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5 CARACTERIZAÇÃO DA INFRAESTRUTURA DE

5.1 O processo de formação das instituições científicas da Amazônia

As expedições científicas realizadas na Amazônia como a do naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira nos anos 1783 a 1793, com o intuito de descobrir novas plantas e animais além de conhecer a geografia regional, podem ser consideradas o embrião das pesquisas na região. Diversas expedições dessa natureza realizadas a partir de então possibilitaram a construção de inventários históricos, geográficos, botânicos e zoológicos sobre a região.

Segundo Hébette (1983), embora essas expedições se fizessem cada vez mais frequentes, inclusive com a atração de cientistas internacionais renomados vindos da Alemanha, da Inglaterra, da França e de outros países, a implantação da primeira instituição cientifica na região, somente se deu em 1866 com a fundação da Associação Philomática - Museu Arqueológico e Etnográfico do Pará, sob a coordenação de Domingos Soares Ferreira Penna. Em 1931 passaria a ser denominado de Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG).

No período áureo do ciclo da borracha na Amazônia, foi fundada em janeiro de 1909 a Escola Universitária Livre de Manaus, considerada o embrião da primeira universidade do país, formada pelas faculdades de ciências e Letras, Ciências Jurídicas e Sociais, Medicina, Farmácia e Odontologia (CUNHA, 2007). Em 1913, a Escola Universitária mudou de nome, passando a chamar-se Universidade de Manaus, permanecendo dessa forma até 1926 quando foi desativada14

.

14Cunha (2007) denomina de universidade de vida curta as instituições de ensino superior criadas nos estados

brasileiros à revelia do Governo Central. A Universidade de Manaus foi a primeira dessas instituições, fundada por iniciativa do Clube da Guarda Nacional de Manaus visando a formação superior tanto de militares quanto de cidadãos civis brasileiros. Em novembro de 1911 foi fundada a Universidade de São Paulo, sendo solenemente inaugurada em março de 2012. Essa instituição foi desativada por volta de 1917. Do mesmo modo, em dezembro de 1912 foi instalada a Universidade do Paraná que por não atender especificações do Governo Central para validação dos diplomas acabou sendo dissolvida em 1915.

Segundo Homma (2003), a primeira Escola de Agronomia do Pará foi fundada em março de 1918, por meio do Decreto Federal 8.319, de 1910, que estabelecia a criação de ensino superior visando a agricultura, a zootecnia, a veterinária e agroindústrias. Em 1919 mudou de nome passando a chamar-se Escola de Agronomia e Veterinária do Pará, sendo que no ano de 1935, a instituição foi desmembrada em duas unidades denominadas Escola Superior de Agricultura do Pará e Escola de Medicina Veterinária do Pará. Posteriormente, em 1938, foi reintegrada voltando a chamar-se Escola de Agronomia do Pará.

A excursão na Amazônia da comissão de Estudos de Leishmaniose Visceral Americana coordenada pelo cientista Evandro Chagas motivou a criação em 1936 do Instituto de Patologia Experimental do Norte (IPEN). O instituto teria como missão realizar pesquisas sobre doenças regionais como o calazar e outras doenças endêmicas muito comuns na região. Em 1940 passou a se chamar Instituto Evandro Chagas, em homenagem ao primeiro diretor científico da instituição, responsável por constituir a primeira escola de pesquisadores de carreira em saúde da região (BRASIL, 2007).

Por meio do Decreto 1.245, de 1939, foi criado o Instituto Agronômico do Norte (IAN), dando início às pesquisas agropecuárias na Amazônia. A inauguração do instituto contou com a presença do então presidente Getúlio Vargas, em 07 de outubro de 1940. Em 1962 passou a se chamar Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Norte (IPEAN) e em 1975, Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido, atual EMBRAPA (HOMMA, 2003).

As pesquisas do IAN se voltaram para uma série de produtos identificados na região entre os quais se destacam: óleos de essências florestais, seringueira, cumaru e juta, além de experimentos com cacau, dendê outras.

Com a finalidade de formar agrônomos para a realização de atividades que se adequassem às especificidades da Amazônia, foi criado em 1945, por meio do Decreto Lei nº 8.290, a Escola de Agronomia da Amazônia que funcionaria anexa ao Instituto Agronômico do Norte. Segundo o artigo Nº 4 do decreto federal, a Escola de Agronomia da Amazônia funcionaria em regime de estreita cooperação com o IAN, utilizando inclusive dependências e equipamentos dessa instituição.

A criação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) ocorreu por meio do Decreto 31.672, de 29 de outubro de 1952. Instalado na cidade de Manaus/Amazonas, o instituto inicialmente realizou pesquisas de levantamento e inventário da fauna e da flora da região Amazônica. Segundo Faulhaber (2005), a fundação do INPA implicava numa ruptura

com a visão dos museus como instituições arcaicas. Nesse sentido, o Estado Nacional precisava impor sua própria marca para romper com o passado colonial e impor sua presença no cenário científico mundial (FAULHABER, 2005).

Na década de 1950 teve início o processo de criação de universidades na região Amazônica. Passados cerca de trinta anos da criação da primeira universidade brasileira no Rio de Janeiro, foi criada a Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio da Lei nº 3.191, de 02 de julho de 195715. Foram incorporadas à instituição as faculdades de Medicina, Direito,

Farmácia, Engenharia, Odontologia, Filosofia, Ciências Econômicas além de Ciências e Letras, tendo como primeiro reitor, Mário Braga Henriques. Em 1963 foram incorporadas as Escolas de Serviço Social do Pará e de Química.

A criação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Planejamento da UFPA em 1970, possibilitou a estruturação das atividades de pesquisa da instituição que eram realizadas de forma isolada pela iniciativa de alguns poucos professores/pesquisadores (SOBRINHO, 2000). Outra iniciativa para o fortalecimento da pesquisa foi a implantação do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA)16 (1973), do Núcleo de Medicina Tropical (NMT) (1974) e do Núcleo

de Ciências Geofísicas e Geológicas (NCGG) (1975). Ressalta-se ainda que nessa época surgiram os primeiros cursos de pós-graduação “strictu sensu” da instituição: Curso de Mestrado e Doutorado em Geologia e Geoquímica (1973) e doutorado em Geofísica (1973) pertencentes ao Núcleo de Geociências (1977), e o mestrado em Planejamento do Desenvolvimento (1977) do NAEA.

As demais universidades federais da região foram criadas a partir da década de 1960. A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) foi criada por meio da Lei nº 12, de junho de 1962, depois de passados 36 anos da dissolução da Universidade de Manaus. A Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em 1966; a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), em 1970; a Universidade Federal do Acre (UFAC), em 1974; a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), em 1982; a Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), em 1987; a Universidade Federal de Roraima (UFRR), em 1988; e a Universidade Federal do Tocantins (UFT), em 2000.

A partir dos anos 2000 deu-se a criação de mais três universidades federais na região Amazônica: 1) Por meio do Decreto nº 67.611, de dezembro de 2002, a Faculdade de

15Decorridos mais de 18 meses de sua criação, a Universidade do Pará foi solenemente instalada em sessão presidida pelo Presidente Juscelino Kubitschek, no Teatro da Paz em 31 de janeiro de 1959.

16 Nesse período foi implantado o curso de Formação de Especialistas em Desenvolvimento de Áreas Amazônicas (FIPAM), tornando o NAEA referência na produção de conhecimento sobre a Amazônia.

Ciências Agrárias do Pará (FCAP)17 foi transformada em Universidade Federal Rural da

Amazônia (UFRA), em 2002; 2) A Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), sediada no município de Santarém, foi criada em 2009; 3) A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), sediada no município de Marabá, em 2013.

A criação das universidades na Amazônia, a partir do final da década de 1950, está relacionada ao processo de transformação econômica e social pelo qual passava o Brasil com a intensificação do modelo de industrialização por substituição de importações. Nesse período, o governo de Juscelino Kubitschek iniciou o processo de integração nacional, rompendo o isolamento da Amazônia do restante do país, por meio da construção da Rodovia 010 (Belém-Brasília) inaugurada em 21 de abril de 1960. Nesse processo, pelo menos em tese, caberiam às universidades recém-criadas subsidiar as novas políticas de desenvolvimento que se apresentavam para a região.