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IV a faixa de 33 (trinta e três) metros ao longo da orla marítima e das margens

2.3. Plano Municipal de Saúde

2.4.1. Ocupação humana e qualidade da água

O processo de urbanização da superfície terrestre é destacado por Paul e Meyer (2001) como uma ameaça para os ecossistemas dos rios, com efeitos devastadores sobre a qualidade das águas e a vida nos mesmos e ao ambiente como um todo. Estes autores assinalam o aumento da área de impermeabilização dos solos como um dos efeitos mais marcantes nas mudanças na hidrologia e geomorfologia fluvial, uma vez que diminui a capacidade de infiltração das águas de chuvas e aumenta o escoamento superficial. Mencionam que a partir de um aumento de 10-20% da área de impermeabilização do solo, o escoamento superficial aumenta o dobro; de 35-50% o triplo e de 75- 100%, aumenta em mais de cinco vezes do que em áreas florestadas, e atribuem o início de degradação de córregos a um índice de cobertura do solo de 10 a 20%. No entanto, cabe lembrar que estes índices podem ser alterados, em virtude da existência ou não de infraestrutura de drenagem e de esgotamento sanitário.

Paul e Meyer (2001) acrescem que os efeitos químicos da urbanização variam mais do que os efeitos hidrológicos e geomórficos e estão relacionados ao grau e tipo de uso da superfície da terra. Com a urbanização há um aumento em quase todos os componentes químicos e biológicos presentes nas águas de rios urbanos, gerando problemas mais expressivos na demanda de oxigênio, condutividade, sólidos suspensos, amônia, hidrocarbonetos e metais. Em geral, são detectadas maiores concentrações de fósforo, além de outros contaminantes orgânicos, tais como bifenil policlorado (PCB), hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), à base de petróleo e hidrocarbonetos alifáticos. A maior parte da poluição dos oceanos é produzida em terra pelas atividades humanas, como a urbanização, a agricultura, o turismo, o despejo de esgoto não tratado e dejetos industriais e, os rios são as principais vias de transportes de todos estes materiais.

Devido às atividades humanas, a água pode adquirir uma série de impurezas durante a sua movimentação nos diferentes estágios do ciclo hidrológico. “A sua presença é indissociável de substâncias estranhas, presentes em solução e/ou em suspensão […], circunstância essa que afeta necessariamente as suas características e as suas capacidades potenciais de utilização, para os diferentes usos possíveis” (MENDES E OLIVEIRA, 2004, p. 60). Para estes autores, definir se a água está poluída ou não é uma situação complexa, tanto do ponto de vista técnico-científico quanto jurídico, diante da variabilidade e diversidade

de situações possíveis. Fazem distinção entre a poluição e a contaminação da água, atribuindo esta última quando existe a presença de organismos patogênicos que inviabilizam o seu uso direto. Mota (1995) afirma que o ser humano contamina-se com o uso da água quando a poluição do recurso hídrico é suficiente para levar prejuízos à saúde do homem, e pode ser um importante meio de transmissão de doenças, por meio das chamadas Doenças de Veiculação Hídrica. Para Mendes e Oliveira (2004) o problema do comportamento dos poluentes varia em função da natureza, da quantidade, do organismo-alvo e do contexto ambiental em que a ação se insere, além dos limites do rigor analítico disponível para a sua determinação. Atribuem este fato ao grande número de substâncias existentes na natureza derivadas da atividade produtiva do ser humano, especialmente após o desenvolvimento da indústria química e biotecnológica. Esses autores acrescentam que como muitas destas substâncias não foram estudadas de forma eficaz e sistemática, dificultam a identificação e a quantificação dos efeitos diretos e indiretos da sua presença na água.

As características da água podem ser agrupadas em três categorias: físicas, químicas e biológicas, em decorrência de uma série de processos que ocorrem no corpo hídrico, no ciclo hidrológico e na bacia hidrográfica, como consequência da dissolução de um grande número de substâncias e do transporte pelo escoamento superficial e subterrâneo (MOTTA, 1995; LIBÂNIO, 2005).

As características físicas correntes dizem respeito ao aspecto estético ou organoléptico12 da água e incluem cor, turbidez, sabor e odor. As características químicas referem-se aos valores quantitativos e qualitativos de certas substâncias que podem ou não ser nocivas além de determinados limites, considerados a partir da análise do pH, dureza, salinidade, alcalinidade, compostos de nitrogênio, cloretos, fluoretos, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio (DBO5), demanda química de oxigênio (DQO), matéria orgânica, substâncias radioativas, elementos químicos metálicos e compostos tóxicos (MOTTA, 1995; LIBÂNIO, 2005).

As características biológicas estão relacionadas aos micro- organismos encontrados na água, dentre os quais podem estar incluídos os tipicamente aquáticos e também aqueles introduzidos por meio de

12 Organolopético: característica que pode ser percebida pelos sentidos humanos, como: cor, paladar, odor e textura.

uma contribuição externa, mesmo que seu tempo de vida na água seja temporário (MOTTA, 1995; LIBÂNIO, 2005).

Estas características são indicadas por meio da análise dos diversos micro-organismos que se encontram no meio aquático. Alguns destes organismos são bactérias, vírus e protozoários patogênicos que são introduzidos junto com matéria fecal, provenientes do contato da água com o ar, o solo, animais ou plantas em decomposição. Para medir o grau deste tipo de poluição são utilizadas as bactérias do grupo coliforme, encontradas em grandes quantidades nas fezes (MOTA, 1995; LIBÂNIO, 2005). Assinala-se que após as chuvas, aumenta consideravelmente a densidade destas bactérias nos rios, principalmente quando a rede pluvial é utilizada para descarte dos esgotos sanitários (PAUL e MEYER, 2001).

Assim, a utilização deste recurso quando poluído, pode torná-lo fonte de transmissão de doenças. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, por meio da Lei Nº 6.938 de 31/08/1981, artigo 3º, inciso III, a poluição pode ser definida como:

A degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem- estar da população.

b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas.

c) Afetem desfavoravelmente a biota.

d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente.

e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Os valores máximos de impurezas permitidas na água são estabelecidos em função dos usos a ela atribuídos. No Brasil, apenas nos meados dos anos 80 é que começaram a ser elaboradas as legislações concernentes à qualidade da água. É o caso da Resolução do CONAMA Nº 20 de 18 de junho de 1986, substituída pela Resolução Nº 357 de 17 de março de 2005. Segundo esta, as águas são classificadas em doces, salobras e salinas, que são divididas em classes, para as quais são estipulados os usos e os padrões de qualidade requeridos. Entre outras definições, esta resolução considera águas doces as que apresentam salinidade igual ou inferior a 0,5 %, águas salobras as com salinidade entre 0,5 e 30% e águas salinas aquelas com salinidade igual ou superior

a 30 %. O controle da qualidade da água para consumo humano atualmente é estabelecido pela Portaria MS Nº 2.914 de 12 de dezembro de 2011, por meio de procedimentos e responsabilidades. Entre outras providências, define a quantidade e a frequência mínima para a coleta de amostras de água para a sua qualificação, os parâmetros a serem analisados e os limites mínimos e máximos de substâncias químicas e microorganismos permitidos. Estabelece no seu art.12, incisos I e II que é de competência das Secretarias Municipais de Saúde a execução da vigilância da qualidade da água em sua área de competência, em articulação com os responsáveis pelo controle de qualidade da água para consumo humano e, que a execução das ações estabelecidas no VIGIAGUA deve considerar as peculiaridades regionais e locais, nos termos da legislação do SUS. No inciso VII do mesmo artigo, a Portaria estabelece que o município deve construir mecanismos de comunicação e informação com os responsáveis pelo sistema de abastecimento de água, ou sistema alternativo coletivo, sobre os resultados das ações de controle realizadas.

Conhecer e monitorar a procedência e a qualidade da água consumida pela população atende ao princípio da precaução, o qual postula que antes que males maiores aconteçam, deve-se agir no sentido de preveni-los (MELIM, 2008). A água límpida não é sinal de água limpa, e ela pode ser veículo para vírus, bactérias e protozoários causadores de muitas enfermidades graves ao ser humano. Por isso, nesta pesquisa se dá ênfase às doenças de veiculação hídrica de origem biológica, adquiridas pela água de consumo e de recreação que ainda são causas de internações hospitalares e de muitos dos atendimentos realizados nos Centros de Saúde de Florianópolis.