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4 A INTERAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADES E EMPRESAS NO BRASIL

4.2 As políticas industriais e tecnológicas no Brasil

O modelo de industrialização por substituição de importações iniciado na década de 1930, caracterizou-se por ser uma industrialização fechada, voltado para o mercado interno, fortemente dependente de medidas protecionistas do governo. As políticas industriais implementadas até a década de 1970, objetivavam gerar capacidade produtiva por meio de restrições às importações, estratégia que implicava reduzida competitividade internacional, dissociada das atividades voltadas para pesquisa, desenvolvimento e inovação (SALERNO; DAHER, 2006).

Segundo Suzigan e Furtado (2006), com as elevadas taxas inflacionárias e baixo crescimento econômico brasileiro da década de 1980 as políticas industriais praticamente deixaram de ser implementadas, muito embora houvesse esforços do governo, na prática não geraram resultados concretos em decorrência das constantes crises.

Em 1990, o governo Collor promoveu a abertura comercial da economia brasileira, tendo como consequência a reestruturação do setor industrial. Por meio da Política Industrial de Comércio Exterior (PICE), extinguiu o sistema de proteção e incentivos que vigorou ao longo das décadas anteriores. Paralelamente, lançou o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), que visava apoiar a modernização das empresas brasileiras que precisavam se ajustar à abertura econômica e à forte concorrência estrangeira (SUZIGAN; FURTADO, 2006).

No governo Fernando Henrique Cardoso, a política industrial ficou subordinada à estabilidade econômica, ou seja, existia a convicção de que uma economia com sólidos fundamentos macroeconômicos era a condição necessária para alavancagem do setor industrial. Nesse período foram criados os fundos setoriais e os programas de Desenvolvimento Tecnológico Industrial e de Desenvolvimento Agropecuário (PDTI/PDTA) que tinham como objetivo a capacitação tecnológica da empresa. No entanto, esses programas não apresentaram a repercussão esperada (SALERNO; KUBOTA, 2008).

Em 2003 é lançada pelo governo Lula a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) que tinha por objetivo aumentar o grau de inovação da indústria brasileira, particularmente por meio do aumento das atividades de P&D. A PITCE foi alicerçada em três eixos: linhas de ação horizontais, opções estratégicas e atividades portadoras de futuro. O primeiro eixo buscava o aumento da competitividade das empresas, a modernização industrial, o incentivo às exportações de maior valor agregado e a dinamização das cadeias produtivas e dos Arranjos Produtivos Locais (APL). O segundo eixo compreendeu as opções

estratégicas, que orientaram os esforços de políticas para as áreas intensivas em conhecimento, representadas por semicondutores, software, bens de capital, fármacos e medicamentos. O terceiro eixo priorizou o apoio à biotecnologia, à nanotecnologia, à biomassa e às energias renováveis.

Segundo Salerno e Kubota (2008), com a PITCE, o Brasil passou a contar com um sistema mais integrado e coerente para a indução da inovação nas empresas nacionais. Tal aspecto deve-se à criação de um marco regulatório compatível entre os quais destaca-se a Lei de Inovação e a Lei do Bem.

A Lei no 10.973/2004, conhecida como Lei de Inovação10

, representou um novo paradigma para a maior difusão do conhecimento gerado em universidades e centros de pesquisa em apoio a inovações no setor produtivo, trilhando, dessa forma, os caminhos abertos pelo modelo dos fundos setoriais, os quais buscaram garantir maior participação do setor empresarial nos recursos alocados, no país, para Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). A Lei do Bem (lei 11.196/2006) regulamentada pelo Decreto 5.798/2006, por sua vez, estabeleceu um conjunto de instrumentos para apoio à inovação na empresa. Esses instrumentos visam reduzir o custo e o risco da inovação na grande empresa, por meio de incentivos fiscais (BRASIL, 2003).

Por meio da Lei de Inovação e da Lei do Bem11

as empresas puderam dispor de: incentivo fiscal à P&D semelhante à dos principais países do mundo (automática, sem exigências burocráticas); possibilidade de subvenção a projetos considerados importantes para o desenvolvimento tecnológico; subsídio para a fixação de pesquisadores nas empresas; programas de financiamento à inovação de capital empreendedor; arcabouço legal mais propício para a interação universidade/empresa.

Em 2008 foi lançada pelo governo a Política de Desenvolvimento Produtivo, com objetivo principal de propiciar o crescimento econômico do país, impulsionado pelo

10 Os principais incentivos a que se refere a Lei de Inovação são: I - Cooperação envolvendo empresas nacionais,

Institutos de Ciência e Tecnologia (ICT) e organizações de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa e desenvolvimento, com o objetivo de gerar produtos e processos inovadores; II - Regulamentação da participação das ICT públicas em projetos de cooperação, normatizando-se aspectos como propriedade intelectual e transferência de tecnologia; III - Estímulo à inovação nas empresas, particularmente com a concessão de subvenção econômica; A única restrição explícita do instrumento é que sejam beneficiadas empresas nacionais, dentro do conceito constitucional de empresas brasileiras.

11 A Lei do Bem concede benefícios que impactam no cálculo do imposto de renda de empresas. Incluem, como

principais benefícios: exclusão, do lucro líquido e da base de cálculo da CSLL, do valor correspondente a até 200% da soma dos gastos classificados como investimentos em pesquisa e desenvolvimento, observando-se a alocação de recursos e rubricas prevista na legislação. Redução de 50% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) devido na compra de equipamentos para P&D; depreciação e amortização acelerada de equipamentos para P&D.

desenvolvimento industrial, obtendo resultados na geração de empregos e aumento da competitividade, segundo o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio.Para tanto, seria necessário, ampliar a capacidade de oferta; preservar a robustez do balanço de pagamentos; elevar a capacidade de inovação; e fortalecer as micro e pequenas empresas (BRASIL, 2014).

No entanto, Suzigan e Furtado (2010) argumentam que as diferentes políticas industriais implementadas desde a década de 1980, não alcançaram boa parte de seus objetivos propostos em decorrência por um lado da instabilidade macroeconômica típica do período pós-1980 e por outro da ineficiência das instituições de política industrial e tecnológica.

Segundo os autores, a maioria dessas instituições sofreu um contínuo processo de esvaziamento ao longo dos 1980 e 1990, com perda de recursos e de pessoal técnico e desvirtuamento de funções. Embora nos anos 2000, as condições operacionais dessa organização institucional tenham sido parcialmente restauradas, muitas ainda lutam com problemas de várias ordens e, sobretudo, não têm evoluído no que diz respeito a capacitar-se; para implementar uma política industrial e tecnológica contemporânea, com pretensões em relação à posição nacional na economia do futuro (SUZIGAN;FURTADO, 2010).

De forma resumida Suzigan e Furtado (2010) apontam os principais problemas das instituições responsáveis pela política industrial e tecnológica no país: não atuam de forma sistêmica; estão em grande parte envelhecidas; constituem um conjunto extremamente complexo; operam com quadros técnicos que ainda não reúnem todas as capacitações requeridas por missões mais qualitativas e sofisticadas de política industrial e tecnológica; geram grandes dificuldades em termos de articulação; e têm frágil comando político e problemas de coordenação.