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FONTE NATUREZA CONCEITO DE CLIMA ESCOLAR

2.5 Elaboração do conceito de clima escolar adotado na pesquisa

Optou-se, então, por adotar um conceito de clima exclusivamente baseado nas percepções dos alunos, como o fizeram Rutter et. al. (1979), Jencks (1972), Madaus (1980), Cornejo e Redondo (2001), Campos (2005), UNESCO (2008) e CAEd (2009). Esse conceito está alinhado com aquele de clima organizacional que também verifica a percepção e a sensação do empregado sobre o ambiente dentro das organizações e como este afeta seu trabalho.

Neste estudo não se aterá à realidade física ou organizacional da escola, mas somente a como a escola é percebida pelo aluno e como tal sensação e percepção afeta seu desempenho. Isto porque a metodologia adotada, explicada posteriormente, permite verificar o fator latente12, neste caso a percepção e a sensação do clima escolar.

Para constituir o conceito de clima escolar, partiu-se da premissa de que o processo de aprendizagem envolve um lado emocional e um social. Do ponto de vista emocional, a conclusão que pareceu surpreendente a Casassus (2008) foi que um clima escolar voltado para os aspectos emocionais na escola teve muita importância para explicar a diferença entre os alunos que todos os demais fatores somados. Assim como Casassus (2008), outras pessoas também podem achar esse resultado surpreendente, porque a tradição na área de educação é considerar a racionalidade e a afetividade como duas coisas separadas. Isso pode até ser útil em certas situações e para determinados propósitos, mas não quer dizer que uma ocorra independentemente da outra nos processos de aprender e nos modos de ensinar. Para Maturana (1998), não existe

12O construto ou variável latente é aquela variável hipotética ou teórica que não pode ser

diretamente medida – como, qualidade, beleza, satisfação, ou clima escolar - mas que pode ser representada por outros indicadores, constituídos pelos itens das escalas ou pela observação do pesquisador, que em conjunto permitirão que ele obtenha uma medida razoavelmente precisa da atitude (Hair Jr. et al., 2005).

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racionalidade humana isenta de emoção; o fundamento emocional da racionalidade é sua condição de possibilidade. Para esse autor, o que se chama de humano se constitui justamente no entrelaçamento do racional com o emocional. Segundo Wykrota (2007), razão e emoção são conceitos que denotam processos em interação permanente e complexa do funcionamento mental. Parece ilusão supor que um ambiente escolar possa ser estimulante e enriquecedor estruturando-se com base em apenas um desses aspectos separadamente, postergando um em detrimento do outro. Se se pensar que o ambiente escolar deve envolver adequadamente a razão e a emoção, torna-se fácil compreender o seu valor e a sua capacidade de alavancar o desenvolvimento dos alunos.

Como espaço social, o ambiente escolar é permeado por relações interpessoais e, nessa interação, a visão do outro é relevante, principalmente devido ao convívio diário. Portanto, um ambiente de clima hostil é a antítese do ambiente de bom clima escolar, de relações afetivas e de reconhecimento do outro como sujeito nas suas particularidades. Além disso, é preciso considerar que o efeito do clima escolar sobre a aprendizagem dos estudantes ganha importância num contexto em que mudanças na configuração familiar da sociedade contemporânea limitam sua capacidade de oferecer atenção adequada às crianças e jovens.

A escola se tornou um importante espaço de convivência e aprendizado para crianças e jovens, não só para prover os conteúdos educacionais tradicionais, mas, também, para que crianças e jovens se relacionem, adquiram valores e crenças, desenvolvam senso crítico, autoestima e segurança, mediadas pela figura de um adulto (RUOTTI et al., 2006, p.14).

Para muitas crianças e jovens, a escola pode se tornar o único espaço para adquirir essas habilidades. Por esse motivo, é tão importante que, nas escolas, os aprendizes encontrem um ambiente de bom clima escolar e nele convivam. Isso também é uma orientação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). Segundo o Artigo 2º da LDB “A educação, dever da família e do Estado,

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inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (p. 1)”. E o Artigo 3º, inciso IV: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) respeito à liberdade e apreço à tolerância (1996, p. 1)”.

Assim, adotou-se o conceito de clima escolar focado na percepção e na sensação dos alunos sobre o ambiente escolar e na qualidade das relações que lá se desenvolvem, traduzidos em cinco dimensões: (i) Aprendizagem e desenvolvimento; (ii) Conforto e segurança; (iii) Convivência e relacionamento; (iv) Pertencimento e inclusão e (v) Satisfação e motivação.

A dimensão Aprendizagem e desenvolvimento inclui as percepções dos alunos sobre a existência de oportunidades interessantes de aprendizagem e o sentimento de que vale a pena estudar na escola. Conforto e segurança é a dimensão que traduz o sentimento de segurança e conforto no ambiente escolar e a percepção de que ela é limpa e bem cuidada. A dimensão Convivência e relacionamento refere-se à percepção de que todos se tratam com respeito e se dão bem uns com os outros e ao sentimento de satisfação por estar com os colegas. A dimensão Pertencimento e inclusão inclui a percepção de que o aluno é bem cuidado e valorizado na escola e o sentimento de orgulho de fazer parte do time. Satisfação e motivação é a dimensão que se refere ao sentimento de gostar de estudar na escola por ser um ambiente que deixa o aluno motivado, cheio de energia e animado.

O conceito de clima escolar que mais se aproxima do aqui definido é o adotado nos programas e projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em que predominam a qualidade das relações e o respeito ao outro, tal como caracterizado no parágrafo que segue.

A natureza dos vínculos (de solidariedade, respeito e

colaboração) que estabelecem entre si os agentes escolares, as práticas respeitosas da diversidade e inclusivas em contraposição com as discriminatórias; a existência de regras consensuadas, conhecidas e respeitadas para a convivência escolar, a natureza dos conflitos e os modos de resolvê-los,

62 assim como a alegria e o entusiasmo por pertencer à escola. (UNICEF, 2008, p.17).

Mediante o exposto, a redação dos itens do questionário contextual, instrumento utilizado para verificar o clima escolar, tinha como desafio procurar apreender a percepção e a sensação do aluno sobre os aspectos descritos nas dimensões já apresentadas.