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O homem, dentro de sua modernidade tecnicista/consu- mocentrista, destrói as biodiversidades naturais, comercializa os recursos delas extraídos, se volta para questões atinentes ao poder econômico sem qualquer preocupação com a preser- vação desses recursos e, no mesmo contexto, reformula o ser humano, criando o ser consumidor. Nessa esteira, podem-se ver: o problema do aquecimento global, o derretimento das geleiras, a destruição da fauna e de muitos espécimes que mantém o equilíbrio do planeta, a exclusão social, a miséria e a forme.

A modernidade cria a ideia de progresso tecnicista e jus- tifica as atitudes humanas dentro da economia, da ciência, e dos jogos de poder, que “com ávida mão busca tesouros e

satisfeita fica, achando vermes”3 instrumentos de devastação,

de controle sobre a natureza e sobre o próprio homem.

As tecnologias trouxeram, só para exemplificar, o avião, o automóvel, as motocicletas, os inseticidas, e os transgêni- cos. Em 11 de outubro de 2001, o mundo assistiu, em todos os meios de comunicação, o ataque às torres do Wold Trade Cen- ter, no qual morreram mais de seis mil pessoas. Nos ataques, foram utilizadas aeronaves comerciais.

No que se refere aos automóveis e às motocicletas, é im- portante notar que, vinculada a essa tecnologia,

3 GOETHE, Johann Wolfgang Von. Fausto.Trad. Agostinho D’Ornellas. São Paulo:

A cada ano, cerca de 45 mil pessoas perdem suas vidas em aciden- tes de trânsito no Brasil. A violência envolvendo particularmente motociclistas está se tornando uma epidemia no país. Dados preli- minares do Ministério da Saúde apontam que, em 2013, os aciden- tes com motos resultaram em 12.040 mortes, o que corresponde a 28% dos mortos no transporte terrestre. Nos últimos seis anos, as internações hospitalares no Sistema Único de Saúde (SUS) en- volvendo motociclistas tiveram um crescimento de 115% e o custo com o atendimento a esses pacientes de 170,8%.4

Em uma rápida olhada sobre os inseticidas, os cientistas já provaram os malefícios aos homens e ao meio ambiente: é o desenvolvimento de doenças relacionada ao sistema nervoso humano, cânceres e muitas outras.

No que se refere aos transgênicos, verifica-se que os mes- mos têm desenvolvidos alergias em homens e mulheres. No meio ambiente ele têm eliminado outras espécies vegetais em um verdadeiro desenvolvimento de um meio ambiente onde só uma espécie sobrevive.

Como se pode notar, as novas tecnologias criaram um ambiente paradoxal, em que: por um lado trouxeram bene- fícios econômicos e desenvolvimento tecnológico; por outro, causaram à sociedade males que se alastraram tanto no âm- bito social quanto ambiental.

A vida na sociedade moderna, com se tem afirmado, já ultrapassa os umbrais da dita sociedade pós-moderna, se per- faz na sociedade humana, na magia dos mundos virtuais, na busca de uma democracia plena, mas com uma cultura atre- lada aos poderes econômicos que corroem as possibilidades de inclusão e de sustentabilidade planetária. Nesse mesmo

4 BRASIL. Ministério da Saúde. Brasil é o quinto país no mundo em mortes por

acidentes no trânsito. Disponível em: <http://www.blog.saude.gov.br/35535-bra-

sil-e-o-quinto-pais-no-mundo-em-mortes-por-acidentes-no-transito.html>. Aces- so em: 30 ago. 2016.

diapasão, as novas tecnologias são utilizadas como forma de crescimento econômico.

Assim, é necessário repensar os paradigmas sociais domi- nantes. Se herdamos tipologias políticas, econômicas, sociais e tecnológicas é preciso repensá-las, reavaliá-las e, sobretudo, atualizá-las, para que possam atender aos novos tempos, às novas necessidades sociais, aos novos mandamentos socio- ambientais. Assim, se faz necessário reinventar os vínculos do ser humano com o ser humano, reinventando e renovan- do os vínculos sociais e, também, reinventando e renovando os vínculos com o meio ambiente. É preciso reinventar uma inteligência coletiva e uma visão global para uma perspecti- va ecológica. Novas conceituações precisam ser dinamizadas, até mesmo no que se refere ao desenvolvimento porque, com afirma Oliveira:

[...] na década de 1950 os países subdesenvolvidos deram aten- ção especial à elaboração e à implementação de planos para se alcançar o desenvolvimento. Porém, esses planos limitavam-se a promover um processo de industrialização intensivo que, por ser sinônimo de crescimento econômico, era encarado com um proces- so de desenvolvimento econômico.5

Por esse viés, o desenvolvimento está ainda ligado ao crescimento do produto e da renda por meio da acumulação

de capital e pela industrialização.6

5 OLIVEIRA, Gilson Batista de; SOUZA-LIMA, José Edmilson de (Org.). O desen-

volvimento sustentável em foco: uma contribuição multidisciplinar. Curitiba: São

Paulo: Annablime, 2006, p. 25.

6 OLIVEIRA, Gilson Batista de; SOUZA-LIMA, José Edmilson de (Org.). O desen-

volvimento sustentável em foco: uma contribuição multidisciplinar. Curitiba: São

A ideia de desenvolvimento deve ser atrelada à ideia de qualidade de vida que, nesse contexto, conforme afirma Gia- comini Filho:

[...] estão presentes as condições de saúde, educação, habitação, consumo, meio ambiente, trabalho, renda, tecnologia e urbaniza- ção, uma vez que esses elementos contribuem para a longevidade, a inserção social e a consecução dos projetos de vida das pessoas.7

Assim, é preciso avaliar a questão do poder, tanto no que se refere aos microcosmos sociais, como em nível macro, visu- alizando toda a humanidade. O poder traz em si uma lâmina de dois gumes, um que é imprescindível e vislumbra o bem comum; outro indesejável, pois se caracteriza como destrutivo e dilapidador de verdades, de sociedades, de conceitos.

Os regramentos da modernidade fizeram por produzir espaços, formas e meios. Impuseram transformações sociais, culturais, sociológicas, políticas, filosóficas. Nessa seara, se proporcionou um desenvolvimento tecnológico nunca visto, que trouxe, na sua esteira, uma substancial alteração no meio ambiente: terra, água e ar.

A Terra, o Planeta, se desnuda nas cicatrizes deixadas pela tecnologia. Progresso, no que se refere ao meio ambiente, parece ser sinônimo de destruição. A casa do homem está lon- ge da preservação e de sua manutenção. O meio ambiente é fruto da interação de todos os elementos que nele existem, se- jam eles animais, minerais ou vegetais. Assim sendo, a opção pelo tipo de sociedade, comportamento e atuação do homem sobre o mesmo pode fazer a diferença entre a vida e a morte, entre um planeta fecundo e um planeta estéril.

7 GIACOMINI FILHO, Gino. Meio ambiente e consumismo. São Paulo: Editora

O poder atrelado aos aspectos econômicos vislumbra no lucro a única opção de vida. Assim, as malhas de redes de poder que circulam como fontes propulsoras da sociedade tecno-consumista não conjeturam as ideias desvinculadas do econômico, por isso, não se importam com o futuro do planeta. Vive-se em uma sociedade consumocentrista e, por isso mesmo, em uma sociedade segmentada, pontualizada, na

qual cada momento, cada ponto se esgotam em si próprio.8

O futuro é aqui e agora. O meio ambiente continua dentro da visão do inesgotável, embora as crises já se manifestem galopantes. A comercialização de recursos naturais, como a água e o petróleo já deixam rastros de destruição por todo o planeta. Como se pode ver, o grande desafio desse milênio é conter as vontades desenfreadas do poder, ou seja, alcançar no consumo um meio ecologicamente sustentável.

No dizer de Leff:

A degradação ambiental, o risco de colapso e o avanço da desigual- dade e da pobreza são sinais eloqüentes da crise do mundo glo- balizado. A sustentabilidade é o significante de uma falha funda- mental na história da humanidade; crise de civilização que alcan- ça seu momento culminante na modernidade, mas cujas origens remetem à concepção do mundo que serve de base à civilização ocidental. A sustentabilidade é o tema do nosso tempo, do final do século XX e da passagem para o terceiro milênio, da transição da modernidade truncada e inacabada para a pós-modernidade in- certa, marcada pela diferença, pela diversidade, pela democracia e pela autonomia.9

A modernidade despontou, viveu e vive nas rodas da tec- nologia e no âmago da economia. Os saberes, em suas diver- sas faces, paradoxalmente, constroem e destroem o mundo e,

8 Ver em: BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas

em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008, p. 46.

nesse turbulento contraditório caótico/cosmos social vive o ser humano moderno. Nesse “big bang” diário se instala a crise de identidade do próprio ser humano e, nesse “buraco negro” identitário, confunde-se ser com ter; necessidade com desejo; ecologia com economia; lucro com sobrevivência, impulsio- nando a crise para além do próprio homem.

Nesse plano, sendo o ser humano extremamente depen- dente das relações ecossistêmicas, necessitando delas para a sobrevivência de sua espécie, presente e vindoura, é neces- sária uma reflexão sobre o mundo atual, na qual se tenha em mente que o meio ambiente não é parte do mercado glo- balizado e, sim, o elemento substancial da sobrevivência do planeta. O conceito de sustentabilidade surge, portanto, do reconhecimento da função de suporte da natureza, condição e potencial do processo de produção.

Nesse processo, Leff coloca que:

As estratégias de apropriação dos recursos naturais no processo de globalização econômica transferiram assim seus efeitos para o campo teórico e ideológico. O ambiente foi caindo nas malhas do poder do discurso do crescimento sustentável. Porém, o conceito de ambiente cobra um sentido estratégico no processo político de supressão das “externalidades do desenvolvimento” – a exploração econômica da natureza, a degradação ambiental, a desigual distri- buição social dos custos ecológicos e a marginalização social – que persistem apesar da ecologização dos processos produtivos e da capitalização da natureza.10

A humanidade tem uma história e um caminho a ser tra- çado para o futuro e não, como já se acentuou, uma história e um caminho pontilhado, seccionado, na qual cada evento se esgota num determinado instante, motivo pelo qual a destrui- ção ecológica não possui seus efeitos restritos ao dia do even-

to, mas perduram para o futuro e se desdobram no futuro. A humanidade precisa ter um futuro, e necessita reconhecer as disparidades que se acentuam a cada dia, criando medidas que confluam para uma melhor qualidade de vida para todos. Na mesma esteira, se fazem necessários: um consumo tecno- lógico sustentável; uma educação para a utilização das novas tecnologia sustentavelmente; uma verdadeira racionalidade ecológica, desvinculada da racionalidade econômica que, sem- pre mergulhada em profundas crises, carrega consigo o espec- tro das destruições ecológicas.

Leff11 coloca bem a ideia da racionalidade econômica,

quando mostra que a problemática ambiental conduziu, a sociedade, à impossibilidade de assimilar propostas de mu- danças longe do mercado global. A racionalidade econômica possui um viés que não tem se modificado frente aos reclamos ecológicos. Preservar, elaborar sob o prisma da sustentabili- dade significa mudar paradigmas que sustentam as pilastras da economia da sociedade moderna. Nesse contexto, as no- vas tecnologias não podem ficar atreladas apenas ao âmbito econômico e ao crescimento material desregrado, mas, deve sim, estar a serviço de parâmetros racionais que proclamem o desenvolvimento socioambiental. Contudo, ao que parece, o ser humano busca o novo e, ao mesmo tempo, dele tem medo. Porém, esse medo vai além do novo, é do próprio risco invisí- vel e do futuro que vai acolá de sua existência, pois, com diz Fausto “de golpe que não fere em medo vives, e o que perdes,

é mister que o chores”.12

11 LEFF, Enrique. Saber ambiental. Rio de Janeiro: Vozes, 2004, p. 22.

12 GOETHE, Johann Wolfgang Von. Fausto.Trad. Agostinho D’Ornellas. São Paulo:

Esse contexto propicia a manutenção de estruturas que, embora nefastas à sociedade, dominam sob a égide da igno- rância e do medo. Assim, é importante, que o ser humano exerça o senso crítico sobre os temas aqui exposto e, para que isso aconteça, se faz necessária educação, vez que criticar in- duz a possibilidade de criar. Criar induz a possibilidade de mudar. Mudar significa instituir novas estruturas, alterar a conjuntura, rever conceitos, paradigmas, intervir no senso co- mum da racionalidade econômica e técnica.

E, como coloca Leff,

O processo civilizatório da modernidade fundou-se em princípios de racionalidade econômica e instrumental que moldaram as di- versas esferas do corpo social: os padrões tecnológicos, as práticas de produção, a organização burocrática e os aparelhos ideológicos do Estado. A problemática ecológica questiona os custos socioam- bientais derivados de uma racionalidade produtiva fundada no cálculo econômico, na eficácia dos sistemas de controle e previ- são, na uniformização dos comportamentos sociais e na eficácia de seus meios tecnológicos. A questão ambiental estabelece assim a necessidade de introduzir reformas democráticas no Estado, de incorporar normas ecológicas ao processo econômico e de criar no- vas técnicas para controlar os efeitos contaminantes e dissolver as externalidades socioambientais geradas pela lógica capitalista.13

Embora o senso crítico do ser humano tenha, de cer- ta forma, permanecido adormecido, vez que, até o presente momento, não conseguiu entender que as novas tecnologias transformadas em armas nucleares, formas de destruição ambiental, poluição, maneiras de escravidão social e cultural, formas de manipulação de etnias, etc., somente leva à auto- destruição. Não se pode deixar de acreditar na possibilidade de uma convergência humana em busca de um desenvolvi- mento socioambiental.

Crer é a esperança de concretização da sustentabilidade e de um futuro para as atuais e vindouras gerações. Sabe-se que, nesse contexto, pode haver certa carga de utopia, mas é preciso se socorrer da mesma, para que se tenha a esperança de repensar o processo de globalização pelo caminho tortuoso do econômico/poder.

Talvez, após a verificação do estado em que se desen- volve o meio ambiente – aquecimento global, desertificação, perda da biodiversidade, etc., – e o social – fome miséria, ex- clusão – seja, agora, o momento mais adequado para que o ser humano perceba o poder destruidor de suas ações e das novas tecnologias sobre os aspectos socioambientais.

Assim, se faz necessário uma educação que desenvolva a justiça social e ecológica no sentido de propiciar uma nova ra- cionalidade e a valorização de conceitos importantes, onde os atores (ser humano e meio ambiente) possam encenar juntos no palco atual.

O desafio se faz diante do liame entre a racionalidade e a sabedoria, em que está prescrito deve ser repensado e o novo deve ser forjado sobre as areias da incerteza e da in- constância. A auto-reflexão é, talvez, o caminho, a essência e a possibilidade do desenvolvimento de um código próprio, de uma realidade nova e não clonada em uma realidade social tecno-consumista. A utopia dará lugar à realidade urdida so- bre uma sociedade igualitária e ecologicamente sustentável.

Portanto, o poder que leva ao poder, à ostentação, ao con- sumismo, e à exclusão social, deve ser deixado de lado. Em seu lugar deve surgir uma nova ordem que se realizará por meio da equidade, da ética, do bem-estar social, da susten- tabilidade ambiental que, seguramente poderá propiciar às

gerações presentes e futuras uma vida mais tranquila e pos- sível.

Para finalizar esse subitem, destacam-se as palavras de

Fernando Sabino14

[....] de tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sem- pre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um novo caminho. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.

As novas tecnologias e os riscos