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4 A INTERAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADES E EMPRESAS NO BRASIL

4.1 O processo de formação das instituições científicas brasileiras

O início do processo de formação histórica das instituições de ensino superior e pesquisa no Brasil é caracterizado por Suzigan; Albuquerque; Cario (2011) como sendo tardio, limitado e problemático. O caráter tardio deve-se ao fato de que as primeiras instituições científicas foram criadas somente após a vinda da coroa real para a colônia em 1808, passados mais de três séculos do seu “descobrimento”. Limitado porque não havia instituições de ensino superior7

nem instituições monetárias, de modo a viabilizar as pesquisas científicas de forma integrada e sistematizada com o processo de formação, além do que Portugal restringia a manufatura na colônia. O aspecto problemático estava vinculado ao regime da escravidão que surgia como uma barreira importante para trabalho mecânico (SUZIGAN; ALBUQUERQUE; CARIO, 2011).

Essa situação inicial impactou o processo de formação científica no Brasil restringindo seu desenvolvimento ao longo do século XX, quando surgiram as primeiras universidades brasileiras a partir da década de 1920 e 1930. Essa evolução das instituições científicas nacionais pode ser melhor avaliada segundo Suzigan; Albuquerque; Cario (2011), pelas chamadas “ondas de criação institucional”, constituídas pelas instituições de ensino superior, instituições de pesquisa e instituições responsáveis pelas políticas de ciência e tecnologia.

Segundo Suzigan; Albuquerque; Cario (2011), a primeira onda de criação institucional surge a partir de 1808 com a transferência da corte portuguesa para a colônia. Nesse período, conforme Schwartzman (2001), são criadas instituições científicas como o Colégio de Anatomia e Cirurgia de Salvador, a Escola de Anatomia e Cirurgia do Rio de Janeiro. Em

7 Enquanto no Brasil em 1822 com 4,5 milhões de habitantes não havia uma única universidade constituída, nos

EUA em 1776, com 2,5 milhões de habitantes, já havia nove universidades. Por volta de 1820, Cunha (2007) argumenta que países como México, Peru, Chile e Argentina, já contavam com importantes universidades, perfazendo um total de 27 em toda a América espanhola.

1810 são criados o Jardim Botânico do Rio, a Biblioteca Nacional e a Academia Militar, primeira escola de Engenharia do Brasil. Em 1818 é criado o Museu Real transformado posteriormente em Museu Imperial, onde surgiriam os primeiros estudos de Química e Física (SCHWARTZMAN, 2001).

A segunda onda de formação de instituições científicas descrita por Suzigan; Albuquerque; Cario (2011) ocorre entre 1860 e 1900. Nesse período são criados o Museu Arqueológico e Etnográfico do Pará (1866), posteriormente denominado Museu Goeldi, a Escola de Minas de Ouro (1875), o Laboratório de Fisiologia Experimental (1880), a Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo (1886), o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) (1887), O Museu Paulista (1893), a Escola Politécnica de São Paulo (1894), o Instituto Soroterápico Butantã (1899), o Instituto de Manguinhos (1900), mais tarde renomeado Instituto Oswaldo Cruz, além da criação, em 1901, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (SCHWARTZMAN, 2001).

A terceira onda identificada por Suzigan, Albuquerque e Cairo (2011) compreende o período de 1920 a 1934, quando da criação das primeiras universidades brasileiras. Segundo Cunha (2007), após experiências anteriores8

é instituída em 1920 a Universidade do Rio de Janeiro, primeira instituição de ensino superior do Brasil que vingou com o nome de universidade. A sua criação envolveu a reunião em universidade da Escola Politécnica, da Escola de Medicina e da Faculdade de Direito, que continuaram a atuar de forma independente conforme Cunha (2007). Seguindo o mesmo arranjo institucional é instituída em 1927 a Universidade de Minas Gerais.

Sob a ótica de duas políticas educacionais opostas, a liberal e a autoritária, vigentes no governo Vargas, é criada em 25 de janeiro de 1934 a Universidade de São Paulo, incorporando a Faculdade de Direito, a Faculdade de Medicina, a Escola Politécnica, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e a Escola Veterinária. Foram criadas ainda as Faculdades de Educação, Filosofia, Ciências e Letras, o Instituto de Ciências Econômicas e Comerciais, a Escola de Belas Artes, além de diversos institutos9

(CUNHA, 2007).

8 Segundo Cunha (2007) antes mesmo desse período, foram criadas as Universidade de Manaus (1909), a Universidade de São Paulo (1911) e a Universidade do Paraná (1912) que representaram experiências independentes nesses estados, mas que acabaram por ser dissolvidas devido a fatores econômicos e principalmente políticos além de divergências junto ao regulamento do governo central.

9 A fundação da Universidade de São Paulo, segundo Schwartzman (2000) propiciou condições para que se formasse um novo modelo de cientista, que veio a representar importante papel no processo de institucionalização da ciência brasileira, contanto inclusive com diversos professores europeus de renome internacional.

A quarta onda de criação de instituições surge segundo Suzigan; Albuquerque; Cario (2011) no período pós-guerra quando são criadas as seguintes instituições: Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 1949; Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA), em 1950. Em 1951 são criados: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com a incumbência de coordenar o setor de ensino e pesquisa no país. Schwartzman (2001) destaca ainda a criação da Universidade de Brasília (UnB) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

A quinta onda identificada por Suzigan; Albuquerque; Cario (2011), ocorre durante o período militar, quando da criação de centros de pesquisa nas empresas estatais, tais como o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguel de Mello (CENPES) da Petrobras e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) da Telebrás e a criação em 1973 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Esse período também foi marcado pela criação de instituições e fundos de financiamento à ciência e à tecnologia com apoio estatal, com destaque para a criação em 1964 do Fundo de Desenvolvimento Tecnológico (FUNTEC), e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), em 1965.

Os autores destacam ainda que nas décadas de 1970 e 1980, diversos Planos Básicos de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico foram concebidos no país, porém com reduzido efeito prático. Em 1985 é finalmente criado o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), que atuou de modo bastante limitado em função das graves crises provocadas pelo regime inflacionário que se estenderam até meados da década de 1990.

De Negri e Kubota (2008) argumentam que o processo de formação de instituições, seguiu um modelo linear, onde as instituições não se voltaram para a integração do ensino e da pesquisa. A pós-graduação só ganhou impulso a partir dos anos 1970, quando então houve a política de bolsas para mestrados e doutorados, no exterior, para formação de pesquisadores. Assim o país investiu primeiro na ciência – criação da pós-graduação com apoio do CNPq, da FINEP e da CAPES; e em mecanismos de financiamento competitivo para a pesquisa científica nas universidades e nos institutos de pesquisa (CNPq, FINEP, fundações de amparo à pesquisa); mas não criou, simultaneamente, um sistema robusto de financiamento e de indução do desenvolvimento tecnológico e da inovação na empresa, o que se deveu as deficiências nas políticas industriais e tecnológicas brasileiras.