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AS PESQUISAS NO CAMPO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

CAPÍTULO 2 A PÓS-GRADUAÇÃO E AS PESQUISAS SOBRE PRODUÇÃO E EDUCAÇÃO

2.3 AS PESQUISAS NO CAMPO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

As pesquisas no campo da educação especial que investigam as produções nesse campo do conhecimento são em número significativo. Indicarei algumas para expor o que tem sido desenvolvido, sem, no entanto, ter a pretensão de mapear todas as produções, visto que se estenderia muito a discussão.

A pesquisa de Nunes et al (1999) intitulada “A pós-graduação em educação especial no Brasil: análise crítica da produção discente” realizou uma análise crítica de 197 dissertações do mestrado do CEMEd/UERJ e do PPGEEs/UFSCar, defendidas no período de 1981 a 1995. Como resultado, a pesquisa detectou: a predominância da investigação sobre a deficiência mental; a faixa etária de 5 a 14 anos foi privilegiada; instituições escolares como principal lócus e, por fim, o foco no tema de ensino-aprendizagem. Quanto à concepção de deficiência, foi observada uma crescente substituição do modelo clínico pelo modelo psicossocial.

A pesquisa de Ferreira e Bueno (2011) intitulada “Os 20 anos do GT Educação Especial: Gênese, trajetória e consolidação” teve como objetivo analisar as produções científicas do GT5, no período de 1991 a 2010. Dividiu as análises nos seguintes eixos temáticos: Gênese e organização do GT, na qual buscou os aspectos históricos de construção do grupo, que circunscreveu os primeiros 5 anos; e Desenvolvimento e Consolidação. Esse último foi dividido em dois períodos: 1º período (1991/2001), com a descrição geral do GT, recorrendo a trabalhos anteriores sobre o grupo e as publicações de trabalhos completos, comunicações e pôsteres; 2º período (2002/2010), com a realização de um balanço tendencial fundamentado nos trabalhos completos publicados no grupo, tanto os apresentados quanto os excedentes.

Antes de ser constituído como GT da ANPED, organizou-se em 1989, na 12ª reunião como grupo de estudos, congregando professores e pesquisadores do campo da educação especial. Em 1991, na 14ª reunião foi aprovado como Grupo de Trabalho da Anped, juntamente com os GTs de Educação e Comunicação e Sociologia da Educação. Nasceu com o objetivo de consolidar a identidade do grupo e discutir a necessidade de profissionalização da educação especial, assim como vinculá-la à educação como um todo.

A pesquisa de Casagrande e Cruz (2014) intitulada “Análise epistemológica das teses e dissertações sobre atendimento educacional especializado: 2000-2009” realizou a

análise epistemológica das teses e dissertações sobre Atendimento Educacional Especializado (AEE), no período de 2000 a 2009, tomando como base o esquema paradigmático de Sánchez Gamboa (1987)6. Foram analisados os níveis técnico e teórico de 18 teses e dissertações. No nível técnico, teve como resultado que: 72% das pesquisas foram realizadas em instituições públicas; 44% sem especificação metodológica; 50% não identificaram o tipo de análise dos dados e 84% foram pesquisas qualitativas. No nível teórico: 27,7% abordam a temática da surdez/deficiência auditiva; 61% não especificaram a abordagem metodológica; 17% das pesquisas sustentam-se na abordagem crítico-dialética; 22% na abordagem fenomenológica- hermenêutica. Destaca-se a necessidade de ampliação de pesquisas sobre a questão epistemológica, a fim de contribuir para com a qualidade e aproximação das investigações com a práxis.

Silva (2004) realizou sua dissertação de mestrado, intitulada “Análise Epistemológica das dissertações e teses defendidas no Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da UFSCar (1981-2002)” com o objetivo de analisar as implicações epistemológicas, a partir das abordagens metodológicas das produções, levando em consideração os determinantes sociopolíticos e econômicos. Foram analisados 27 trabalhos, cujos resultados indicaram que: 89,9% sustentam-se na abordagem empírico-analítica; 11,1% na abordagem fenomenológica-hermenêutica e nenhum trabalhado na perspectiva crítico- dialética.

O trabalho desenvolvido por Sacardo (2006) intitulado “Publicação científica derivada das dissertações e teses na interface entre educação física e educação especial” teve como objetivo investigar as publicações científicas provenientes das teses e dissertações em Educação Física e Educação Especial, que geraram produtos como livros, artigos, capítulos de livros com enfoque na educação especial. Como resultado apontou que as dissertações e teses foram publicadas nos seguintes meios de divulgação científica: 58% na forma de artigo; 29% em capítulos de livros e 13% em livros. Dessa forma, concluiu que o principal meio de socialização das pesquisas de mestrado e doutorado ainda é o artigo.

O trabalho de Marques et al (2008) intitulado “Analisando as pesquisas em Educação Especial no Brasil” teve como objetivo analisar a articulação do problema de pesquisa com o aporte teórico-metodológico das pesquisas em Educação Especial, a partir dos

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SÁNCHEZ GAMBOA, S. A. Epistemologia da pesquisa em educação: estruturas lógicas e tendências metodológicas. 1987, 229 f. Tese (Doutorado em Educação – Filosofia e História da Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1987. A obra classifica as pesquisas em 3 abordagens empírico-analítica; pesquisas de abordagem fenomenológico-hermenêutica e as de abordagem crítico-dialética.

pressupostos epistemológicos. Para alcançar tal objetivo foram analisadas as teses e dissertações dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu em Educação e Educação Especial, disponíveis no banco de teses da CAPES, no período de 2001 a 2003, tendo como palavra-chave “Educação Especial”. Foram analisadas 85 teses e dissertações, sustentadas na análise feita por Sanchez Gamboa (1998).

Como resultados, encontraram pesquisas fundamentadas nas concepções empírica, fenomenológica e dialética. Os autores apontaram que as pesquisas não apresentam uma análise crítica; falta definição da concepção de educação; fundamentam-se em diferentes aportes teóricos; não fazem articulação entre os referenciais teórico-metodológicos adotados nas pesquisas e, não há explicitação da metodologia utilizada. Destacam também os problemas na elaboração dos resumos, que não indicam as informações necessárias de uma pesquisa científica.

Silva (2013) em sua tese de doutorado, intitulada “Tendências teórico-filosóficas das teses em educação especial desenvolvidas nos cursos de doutorado em educação e educação física do Estado de São Paulo (1985-2009)” analisou a partir das tendências teórico- filosóficas sobre deficiência/diferença, as implicações epistemológicas das teses relacionando com os determinantes sociopolítico e econômico. Como resultado aponta: a predominância do realismo empírico e por outro lado, um crescente número de pesquisas sustentadas no realismo crítico; indica que as discussões no campo da educação especial têm se aproximado dos debates em torno da educação de modo geral e dos movimentos sociais.

Silva (2013) classifica as produções em educação especial no Brasil em três períodos, quais sejam: 1º Pioneirismo (1971-1984); 2º Expansão (1985-1999) e 3º Consolidação (1999-2012). O primeiro período é marcado pela criação dos primeiros cursos de mestrado com pesquisas em educação especial, a primeira delas realizada na UFSM em 1971; em seguida houve a criação do mestrado em educação especial na UFSCar, em 1978 e, em 1979 foi criado o mestrado em educação da UERJ. Foram defendidas 51 dissertações, no período do pioneirismo, marcado pelo princípio da normalização e pelo princípio da integração/mainstreaming.

O segundo período é marcado pela defesa da primeira tese na área da educação especial, em 1985, por Gilberta Jannuzzi, no PPGE da UNICAMP. Foram defendidas 339 dissertações e 28 teses na área, aproximando-se dos problemas da educação regular geral e sustentando-se nos princípios integracionistas e início do debate sobre a educação inclusiva, a partir da década de 1990. Nesse período também foi criada a ABPEE (Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial), em 1993 e a ANPEd (Associação Nacional de

Pesquisadores em Educação), em 1978. O último período, tem como marco inicial a criação do curso de doutorado em educação especial da UFSCar. Nesse período, foram publicadas 976 dissertações e 289 teses na área da educação especial. Em todos os períodos as IES com maior destaque foram a UFSCar e a UERJ. No período de expansão acrescenta-se a USP, UFRGS, UNESP/Marília e a UNICAMP.

A partir das pesquisas indicadas e da exposição de Silva (2013), conclui-se que a produção de teses e dissertações no campo da educação especial, teve um crescimento gradativo, de 1971 a 2009, ampliando o número de publicações, principalmente a partir dos anos 1990, influenciadas, principalmente, pelas políticas de inclusão. Buscarei agora indicar as produções na área da surdez e os trabalhos que tiveram como objeto a produção de conhecimento sobre educação de surdos no Brasil.