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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 1 APRESENTAÇÃO

1.2. Justificativa da temática

O município de Florianópolis tem sua economia baseada nas atividades do comércio, na prestação de serviços públicos, no turismo e na maricultura. Esta última é uma atividade econômica que tem crescido nos últimos anos. O município de Florianópolis em 2011 foi responsável por 76% do total da produção de ostras (Crassostrea gigas) cultivadas em Santa Catarina. Do montante, somente o Ribeirão da Ilha produziu 61,75% (EPAGRI, 2012). Nas Baías Norte e Sul, situadas a oeste da Ilha de Santa Catarina, a ostra encontrou ambiente favorável para se desenvolver, e Florianópolis é hoje conhecida como a “Capital Nacional da Ostra”. Possui núcleos de produção situados junto às localidades de Sambaqui e Santo Antônio de Lisboa, na Baía Norte; Distrito de Ribeirão da Ilha e áreas próximas dentro da Baía Sul. Nestas baías, com acesso pelo continente, há outros locais produtores, como os da Enseada do Brito, Praia do Sonho e Biguaçu. Segundo a EPAGRI (2012, p. 4), estas Baías “são responsáveis por 96,1% da produção estadual de ostras cultivadas”.

Em relação aos recursos hídricos, além dos rios Alto Ribeirão, Ribeirão do Porto, no Distrito do Ribeirão da Ilha, há outros situados ao longo da orla da Ilha, desaguando nas Baías Norte e Sul, e também no oceano, lagunas e lagoa a Leste, cujas águas são utilizadas tanto para consumo doméstico, quanto para diluição dos efluentes domésticos e comerciais. O rio Tavares, cujo deságue também ocorre na Baía Sul, tem as suas águas utilizadas para os mais variados fins, entre eles destaca-se: consumo, recreação de contato primário e secundário, dessedentação de animais e diluição dos efluentes. No estuário do baixo curso deste rio dominado pelo manguezal há atividade extrativa de crustáceos e moluscos e pesca artesanal de peixes. Em um dos afluentes desse rio, no alto curso, a CASAN tem uma estação de captação e “tratamento” de água para o abastecimento da população dessa bacia. O afluente utilizado possui área de contribuição de 2,80 km² com uma vazão média de captação de 20 l/s. Destaca-se que o tratamento da água é simplificado e conta apenas com a adição de hipoclorito de sódio e flúor (ARAÚJO, 1993; CASAN, 2008). Ao longo da Baía Norte, também os rios que nela deságuam são utilizados para os fins citados. Além dos mananciais mencionados, a CASAN ainda utiliza outros para o abastecimento de água, tais como córregos situados na Bacia hidrográfica da Lagoa da Conceição; na Bacia do rio Itacorubi, como o rio Ana D' Ávila ou Córrego do Itacorubi e o manancial Córrego Grande; os rios Pau do Barco, do Mel e Córrego do Meiembipe em Saco Grande. Cabe ressaltar que os tratamentos utilizados são os mesmos dados às águas do rio Tavares, ou seja, aplicação de hipoclorito de sódio e flúor. Neste caso, dependendo da forma como a população está usando estes córregos e o seu entorno, o tratamento utilizado pode não responder aos padrões de qualidade exigidos, e comprometer a saúde de quem os utiliza. Assinala-se que somado ao abastecimento da CASAN, há em praticamente todos os Distritos da Ilha sistemas alternativos de fornecimento de água individuais e coletivos. A qualidade da água distribuída pelos sistemas alternativos coletivos já cadastrados é monitorada pela Vigilância Municipal em Saúde de forma mais sistemática desde 2009.

a) não atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias;

b) valor obtido na última amostragem superior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 2000

Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 mililitros;

c) incidência elevada ou anormal, na Região, de enfermidades transmissíveis por via hídrica, indicada pelas autoridades sanitárias;

d) presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive esgotos sanitários, óleos,graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação; e) pH < 6,0 ou pH > 9,0 (águas doces), à exceção das condições naturais;

f) floração de algas ou outros organismos, até que se comprove que não oferecem riscos à saúde humana;

g) outros fatores que contraindiquem, temporária ou permanentemente, o exercício da recreação de contato primário.

A poluição com contaminantes das águas dos rios põe em risco as águas marinhas costeiras e as atividades econômicas nelas realizadas. A coleta de moluscos, especialmente o berbigão, é efetuada ao longo das Baías Norte e Sul, nas bordas dos Manguezais da Tapera e na Tapera do Ribeirão; ao longo da Via Expressa Sul no manguezal do rio Tavares que pertence à Reserva Extrativista Costeira do Pirajubaé; e no Manguezal do Ratones, no Pontal da Daniela, em área da Estação Ecológica Carijós. Entre as características dos moluscos, com interesse para a determinação dos poluentes e seus efeitos, destaca-se a de bioacumulação, por isso eles são utilizados como bioindicadores de poluição ambiental. De acordo com Jimenez et al. (1990), caso ocorram distúrbios no meio ambiente devido à presença de xenobióticos, isto se refletirá no organismo como uma perturbação comportamental, fisiológica, bioquímica ou estrutural. Assinala-se que as áreas de cultivo de moluscos no entorno da Ilha estão situadas nas baías Norte e Sul, nas quais a população próxima, tanto na área insular quanto continental, não possuem sistema de coleta e tratamento de esgotos ou quando tem, o sistema não atende a totalidade da mesma. Assim, as águas são poluídas com os seus dejetos, e, portanto, colocam em risco a saúde de quem consome estes moluscos, porque possibilita a contaminação dos seres humanos.

A forma diferenciada como ocorre a distribuição das doenças de veiculação hídrica nas várias localidades da Ilha de Santa Catarina, indicou que existem fatores que determinam ou condicionam a maior

ocorrência destes agravos em algumas localidades do que em outras. Entre os agravos de veiculação hídrica que mais ocorrem estão as diarreias e gastroenterites, amebíases, giardíases, parasitoses intestinais e doenças de pele, tais como as dermatofitoses, o impetigo e a escabiose, por isso serão interesse de análise nesta pesquisa. Diante do exposto, as questões a seguir nortearam o trabalho para determinar por que as doenças de veiculação hídrica ocorrem de forma diferenciada nas diversas localidades da Ilha:

Quais são os fatores que concorrem para a maior prevalência destas doenças nas quatro localidades selecionadas?

O grau de aderência da população aos serviços públicos de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos influencia na ocorrência das doenças?

O fato de parte das comunidades utilizarem fontes alternativas coletivas ou individuais de abastecimento de água é fator determinante para a ocorrência das doenças daquelas localidades?

A ausência ou inadequação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário nestas áreas causa impactos na saúde que concorrem de forma diferenciada para a incidência destas doenças?

A comparação da distribuição geográfica das ocorrências nas diferentes áreas permite identificar quais são os fatores que exercem influência na produção das mesmas, de modo a subsidiar políticas públicas mais adequadas às realidades existentes?