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3 AS FONTES DO DESENVOLVIMENTO NA PERSPECTIVA

3.2 O papel das instituições científicas para o sistema de inovação

Na perspectiva da Nova Economia Institucional (NEI), as instituições caracterizam-se por serem restrições, à medida que criam ou definem limites para o comportamento dos agentes, indivíduos ou organizações, reduzindo a incerteza e servindo como guia para a interação humana.

Segundo North (1991), as instituições definem e limitam o conjunto de escolhas dos indivíduos sendo consideradas as regras do jogo, ao passo que os indivíduos e as organizações seriam os jogadores. Nessa perspectiva existe uma tendência à ocorrência de mudanças institucionais ao longo do tempo, provocadas pela alteração de regras, formais e informais, que acabam sendo determinadas, em primeira instância, pela mudança de comportamento dos indivíduos. Para North (1998), as grandes mudanças históricas se dão a partir das transformações institucionais (criação, adaptação e evolução).

Segundo a concepção evolucionária, as instituições constituem-se de um conjunto de hábitos, costumes, rotinas, adotadas em um determinado contexto, que exercem efeitos sobre o comportamento dos indivíduos os quais, ao interagirem com as instituições, acabam produzindo uma trajetória de transformação permanente. Para Nelson (2006), as instituições estão sempre em evolução, bem como têm forte influência sobre o desempenho das mais

diversas economias. Os agentes econômicos estão condicionados pela sua própria trajetória, ao mesmo tempo em que desenvolvem a capacidade de promover transformações (NELSON, 2006).

Nelson e Rosenberg (1994) consideram as universidades e os institutos de pesquisa, como sendo atores fundamentais para a promoção destas transformações. As pesquisas científicas realizadas nessas instituições desempenham um papel importante como fonte de reconhecimento e do desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas à indústria.

Um dos papéis importantes das universidades para o desenvolvimento de países e regiões é o avanço na fronteira do conhecimento com vistas à aplicabilidade no setor produtivo. As universidades são responsáveis pela formação e treinamento de cientistas e engenheiros capazes de lidar com problemas associados ao processo inovativo nas empresas; são fontes de conhecimento de caráter mais geral, necessários para as atividades de pesquisa básica; são fontes de conhecimento especializado relacionado à área tecnológica da empresa; e criação de novos instrumentos e de técnicas científicas (NELSON, 1993; NELSON; ROSENBERG, 1994; KLEVORICK et al., 1995).

A infraestrutura científica de universidades e institutos de pesquisa, durante o processo de catching-up atua como um instrumento de focalização contribuindo para a identificação de oportunidades e para a vinculação do país aos fluxos internacionais. Cumpre também o papel de instrumento de apoio para o desenvolvimento industrial, provendo conhecimento necessário para a entrada em setores industriais estratégicos e servindo como fonte para soluções criativas que atendam a necessidades exclusivas de cada país ou região (COHEN; LEVINTHAL, 1990).

Klevorick et al. (1995), por meio de estudos empíricos, mostram como setores industriais distintos avaliam a importância relativa das instituições científicas para o alcance de suas capacidades inovativas, reforçando dessa maneira o papel das universidades e da ciência como uma importante fonte de oportunidades tecnológicas para a inovação industrial.

É nas universidades que se desenvolve uma considerável quantidade de pesquisas nas disciplinas associadas às tecnologias particulares que refletem ou modelam estratégias indústrias em que a inovação tecnológica surge como elemento central para o desenvolvimento regional e nacional. De fato, a maioria dos campos tecnológicos atuais estão associados a disciplinas formais das ciências ou da engenharia como, por exemplo, a Engenharia da Computação e a Engenharia Elétrica (STOKES, 2005).

A ciência gerada pelas universidades cumpre o papel de instrumento de apoio para o desenvolvimento industrial, fornecendo o conhecimento necessário para investimentos em setores industriais estratégicos. Dessa forma, segundo Albuquerque e Suzigan (2011), as principais contribuições das instituições científicas são: contribuir para a identificação de oportunidades e de vinculação do país aos fluxos internacionais; ser fonte para algumas soluções criativas relacionadas a condições específicas de um país ou região que dificilmente seriam obtidas fora dessas unidades geográficas.

Para Etzkowitz (2009), cabe às universidades, além das funções clássicas de ensino e pesquisa, a contribuição para o desenvolvimento econômico e social, o que a torna uma instituição cada vez mais relevante para a sociedade. Nesse aspecto, o autor ressalta o papel da universidade como agente empreendedor sobre o qual observa que:

A transformação da universidade em uma fonte reconhecida de tecnologia, assim como de recursos humanos e conhecimento, tem criado outras capacidades para transferir formalmente tecnologias, além da pura dependência de conexões informais. Além de oferecer novas ideias a empresas existentes, as universidades estão utilizando suas capacidades de pesquisa e de ensino, em áreas avançadas da ciência e da tecnologia, para criar novas empresas. As universidades também estenderam suas capacidades de ensino, passando da educação de indivíduos a formação de organizações através da educação empreendedora e dos programas de incubação. A capitalização do conhecimento muda a forma como cientistas observam os resultados de suas pesquisas. Quando a universidade se envolve com a transferência de tecnologia e formação de empresas, ela atinge uma nova identidade empreendedora (ETZKOWITZ, 2009, p.36).

Desse modo, ao assumir um papel crucial na sociedade, a universidade passa por mudanças internas de forma a integrar novas funções e relações. Surge assim, a universidade empreendedora que, além de conservar e criar conhecimento por meio da educação e da pesquisa, aplica o conhecimento pelo empreendedorismo, propiciando a transferência de tecnologia e a disseminação do conhecimento por meio dos grupos de pesquisa, escritórios de ligação, escritórios de transferência de tecnologia e incubadoras, pelos quais fluem alunos, publicações, patentes e empresas.

As universidades passam a assumir funções relativas aos negócios e à governança, sem abrir mão de seu principal papel, produção e difusão de conhecimento, agregando às suas atividades precípuas de ensino e pesquisa, o ímpeto empreendedor por meio do fomento à criação de novas empresas em suas incubadoras, muitas vezes spin-offs de pesquisa acadêmica; da transferência dos resultados de pesquisa para a indústria, por meio de mecanismos híbridos além de esboçar um movimento de aproximação à indústria e ao governo para alinhar esforços e recursos em projetos cooperativos.

Em sua interpretação, Rosenberg (1982) sugere que a ligação entre a economia e a ciência se faz, principalmente, através da tecnologia, que indica os rumos onde a pesquisa científica encontraria resultados financeiros potencialmente mais elevados. Segundo o autor, a existência de uma complexa relação interativa entre ciência e tecnologia faz com que o fluxo de conhecimentos entre as instituições científicas e a indústria não seja uma via de sentido único, tornando o estudo do papel da universidade e dos Institutos Públicos de Pesquisa (IPP) em um sistema nacional de inovação e a sua interação com o setor industrial extremamente fecundo.