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1.1 – Programa Brasil Alfabetizado: construindo uma história

Criado pelo Ministério da Educação, em parceria com a UNESCO, no governo do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 23 de Abril de 2003, há mais de sete anos, o Programa Brasil Alfabetizado, conforme o MEC, tem como objetivo abolir o analfabetismo no Brasil. Isto se deu devido a um cenário de 30 milhões de analfabetos funcionais maiores de 14 anos.

O que sabemos, na realidade, é que o problema de analfabetismo está presente no Brasil há muitos anos. Na verdade, é preciso que haja realmente um interesse público, ou privado, de erradicar o analfabetismo, uma vez que já existiram diversas ações que buscaram o acesso dos cidadãos à educação e mesmo assim temos ainda níveis extremamente altos de analfabetismo.

Em janeiro daquele ano (2003), o Ministério da Educação anunciou que a alfabetização de jovens e adultos seria uma prioridade da nova administração, criando a Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo (SEEA). Esta Secretaria tinha a meta de erradicar o analfabetismo durante o mandato de quatro

anos, em ritmo mais acelerado que o estabelecido pelo Plano Nacional de Educação, alfabetizando jovens e adultos num período de seis meses. Para cumprir essa meta, a SEEA lançou o Programa Brasil Alfabetizado, por meio do qual o MEC contribuiria financeiramente com órgãos públicos estaduais e municipais, instituições de ensino superior e organizações sem fins lucrativos que desenvolvessem ações de alfabetização. O Programa também tem como meta o incentivo à leitura e à difusão de livros para recém alfabetizados.

O governo definiu o Brasil Alfabetizado como uma campanha plural, que acolhe toda sorte de iniciativas já em andamento e uma diversidade de metodologias de alfabetização. Neste sentido, representantes de várias instituições e segmentos sociais têm assento, conforme MEC, no Conselho Nacional de Alfabetização, uma vez que compete ao Conselho formular e avaliar a política nacional de educação, zelar pela qualidade do ensino, velar pelo cumprimento da legislação educacional e assegurar a participação da sociedade no aprimoramento da educação brasileira.

Cabe, ainda, ao Conselho e as Câmaras exercerem as atribuições conferidas pela Lei 9.131/95, emitindo pareceres e decidindo privatizar e, autonomamente, decidir sobre os assuntos que lhe são pertinentes, cabendo, no caso de decisões das Câmaras, ao Conselho Pleno.

O PBA tem como público alvo todo e qualquer cidadão analfabeto que possua 15 anos ou mais. O intuito, conforme decreto, é dar possibilidade de todos os cidadãos terem acesso à cidadania por meio da educação. Nesse contexto, pode-se afirmar que o objetivo central do Programa é universalizar a educação, uma vez que é desenvolvido em todo território nacional, com atendimento prioritário a municípios que apresentam os piores índices relacionados à taxa de analfabetismo.

A determinação desses municípios e índices se dá com base no censo demográfico de 2000, realizado pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados do IBGE se contrapõem a outros estudos divulgados por organizações não-governamentais, ou seja, o censo de 2000 expõe somente o número de 16 milhões de pessoas. Já em outras pesquisas, (ONGs como: Ação Educativa, Alfabetização Solidária6), conforme Haddad e Di Pierro (2000) apontam, há um somatório de aproximadamente 30 milhões de analfabetos

6 O Programa Alfabetização Solidária (PAS) foi criado em 1996 com a finalidade de combater o analfabetismo

existente em muitos municípios do Brasil. O programa está caracterizado na evolução espaço temporal, pelas parcerias das Prefeituras Municipais, Instituições de Ensino Superior, Empresas e administração do PAS (transformado em ONG no ano de 1998 com o nome de Alfasol).

no Brasil, dados, portanto, considerados alarmantes. Essas divergências se dão em decorrência do conceito utilizado por ambos na definição de analfabeto.

Para o IBGE, todo e qualquer indivíduo que consiga ler ou escrever um bilhete simples, de algumas poucas palavras, saiba escrever seu nome completo, já não é mais considerado como analfabeto. Mesmo considerando que suas habilidades de leitura e escrita são extremamente insuficientes.

Além dos programas produzidos com recursos do MEC, entidades, ONGs e a sociedade também realizaram projetos de alfabetização, totalizando, segundo o MEC, 3,2 milhões de pessoas atendidas em 2003.

Em 2004, o programa passou a contemplar novos critérios que se referiam à ênfase na qualidade e maior aproveitamento de recursos públicos, tendo como inovações do programa: a ampliação do período de alfabetização de seis para até oito meses; aumento de 50% nos recursos para a formação dos alfabetizadores; estabelecimento de um piso para a bolsa do alfabetizador, aumentando a quantidade de turmas em regiões com baixa densidade populacional e em comunidades populares de periferias urbanas; implantação de um sistema integrado de monitoramento e avaliação do programa, dentre outros. A meta seria atender, neste mesmo ano, 1,650 milhões de alfabetizandos com financiamento direto do MEC. No entanto, foram atendidos 1,7 milhão de jovens e adultos.

Devido à mobilização que o MEC fez junto a secretários de educação e prefeitos e com o apoio da mídia, o Programa Brasil Alfabetizado, em 2005, provocou um crescimento de parceiros, passando de 331 para 590, aumentando, também, a quantidade de alunos em algumas regiões. A meta para 2005 era atender cerca de 2,2 milhões de brasileiros, havendo, através dos dados fornecidos pelo Portal do MEC, gradativamente, um crescimento significativo das ações e implementações do programa.

Este trabalho, de fixação de metas, que vem sendo desenvolvido pelo programa, ano a ano, tem sido norteado em função do acordo assinado pelo Brasil durante a Conferência Mundial de Educação realizada no de 2000 em Dacar. Neste acordo, o Brasil efetuou um compromisso de reduzir pela metade, até no de 2015, a taxa de analfabetismo.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)7, a taxa de analfabetismo do Brasil entre pessoas de 15 anos ou mais caiu 10% para 9,7% entre 2008 e 2009, a quinta queda consecutiva. No entanto, mesmo com a queda este percentual ainda representa um volume grande em números absolutos, somando 14,1 milhões de analfabetos no país em 2009, a maioria, concentrada entre homens, maiores de 25 anos e localizados na Região Nordeste. Tendo em vista este contexto, é preciso ainda repensar sobre estes dados estatísticos, já que o índice ainda é muito grande, requerendo medidas urgentes e eficazes para diminuir este quadro.

Conforme o PNAD, enquanto a previsão para 2010 é de 100% de matrículas no Ensino Fundamental de 9 anos, o atendimento em EJA ficou distante do esperado. Vejamos o quadro:

Como podemos verificar, entre 2001 e 2007, 10,9 milhões de pessoas fizeram parte de turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) (veja o gráfico anterior). Parece muito, mas representa apenas um terço dos mais de 29 milhões de pessoas que não chegaram à 4ª série e seriam o público-alvo dessa faixa de ensino. Ainda resta, portanto, muito caminho pela frente a fim de que a EJA se efetive como uma educação permanente a serviço do pleno desenvolvimento do educando. É preciso mais investimentos, cobranças dos resultados, um melhor direcionamento nas práticas pedagógicas, o reconhecimento como uma modalidade de ensino que

assegure ao aluno sua permanência e qualificação, investindo no professor- alfabetizador etc.

No entanto, podemos considerar, com relação ao que se fazia antes, que vive-se hoje um momento de revitalização de propostas e projetos na área de EJA, com a participação de movimentos sociais, organizações não-governamentais e universidades.

Assim, acreditamos que os Programas de EJA precisam desenvolver projetos de alfabetização em que o aluno desenvolva autonomia em relação à leitura e à escrita, uma vez que defendemos uma prática de ensino que alfabetize letrando e, para isso, é fundamental que o professor tenha conhecimento das propostas apresentadas para que, na sala de aula, ele possa dar conta desta concepção de alfabetização. É necessário que se invista em políticas públicas que efetivem esse saber para o professor e para o aluno.