• Nenhum resultado encontrado

A ILHA DE SANTA CATARINA E AS ÁREAS DE ESTUDO: CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL.

Neste capítulo apresenta-se um panorama da Ilha de Santa Catarina em relação aos seus aspectos naturais e a forma como se processou a ocupação humana. Expõe-se um diagnóstico da situação do abastecimento de água e esgotamento sanitário e da organização dos serviços públicos municipais de saúde. Em particular, em quatro áreas de abrangência dos Centros de Saúde de Saco Grande, Costeira do Pirajubaé, Armação do Pântano do Sul e Barra da Lagoa faz-se uma análise aprofundada da infraestrutura de habitação e saneamento, e em especial, do histórico do abastecimento de água destas localidades. No que se refere a este último, apresentam-se os sistemas alternativos de abastecimento de água existentes nas respectivas localidades com a caracterização de cada um. Descrevem-se os tipos de tratamentos utilizados por estes sistemas, população atendida, localização das fontes de abastecimento e os riscos que os tipos de tratamento utilizados oferecem à saúde da população.

4.1. Aspectos Naturais

Geomorfologicamente, a Ilha de Santa Catarina está inserida em dois domínios: a Unidade Serras do Leste Catarinense e a Unidade Planície Costeira (HERMANN & ROSA, 1991)17. A primeira é caracterizada por elevações sobre formações rochosas cristalinas do Pré- Cambriano Superior, predominantemente. As elevações constituem de acordo com Cruz (1998) o maciço costeiro, formado por dois setores, Sul e Centro-Norte. O primeiro alonga-se numa dorsal central de direção sul-norte, com o ponto mais alto representado pelo Morro do Ribeirão com 519 metros (CRUZ, 1988). O segundo setor é formado pela dorsal central de direção SSW-NNE. A segunda unidade do relevo é constituída pelas planícies costeiras formadas pela deposição de sedimentos marinhos, praiais, eólicos e fluvio-marinhos associados aos movimentos de transgressão e regressão do nível relativo do mar, ocorridos no Quaternário (Pleistoceno e Holoceno). Conforme Caruso Jr. (1993) estes dois tipos de terrenos estão representados por depósitos continentais de encosta e depósitos quaternários marinhos transicionais e eólicos.

A face oeste da Ilha, limitada pelas águas das Baías Norte e Sul, é mais recortada com enseadas ou sacos, e suas planícies são drenadas por rios com pequenos estuários nos respectivos baixos cursos ladeados e marcados por manguezais. Destacam-se o manguezal de Ratones, no Norte da Ilha e o do Rio Tavares, no Sul, considerados os maiores da Ilha.

Na face leste, as planícies são margeadas por praias, e apresentam cordões de dunas e de restingas que isolam lagoas e depressões úmidas (CRUZ, 1998). Entre as lagoas, destacam-se: Lagoa (Laguna) da Conceição, Lagoa do Peri, Lagoinha Pequena, Lagoinha do Leste (laguna) e Lagoa da Chica. Neste setor, a maioria das planícies “é em geral ligada à ocorrência de terraços marinhos mais elevados, antigos e dissecados, por vezes recobertos com dunas antigas, representando antigas enseadas” (CRUZ, 1988, p. 68).

Em decorrência das características geológicas e da ação do clima, a Ilha de Santa Catarina apresenta variedade de solos. De acordo com o mapeamento temático de Florianópolis (FLORIANÓPOLIS, 1991), nas encostas das elevações são encontrados os argissolos ou solos podzólicos, de textura areno argilosa a argilosa. Estes solos são considerados frágeis quando desflorestados, ficando, portanto, sob risco de erosão. Nas planícies costeiras são encontradas as areias quartzosas praiais e eólicas entremeadas por gleissolos de textura argilosa e organossolos. Os gleissolos são encontrados nas planícies dos principais rios da Ilha, como nas localidades de Ratones, Saco Grande, Itacorubi, Rio Tavares e Alto Ribeirão. Na área de manguezais desenvolvem-se os solos indiscriminados de mangue (FLORIANÓPOLIS, 1991).

Rego Neto e Lima Jr (2010, p.5) apresentaram o mapeamento das áreas inundáveis na Ilha considerando os compartimentos geoambientais (HERMANN, 1999) e estabeleceram cotas respectivas para estas situações. No mapeamento, os autores utilizaram a cota de 2 metros para a categoria planície de maré, na qual incluíram “as áreas que sofrem a atuação das marés altas e quando associadas a chuvas intensas ocorrem inundação”. Para a planície lacustre adotaram a cota de 1 metro, elevando a mesma até 3 metros nos períodos de chuvas prolongadas. Nas áreas ao longo das margens dos rios ou na planície, os autores estabeleceram a cota de 2 metros. Assinala-se que este tipo de mapeamento é importante, principalmente do ponto de vista da saúde pública. Conforme verificado por Cesa (2008) e ao longo desta tese, as áreas sujeitas às inundações e alagamentos oferecem riscos por condições insalubres, sobretudo quando há a sua ocupação sem os serviços de esgotamento sanitário e drenagem adequada.

O clima do município é do tipo Subtropical Mesotérmico Úmido com verões quentes e invernos amenos. Recebe influência da massa de ar quente e úmida (Massa Tropical Atlântica) e das Massas continentais (quente) e Massa Polar Atlântica (fria). As temperaturas médias oscilam entre 20,4º, com as médias mais quentes registradas em janeiro (24,5º) e as mais baixas em julho (16,5º) (MENDONÇA, 2002). As chuvas são bem distribuídas ao longo do ano (Quadro 8). Os meses mais chuvosos no período 2002-2009 foram novembro, dezembro e janeiro, e 2008 foi o ano que registrou a maior precipitação com 2.817,10 mm e o maior número de dias chuvosos, correspondente a 170 dias (Quadro 9). No período analisado, os meses mais secos corresponderam a junho, julho e agosto. Em relação às doenças de veiculação hídrica, os períodos chuvosos representam um risco adicional para a população, pois com o escoamento superficial difuso sobre as encostas das elevações todos os dejetos dispostos na superfície dos terrenos são carreados para as áreas mais baixas, e mesmo para dentro dos quintais e casas. A situação se agrava ainda mais nas áreas com baixa cobertura por sistemas de coleta e tratamento de esgotos, com reflexos negativos na balneabilidade das praias e aumento dos riscos para à população residente e também para a flutuante.

Quadro 8– Precipitação mensal absoluta em Florianópolis (2002 a 2009), em mm.

Fonte: Epagri/Ciram (2011)18