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CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2. Políticas públicas, ambiente e saúde.

2.2.1. As políticas de uso e ocupação do solo

O reconhecimento da necessidade do planejamento das cidades apareceu nos fins do século XIX, como resposta aos problemas das metrópoles industriais existentes na Europa e América do Norte (CLARK, 1985). No Brasil, de acordo com Villaça (1999), a produção do planejamento urbano pode ser dividida em três períodos:

- O primeiro, correspondente ao final do século XIX e primeiras décadas do século XX, onde os planos visavam melhoramentos relacionados à higiene pública e ao embelezamento das cidades, representando as propostas da classe social dominante;

- o segundo, do início da década de 1930 até a década de 1990, caracterizado pela ênfase técnica e pelo plano-discurso, assim

denominados os planos de cunho intelectual, sem compromissos com a viabilidade e execução, ou seja, só serviam para afirmar que se fazia; - o terceiro período, a partir da década de 1990 até os dias atuais, que surgiu como uma contraposição ao segundo período, mas que manteve e ainda mantém algumas das concepções do período anterior.

Para Bonduki (2000), o período de 1930 a 1985 corresponde à época em que o modelo central-desenvolvimentista regia as políticas públicas urbanas. Este modelo foi esboçado a partir do primeiro governo do Presidente Getúlio Vargas (1930-45) e consolidou-se no regime militar (1964-85).

Por décadas os planos diretores e de urbanização específica vêm sendo criados com o intuito de ordenar os espaços urbanos. No Brasil isto fica mais premente a partir de metade do século XX, quando o país se torna eminentemente urbano. Inicialmente eram vistos como um mero instrumento administrativo, todavia a partir da Constituição de 1988 e do Estatuto da Cidade, assumiram grande importância no planejamento das cidades e dos municípios (OLIVEIRA, 2001), passando a atuar no processo de desenvolvimento local.

Na Constituição Federal de 1988 foi incorporada a participação popular nas decisões de interesse público. A participação ativa de entidades civis e de movimentos sociais em defesa do direito à cidade, à habitação e ao acesso a melhores serviços públicos garantiu a inclusão dos artigos 182 e 183 no capítulo da Política Urbana. O Artigo 182 da Constituição Federal define o objetivo da política urbana e estabelece a obrigatoriedade do plano diretor para cidades com mais de vinte mil habitantes, como o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.

Com o Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001, os Artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988 são regulamentados e estabelecidas as diretrizes gerais da política urbana do país. Neste documento são instituídas as normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. Nele está contemplado o direito à participação da sociedade no estabelecimento da política urbana, reunindo importantes instrumentos urbanísticos, tributários e jurídicos que podem garantir efetividade ao Plano Diretor, responsável pelo estabelecimento da política urbana na esfera municipal e pelo pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana.

A Constituição Federal ressalta que é de competência fundamental do Município promover o adequado ordenamento

territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. O art.42 da Lei 10.257/2001 estabelece como conteúdo mínimo que deverá constar do Plano Diretor, a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsória, considerando a existência de infraestrutura e de demanda para sua utilização.

Em Florianópolis as leis de uso e ocupação do solo são regidas pelos Planos diretores do Distrito Sede (Lei complementar Nº 001/97) e dos Balneários (Lei Nº 2.193/85). Ambos dispõem sobre o zoneamento, o uso e a ocupação do solo no Distrito Sede e nos Balneários da Ilha de Santa Catarina. No último, os balneários são declarados como áreas especiais de interesse turístico. Ressalta-se que os planos em questão já passaram por inúmeras alterações, principalmente em relação aos zoneamentos e, foram executadas sem a participação popular, ou seja, em desacordo com o preconizado pela Constituição Federal.

Embora estes planos para o município de Florianópolis contenham mecanismos para impedir que áreas de preservação permanente5,áreas de preservação de mananciais6, áreas adjacentes aos elementos hídricos7 eáreas inundáveis8 sejam ocupadas, observa-se o

5 Lei Complementar Nº 001/97, Art. 21 - Áreas de Preservação Permanente (APP) são aquelas necessárias à preservação dos recursos e das paisagens naturais, à salvaguarda do equilíbrio ecológico, compreendendo:

I - topos de morro e encostas com declividade igual ou superior a 46,6%; II - mangues e suas áreas de estabilização;

III - dunas móveis, fixas e semi-fixas;

IV - mananciais, desde as nascentes até as áreas de captação d’água para abastecimento;

V - praias, costões, promontórios, tômbolos, restingas e ilhas; VI - áreas dos parques florestais e das reservas biológicas.

6 Lei Complementar Nº 001/97, Art. 28 Áreas de Preservação de Mananciais (APM) são aquelas destinadas à proteção dos mananciais, das nascentes e das áreas de captação para o abastecimento d’água, atual e futuro.

7 Lei Complementar Nº 001/97, Art. 29 Ás Áreas adjacentes aos Elementos Hídricos (AEH) incluem:

I - a faixa de 15 (quinze) metros nas margens dos rios que sejam flutuáveis ou navegáveis por qualquer tipo de embarcação;

II - a faixa de 15 (quinze) metros nas margens das águas correntes e dormentes; mangues e suas áreas de estabilização;

completo desrespeito a estas normas na Ilha de Santa Catarina. A ocupação de encostas íngremes, além dos riscos de deslizamentos, apresenta-se como um grande problema para o atendimento dos seus moradores por serviços públicos de saneamento adequados. A população, então, busca soluções alternativas, individuais ou coletivas,

que nem sempre respondem de forma adequada. Parte das comunidades que vivem nestes espaços integram as áreas de interesse social, delimitadas pela Secretaria Municipal de Habitação e Saneamento Ambiental como uma das etapas para o desenvolvimento do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social. A construção deste plano é condição básica para adesão ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, regulamentado pela Lei Federal nº 11.124 de junho de 2005.

Conforme determinado no Estatuto da Cidade, Florianópolis vem trabalhando na construção do Plano Diretor Participativo desde 2006. Iniciou-se com a criação do Núcleo Gestor do Plano Diretor Participativo e dos núcleos distritais que em encontros, debates e oficinas discutiram os problemas e as necessidades locais para melhorar o ambiente e com isso a qualidade de vida. Estas reuniões geraram demandas e diretrizes que foram sintetizadas e orientam o modelo do Plano Diretor Participativo. Devido a divergências entre as demandas propostas pelas comunidades e as macro-diretrizes que compõem a proposta do plano, apresentado em audiência pública, o mesmo ainda não foi aprovado e ainda é motivo de discussões, embora tenha se esgotado o prazo para sua entrega de acordo com a lei. No primeiro semestre de 2012 reiniciaram as reuniões nas comunidades com o objetivo de discutir o assunto e encaminhar o plano para sua aprovação final. Salienta-se que em 2006, já havia esgotado o prazo para que os municípios apresentassem os seus planos diretores e Florianópolis estava apenas iniciando o processo de elaboração.