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FONTE NATUREZA CONCEITO DE CLIMA ESCOLAR

2.6 As percepção e a sensação no contexto da pesquisa

Estamos fundamentando o conceito de clima escolar na percepção e sensação dos alunos sobre os variados aspectos da vida escolar. Sustenta-se também que, a forma como o aluno percebe o clima da escola vai exercer influência sobre o seu comportamento e isto por sua vez afeta o desempenho desse aluno.

Visando dar fundamentação teórica ao conceito de clima escolar adotado, buscou-se apoio nas teorias da Psicologia. Os temas percepção e sensação foram amplamente estudados nessa área de conhecimento.

Praticamente todas as escolas da psicologia moderna (gestalt, psicanálise, experimental, behaviorismo ou cognitiva) pesquisaram a percepção porque a mesma interfere no comportamento e no relacionamento intrapessoal e interpessoal. A forma como percebemos a nós mesmos e aos outros vai influenciar nossas relações com outras pessoas, seja na família, nas organizações ou na escola.

2.6.1 Teoria da percepção e sensação à luz da Psicologia

O movimento do funcionalismo em Psicologia, iniciado nos Estados Unidos no final do século XIX e início do XX, não se interessava em estudar o propósito ou a função da consciência. Isto porque no Livro Princípios de Psicologia do “pai da

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psicologia americana” Willian James em 1890, o foco residia na operação dos processos mentais conscientes, segundo Schultz e Schultz (1981). Esses autores concluem também que os psicólogos funcionalistas se interessavam pela utilidade ou propósito dos processos mentais do organismo em adaptar-se ao seu ambiente.

Willian James que ampliou os estudos sobre a percepção, declarando que ela é resultado de um processo bastante tortuoso de inferências e abstrações sendo uma delas a emoção (SCHULTZ e SCHULTZ, 1981). Segundo os mesmos autores, justamente ao estudo da emoção, refere-se a uma das mais famosas contribuições de James. Em sua teoria supunha que o estado emocional precede a expressão ou a ação corporal e física. Para esse autor, a resposta física é em decorrência da emoção principalmente as por ele denominadas rudes: medo, raiva, pesar e amor. Assim, as mudanças corporais seguem-se imediatamente à percepção do estímulo, e a sensação corporal passa a ser fruto dessa emoção. Outra linha da Psicologia que também se debruçou sobre o estudo das emoções foi o comportamentalismo, que tinha na sua base os estudos fisiológicos das emoções no corpo, de forma semelhante ao funcionalismo. Nessa teoria comportamentalista, embasada nos estudos de Watson (1930), a emoção é menos complexa do que para James, sendo considerada somente como uma resposta corporal manifesta das mudanças fisiológicas internas a estímulos específicos do meio ambiente, rejeitando a ideia do processo consciente da percepção da situação e do estado de ânimo proposta por James (SCHULTZ e SCHULTZ, 1981). As respostas emocionais humanas se formam a partir das emoções fundamentais como medo, raiva e amor, sendo as únicas não aprendidas. As demais se formavam a partir dessas três por meio de condicionamento a estímulos e respostas.

Diferentemente dos psicólogos funcionalistas e comportamentalistas que definiam a percepção e as demais reações do corpo como respostas racionais à emoção, o neurobiólogo Maturana (1988) não faz essa distinção entre racional e emocional. Esse autor defende a teoria de que a emoção e a razão são dois lados do mesmo fenômeno, não desvinculando a razão em detrimento da emoção e vice versa.

64 O humano se constitui no entrelaçamento do emocional com o racional. O racional se constitui nas coerências operacionais dos sistemas argumentativos que construímos na linguagem, para defender ou justificar nossos argumentos racionais sem fazer referência às emoções em que se fundam, porque não sabemos que eles e todas as nossas ações têm fundamento emocional, e acreditamos que tal condição seria uma limitação ao nosso ser racional (MATURANA, 1988, p. 19).

Outro fator que impacta esse mecanismo de percepção é que não se percebe somente o ambiente, mas também as pessoas. E, mediante essa percepção, favorece-se ou não a interação com as pessoas. Dessa forma, haverá relações interpessoais positivas ou negativas.

Nesta pesquisa, assume-se o posicionamento de que a emoção elicia a percepção e sensação do ambiente e que estas reações vão favorecer o estado de ânimo dos alunos em relação à escola, interferindo nas relações interpessoais que lá se desenvolvem.

Com a evolução da psicologia experimental, foi possível começar a estudar a percepção. Wilhem Wundt iniciou os estudos sobre alguns processos mentais como a atenção que, para esse pesquisador, era controlada por intenções e motivações e também por processos psicológicos como a percepção, os pensamentos e as memórias (MORRIS e MAISTO, 2004).

Para representar o mundo externo em nossa cabeça, devemos detectar a energia física do ambiente e codificá-la como sinais nervosos, um processo conhecido como sensação. A percepção é a forma como interpretamos nossas impressões e damos sentido ao ambiente (MAYERS, 1999). Dessa forma, não apenas sentimos sons, gostos e cheiros, mas também os percebemos. Por isso, o mesmo fenômeno ou evento pode ser percebido de forma diferente por diferentes pessoas. A percepção é o processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais com a finalidade de dar sentido ao ambiente e utiliza como referência suas vivências e informações já adquiridas. Nós não enxergamos a realidade, o que fazemos é interpretar a realidade a partir das informações que possuímos.

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Maturana (1988) segue essa mesma linha de argumentação sobre a realidade percebida. Para esse autor, a nossa experiência e as experiências vivenciadas vão influenciar no que percebemos e sentimos e isto vai definir o que classificamos como verdade ou ilusão. O que foi vivido é entendido como verdade e o que não vivenciado é uma ilusão.

Grande parte das dificuldades que as pessoas em geral experimentam em seu processo de interação humana no trabalho, na família ou nos grupos sociais pode ser atribuída à percepção. Pessoas diferentes, quando submetidas a mesma situação, reagem de forma diferente porque percebem a realidade daquele momento de formas diferentes.

Com base nas teorias da Psicologia, principalmente de Mayers (1999) e de Maturana (1988), defende-se que a emoção que o indivíduo está sentindo no momento faz emergir a percepção dele do ambiente. Mediante isto, não está se preocupado se a percepção do clima escolar que o aluno está manifestando é real ou imaginária. Entende-se que as emoções do aluno são reais para ele e, em função delas, ele percebe e dá sentido ao ambiente da escola e isto impacta o seu comportamento.

É importante fazer uma distinção entre a percepção estudada pela Psicologia experimental, mais focada no estudo dos cinco sentidos e como estes interferem na nossa percepção de mundo e a percepção de uma forma mais abrangente que estamos pesquisando. Quando nos referimos sobre a percepção de clima que o aluno tem da escola, estamos nos referindo a um fenômeno mais abrangente do que somente o captado pelos sentidos. Além dos sentidos, esta percepção faz uso da experiência, memória, motivação e sentimentos e, por sua vez, afeta o comportamento.

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo está dividido em suas três seções. A primeira fornece uma descrição dos instrumentos de investigação - testes de Língua Portuguesa e de Matemática e do questionário contextual. A segunda descreve a metodologia de análise estatística utilizada. E por fim, apresentamos a população pesquisada.

Para a realização desta pesquisa, foi firmada uma parceria com o Grupo de Indicadores de Avaliação Educacional – GIAE, pertencente ao CAEd da Universidade Federal de Juiz de Fora, para aperfeiçoamento e modificação do conceito de clima escolar e das perguntas referentes a esse conceito que aparecem no questionário contextual.Em contrapartida, o CAEd cedeu os dados referentes ao PROEB 2011 para as análises estatísticas necessárias a este estudo. O convite para participar das reuniões do GIAE e das discussões sobre as variáveis examinadas no relatório contextual deve-se ao interesse e aos estudos anteriores desta pesquisadora sobre o clima escolar.

O conceito de clima escolar e o modelo gerado a partir deste estudo, embora de autoria desta pesquisadora está disponível para o CAEd utilizar nas avaliações de sistemas educacionais por ele realizadas em outros estados e municípios além de Minas Gerais.

Embora só se vá utilizar os questionários contextuais e os testes de proficiência dos alunos do 5º ano do ensino fundamental, o questionário contextual contendo os itens sobre o clima escolar também foi aplicado aos alunos do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. E também a professores e gestores escolares.

Ressalta-se que o questionário contextual estava sendo revisto pelos membros do GIAE, então foi possível a participação nas discussões dos itens relativos a outras variáveis investigadas, e não somente nos itens referentes ao clima escolar.

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Essas discussões visavam o alinhamento dos itens do clima escolar com os demais pesquisados no questionário, relacionados às práticas pedagógicas, de gestão e de convivência que também foram revistos.