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1.2 – As Políticas Públicas no Programa Brasil Alfabetizado

Na última década, o Brasil vem reconstruindo as instituições democráticas e, nesse processo, a educação tem um papel a cumprir com relação à consolidação da democracia no país. Um grande número de pessoas ainda não tem acesso a informações necessárias para fazer sua opção política de forma mais consciente. Além disso, os longos anos de autoritarismo que marcaram a nossa história desafiam a educação a desenvolver atitudes e valores democráticos. É preciso ter em mente que a democracia não se esgota na eleição de representantes para os Executivo e Legislativo, ela deve implicar também a possibilidade de maior participação e responsabilidade em todas as dimensões da vida pública.

Sendo assim, para participar politicamente de uma sociedade complexa como a nossa, uma pessoa precisa ter acesso a um conjunto de informações e pensar uma série de problemas que extrapolam suas vivências imediatas e exigem o domínio de instrumentos da cultura letrada. Um regime político democrático, como sabemos, exige ainda que as pessoas assumam valores e atitudes democráticas, ou

seja: a consciência de direitos e deveres, a disposição para a participação, para o debate de idéias e o reconhecimento de posições diferentes das suas.

Freire, conforme Gadotti e Romão (2007), já travava uma luta política em função de sua ideologia e prática política, uma vez que, para ele, enquanto os países e os governos iam se transnacionalizando8 mais e mais, adequando-se a contínuas lutas e reacomodando-se internacionalmente ao sistema do capitalismo mundial, é no nível das municipalidades, é no nível local que, para Freire, a luta política adquire novas dimensões. Graças a ele, programas de incentivo à alfabetização de jovens e adultos surgiram como forma de minimizar o índice de analfabetismo no Brasil.

Hoje, como já vimos anteriormente, já faz parte das Diretrizes Curriculares Nacionais a Educação de Jovens e Adultos que tem por base a Constituição Federal de 1988 no capítulo dedicado à família, à criança, ao adolescente e ao idoso, havendo também inúmeras referências aos jovens e adultos no capítulo destinado à Educação. Essas diretrizes já buscam uma política integrada: MEC, UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), CONSED (Conselho Nacional de Secretários de Educação), o Ministério do Trabalho, ONGs (Ação Educativa, Centro Paulo Freire, etc.) órgãos que, por sua vez, têm realizado articulações importantes, principalmente por acumularem conhecimento significativo na elaboração e na concretização de propostas de atuação, no campo da EJA, como a ajuda das universidades, não apenas no que se refere à extensão, mas numa efetiva articulação desta com o ensino e a pesquisa.

No relatório-síntese do Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos (ENEJA/Rio9), segundo Soares (2002), as proposições deliberadas na plenária do encontro, no que tange às políticas públicas, têm como plano a formulação imediata de uma política pública multissetorial para a EJA, destacando o papel do MEC como indutor de políticas educacionais, adotando como metodologia as discussões em âmbito estadual, regional e nacional, realizadas em fóruns representativos dos educadores e de entidades envolvidas com a área, à semelhança do processo preparatório à V CONFINTEA (Conferência Internacional de Educação de Jovens e Adultos).

8 Fenômeno percebido a partir dos anos 60; as filiais das empresas multinacionais superaram, em valor de

Nesta CONFINTEA, foi assumido, como meta, trabalhar-se na ampliação do conceito de EJA, no âmbito das culturas brasileira e latino-americana, que propõem EJA na perspectiva da educação continuada e do direito que tem toda pessoa, de aprender ao longo da vida. Sendo, portanto, incluída a educação formal, a educação não-formal e o espectro da aprendizagem informal e incidental disponível numa sociedade multicultural, onde os estudos baseados na teoria e na prática devem ser reconhecidos.

A V CONFINTEA, neste sentido, utiliza uma concepção ampliada de formação de pessoas adultas a qual compreende uma variada gama de processos formais e informais de aprendizagem e educação continuada, passível de ser adquirida ao longo da vida. Faz, além disso, com que as práticas de avaliação educacional compreendam não só os programas de educação escolar de jovens e adultos, mas todas as atividades socioculturais, de formação para a cidadania, qualificação e atualização para o trabalho e geração de renda, promovidos por órgãos governamentais e não governamentais.

Essa base comum, embora não garanta seu cumprimento, permite que se possa partir dela para se formular e avaliar programas existentes. A falta de uma orientação básica pode propiciar e evidenciar mais ainda as divergências regionais brasileiras. Uma vez que regiões mais assessoradas pedagogicamente, tanto por terem nas Secretarias de Educação profissionais especializados, como por receberem a assessoria de pesquisadores de instituições de ensino superior, teriam condições de apresentar propostas de ensino atualizadas e adequadas, enquanto outras, por não disporem desses profissionais, nem de assessores, poderiam oferecer alternativas de ensino deficitárias. Junte-se a este, o fato de haver regiões que oferecem melhores condições de trabalho.

Neste sentido, é viável a criação de uma política de incentivos para a inserção dos jovens e adultos no mundo da leitura e da escrita, estimular o trabalho de integração entre a prática e a teoria no processo de alfabetização. Enfim, ampliar e aperfeiçoar a alfabetização em programas que buscam a erradicação do analfabetismo, havendo necessidade de políticas públicas efetivas para que se tenham também ações efetivas. O domínio da língua materna é imprescindível para tornarem os jovens e adultos conscientes do seu papel na sociedade. Um cidadão letrado é o primeiro passo para o desenvolvimento eficaz da educação, economia, cultura, sociedade e política de um país.

É fundamental compreender o alcance que a escrita e a leitura têm para os sujeitos e o que significa para tais pessoas ler e escrever. Para isso, faz-se necessário uma política de atendimento para todos, o que requer a ampliação de vagas e distribuição de recursos para todas as faixas etárias, sem discriminação, complementada por políticas de formação, pesquisa etc.

Uma política de alfabetização, voltada para as práticas sociais de usos da leitura e da escrita, representa um avanço em relação à situação atual se garantir investimentos significativos no ensino, principalmente, nos programas emergenciais de alfabetização para jovens e adultos. Visto que, nas condições sociais atuais, uma política nacional de alfabetização só poderá obter algum sucesso, como afirmam Gadotti e Romão (2007), se estiver vinculada a um projeto político-econômico que supere as causas sociais que produzem e mantêm o analfabetismo.

É possível ver, ainda, que os tempos são outros, já há um largo período histórico durante o qual os brasileiros constituíram uma singular experiência política. Hoje, o cidadão já tem novas perspectivas de vida. O acesso às informações se tornou mais fácil e ele já se considera fator prepoderante na construção de um país consciente.

Vale a pena destacar ainda que as medidas tomadas pelas políticas públicas interferem de uma maneira direta no cotidiano escolar de uma turma de EJA, por isso são necessárias ações mais eficazes para que a EJA possa se desenvolver. Apesar da EJA possuir algumas garantias, estabelecidas pela Constituição Federal, ainda não temos, na prática, a concretização dessas garantias. Uma vez que persiste a falta de financiamento prejudicando o desenvolvimento dessa modalidade de ensino, fazendo, muitas vezes, com que a sociedade civil assuma uma responsabilidade que deveria ser do poder público. Sendo assim, é fundamental conhecer melhor como são elaboradas e quais as intenções implícitas e explícitas contidas nos textos que tratam das políticas e temos, também, que observar os contextos sócio-histórico e cultural em que se realizam essas políticas. Sabe-se, portanto, que, no Brasil, a cada troca de governo tem-se a troca de diversas ações que ora estavam em curso.

Podemos, assim, considerar que as políticas públicas não surgem como remédio para todos os males, mas como conquista que se impõe como resultado de uma realidade vergonhosa diante da sociedade contemporânea e do mundo globalizado. Ainda, que se fazem necessárias políticas públicas efetivas e eficazes

para que a EJA possa se desenvolver, pois o acesso, ingresso, permanência e conclusão dos estudos desse grande contingente de excluídos do nosso país precisa ser levado a sério.

A participação da sociedade como um todo para incidir sobre as desigualdades educativas e a ajuda de todos se faz importante. Porém, dando a cada instância o papel que lhe cabe, para que esses programas voltados à EJA não se tornem reféns de uma situação que, durante décadas, fez desse assunto um discurso político rentável e desconectado de compromissos reais.