• Nenhum resultado encontrado

As obrigações tributárias acessórias e a tecnologia da informação

SIMPLIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS ACESSÓRIAS DO ICMS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3 HISTÓRICO DAS OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS ACESSÓRIAS DO ICMS NO DIREITO BRASILEIRO

3.4 As obrigações tributárias acessórias e a tecnologia da informação

A modernização que o uso de tecnologias de informação propiciou à iniciativa privada também trouxe benefícios para o setor público. Não nos referimos apenas à massificação do uso de computadores; com o advento da internet, o relacionamento entre contribuinte e governo foi completamente remodelado. Essa revolução, por as- sim dizer, tem impactado em muito o cotidiano das empresas, o que envolve, dentre outros, aspectos contábeis e tributários.

Cita-se adiante dois exemplos de avanços trazidos pela internet, à guisa de exemplo:

• a modernização da forma de pagamento de tributos junto à rede bancária e a automatização de repasse da arrecadação ao governo já representou um avanço no controle da arrecadação e uma simplificação a todos. O controle de arrecadação passou a ser mais automatizado, poupando recursos do go- verno e evitando desvios; representou também simplificação pela facilidade de acesso aos meios de pagamentos, incluindo caixas eletrônicos de autoa- tendimento e sites bancários “linkados” a sites ou bancos de dados gover- namentais (exemplo: pagamento de IPVA nos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Bahia, e IPTU no município de São Paulo, entre outros);

• há pelo menos dez anos a Declaração do Imposto de Renda pode ser feita pela internet. Desde 2014, chegou-se à meta de proibir a declaração por meio de formulários em papel.

Como não poderia deixar de ser, o cumprimento e o uso das informações gera- das a partir das obrigações tributárias acessórias também foram impactados: (i) os ór- gãos federados puderam promover a cooperação e a troca de informações entre si; (ii) por meio da declaração eletrônica o governo teve condições de modernizar a forma do cumprimento das obrigações acessórias – o que antes era feito com uso do papel, foi gradualmente substituído por documentos ou livros eletrônicos com validade jurídica para todos os fins.

Nesse sentido, a Emenda Constitucional n. 42, de 2003, acrescentou o inciso XXII ao artigo 37 da Constituição Federal, prevendo a atuação integrada entre as ad- ministrações tributárias da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios no que diz respeito, dentre outros assuntos, ao compartilhamento de cadastros e de informações fiscais.

Essa atuação integrada tem sido possível com o uso massivo de tecnologia de informação em pelo menos três níveis: aparelhamento dos órgãos tributários (infraes- trutura, processadores potentes, capacidade de armazenamentos de dados, banco de dados, computadores, link da web), internet de alta velocidade e arquivos digitais em substituição a documentos fiscais em papel. Isso propiciou o surgimento de um macroprojeto federal que afetou, principalmente, as obrigações tributárias acessórias. O Decreto n. 6.022/2001 instituiu o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal (PAC 2007-2010). Conforme se pode consultar no site oficial do projeto Sped (www.receita. fazenda.gov.br/SPED):

[...] constitui-se em mais um avanço na informatização da relação entre o fisco e as em- presas contribuintes.

De modo geral, consiste na modernização da sistemática atual do cumprimento das obri- gações acessórias, transmitidas pelos contribuintes às administrações tributárias e aos órgãos fiscalizadores, utilizando-se da certificação digital para fins de assinatura dos documentos eletrônicos, garantindo assim a validade jurídica dos mesmos apenas na sua forma digital.

Iniciou-se com três grandes projetos: Escrituração Contábil Digital, Escrituração Fiscal Digital e a NF-e – Ambiente Nacional (PROJETO SPED, 2014).

De forma simplificada, a Figura 1 demonstra o Sped como um conjunto de pro- jetos de documentos eletrônicos e livros digitais.

Figura 1. Projetos que compõem o Sped

Fonte: elaboração dos autores

Todos os projetos são baseados em premissas comuns, a saber: • modernização das obrigações antes feitas em papel; • transmissão de arquivos eletrônicos por meio da internet; • utilização de tecnologias padronizadas e abertas;

• utilização de assinatura digital no padrão ICP-Brasil.

A última premissa decorre da instituição da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil) pela Medida Provisória n. 2200-2/2001, que viabilizou o uso do documento eletrônico com validade jurídica. Com isso, cria-se um padrão a ser seguido no país, possibilitando a massificação segura do uso de certificados digitais e, consequentemente, da assinatura digital.

No Brasil é aceito, para todos os fins legais, documentos eletrônicos emitidos com certificação digital no padrão ICP-Brasil. Destaca-se que não é proibida a existência de outros padrões, porém estes não contarão com a presunção de veracidade que têm os certificados no padrão ICP-Brasil. Desde que sejam aceitos pelas partes (remetente e destinatário), produzirão os efeitos que estas desejarem.

Segundo Fernandez (2009, p. 19):

[...] documento eletrônico é um conjunto de bits que deve (i) representar um fato de forma duradoura e (ii) independer do meio material em que está suportado, ou seja,

privilegia-se o conteúdo do documento contra o meio ou forma em que é materializado. Para ter validade jurídica, e para que possa ser utilizado como meio de prova, destacamos três características que devem estar presentes no documento eletrônico: integridades, criptografia e assinatura digital.

Por fim, cita-se o ensinamento de Paulo de Barros Carvalho (2010, p. 18):

[...] a utilização do documento eletrônico como prova depende da observância a certos requisitos, que permitam a certificação de sua autenticidade.

Perfeitamente possível, então, o emprego de documento eletrônico como instrumento probatório desde que tomadas as devidas precauções para assegurar sua autenticidade e a integridade da informação digital. Os problemas inerentes à autenticidade, porém, não se restringem aos documentos eletrônicos, pois a possibilidade de falsificação é inerente a qualquer espécie documental. O que pretendemos enfatizar, com essa assertiva, é a necessidade de serem feitos controles rígidos e confiáveis, mediante, por exemplo, assi- natura eletrônica e certificação digital, permitindo a identificação segura e eficiente do emissor do documento.

Considerando que cada um desses projetos se refere a uma nova obrigação acessória, passa-se a analisar cada um deles individualmente, identificando seu rela- cionamento com as (eventuais) obrigações acessórias anteriores. Por se tratar de tra- balho voltado ao âmbito estadual, destacam-se a seguir apenas os projetos que afetam, basicamente, documentos e livros referentes ao ICMS.