema; comuni- cação em rede, sociedade em rede são expressões para significar a interconexão de elementos, processos, sentidos que marcam as relações comunicativas e a construção da vida social.14

Para Lipovetsky,15 “a dinâmica de individualização dos

produtos só pôde efetuar-se graças à alta tecnologia basea- da na microeletrônica e na informática. As novas tecnologias industrias permitiram o desenvolvimento de uma produção personalizada de massa”. A partir disso, pode-se constatar o

14 FRANÇA, V. Do telégrafo à rede: o trabalho dos modelos e a apreensão da

Comunica ção. In: PRADO, Aidar (Org.) Crítica das práticas midiáticas. São Paulo: Hacker, 2002. p. 59.

15 LIPOVETSKY, G. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hipercon-

quanto as tecnologias influenciam nas relações de consumo, e, por sua vez, na promoção do consumismo.

O rádio e a televisão são as tecnologias mais utilizadas pelas pessoas. Por isso, há uma preocupação em relação ao conteúdo exposto por tais meios, uma vez que, crianças e ado- lescentes ficam boa parte do tempo interagindo com eles. Se- gundo uma pesquisa,

No Brasil, [...] uma criança assiste, em média, a 3 horas e 46 mi- nutos de televisão por dia. A publicidade comercial é limitada ao tempo máximo de 25% do total de tempo destinado à programação de emissoras de rádio e televisão. Resultado: uma criança brasilei- ra pode chegar a assistir, em média, a 395 minutos de comerciais por semana. Acrescente-se a exposição de crianças e adolescentes à publicidade no rádio, em veículos impressos, em outdoors e na Internet, e temos um quadro no qual esse grupo está saturado de propaganda [...].16

Destarte, é possível compreender que quanto maior for o tempo de exposição às tecnologias, as crianças e adolescentes, reduzem a capacidade de pensar por conta própria, pois “[...] “o pensamento de grupo é mais disseminado hoje [...]. Em vez de pensar por conta própria, simplesmente citamos o que já foi citado”, o que os deixa com uma “mentalidade de rebanho”, ou seja, os meios citados induzem a seguir determinada linha,

sem reflexão, típico pensamento massificado.17

Dessa forma, crianças e adolescentes são influenciados à todo tempo pelas novas tecnologias a consumir e a possuir aquilo que os outros têm, resultando em

16 LOPES, Cristiano Aguiar. Legislação de proteção de crianças e adolescentes

contra publicidade ofensiva: a situação do Brasil e o panorama internacional.

2010, p. 7. Disponível em: <http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/3849>. Acesso em: 18 set. 2016.

17 KEEN, Andrew. Vertigem digital: por que as redes sociais estão nos dividindo,

[...] crianças que, desde muito novas, já são bombardeadas por mensagens publicitárias e que participam ativamente do mercado de consumo. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, sete em cada dez pais são influenciados pelos filhos de 3 a 11 anos na hora de fazer compras. Boa parte dos hábitos das crianças e, em especial, seus hábitos de consumo, ainda em formação, estão sendo “cultivados” por esse bombardeio diário de publicidade a que estão submetidas.18

Verifica-se a necessidade de refletir a respeito do consu- mo e consumismo, não apenas quanto aos critérios econômico e sustentável, mas também na perspectiva social. Pois, ao li- gar ou se conectar à qualquer um dos meios tecnológicos, há um oceano de imagens e sons que fazem com que as pesso- as deixem de pensar, para simplesmente imitar determinada pessoa popular. Está impregnado nos meios de comunicação a cultura do consumo, que vem à tona examinar o impacto que tudo isso acarreta na vida dos indivíduos. “Numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada

é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fadas”.19

O autor Victor Strasburger,20 na mesma linha, refere que:

A falta de conhecimento do mundo real também pode deixar as crianças mais predispostas a acreditar nas informações que rece- bem da mídia. É difícil avaliar a precisão ou o quanto é verdadeira uma história se não existem dados alternativos. Um adulto que assiste a um programa de TV é capaz de avaliar essa mensagem no contexto do conhecimento sobre a indústria da televisão e tam- bém de um amplo leque de experiências pessoais na compra de produtos. Uma criança, por outro lado, raramente possui esse rico aglomerado de estruturas de conhecimento sobre as quais se fun- damentam.

18 LOPES, Cristiano Aguiar. Legislação de proteção de crianças e adolescentes

contra publicidade ofensiva: a situação do Brasil e o panorama internacional.

2010, p. 8. Disponível em: <http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/3849>. Acesso em: 18 set. 2016.

19 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mer-

cadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, p. 22.

20 STRASBURGER, Victor C. Crianças, adolescentes e a mídia. Tradução: Sandra

A criança e o adolescente uma vez condicionados aos es- tímulos de uma sociedade de consumo desfreado, tornam-se mais vulneráveis à publicidade e à persuasão. “Multiplica fal- sas necessidades, por meio de um processo de convencimento intensificado pela mídia, mediante o qual incita a busca de mais prazer, sem qualquer referência” ou estímulo ao desen-

volvimento de sentimentos superiores ou valores éticos.21

Com essas disposições “justifica-se a importância de ava- liar e oferecer ao público infanto-juvenil programações que respeitem sua condição de pessoa em desenvolvimento”. Por isso, da precisão das emissoras de televisão informarem a in-

tensidade da programação de acordo com a idade.22

Nas palavras do sociólogo Bauman,23 “tão logo aprendem

a ler, ou talvez bem antes, a ‘dependência das compras’ se estabelece nas crianças”. Ou seja, “numa sociedade de consu- midores, todo mundo precisa ser, deve ser e tem que ser um consumidor por vocação”.

Outro aspecto que aparece é a moda, pois gera uma ten- dência de consumo desnecessária, principalmente, no gênero feminino, mas, também, entre as crianças e adolescentes.

[...] a mobilização da moda em mercados de massa (em oposição a mercados de elite) forneceu um meio de acelerar o ritmo do con- sumo não somente em termos de roupas, ornamentos e decoração, mas também numa ampla gama de estilos de vida e atividade de recreação [...].24

21 PEREIRA JUNIOR, Antonio Jorge. Direitos da criança e do adolescente em face

da TV. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 167.

22 COSTA, Marli M. M.; PORTO, Rosane T. C. Revisitando o ECA: notas críticas e

observações relevantes. Curtitiba: Multideia, 2013, p. 136.

23 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mer-

cadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. p. 73.

24 HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da

mudança cultural. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stella Gonçalves. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2002. p. 58.

Tão logo as tendências da moda surgem, tendo a visi- bilidade nas mídias, manipulam as crianças e adolescentes, causando desejo de ter aquilo. Consequentemente, o autor

Simmel25 coloca que:

[...] o significado da moda: como formas de vida, como marca de distinção de classe, como jogo da incessante imitação de uma clas- se por outra, como meio da inserção dos indivíduos num grupo ou numa corrente, traduz justamente essa efervescência sem rumo, porque é indiferente aos conteúdos, inclusive da beleza ou do con- veniente; é simples variação, mero arreio, desprovida de motiva- ção, entregue apenas à vertigem do movimento e do momento, da novidade injustificada, porque vive do capricho e da extravagância.

Muitos buscam a moda como como sinônimo de bem-es- tar, satisfação, ou pertencimento a um grupo, sendo discipli- nado por ele. Contudo, a moda acaba exercendo uma realida- de essencial na sociedade:

A moda expressa, de forma visível e concreta, a realidade essen- cialmente dialética e dinâmica da sociedade, feita de intercone- xões e liames, mas também de inevitáveis conflitos entre os indi- víduos, entre as múltiplas e diferentes formações sociais, entre os indivíduos e os grupos ou as classes.26

As mídias não só fomentam o consumo por meio da moda, mas, também, criam estereótipos que são vendidos pe- los famosos e populares. Utilizando-se de Bauman, pode-se afirmar que:

Aspectos como o desejo pela fama e o consumo excessivo, caracte- rísticos da atual sociedade, apresentam-se como representações típicas da fragmentação social que vivemos onde obrigatoriamente é necessário se tornar notável e a posse de objetos ultrapassados a ser vista como sinônimo de estupidez pelos demais.27

25 SIMMEL, Georg. A filosofia da moda e outros escritos. Lisboa: Texto & Grafia,

2008. p. 31-32.

26 SIMMEL, Georg. A filosofia da moda e outros escritos. Lisboa: Texto & Grafia,

2008. p. 9.

27 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mer-

Observa-se que muitas pessoas, principalmente crianças e adolescentes tendem a seguir determinados padrões, com base naquilo que veem nas redes sociais e televisão. As mí- dias sabendo desses potenciais, aproveita para criar perfis de pessoas, objetos, produtos e serviços incansavelmente. E tudo para satisfazer seus consumidores, que a cada dia buscam satisfazer seus desejos com novas possibilidades explicitadas pelas tecnologias.

A necessidade da educação para o