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As origens da estratégia como prática social: do foco no ambiente até a

2.3 ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL

2.3.1 As origens da estratégia como prática social: do foco no ambiente até a

Para Bispo (2013, p. 30) existem contribuições específicas ao se “adotar as práticas sociais como referência para compreender como se formam as organizações [...] por meio delas é possível aprofundar o entendimento dos fenômenos [...]”. Diante dessa perspectiva, é possível compreender a estratégia como uma prática social, que faz parte de um contexto social, envolve atores, atividades e discursos.

Essa “nova” forma de se pensar a estratégia, traz para o foco da análise a atividade social, a ação humana na forma de atores que executam no seu dia a dia as práticas que constroem a estratégia. Whittington (2004) argumenta que se deve verificar por meio de pesquisas empíricas, o dia a dia das pessoas; isto é, a “prática organizacional” e como ela se materializa.

Segundo Carrieri, et. al. (2008), as condições para o futuro surgimento da abordagem da estratégia como prática se relacionam com o surgimento do conceito de monitoramento ambiental; isto é, da concepção dentro dos estudos da estratégia de que o ambiente externo deve ser monitorado. Nesse contexto, percebe-se uma "fragilização" dos conceitos de estratégia como puramente "deliberadas" uma vez que esse modelo não daria conta das novas condições ambientais, que se mostram cada vez mais rápidas. Assim, Mintzberg e Waters (1985) contribuem com discussões sobre estratégias, ao diferenciar as estratégias em dois tipos. As deliberadas, que são diretamente construídas para lidar com o futuro e os objetivos da empresa de forma estática. E as que “emergem”, surgem, no caminhar da execução, no dia a dia das organizações, Essas estratégias não foram planejadas; por isso, são emergentes.

Carrieri et. al. (2008) argumentam que é a partir da junção dessas diferentes estratégias que se tem a composição da visão processual da estratégia. As

estratégias tanto deliberadas, quanto emergentes fazem parte de um processo. Nessa linha cabe destacar contribuições de Pettigrew (1977) que vão além da análise da estratégia como processo linear, pois acrescenta que a formulação da estratégia além de ser um processo contínuo, é baseada no contexto de sua inserção. O Contexto de formulação que Pettigrew (1977) defende inclui fatores; entre outros, como a cultura, índice de variação de estabilidade, estrutura e tecnologia, além de sistemas políticos internos. Em outras palavras, o autor defende que diferente da abordagem proposta por Mintzberg (1967), há espaço para compreender e estudar a estratégia a partir da ótica de “processos políticos de tomada de decisão” (PETTIGREW, 1977, p. 80) com debates pautados nos interesses, conflitos e dilemas.

Esses dilemas são as questões com as quais a organização tem que lidar no seu dia a dia. Deve-se dar atenção ao fato que Pettigrew (1977), ao definir o processo de “fazer estratégia” como algo político, enfatiza que "forças" devem ser mobilizadas entre os membros da organização, para escolher os dilemas e soluções. Com base nessa posição, se tem o entendimento de que, há a participação direta de um conjunto de indivíduos que fazem estratégias, de acordo com suas próprias leituras, visões e interesses; logo, se chega à conclusão de que as estratégias surgem das relações políticas entre os indivíduos na organização e que desse entendimento, parte a compreensão das estratégias vistas como um processo.

A estratégia como prática, que pode ser traduzida em “fazer estratégia” (JARZABKOWSKI; SPEE, 2009), emerge dessa visão processual, mas com o foco no "como", isto é como os indivíduos dentro do contexto organizacional as fazem no dia a dia (WHITTINGTON, 1996). De acordo com Wilson e Jarzabkowski (2004), a temática da estratégia como prática social recebeu influências das noções da teoria social contemporânea. Neste estudo, essa influência se manifesta a partir da discussão sobre a construção social da realidade, descrita a partir dos argumentos de Berger e Luckmann (1985).

Clegg, Carter e Kornberger (2004) relatam que Whittington é o precursor dessa iniciativa de conceber à estratégia numa abordagem, "nova” com interesse no "como" a estratégia é feita buscando a aproximação da estratégia com a prática. Para isso, compreende a análise de que a estratégia é uma atividade social,

realizada por pessoas, e cujas ações são importantes para a sociedade em geral. Neste ponto, é importante mencionar que o estudo da estratégia como prática subsidia aos praticantes da estratégia a identificação de elementos que podem auxiliar no desenvolvimento da atividade exercida (WHITTINGTON, 2004).

Em síntese, pode-se perceber que a proposta de Whittington é identificar, baseado na pesquisa empírica, vista pela prática organizacional, como a estratégia se materializa efetivamente na organização. Tureta e Lima (2011, p. 78) ensinam que a estratégia como prática social é “uma alternativa às perspectivas macro que relegavam a dimensão micro ao segundo plano e não consideravam como centrais as relações entre as pessoas e suas práticas desempenhadas no cotidiano das organizações”.

Aproveita-se do olhar sociológico sobre a estratégia como prática, como Wilson e Jarzabkowski (2004) apontaram, Whittington (2007) argumenta que existem vários tópicos possíveis de serem abordados, bem como diversas metodologias aplicáveis. Para direcionar esse volume de possibilidades de pesquisa o autor organiza quatro fatores de interesse de pesquisa dentro da estratégia como prática: práxis, práticas, praticantes, e profissão (WHITTINGTON, 2007; JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007).

Praxis retoma a ideia de atividades feitas no dia a dia, como planejar ou tomar

decisões, são fluxos de atividades sociais, mas que não são rotinas ou foram normatizadas como são as Práticas, e estas podem ser ligadas a ferramentas como a SWOT, computadores, e técnicas sendo que sem uma estratégia não haveria como executar um trabalho (WHITTINGTON, 2007).

Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007) descrevem as práticas como a combinação coordenada e adaptada de cognição, comportamento, procedimentos, discursos que por sua vez a constroem. Berger e Luckmann (1985) descrevem que práxis sedimentadas, compartilhadas, que permanecem ao longo do tempo se tornarão práticas.

Quanto aos praticantes, segundo Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007), eles são atores que moldam a construção da prática por “quem” eles são, “como” agem e quais os recursos que fazem uso. Whittington (2007) complementa que podem ser

tanto os gestores, diretores da alta cúpula quanto os indivíduos em posições mais baixas; tanto interna, quanto externamente à organização. Por outro lado, ainda de acordo com o autor, a perspectiva de estratégia como um processo tem como foco os “praticantes”, papéis e propósitos da organização que levem ao sucesso; enquanto que, a visão da “prática” tende a descentralizar a organização por reconhecer os “praticantes de estratégias com origens, interesses e efeitos que vão além da organização. Praticantes são todas as pessoas, lutando para realizar seus próprios propósitos dentro e além da organização” (WHITTINGTON,2007, p. 1579). Delimitados os conceitos por trás de práxis, práticas e praticantes pode-se entender que são conceitos interligados, descritos para proverem a compreensão de como abordar a estratégia como prática. Estes conceitos apontam tanto para as práticas em si, quanto para quem as produz, e as possibilidades de disseminação, e são úteis para ajudar a definir quais características tanto das práticas, quanto das pessoas devem ser abordadas na pesquisa.

Nesse sentido, segundo Belmondo e Sargis-Roussel (2015) os artefatos estratégicos são capazes de tornar explícitos os desacordos, os significados e as intenções. Isto é, “em um macro-nível uma prática é uma forma institucionalizada de fazer algo. No micro-nivel é uma forma de fazer algo por uma razão” (BELMONDO; SARGIS- ROUSSEL, 2015, p. 92). É justamente essa razão de fazer algo, que tem a possibilidade de tornar-se explicita a partir do artefato, que para esta pesquisa é a ferramenta estratégica da organização selecionada, inserida em uma construção social. Tal aspecto é de interesse deste trabalho, dessa forma, na próxima seção está apresentada uma discussão sobre as relações entre construção social, estratégia como prática e ferramentas estratégicas.