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5.4 PRÁTICAS TRANSFORMADORAS EM FERRAMENTA ESTRATÉGICA

5.4.1 Transformação pela expectativa

De acordo com o estudo de Hansen (2011) a escolha das ferramentas estratégicas é influenciada por questões do contexto e ambiente. Essa escolha é composta de aspectos que envolvem os motivos e interesses por trás do uso e que deságuam nas transformações das ferramentas estratégicas em sua interação com o contexto organizacional (GUNN; WILLIAMS, 2007; SPEE; JARZABKOWSKI, 2009; BELMONDO; SARGIS-ROUSSEL, 2015).

Dessa forma, conforme apresentado anteriormente, a primeira transformação apreendida do contexto é o momento da seleção da ferramenta, que gera nos seus usuários uma expectativa de uso. Esta expectativa, embora possa produzir usos não estratégicos, os quais já foram apresentados, também pode trazer perspectivas estratégicas. Este argumento fica mais claro pelo contraste de dois recortes de entrevistas:

[...] a gente achou que tinha comprado um software pronto para “sentar” e que ele viesse nos dar tudo que agente tava precisando (MARILENE). Ele fornece as informações, mas, você tem que saber fazer as perguntar. Se você não souber o que você quer ele não faz nada (FABRÍCIA).

A expectativa de Marilene era a de que ele seria algo “pronto”, cujos cruzamentos e análises, até certo pondo já estivessem previamente disponíveis. Por outro lado, Fabrícia argumenta que o sistema oferece novas possibilidades, porém o usuário tem de saber do que precisa, ou formular hipóteses de quais questões seriam pertinentes para que o sistema possa ser configurado para gerar essas informações necessárias. Essa argumentação vai ao encontro, dos argumentos de Gunn e Williams (2007) de que ferramentas servem para ajudar a lidar com informações. Um exemplo dessa questão está no seguinte recorte de entrevista:

[...] você molda o sistema da maneira que você quer. A minha estratégia é diminuir o percentual de devolução, então eu vou lá buscar as informações que eu preciso. E foi assim que eu fiz com o dash de devolução, falei “[Guilherme] quero ver vendas para comparar com a devolução, depois quero ver devolução por marca, por produto, por vendedor e por unidade, pois eu quero identificar qual vendedor, qual produto está tendo mais devolução, vou ver se é por causa de avaria, aí vou cobrar o fornecedor pois é a embalagem, ou então é um produto que está dando muito defeito então tenho que parar de comprar (FABRÍCIA).

No relato acima é possível compreender que é necessário um pensamento estratégico, para que o uso da ferramenta possa ser estratégico. Em outras

palavras, a partir do entendimento do que é necessário para a composição da estratégia é que o Shiva tornou-se uma ferramenta estratégica. É interessante perceber que apesar de não ser uma gestora, Fabrícia está preocupada com a gestão das compras, mesmo que esta preocupação emane do setor de devolução. Então, a partir do discutido, percebe-se que a transformação pela expectativa divide- se em duas partes A primeira é a ligada à expectativa antes da instalação do

software (já desenvolvida anteriormente). Já a segunda, abordada neste tópico é

expectativa do que o software deverá proporcionar para compor a estratégia. Isto é, deve haver uma necessidade estratégica para que se possa gerar uma expectativa de uso da ferramenta estratégica. Por exemplo, as necessidades podem ser geradas a partir do que o usuário deseja (expectativa) e o que o sistema oferece como aponta o relato abaixo.

Para você poder, pensar, utilizar o sistema estrategicamente, você primeiro tem que pensar estrategicamente, tem que por no papel tudo o que você pensa, como você pensa, como você gostaria de ver esse resultado, como você gostaria de ver sua empresa andando, desenhou tudo, joga para o sistema, e ele você conseguem modelar ele de acordo com o seu jeito de pensar, analisar, tudo (RAFAEL).

Pode-se concluir então que, há o fenômeno da transformação da ferramenta em estratégica a partir de uma expectativa de como ela poderá ser utilizada para fomentar a estratégia, sendo que objetivamente deve existir uma necessidade estratégica para que possa surgir um uso estratégico.

O motivo que liga essas questões é que o usuário deve possuir conhecimentos prévios ou a intuição para poder desenvolver a necessidade de um uso estratégico. Esta pode ser descrita pela experiência de vida do indivíduo. Isto é, a partir de seu contexto e deve haver uma necessidade ou interesse particular em usá-lo dessa forma, uma razão (SPEE; JARZABKOWSKI, 2009; BELMONDO; SARGIS- ROUSSEL, 2015). O Quadro 14 apresenta o resumo da discussão apresentada neste tópico.

Quadro 14 - Transformação pela expectativa estratégica

Noesis (como) Noema (o que) Redução (motivo)

Fenômeno Expectativa do ator social

de como a ferramenta poderá ser utilizada

Necessidade estratégica Experiência de vida do indivíduo e interesses organizacionais ou de grupos sociais Fonte: Desenvolvido pelo Autor

Vale ressaltar que o uso, por uma razão ou interesse, está ligado a duas práticas estratégicas. A estratégia para o objetivo da empresa e as diretamente ligadas aos interesses do ator social (TURETA; LIMA, 2011). Isso é relevante, pois de acordo com o papel que o indivíduo possui pela construção social da organização, até certo ponto, deveria implicar na necessidade de um uso voltado mais para a análise estratégica do que por puro interesse pessoal como o caso dos diretores e gestores. Nesse sentido, para o contexto estudado, mostrou-se relevante a questão da escolaridade (JARZABKOWSKI; GIULIETTI, 2007), uma vez que há evidências, já apresentadas, de que quanto maior o nível de escolaridade mais frequentemente é o uso da ferramenta como estratégia. A partir desse entendimento, no próximo tópico apresentaremos as transformações da ferramenta em algo estratégico pela necessidade de se analisar estrategicamente as informações sobre a organização.