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Apesar de concordamos plenamente com a afirmação de André, que defende que a feminilidade não pode ser descrita somente em relação à masculinidade, gostaríamos de levantar algumas questões acerca da proposição que aponta a estreita relação entre

passividade e o feminino. Diante disso, questionamos se recorrer à vagina para circunscrever uma passividade psíquica não seria um desvio biologizante, tal como apontado por Laplanche nos momentos em que Freud recorre à filogênese para justificar

os “pontos cegos” da teoria. Ora, a circunscrição da penetração generalizada pelo

orifício vaginal não estaria ignorando que o corpo possui outros orifícios penetráveis? Sob o nosso ponto de vista, a circunscrição da passividade pela vagina deve ser entendida como uma consequência do universo simbólico no qual estamos inseridos, uma vez que acreditamos que é a estreita relação entre feminilidade e passividade em nossa cultura que legitima concepções como a defendida por André.

Para auxiliar nossa argumentação, recorreremos a mais algumas ideias de Butler (2003), que denuncia que a dualidade de gênero em termos de feminino e masculino acaba colocando a sexualidade num domínio pré-discursivo, implicando uma anterioridade à construção de qualquer discurso. Isso significa que essas categorias são construídas com base na biologia, desconsiderando que podem existir diferentes possibilidades de apropriação simbólica dessa diferença anatômica. Para ela, essa pré- discursividade está a serviço de assegurar a estabilidade da estrutura binária dos sexos, indicando que a construção do gênero deve ser compreendida como efeito de uma cultura que está imersa em relações de poder. Com base nisso, Butler propõe a formulação de uma crítica às estruturas contemporâneas que, baseadas no argumento da pré-discursividade do sexo, acabam naturalizando e imobilizando os sujeitos.

Tendo essa crítica como pano de fundo, a autora se pergunta se a construção do gênero como a conhecemos implica um determinismo regido por uma universalidade pré-discursiva, que acaba impedindo qualquer modificação, ou se tal construção pode ser modificável. Posicionando-se em defesa da segunda opção, a autora pondera que, antes de tomar o gênero como fruto de um determinismo, é preciso questionar a maneira pela qual sua construção se dá, já que fica difícil entender como algo pode ser criado antes da existência de um criador. Para ela, explicações deterministas sugerem que os

corpos são “recipientes passivos de uma lei natural inexorável” (Butler, 2003, p. 26),

implicando uma concepção de gênero tão fixa que acaba reproduzindo a máxima

freudiana de que “a biologia é o destino”, embora de maneira um pouco diferente: neste

caso é a cultura, ao invés da biologia, que passa a ser o destino.12

12 Uma discussão mais aprofundada acerca dessa máxima freudiana será discutida mais adiante, no

Butler argumenta que a análise do gênero exclusivamente a partir do discurso acaba limitando suas possibilidades de configuração, já que a discursividade acerca dele não abrange tudo aquilo que pode ser imaginado e realizado em nossa cultura. O discurso estabelece limites que sempre estão em acordo com aquilo que é culturalmente hegemônico, acarreta a exclusão daquilo que não faz parte da hegemonia. A própria denominação dos gêneros, portanto, exclui outras possibilidades que não sejam apenas o

feminino e o masculino. “Assim, a coerção é introduzida naquilo que a linguagem

constitui como o domínio inimaginável do gênero” (Butler, 2003, p. 28).

A partir desse argumento, Butler aponta como a questão do gênero demonstra a existência de um fracasso em reconhecer as operações culturais envolvidas no cerne da opressão. Para ela, a construção pré-discursiva do gênero é um exemplo privilegiado desse fracasso, que está a serviço do falocentrismo. Se, por um lado, a autora denuncia como a construção da sexualidade é regida por relações de poder governadas pelo falocentrismo, ela também aponta, por outro, a impossibilidade de postular uma

sexualidade “fora” das relações de poder. Essa impossibilidade, para a autora, é

responsável pelo adiamento da necessária tarefa de repensar maneiras de subverter a sexualidade dentro das próprias relações de poder. Embora seja impossível conceber o

gênero “fora” das relações de poder, a autora não desresponsabiliza a sociedade de

repensá-las criticamente, já que as relações de dominação não devem ser reproduzidas indiscriminadamente. Essa tarefa crítica, afirma Butler, é indispensável para que a hegemonia possa ser deslocada, ao invés de ser consolidada.

Tomando como base as ideias da autora, propomos a problematização da relação entre passividade e feminilidade feita por Jacques André. Para desenvolvermos o nosso ponto de vista, recorreremos à situação antropológica fundamental, à qual já nos referimos anteriormente, que preconiza a assimetria entre a criança e o adulto, já que estabelece uma relação em que o bebê é totalmente passivo diante do outro que lhe oferece os primeiros cuidados. Para dar conta dos conteúdos provenientes do adulto, a criança se engaja num processo de tradução das mensagens enigmáticas, que sempre deixa um resto inassimilável. Esse resto, além de se relacionar à passividade insuportável à qual o bebê foi submetido, também dá origem ao núcleo do inconsciente. Vimos como André defende que a tradução desses conteúdos implantados no corpo do bebê encontra na vagina uma primeira representação, já que ela circunscreve a penetração generalizada. Segundo ele, essa seria a razão da relação entre passividade e feminilidade.

Esse é o ponto da argumentação de André que, em nossa opinião, precisa ser problematizado. A exposição que fizemos das ideias de Judith Butler auxiliará nesse percurso. Apontamos como a autora denuncia que a dualidade de gênero é perpassada pelas relações de poder e como a discursividade está a serviço delas. Assim, acreditamos que a circunscrição da penetração generalizada pela vagina não indica o caráter feminino das experiências de passividade em relação ao outro, mas demonstra como a frequente relação entre feminino e aquilo que é rechaçado em nossa cultura também encontra expressão na teoria psicanalítica. Ora, compreender que o recalcamento da posição passiva diante do outro resulta da desagregação provocada pela passividade é uma coisa, relacionar recalcado originário e feminilidade é outra. A relação entre feminino e passivo feita por André parece se dever mais ao papel social atribuído às mulheres em nossa sociedade do que propriamente ao caráter penetrável da vagina. Acreditar que a passividade é circunscrita em decorrência da penetrabilidade da vagina é biologizar uma construção que é social. Assim, com base nas ideias de Butler, acreditamos que é a maneira como o discurso dominante caracteriza a feminilidade que faz com que ela seja facilmente associada à passividade e a conteúdos disruptivos. Isso significa que a associação entre feminino e passivo não pode ser compreendida fora das relações de poder.

Diante dessa argumentação, é possível perguntar se a desvinculação entre passividade e feminilidade seria possível, uma vez que, segundo a própria Butler, seria impossível conceber o gênero (ou qualquer outra coisa) fora das relações de poder. Sem a pretensão de responder a questão, já que é impossível vislumbrar as configurações que as relações de poder podem tomar, apenas queremos ponderar que o binarismo presente na situação antropológica fundamental, que descortina a existência de duas posições, a ativa e a passiva, só pode ser vinculado ao binarismo feminino/masculino na medida em que tal vinculação não seja natural, já que é socialmente construída. E afirmar que tal relação é construída não implica que ela seja irreal. Sabemos que todos nós somos definidos pelas relações sociais nas quais estamos inseridos, e que nos desvincularmos delas é uma tarefa que, além de ser impossível, é indesejável. Assim, nossa pontuação pretende apenas demonstrar que tais relações não devem ser naturalizadas nem em nome da biologia nem tampouco em nome de construções universalizantes que colocam a feminilidade em um domínio pré-discursivo.

Mesmo sabendo que desconsiderar a arraigada vinculação entre feminilidade e passividade seria ingênuo, acreditamos na necessidade de apontar as relações de poder

implicadas neste vínculo para que, tal como a psicanálise nos ensina, possamos nos engajar em uma repetição que resulte em uma elaboração, ao invés de ser simplesmente uma reprodução. Longe de desmerecer ou invalidar as proposições de autores que, tal como Jacques André, teorizam sobre a feminilidade e sua relação com a passividade, pretendemos apenas ressaltar que, enquanto construção, essas relações podem ser modificadas. A constatação do caráter modificável dessa relação é importante porque abre a possibilidade de que a feminilidade, e consequentemente as mulheres, não estejam sempre numa posição de submissão ou de passividade.

Ao tomarmos as concepções de Judith Butler como base para nossa argumentação, devemos lembrar que a problematização das concepções fundamentadas no sexo biológico não é uma inovação proposta pela autora. Ela já havia sido feita pela psicanálise, que foi revolucionária ao revelar que, embora a função reprodutiva possa se vincular à sexualidade humana, ela não lhe é inerente. Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (2006/1905), Freud foi pioneiro de uma revolução que, além de questionar a natureza necessariamente heterossexual do objeto, descreveu a variabilidade dos objetos sexuais, descentralizando os órgãos genitais como os únicos meios de obtenção de prazer sexual. Embora Judith Butler reconheça o caráter subversivo da psicanálise, que escandalizou uma sociedade com a postulação da sexualidade infantil, ela aponta que é a própria teoria psicanalítica que tem corroborado para a manutenção do conservadorismo em relação à feminilidade. A mesma chave que abriu as portas para a subversão do campo sexual com a descoberta da sexualidade infantil tem trancado os caminhos para a subversão no campo da sexualidade feminina.

Com base nessa contradição, entendemos que as ideias de Jacques André podem ser consideradas exemplos desse movimento paradoxal da teoria psicanalítica, já que o autor também problematiza as concepções falocêntricas acerca de uma sexualidade feminina baseada na castração, tal como Butler também defende. Embora ele não leve a discussão para o campo político, acreditamos que o questionamento sobre a feminilidade castrada pode ser aproximado das ideias butlerianas, que defendem uma concepção de feminilidade que não é restrita à inveja do pênis, mas definida por algo que lhe é próprio. Se, por um lado, é possível aproximar alguns pontos das teorizações de André e Butler, julgamos que o encadeamento entre feminilidade e passividade, por outro, está em desacordo com as proposições subversivas propostas pela filósofa. Ter nascido com uma vagina e obter prazer exclusivamente pela penetração parece ser mais uma contingência do que uma regra. Ainda que a feminilidade possa apresentar uma

primeira representação para as experiências de passividade diante do adulto, é necessário sublinhar que essa relação não é natural. Assim, podemos defender que a circunscrição da passividade generalizada pela vagina, e não por um dos outros orifícios corporais, é resultado mais da relação histórica entre feminilidade e passividade do que do caráter orificial do órgão feminino.

Considerando que conceitos fundamentais da psicanálise, tais como o complexo de Édipo e o complexo de castração, se referenciam na diferença sexual, é possível concluir que a teorização de Jacques André não parece dissonante do resto da teoria psicanalítica. Embora a própria psicanálise afirme que ter pênis não implica desejar uma mulher, da mesma maneira que ter nascido com uma vagina não determina o desejo por um homem, as formulações acerca do complexo de Édipo, pedra angular da psicanálise, acabam se apresentando de forma normativa, conforme já discutimos no capítulo anterior. Do mesmo modo, os conceitos de função materna e paterna, ainda que não se restrinjam às figuras concretas da mãe e do pai, implicam a expectativa de determinados papéis sociais. Mais uma vez, insistimos que não queremos propor que a determinação de papéis sociais não deva existir, apenas queremos enfatizar que, enquanto construção social, elas podem ser repensadas e readequadas para que possamos produzir uma repetição que seja diferencial, apresentando alguma elaboração.

Assim, podemos entender que o problema não se restringe à circunscrição da passividade pelo orifício vaginal, já que vimos como ele está entranhado numa teoria que trouxe consigo os reflexos do contexto no qual foi pensada. Considerando que a psicanálise foi criada há mais de cem anos, achamos necessário pensar como as mudanças no mundo contemporâneo podem contribuir na atualização dos conceitos. Márcia Arán (2009) aponta dois caminhos possíveis para a psicanálise diante destes impasses: ou ela se transforma em um saber normativo referenciado em um esquema pré-discursivo, ou propõe uma leitura subversiva do pensamento vigente, tal como fez com a sexualidade infantil. Mais uma vez, nos colocamos ao lado da subversão.

3 GÊNERO E SEXO: QUAL A RELAÇÃO ENTRE ELES?

Ao longo do nosso percurso, vimos como alguns pressupostos psicanalíticos acabam por reiterar formas conservadoras que atuam em favor da manutenção de posições heteronormativas. No primeiro capítulo, descrevemos como o discurso de uma psicanálise baseada no estruturalismo acabou colocando tanto as identidades quanto as práticas sexuais não normativas no campo das abjeções. Vimos, ainda, como essas práticas discursivas de classificação estão perpassadas por relações de poder, e como é preciso que sempre as revisitemos para não perpetuarmos preconceitos de maneira acrítica. Neste capítulo que se inicia, descreveremos a maneira como Jean Laplanche concebe tanto o gênero como o sexo para que possamos inserir as posições do autor no diálogo que estamos traçando sobre a psicanálise diante da contemporaneidade. Para isso, as ideias contidas do texto “Gênero, Sexo e o Sexual” (2007) nortearão nossa discussão.

Laplanche inicia seu artigo definindo os termos que dão nome ao seu trabalho:

“Gênero, Sexo e o Sexual”. O gênero, para ele, usualmente é duplo, feminino e

masculino. Essa duplicidade do gênero, entretanto, não é devida a natureza, uma vez que, tanto as línguas que têm o gênero neutro quanto a evolução social têm demonstrado que ele também pode ser plural.

Ao contrário do gênero, que pode ser plural, o sexo é definido por Laplanche como duplo. Essa duplicidade não se refere somente ao número de sexos que participam da reprodução, que são dois, ela também se deve à maneira como nós geralmente simbolizamos o mundo sempre com base em binarismos, tais como presença/ausência, fálico/castrado.

O sexual, por fim, é um neologismo criado por Laplanche a partir da derivação do termo francês sexuel, cuja tradução em português tem, coincidentemente, a mesma grafia da palavra sexual. O autor criou o termo para diferenciar a “grande descoberta da

psicanálise” dos outros usos que a palavra francesa sexuel apresenta. Polimorfo,

múltiplo, o sexual tem suas bases na repressão, na fantasia e no inconsciente. Difere-se do sexuado13 na medida em que se refere à sexualidade num sentido amplo, não procriativo. O sexual é definido por Laplanche como o objeto da psicanálise.

13 Neste contexto, o termo sexuado refere-se à caracterização como feminino ou masculino, ou seja,

Essas definições servem de embasamento para Laplanche oferecer uma espécie de síntese da questão da identidade sexual. Para isso, ele questiona a atual tendência de denominar a identidade sexual de identidade de gênero. O autor se pergunta se essa equivalência seria simplesmente uma mudança no vocabulário ou haveria algo mais profundo relacionado a ela. Para tentar responder a pergunta, ele aponta como distinções conceituais não são validadas apenas por si mesmas, mas pela potencialidade conflitual que podem carregar. Assim, ele acredita que a distinção entre identidade sexual e identidade de gênero muitas vezes pressupõe negação e repressão, o que possibilita questionar se o deslocamento da questão da identidade sexual não estaria a serviço de esconder a descoberta freudiana fundamental. Para ele, a grande descoberta de Freud é menos representada pelo deslocamento da identidade sexual para a identidade de gênero do que na questão do sexual. Portanto a discussão sobre as diferenças entre os termos sexo e gênero acaba deixando o real objeto da psicanálise, o sexual, recalcado.

Diante da dificuldade de conceituar esse objeto da psicanálise, que é a

sexualidade “num sentido amplo”, Laplanche tenta defini-la a partir da distinção entre o

sexo e o sexual. Para isso, ele demonstra como a sexualidade dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade não se refere à diferença entre os sexos, mas a uma “sexualidade ampla”, que é oposta à reprodução sexual. Assim, o objeto da psicanálise não pode ser relacionado à diferença sexual, já que ele é essencialmente constituído pela perversidade polimorfa infantil.

Dando sequência à difícil tarefa de esclarecer o que é o sexual, Laplanche pondera que, ainda que ele não seja representado pela diferença anatômica entre os sexos nem pelo sexo em si, Freud, na tentativa de defini-lo, acaba fazendo uma relação entre eles em diversos momentos. A relação que ele faz segue os caminhos da associação de ideias, portanto, ela está de acordo com os princípios de similaridade, contiguidade e oposição. As similaridades entre os prazeres infantis e perversos são utilizadas por Freud na tentativa de definir o sexual. A contiguidade com a anatomia também é utilizada com o mesmo objetivo, já que o orgasmo genital é contíguo às preliminares. O terceiro caminho da associação de ideias, o da oposição, não foi muito explorado por Freud na tentativa de definir o sexual, mas Laplanche sublinha como ele apresenta uma relação de oposição com o sexuado. Enquanto o sexual apresenta uma função econômica, que está a serviço da busca de tensão, o sexuado busca o escoamento da tensão com o relaxamento proveniente da satisfação sexual.

Essa oposição, ainda que seja relevante, não é a verdadeira oposição que ajuda a conceituar o sexual segundo Laplanche. Ele propõe que a relação opositiva do sexual deve ser encontrada na própria noção de oposição lógica, que encontra na proibição uma subversão, que se torna uma oposição real. Assim, o sexual pode ser definido como

aquilo que é proibido, ou seja, aquilo “que é condenado pelo adulto”. Ora, se o sexual é

definido como aquilo que é condenado e, ao mesmo tempo, é condenado justamente porque é o sexual, o grande problema é encontrar uma definição que seja não verdadeira somente por causa de uma norma, ou seja, que condena o sexual a partir de uma perspectiva puramente normativa. Frente a este impasse, Laplanche recoloca a pergunta: a introdução do termo gênero soluciona a questão ou, ao contrário, ela acarreta mais confusão e repressão?

Embora a noção de gênero tenha sido introduzida na psicanálise por Robert J. Stoller14, a definição que interessa a Laplanche não se refere às contribuições desse autor, mas à aparição de um novo binarismo na discussão sobre a sexualidade, qual seja, o binarismo sexo/gênero. O sexo, de acordo com Laplanche, seria essencialmente biológico, enquanto o gênero seria subjetivo e sócio-cultural. Para ele, adotar esse par, o gênero/sexo, é uma ferramenta que não auxilia na conceituação acerca do que é o sexual. Ao contrário disso, a adoção desse par acaba ficando a serviço da negação e da

repressão. “Termos e conceitos são armas, armas de guerra – gênero contra sexo e

gênero e sexo aliados, por assim dizer, contra o sexual” (Laplanche, 2007, p. 206 [tradução nossa]15).

Enquanto o termo gênero foi introduzido na psicanálise por Stoller, o binarismo sexo/gênero foi historicamente introduzido pelos movimentos feministas, e, por isso, Laplanche os introduz no debate. Para isso, o autor os divide em dois grupos. O primeiro deles, que inclui a maioria de seus integrantes, subverte a noção de sexo a ponto de reduzi-lo a um puro produto da retroação do gênero, o que significa que o sexo é mero resultado da apropriação que o gênero faz dele. O segundo grupo, embora apresente o sexo como uma base fundacional, só se baseia no sexo para subvertê-lo e aniquilá-lo, uma vez que o sexo não possui nenhuma significância em si mesmo.

Laplanche situa Judith Butler e Nicole-Claude Mathieu como representantes deste segundo grupo. Para ele, as duas autoras se baseiam na noção de sexo quando

14 Em Robert J. S. (1993). Masculinidade e Feminilidade: Apresentações de Gênero. Porto Alegre: Artes

Médicas.

15 “Terms and concepts are weapons of war, gender against sex and gender and sex allied, so to speak,

afirmam que ele é simbolizado e transformado pelo gênero, o que implica a existência do sexo antes da ação do gênero sobre ele. Se a noção de sexo não está presente no livro Problemas de gênero (2003), de Butler, Laplanche aponta que a autora a reintroduz em seu livro Bodies that Matter (1993), justificando sua ausência no trabalho anterior por

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