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Com base na concepção de Borch-Jacobson, que postula o caráter identificatório dos processos inconscientes, Ribeiro (2000) concebe a existência de uma primeira identificação que guarda uma relação mimética com as formações do inconsciente. Essa identificação é por ele alinhada à identificação feminina primária que sofre o trabalho do mais profundo recalcamento, postulada por Jacques André. Assim, na esteira das ideias defendidas em As origens femininas da sexualidade, Ribeiro também sublinha que os conteúdos do recalcamento originário, que ficam mergulhados no inconsciente à medida que o eu se constitui, vão ser associados à feminilidade. Embora a concordância de Ribeiro com André seja quase total, existe uma diferença entre esses pontos de vista que parece fundamental: enquanto o autor francês não valoriza os processos identificatórios, o brasileiro reivindica a importância do processo de identificação na atribuição de feminilidade às experiências de passividade. Diante da concepção de André de que a fantasia de ser penetrado pelo pai é o que desperta a erogeneidade da vagina e do ânus, colocando o sujeito numa posição passiva, Ribeiro aponta que a fantasia de penetração é insuficiente para conferir feminilidade às experiências de passividade. Segundo Ribeiro, esse ponto de vista pode levar a entender, talvez forçando um pouco o traço, que a concepção de Jacques André presume uma representação feminina da posição penetrada que é implantada pelas fantasias paternas de penetração. O desejo inconsciente de penetração do pai, seria, então, o implantador da feminilidade na criança. Com base na teoria da sedução generalizada, André descreve que uma criança invadida e submetida a um pai invasor perceberá as experiências de penetração às quais ela foi submetida como femininas após a descoberta do caráter orificial e penetrável da vagina. Ribeiro, entretanto, discorda dessa concepção, já que acredita que a maneira como Jacques André constrói sua argumentação leva a crer que a presença do pai real é indispensável para que a feminilidade seja inoculada. A necessidade da presença concreta da figura paterna não pode ser sustentada, já que as crianças que são criadas sem o pai não se desenvolvem de maneira diferente das outras em relação à feminilidade primária. Para o autor brasileiro, o papel desempenhado pela identificação com a mãe é imprescindível nesse processo.

Ribeiro acredita que a importância das identificações na atribuição de feminilidade às experiências de passividade, ponto central da divergência entre ele e

André, deve ser compreendida pela participação do recalcamento secundário nos processos de identificação. O recalcamento originário, embora incida sobre as experiências de passividade radical sofridas pelo bebê, por si só, não confere nenhuma característica de gênero a essas experiências. É pelo recalcamento secundário, que tem a função de consolidar o originário, que a atribuição de feminilidade à posição passiva é delineada, conferindo um caráter sexuado ao conflito psíquico. Participando da formação da identidade de gênero e da escolha do objeto sexual, o recalcamento secundário delineia as experiências recalcadas originalmente como femininas, marcando

a passagem de uma posição de “ser-invadido originário” para “ser-penetrado feminino”.

Com base na formulação de Laplanche de que é o recalcamento secundário que sela o originário, Ribeiro aponta que o aparecimento da sexualidade acontece como efeito a posteriori do primeiro sobre o segundo. A feminilidade primária pode, portanto, ser considerada objeto do recalcamento secundário, que também acontece em dois tempos. Durante o primeiro tempo, o da identificação feminina primária, que é anterior à descoberta da diferença anatômica entre os sexos, a criança, moldada pela sexualidade inconsciente da mãe vive com ela experiências nas quais penetrar e ser penetrada, ter e ser objeto não se caracterizam como pares de opostos, mas como vivências homogêneas. Apesar de já haver um eu corporal que foi delineado pelo recalcamento originário e que possui alguma representação no aparelho psíquico, a criança não distingue as sensações que ela causa na mãe e as que a mãe produz nela, uma vez que as fronteiras entre as duas ainda não estão nitidamente delimitadas. Assim, a descoberta da diferença anatômica inaugura um segundo tempo do recalcamento dessa feminilidade, na medida em que institui o rompimento da indiferenciação que vigorava. A descoberta da diferença anatômica e a consequente descoberta da cavidade vaginal, portanto, estão inseridas no pensamento de Ribeiro de maneira semelhante à proposta por André, uma vez que elas fazem com que as relações de penetração generalizada sejam caracterizadas como femininas na medida em que a passividade é circunscrita pelo orifício vaginal.

Após a atribuição de feminilidade aos conteúdos de penetração, aponta Ribeiro, a articulação dos conteúdos do recalcamento originário com o secundário promove a

atração das experiências de “ser penetrado” para o inconsciente, o que culmina no

recalcamento da identificação feminina primária. É por isso que, nesse segundo momento, o conteúdo do recalcamento originário se caracteriza como vivência feminina primitiva e se torna a feminilidade primária recalcada. Vale ressaltar que esse processo de recalcamento não é exclusividade dos meninos, já que ele também acontece com as

meninas. A feminilidade que conhecemos nas mulheres é, portanto, um fenômeno secundário, posterior ao selamento do recalcamento originário pelo secundário.

A descrição das ideias sobre feminilidade e passividade feitas até o momento indicou como Ribeiro também acredita que o caráter penetrável da vagina circunscreve as situações que aludem à passividade, fazendo com que tais experiências possam ser atribuídas à feminilidade. Ainda que nossa posição discorde desse ponto de vista, conforme descrevemos no capítulo II, a importância que o autor atribui ao papel das identificações no processo de atribuição de feminilidade aponta uma concepção que tem uma relevância fundamental e que, sob nosso ponto de vista, indica um caminho bem mais interessante de conceber a relação entre passividade e feminilidade. O percurso teórico que será desenvolvido na próxima seção justificará essa afirmação.

4.5 E a identificação com a mãe, é importante?

No início da seção anterior, descrevemos como Ribeiro postula uma primeira identificação que guarda uma relação mimética com as formações do inconsciente. Vimos, também, como ele alinha essa identificação às ideias de Jacques André sobre a feminilidade. Apontamos, ainda, que embora a concordância de Ribeiro com André seja quase total, há um ponto que faz com que o primeiro faça algumas ressalvas nas proposições do segundo. Para resolver o impasse gerado pela necessidade da figura concreta do pai na feminilização do bebê defendida pelo autor francês, Ribeiro desloca a relação entre feminilidade primitiva e posição penetrada para a identificação com a mãe, ao invés de manter a importância das fantasias paternas de penetração. Vejamos como ele defende a centralidade do papel da identificação na constituição da feminilidade primária.

Para Ribeiro, o termo “indiferenciação”, tão comumente utilizado para descrever

os primórdios da relação entre mãe e filho, não deve ser associado somente à predisposição do bebê de ter seu eu modelado pelo adulto cuidador, ele também deve ser relacionado ao favorecimento da excitação decorrente do intenso contato entre adulto e criança, que é inoculador da sexualidade. Essa indiferenciação acarreta uma dificuldade de estabelecer as fronteiras entre os processos de imitação e identificação. Antes de conseguir representar a si mesma, a criança não pode diferenciar entre o que é

identificação e imitação, uma vez que as fronteiras entre ela e o outro ainda não estão estabelecidas. Como o surgimento da representação egoica é concomitante com a habilidade representativa, a clivagem do psiquismo e o aparecimento da instância egoica são essenciais para que a distinção entre os fenômenos de identificação e imitação

aconteça. O surgimento do eu, portanto, “revela e recalca, num mesmo efeito de a

posteriori, tanto o caráter fragmentado de um corpo que até então não existia, quanto o

caráter imitativo (ecocinético) de uma relação que também não existia”. (Ribeiro, 2000,

pp. 263-264).

Pesquisas recentes demonstram uma capacidade inata do bebê de ter suas expressões faciais modeladas pelo adulto. Assim, essa concepção de identificação que não apresenta uma fronteira clara com os fenômenos de imitação é sustentada por uma discussão que não é da psicanálise, mas da ciência moderna. Vejamos como Ribeiro aponta que essa capacidade revela tanto a abertura da criança para o mundo quanto a susceptibilidade dela de ser influenciada pelo outro:

Ora, essa susceptibilidade do bebê é impressionante justamente na medida em que evidencia a radical passividade do bebê perante o adulto, que lhe transmite não apenas expressões faciais, mas também, com toda certeza, o germe de “estados de espírito”, de afetos e humores que são mimetizados muito antes de ser compreendidos ou representados. (Ribeiro, 2000, p. 267 [grifos do autor])

A proximidade entre mãe e filho no início do desenvolvimento, portanto, incita a criança a imitar comportamentos do adulto cuidador. Essa imitação, que é precoce, primeiramente não requer nenhum ato volitivo por parte da criança. Pouco a pouco, ela vai adquirindo uma intencionalidade que delineia o início de um processo identificatório, desembocando numa imitação ativa.

A imitação precoce, dessa maneira, não pode ser aprendida, já que não depende da vontade da criança. Reforçando a concepção que de a imitação não requer necessariamente uma intencionalidade, Ribeiro exemplifica essa falta de intenção ao imitar com os próprios adultos, que quando estão diante de seu ídolo durante um show o acabam imitando de maneira quase automática. Assim, o autor aponta que, ainda que estejamos distantes da possibilidade de descrição pormenorizada dos fenômenos de imitação pela ciência, a transmissão dos adultos para as crianças, decorrente da abertura do bebê para o mundo externo, não pode mais ser questionada.

Assim, com base na transferência de conteúdos do adulto para a criança, Ribeiro retoma o conceito de identificação feminina primária apontando que embora o conceito

de identificação esteja ausente nas proposições de Jaques André, é a relação entre imitação e identificação que justificará a aquisição de conteúdos femininos nos primórdios do desenvolvimento. Essa discordância com André, sob nosso ponto de vista, não é apenas um detalhe, mas representa uma mudança de paradigma em relação à circunscrição da passividade pela vagina. Antes de detalharmos as razões que nos levam a defender essa concepção, faremos um breve resumo das ideias de Ribeiro, o que oferecerá elementos para continuarmos nossa discussão:

1) A transferência de conteúdos entre adulto e criança, no início, não é um vetor cuja direção é exterior/interior, uma vez que é ela que constitui o interior do bebê, ou

seja, ela é “uma alteridade cuja transmissão constitui o inconsciente” (Ribeiro, 2000, p.

268).

2) O processo de constituição do inconsciente envolve imitação, indicando a existência de processos identificatórios/imitativos na constituição daquilo que é inconsciente, conforme Borch-Jacobsen descreveu.

3) Para Ribeiro, tal como para Jacques André, a constituição do eu implica o recalcamento da identificação feminina primária. O autor brasileiro, entretanto, aponta a ausência do conceito de identificação na obra do autor francês. Para solucionar essa deficiência, ele propõe que a constituição da feminilidade primária acontece principalmente pela identificação do filho com a mãe, no início do desenvolvimento, como resultado da imitação dos gestos dela, que é, a princípio, involuntária. Como a importância do papel da mãe nos processos identificatórios também é encontrada nas proposições de Robert Stoller, Ribeiro as utiliza para embasar seu ponto de vista. Vejamos como isso acontece.

4.6 Ribeiro e Stoller: aproximações e distanciamentos.

A leitura das concepções stollerianas, empreendida por Ribeiro (2000) a partir das lentes da teoria da sedução generalizada, oferece elementos para que o autor desenvolva seu raciocínio sobre a importância dos processos identificatórios na circunscrição da passividade generalizada pela feminilidade. Vejamos como ele desenvolve seu raciocínio.

Ribeiro (2010) sublinha como as concepções stollerianas também defendem, tal como ele próprio acredita, que o menino não pode se identificar à mãe, uma vez que ainda não possui estruturas psíquicas para empreender ativamente um processo de identificação.

Stoller afirma que as palavras “incorporação”, “introjeção” e “identificação” referem-se a uma atividade motivada, dirigida em direção a um objeto que não é reconhecido como parte de si mesmo. Segundo o autor, isso pressupõe a existência de uma mente suficientemente desenvolvida para apreender o objeto e desejar alojá-lo no interior de si. Stoller ressalta, então, a necessidade de se reservar um lugar para outros mecanismos não motivados pelo indivíduo, graças aos quais a realidade externa possa também encontrar seu lugar no interior. (Ribeiro, 2010, p. 83)

Pode-se perceber, portanto, que o processo ativo de identificação para Stoller, assim como para Ribeiro, começa somente após a criança ter desenvolvido estruturas psíquicas necessárias para empreendê-lo ativamente. Embora esse seja um ponto de convergência entre os dois autores, Ribeiro acredita que a impressão dos conteúdos femininos pela mãe já é parte do processo identificatório, na contramão daquilo que é postulado por Stoller, que não inclui o imprinting como parte do processo. Enquanto o psicanalista estadunidense concebe a identificação como um processo ativo de incorporação, já que ele acredita que o transexual, como um aspirador de pó, incorpora todos os elementos femininos a partir do primeiro ano de vida, Ribeiro pensa o processo identificatório a partir da sedução originária, na qual a primeira configuração da instância egoica é delineada pela impressão de feminilidade no proto-psiquismo da criança. O autor brasileiro considera, então, que a impressão da feminilidade já pode ser considerada parte do processo identificatório que se inicia com as traduções empreendidas pelo adulto no psiquismo do bebê.

Nesse ponto, Ribeiro alinha-se ao pensamento de Jacques André no que diz respeito à circunscrição da passividade pelo caráter orificial da vagina, uma vez que ele também defende que a primeira configuração egoica surge concomitantemente ao recalcamento das experiências de passividade radical, já que, como vimos, ele concorda que tais experiências são circunscritas pelo caráter orificial da vagina, fazendo com que elas se configurem como femininas. Mas, considerando o ponto de vista de Laplanche (1992), que aponta que as teorias sempre apresentam pontos de vista irreconciliáveis, frutos de um processo de recalcamento dentro da própria da obra, acreditamos que a concordância de Ribeiro com o pensamento de André em relação à circunscrição da

passividade pela vagina indica um desses momentos. Se ele próprio postula a insuficiência do caráter penetrável da vagina para explicar a aquisição da feminilidade, apontando a identificação com a mãe como primordial nesse processo, a concordância com André parece desconsiderar a relevância daquilo que está implícito em sua argumentação: o orifício vaginal não apenas é insuficiente para circunscrever a passividade como também representa uma impostura que leva para o campo da biologia algo que é da ordem da relação com o outro.

Ribeiro nos conta como o surgimento do transexualismo descrito por Stoller fornece um dado que é fundamental para a compreensão da identificação feminina primária. Se a primeira conformação do eu oferece elementos para representar as relações em termos de penetração, o caráter penetrante impera na relação desses meninos com suas mães. Mas o autor também pondera que, embora a penetração da mãe no filho seja uma face essencial dessa relação, existe também uma outra, que é pouco enfatizada, que demonstra como a sedução originária não se refere somente ao caráter penetrante da mãe em relação à criança. Se considerarmos que o bebê é tido como falo materno, também é possível pensar que existe uma penetração exercida por ele sobre ela. É importante compreender, então, que a relação entre mãe e filho é marcada por uma forte intimidade e por uma exposição maciça de corpos que fazem com que a sexualidade infantil da mãe também seja reativada. Essa intimidade entre os dois instaura uma linguagem tão íntima que acaba transformando a pele e as mucosas em superfícies que ficam submetidas à penetração generalizada, na qual é impossível determinar quem penetra quem, já que os dois promovem e sofrem penetração simultaneamente. Ao imitar o balbucio da criança, a mãe penetra seu filho com os sons que pronuncia. Com isso, ela reativa sua própria sexualidade infantil, indicando a simultaneidade do caráter penetrante e penetrado na relação com seu bebê.

Num primeiro momento, a imitação das expressões faciais que a criança

empreende não apresenta nenhuma intenção ou esforço. A reprodução de “estados de espírito”, afetos e humores da mãe acontece antes mesmo que a criança possa

representá-los. Essa imitação, que envolve um jogo especular, está relacionada à mimesis, que se difere do processo imitativo na medida em que não implica uma representação da mãe no psiquismo do bebê durante o processo imitativo. “Mimesis, então, e não imitação, porque se trata de uma relação entre duas produções de estados subjetivos e não entre duas pessoas devidamente representadas no psiquismo uma da

outra” (Ribeiro, 2000, p. 274). Assim, a relação de penetração estabelecida com a mãe

no início do desenvolvimento é diferente de uma simbiose ou de uma indiferenciação. Os fenômenos de imitação automática, ao serem gradativamente substituídos por uma capacidade de imitação intencional, que se desenvolve após a aquisição da capacidade simbólica, desembocarão numa identificação que carregará fortes traços do comportamento feminino do agente materno. Essa imitação automática e recíproca promove o reconhecimento das produções psíquicas do filho, estabelecendo as bases para o processo de individuação da criança. Assim, Ribeiro aponta como a criatividade e a inteligência dos meninos transexuais estudados por Stoller, ao contrário de barrar a constituição da criança como indivíduo, estão em perfeito acordo com essa concepção, já que a identificação à mãe não impede o processo de individuação do menino transexual, mas promove seu desenvolvimento. Isso significa que o imprinting mimético não se opõe à identificação, mas é parte constituinte dela.

Assim, durante a consolidação da identidade, a relação entre a criança e o bebê contém ingredientes de identificação e de feminilidade justamente porque o adulto imitado pela criança é uma mulher. No entanto, essa primeira identificação, por se relacionar às experiências de passividade radical, está sujeita à ação do recalcamento. Na esteira do pensamento de Jacques André, Ribeiro aponta como a atribuição de características femininas às experiências de passividade está relacionada ao caráter orificial da vagina, já que o recalcamento da feminilidade primária só acontece depois da descoberta do orifício vaginal, com a descoberta da diferença anatômica. Assim, o autor acredita que a capacidade de percepção da diferença anatômica desempenhará um papel fundamental no curso desse recalcamento. É com base nessa premissa que ele propõe a existência de uma última etapa do recalcamento envolvida na constituição de uma identificação feminina primária.

Quando a descoberta da diferença anatômica se impõe, a identificação originada pela forte influência da mãe nos primeiros tempos da vida da criança tem diferentes impactos na vida de meninos e meninas. Tomando os estudos de Roiphe e Galenson24 como base, Ribeiro aponta a importância da descoberta da diferença anatômica no processo da constituição da identidade sexual, uma vez que ela modifica o posicionamento da criança em relação ao adulto. O descobrimento da existência de dois sexos, portanto, tem uma importância muito grande no processo de identificação de

24 Para uma descrição detalhada desses estudos ver: Roiphe, H. & Galenson, E.. (1987). La naissance de

gênero e de escolha de objeto, já que, ao descobrir a diferença anatômica, a criança precisa se reposicionar diante da percepção de gênero que ela possuía. Assim, a diferença de gênero, já percebida anteriormente, ganha um novo significado: se a percepção da feminilidade e da masculinidade não implicava a atribuição de um pênis para os homens e de uma vagina para as mulheres, a incidência da descoberta da diferença anatômica impõe a necessidade de diferenciação do gênero de acordo com o órgão genital que lhe é respectivo, já que ela exige um posicionamento da criança em relação ao gênero que pertence e ao sexo que possui. Se a imitação dos gestos da mãe, conforme acredita Ribeiro, é vivida como uma experiência em que mãe e criança estão indiferenciadas, indicando a homogeneidade das vivências desse par, a descoberta da diferença anatômica oferece um novo colorido para essas vivências. Se, diante da constatação da existência de dois sexos, o menino deve escolher entre abrir mão dos traços identificatórios com a mãe ou desconsiderar a posse do próprio pênis, dando continuidade à identificação com ela, a menina não precisa fazer o mesmo. Embora a incidência da descoberta também exija que ela se posicione diante dessa diferença, para ela o processo é menos conflituoso, uma vez que a identificação a ser mantida não contradiz a sua identidade primária.

Diante da exigência de reposicionamento em relação ao gênero diante

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