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Esse ano o mundo foi surpreendido com a notícia8 de

que o veículo automático chamado de Tesla Model S teve sua primeira vítima fatal, enquanto o veículo estava no modo se- miautônomo ou Autopilot, em que o carro dirige sozinho den-

5 Impossível conhecer 100% as reações de qualquer elemento quandoprecedido

de análise científica, sendo a incerteza parte do processo científico, conforme BACHELARD, Gaston. O nôvo espírito científico. Rio de Janeiro: Tempo Brasilei-

ro, 1968.

6 BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Barcelona:

Paidós, 1998.

7 BRASIL. Lei 8.078/90. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras pro-

vidências. Parágrafo único do art. 2º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8078.htm> Acesso em: 01 ago. 2016.

8 G1. Divulgadas imagens de carro da Tesla após acidente fatal nos EUA. Disponível em:

<http://g1.globo.com/carros/noticia/2016/07/divulgadas-imagens-de-carro-da- -tesla-apos-acidente-fatal-nos-eua.html>. Acesso em: 12 set. 2016, grifo nosso.

tro de algumas restrições, efetua manobras no intuito de evi- tar acidentes e proteger os ocupantes do veículo.

Segundo o site especializado, o modo de utilização do au- tomóvel chamado Autopilot pode ser definido como a situação em que:

[...] o carro assume o controle sob certos limites e regras, como a de que o motorista deve manter a mãos no veículo, para reassumir o controle a qualquer momento, se necessário.

Essa tecnologia, chamada de semiautônoma, seria um passo anterior à autonomia total, que é quando o carro terá controle completo duran- te toda a jornada, dispensando a atenção do motorista.9

A partir do entendimento desse sistema de direção do veículo, qual é o papel do consumidor/ motorista na condução dele? E existe relação de causa e efeito nas tarefas (progra- mação) destinadas a cada um? Por fim, a pergunta que en- tendemos mais importante, e que tentaremos esboçar uma possível resposta neste pequeno texto é: qual a consequência jurídica – no viés consumerista – de um acidente de veículo automático, utilizando o modo autopilot?

Antes de chegarmos à questão fulcral, precisamos vis- lumbrar o fato de que o produto (Tesla Model S) é controlado por um computador. Ou seja, há necessidade de saber: – quem estabelece (programa) as regras? Para podermos determinar se as condutas decididas pelo carro são passiveis de respon- sabilização de pessoa física.

De forma direta, a conclusão lógica para a questão seria responder um programador. Todavia, o que buscamos saber

9 G1. Divulgadas imagens de carro da Tesla após acidente fatal nos EUA. Disponí-

vel em: <http://g1.globo.com/carros/noticia/2016/07/divulgadas-imagens-de-car- ro-da-tesla-apos-acidente-fatal-nos-eua.html>. Acesso em: 12 set. 2016.

é de fato quem elabora as normas e não quem as insere no computador de bordo do veículo.

Há, nesse ponto, diferença significativa, por isso, neces- sária pequena ressalva.

De fato, quem inclui no sistema de controle do veículo quais são as regras a serem seguidas e, mais importante, em que momento segui-las, sem dúvida, é profissional de infor- mática responsável por tal tarefa. Mas há que se deixar claro que escrever a lei não significa elaborá-la.

Em uma analogia mais rudimentar, é mais ou menos di- zer que somente existisse um meio de divulgação das normas legais, e o processo de elaboração legislativo fosse completa- mente secreto, sendo que somente por meio de único diário oficial impresso fosse possível conhecer o conteúdo da lei, o im- pressor da Constituição, por exemplo, seria a fonte de todas as cópias conhecidas. Isso não significa dizer que a Carta Magna foi criada por ele, esse é apenas o distribuidor, os Deputados e Senadores continuariam a fazer propriamente as leis, analogi- camente, o programador seria apenas o impressor.

A regra em si, ou seja, a conduta fática a ser tomada a partir de determinada situação não é, necessariamente, cons- truída pelo programador do software. Saber quem é o respon-

sável pela elaboração da conduta do automóvel frente a fato

específico, isso é de vital importância, inclusive para solução de casos concretos, como o exemplo citado.

Tentado construir um exemplo mais específico e de maior praticidade, pensemos hipoteticamente qual seria o tempo de resposta dos freios no caso de outro carro cruzar a frente do

Tesla, caso o condutor não estivesse com as duas mãos no vo-

No entanto, se a regra diz que é essencial que o motorista esteja com as duas mãos no volante, no momento em que o condutor não assume essa postura, o fabricante do produto se isenta da responsabilidade em eventual acidente? Ou, a regra é para proteção do motorista, ou criada pelo idealizador do veículo como excludente de responsabilidade?

Caso seja positiva a resposta, essa suposição não seria uma forma de burlar a lei de proteção ao consumidor no que toca a culpabilidade do fornecedor do produto?

Em uma dedução lógica, eventualmente apressada, o consumidor poderia concluir: de que adianta um veículo que toma decisões automaticamente para proteger aos passagei- ros se, em caso de acidente somente levaria em consideração a responsabilidade do condutor, caso esse não estivesse con- duzindo o veículo com as mãos no volante.

Mutatis mutantis é dizer que o veículo automático, na

realidade, não só não o é, como, também, deixa toda a res- ponsabilidade de conduzi-lo sob o motorista e, na ocorrência de acidente, a culpa sempre será do motorista, pois se por ventura estiver dirigindo – com as mãos no volante – ele que tomou a decisão que ocasionou o acidente. Agora, se não es- tiver guiando, ou seja, na eventualidade do carro estar em modo autopilot, porém, sem as mãos na direção, ainda assim, a culpabilidade permanecerá com o piloto.

Da proteção do consumidor como débil