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CAPÍTULO III DA ESTANTE A PÁGINA: A BIBLIOTECA DO GABINETE DE

3.3 As preferências de leituras

Iniciando-se com o catálogo de obras em português, produzido em 1957, a biblioteca do Gabinete de Leitura de Jundiaí, após a sua ordenação segundo a CDD, apresenta a seguinte composição em seu acervo:

Gráfico 7 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por área do conhecimento Fonte: Elaborado pelo autor

No quadro geral, a maioria dos gêneros literários representa de 1% a 3% das obras descritas no catálogo. Ciências Sociais (14%), História e Geografia (16%) concentram o maior número de obras descritas e Literatura e Retórica predominam (57%). Esse rápido panorama das obras caracteriza o interesse dos leitores por produções literárias que abordavam as temáticas de seu tempo e vida social (política, economia e cultura), as questões

históricas da nação e possivelmente a literatura ficcional como meio de fruição para a imaginação243.

Ao desmembrar as classificações, observando-se suas subclassificações, verificam-se as composições detalhadas de cada gênero e os autores com maior número de obras, iniciando-se pelo gênero 000 - Generalidades.

Gráfico 8 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD/000 - Generalidades) Fonte: Elaborado pelo autor

A classificação 000-Generalidades compreende obras de miscelâneas como dicionários, revistas, jornais, enciclopédias, coleções, bibliotecas, entre outros. No catálogo de obras do Gabinete de Leitura há uma predominância dos dicionários (27%), enciclopédias e anuários (24%), revistas, jornais e séries (22%) e manuscritos e livros raros (11%). Publicações de caráter mais informativo e de cunho generalizado. Os autores que apresentam o maior número de obras (a partir de 3 títulos), dentro das subclassificações são:

243 CHANTAL, Horellou-Lafarge; SEGRÉ, Monique. Sociologia da leitura. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2010.

Neste livro as autoras discutem a presença da leitura e da literatura na vida cotidiana e como ela foi se constituindo em diferentes suportes materiais (jornais, revistas, cartazes, livros e etc.). Como leitura de entretenimento a outras finalidades, em específico quando atinge em grande consumo de impressos durante o século XIX.

Gráfico 9 - Autores com maior número de obras (CDD/000-Generalidades) Fonte: Elaborado pelo autor

O termo N.N. aparece constantemente no catálogo de obras indicando a autoria de diversos títulos. Durante a pesquisa não foi possível identificar se se tratava de uma editora ou de algum autor, porém, dada a recorrência do termo na autoria de vários títulos, dos mais diferentes gêneros literários, possivelmente, N.N., era a abreviatura de um grupo editorial que publicava coleções244. Dentro das subclassificações de Generalidades o termo possui o maior número de obras, contendo títulos como Tesouros da Juventude, enciclopédia voltada ao conhecimento de jovens e crianças, a Enciclopédia e Dicionário Internacional e a

Biblioteca Internacional de Obras Célebres. Laudelino Freire, segundo maior autor com

número de obras, aparece com os títulos Revista da Língua Portuguesa e Dicionário da

Língua Portuguesa. O autor Carlos Malheiros Dias está na subclassificação de obras raras,

com o título, História da Colonização Portuguesa no Brasil. Os demais autores também estão classificados como obras raras, dentre eles Hegel com Enciclopédia das Ciências

Filosóficas.

No gênero 100 – Filosofia, as subclassificações possuem a seguinte composição:

244Durante a pesquisa foi possível verificar que os títulos que possuíam autoria N.N. eram em sua maioria

editados pela W. M. Jackson Inc. companhia de editores com sede em São Paulo. Entretanto, não foi possível estabelecer a relação com a sigla N.N.

40

4 3 3 3

N. N. Laudelino Freire Carlos Malheiros Dias

Georg Hegel Instituto Nacional do Livro

Gráfico 10 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD/100-Filosofia) Fonte: Elaborado pelo autor

As obras de Psicologia aparecem em maior número (43%). Cabe ressaltar que os títulos de psicologia possuem destaque nas temáticas que abordam a análise do comportamento humano. Seguidamente a subclassificação Filosofia Ocidental Moderna apresenta (25%) e Teoria da Filosofia (20%). Os demais subgêneros variam entre 1% e 4% dentre o total. Essas obras caracterizam a variedade de assuntos existentes no acervo, mas certamente eram livros destinados a estudos e pesquisas específicas, principalmente no que se refere à psicologia. Nota-se que o pensamento filosófico (teorias e escolas) estava entre as aquisições e/ou doações literárias. Os autores com maior número de obras (a partir de 5 títulos) são:

Gráfico 11 - Autores com maior número de obras (CDD/100-Filosofia) Fonte: Elaborado pelo autor

O filósofo francês Ernest Renan consta com o maior número de obras, suas publicações foram traduzidas para o português e, entre os títulos estão: A Igreja Cristã, Os

Evangelhos e O Anti Cristo, livros que tecem críticas aos dogmas da igreja católica. José

Ingenieros, psicólogo, figura com os títulos, Leis Psicológicas, Os Tempos Novos e

Psicologia da Curiosidade. Rousseau e Voltaire são as sínteses do pensamento filosófico

Iluminista e expoentes do Romantismo, seus títulos predominantes no catálogo são Emílio,

Seleções e As Confissões. Paulo Mantegazza publicou diferentes obras nas áreas da

Antropologia, Neurologia e Filosofia. No acervo do Gabinete de Leitura, comparece com os títulos No Mundo das Coisas Belas e Filosofia do Ódio. Gustave Le Bon aparece com Leis

Psicológicas e A Revolução Francesa e a Psicologia das Revoluções. Suas teorias sobre

“psicologia de massas” foram um importante instrumento teórico de exclusão social, em poder da burguesia, fortemente expressivo no pensamento intelectual brasileiros ao final do século XIX e início do XX245.

No gênero 200 – Religião – as subclassificações demonstram o seguinte quadro:

245 PEREIRA, Andréa R. S. O movimento operário brasileiro e as massas populares: massas obreiras/ revolucionárias ou massas ignorantes/ inertes. Revista de Sociologia Política. Curitiba. n.13. nov. 1999. p.1. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44781999000200010>. Acesso em: 09 jan. 2015.

9

8

7 7

5

Ernest Renan José Ingenieros Jean Jacques Rousseau

Gráfico 12 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD/200- Religião) Fonte: Elaborado pelo autor

Os títulos de Cristandade e ideologia Cristã aparecem em maior porcentagem (58%), seguido de Outras Religiões (31%). Interessante perceber como o pensamento social cristão está presente e é predominante entre as obras religiosas, por outro lado, os livros classificados como Outras Religiões, são, em sua totalidade, obras espíritas. O Gabinete de Leitura era uma instituição laica e seu acervo, mesmo que em menor proporção, traduz essa característica. História do Cristianismo também possui destaque com (7%) dos títulos. Os demais gêneros figuram entre (1%), mas ainda dentro dos títulos de cristandade. Pelo que se pôde perceber, obras protestantes não aparecem no acervo.

Os autores que apresentam o maior número de obras (a partir de 4) para esta subclassificação são:

Gráfico 13 - Autores com maior número de obras (CDD/200- Religião) Fonte: Elaborado pelo autor

O lusitano Padre Manuel Bernardes aparece com maior número de títulos, dentre eles,

Nova Floresta, Armas da Castidade e Sermões e Práticas, obras de espiritualidade e

doutrina cristãs, publicadas pela primeira vez no século XVIII. O monge franciscano Frei Pedro Sinzig, de importante atuação na imprensa católica brasileira, no início do século XX, consta com os títulos Os Segredos da Harmonia, Reminiscências de um Frade, São

Francisco de Assise A Infância de Jesus. O chinês Lin Yutang também aparece em

destaque. Suas obras se tornaram populares no mundo ocidental e figuram entre literatura chinesa e religiosa, pois seus escritos possuem um viés cristão, constando em bibliotecas de teologia246. Entre os títulos aparecem Entre Lágrimas e Risos, A Viúva, a Religiosa e a

Cortesã e A Importância de Viver. Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico

Xavier, está entre os autores de títulos espíritas. Suas obras começaram a ser publicadas a partir da década de 1930, portanto, entre 1908-1924. Seus títulos não figuravam entre o acervo de obras do Gabinete de Leitura. Dentre seus livros aparecem Os Mensageiros, Nos

Domínios da Mediunidade e Emmanuel. Os franceses, Emile Fagnet, Léon Denis e Maurice

de Lachâtre são outros exemplos de autores espíritas, suas obras tiveram grande repercussão na França, dando continuidade ao trabalho iniciado por Allan Kardec. Seus livros foram traduzidos em português e publicados no Brasil, a partir de 1900. Entre os títulos aparecem

246 Para citar apenas dois exemplos, encontram-se obras deste autor na biblioteca do Arquivo da Arquidiocese de

São Paulo e na biblioteca da PUC-SP, campus Ipiranga, onde o acervo de obras é predominantemente composto por obras cristãs.

12 10 10 9 5 4 4 Pa dre Ma nuel Berna rdes Frei Pedro Sinzig

Lin Yuta ng Fra ncisco Câ ndido Xa vier

Emile Fa gnet Léon Denis Ma urice de La châ tre

Os Dez Mandamentos, de Fagnet, Cristianismo e Espiritismo, de Denis e Os Crimes dos Papas, de Lachâtre.

No gênero 300 - Ciências Sociais, terceira maior classificação dentro do percentual de obras do acervo, as subclassificações constituem o seguinte panorama:

Gráfico 14 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD /300- Ciências Sociais) Fonte: Elaborado pelo autor

Ciência Política está entre mais da metade dos livros nestas subclassificações (53%). Essas obras variam entre discursos, conferências, ensaios, anais de congressos e análises políticas, econômicas e sociais realizadas por políticos, intelectuais e industriais nacionais e internacionais, em diferentes épocas. Dentre eles nomes como, José Bonifácio, Monteiro Lobato, Getúlio Vargas, John Kenedy e Henry Ford. Nesta subclassificação constam ainda obras de autores denominados de esquerda, como A Conquista do Pão, do ativista russo Piotr Kropotkin, O Imperialismo e Táticas e Objetivos da Revolução, do revolucionário Lenin e

Anti Duhringde Friedrich Engels. Porém não estão entre os autores com o maior número de

obras. Sociologia e Antropologia também possuem destaque (12%), seguido dos livros sobre Educação (10%). Nessas subclassificações destacam-se os livros pedagógicos que

possivelmente eram utilizados na escola de primeiras letras do Gabinete de Leitura. Obras de Administração Pública e Ciências Militar (8%) e Direito (7%) aparecem em proporção um pouco maior e as demais subclassificações variam entre (1%) e (4%). Os autores que apresentam o maior número de obras (a partir de 11) são:

Gráfico 15 - Autores com maior número de obras (CDD/300- Ciências Sociais) Fonte: Elaborado pelo autor

Contemporâneo ao Gabinete de Leitura de Jundiaí, Rui Barbosa concentra o maior número de títulos dentre os autores, sua atuação na política brasileira durante a Primeira República foi significativa, bem como o número de suas publicações. Dentre outros temas o polímata escreveu sobre: política, economia, imprensa, educação, diplomacia, direto, etc. Entre seus títulos aparecem, Discursos e Conferências, Queda do Império, Oração aos

Moços, Trabalhos Jurídicos, Discursos Parlamentares, Ditadura e República, A Constituição de 1891, Cartas Políticas e Literárias e muitos outros, suas publicações

variam entre 1877-1920. O termo N. N. figura com os títulos Anais do Primeiro Congresso

Nacional do Ministério Público e Primeiras Letras, compondo os volumes Leituras 1-6, 7- 12 e 13-18. Certamente esses livros auxiliavam no projeto educacional do Gabinete de Leitura

no processo de alfabetização dos alunos, há ainda entre seus títulos, Pedagogia, A Moral na

Escola, Práticas de Redação, Educação Física, Educação Rural, Enciclopédia do Curso Primário, Primeira Gramática e Princípios Elementares de Educação. Joaquim Nabuco,

figura diplomática importante no Império do Brasil está presente com os títulos Um Estadista

do Império, Abolicionismo (Discursos), Campanha Parlamentar e Minha Formação,

publicadas inicialmente entre 1883-1900. O também polímata Gilberto Freyre produziu obras com diferentes abordagens (sociológicas, antropológicas e históricas) em sua interpretação

107

29

16 14 14

12 11

sobre o Brasil. Dentre seus títulos encontram-se Sociologia e Sobrados e Mucambos, publicados originalmente nas décadas de 1930 e 1940, respectivamente. Plínio Salgado, representante do integralismo no Brasil, partidário de princípios fascistas aparece com os títulos O Esperado, A Voz do Oeste e Livro Verde (Da Minha Campanha). Da companhia de editores associados W. M. Jackson consta o título Prática Comercial Norte Americana e do ex-presidente da República, no período entre 1919-1922, Epitácio Pessoa, aparecem os títulos Pareceres Jurídicos, Discursos Parlamentares e Projeto de Código de

Direito,dentre outros. Em suma, são livros de diferentes vertentes políticas e sociais, em sua

maioria que abordam questões nacionais e evidenciam a heterogeneidade do acervo de obras do Gabinete de Leitura, bem como, de seu público leitor.

Para o gênero 400 – Línguas, as subclassificações apresentam a seguinte composição:

Gráfico 16 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD/400 Línguas) Fonte: Elaborado pelo autor

Os livros em Português e Espanhol possuem predominância (65%), seguidos das obras sobre Linguística (17%), Língua Inglesa e Inglês Antigo (9%). As demais subclassificações variam entre (2%) e (5%). Os autores que apresentam o maior número de obras (a partir de 3), são:

Gráfico 17 - Autores com maior número de obras (CDD/400- Línguas) Fonte: Elaborado pelo autor

Augusto Magne consta com os títulos Antologia Latina e Gramática Latina, publicados inicialmente em 1919. O professor e linguista, Ernesto Carneiro Ribeiro, aparece com os títulos, Estante Clássica da Revolução da Língua Portuguesa e Serões

Gramaticais, publicados inicialmente em 1915. M. Said Ali, importante estudioso da língua

portuguesa no Brasil, possui no catálogo os títulos Formação de Palavras e Síntese e

Gramática Histórica da Língua Portuguesa, ambas publicadas inicialmente na década de

1920.

O gênero 500 - Ciências Puras, classificação de pequena proporção no total de obras do acervo, apresenta a seguinte composição em suas subclassificações:

3 3 3

Gráfico 18 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD/500- Ciências Puras) Fonte: Elaborado pelo autor

Ciências da Vida e Biologia possuem destaque (46%), em sua maioria livros didáticos. Na sequência Matemática com (17%) e Física (16%). As outras subclassificações figuram entre (1%) e (6%). Em quadro geral, as Ciências Exatas possuem pouca expressividade no catálogo de obras, mas livros de lições de Matemática, Àlgebra e Aritmética compõem este quadro, possivelmente utilizados nos estudos das primeiras letras. Dentre os autores que apresentam o maior número de obras (a partir de 4) estão:

Gráfico 19 - Autores com maior número de obras (CDD/500- Ciências Puras) Fonte: Elaborado pelo autor

O biólogo britânico Julian Huxley aparece com o título A Ciência da Vida, obra publicada inicialmente em 1930, em conjunto com outros autores. Igualando-se à quantidade de obras de Huxley está Ernst Haeckel, também biólogo, porém este alemão, intimamente ligado ao Positivismo. Seus títulos são A Origem do Homem, Os Enigmas do Universo e

Religião e Evolução. Suas obras foram publicadas inicialmente no final do século XIX. Do

químico Mário Saraiva consta o título, Química Orgânica Alifática. A. Munhoz Mader, professor de Física, publicou diversos livros sobre Matemática. No catálogo de obras do Gabinete de Leitura constam os títulos, Curso de Matemática e Lições de Matemática. O astrônomo Camille Flammarion aparece com o título Deus na Natureza, obra publicada inicialmente em 1836.

Importa insistir que se observe a heterogeneidade dos gêneros literários, mesmo os que possuem menor quantidade, como Ciências Puras. São indícios que sugerem indagações sobre os critérios de escolha dos diferentes títulos pelos leitores, critérios esses que não se podem definir. Problematizando ainda mais essa questão, podem-se perceber os livros não somente como suportes materiais, mas como veículos de ideias, composto de estéticas literárias, presentes na vida social. Segundo a definição de Robert Darnton “os livros são objetos que circulam em um sistema de comunicação inseridos dentro de uma conjuntura econômica e social”247.

Observando ainda mais esses livros, o gênero 600-Tecnologia dentro de suas subclassificações possui a seguinte composição:

247 DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução, p. 126.

9 9

6

4 4

Julian Huxley e Outros

Ernst Haeckel Mário Saraiva A. Munhoz Mader Camille

Gráfico 20 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD /600-Tecnologia) Fonte: Elaborado pelo autor

Medicina e Saúde têm maior dimensão (75%). Ressalte-se que Benedito Ferraz apreciava os estudos medicinais, vindo a formar-se nessa área. Seu livro Médico, Tua

Missão é Curar, publicado em 1946, está entre esses títulos. Agricultura (12%) também

possui destaque e tem vários títulos em forma de manuais (do solo, das aves, do leite, do lavrador e da orgânica). Em sequência, as subclassificações Indústria Para Usos Específicos e Engenharia aparecem com (6%). Os demais estão entre (0,4%) e (1%). Os livros de Tecnologia, em menor quantidade, configuram-se como obras de conhecimento técnico e, portanto, específico, destinadas a profissionais que atuavam nas áreas da Agricultura, Engenharia, Medicina, Construção e Indústria.

Gráfico 21 - Autores com maior número de obras (CDD/600- Tecnologia) Fonte: Elaborado pelo autor

Ministério da Agricultura aparece com os títulos Criação de Búfalos, Problemas

Referentes ao Leite, Departamento Nacional da Produção e Agricultura, obras de cunho

técnico. N.N. possui os títulos Vida Sexual, Artefatos de Madeira, Manual do

Empalhador e Estofador e também Urbanismo e Indústria em São Paulo. Esses livros

demonstram como o possível “grupo editorial” N.N. publicava temas de diferentes assuntos, o que caracteriza a preferência por se adquirirem essas publicações – diversificadas – caso eles tivessem sido comprados pelos sócios do Gabinete de Leitura e não doados, o que provavelmente ocorreu, dada a recorrência de seus títulos no catálogo de obras. O médico Paulo Garnier consta com os títulos O Nanismo, Impotência, O Celibato e O Mal de Amor, livros lançados inicialmente em 1905, pela conhecida Editora Garnier do Rio de Janeiro. Todos esses títulos são obras de ciências aplicadas.

No gênero 700 Artes, em menor proporção dentro do acervo, o catálogo revelou a seguinte constituição:

Gráfico 22 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD /700- Artes) Fonte: Elaborado pelo autor

O gênero Música possui maior representatividade dentre as obras (29%), seguido por Esportes, Jogos e Diversão (20%), sendo que para este constam títulos como Xadrez

Elementar e Manual de Xadrez, do autor Eurico Penteado, publicados inicialmente na

década de 1940. Ressalta-se que, na década de 1920, campeonatos de xadrez, gamão, dama e dominó foram realizados no Gabinete de Leitura com inscrições pagas, para angariar recursos para a nova sede da instituição, que estava em construção. De acordo com o atual diretor João Borin, nas décadas de 1940 e 1950, esses campeonatos voltaram a ser realizados entre os sócios do Gabinete de Leitura.

Desenhos e Artes Decorativas representam (15%), seguidos por Pinturas (12%) e História da Arte (10%). Os demais gêneros variam entre (2%) e (7%).

Gráfico 23 - Autores com maior número de obras (CDD/700-Artes) Fonte: Elaborado pelo autor

Os títulos de Sergio Milliet são A Pintura Norte Americana, Marginalidade da

Pintura Moderna e Diário Crítico, publicados inicialmente em 1917. Sheldon Cheney

consta com o título História da Arte. N.N. aparece com os seguintes títulos Arte da Dança

na Sociedade, Arte Gráfica do Hemisfério Ocidental e Arte Contemporânea do Hemisfério Ocidental. C. Rubens figura com os títulos Pequena História das Artes Plásticas e Andersen - Pai da Pintura Paranaense. O título de Domingos Barbosa é Viola de Lereno, obra inicialmente publicada no século XVIII.

O gênero 800-Literatura e Retórica representa mais da metade das obras descritas no catálogo. Sua composição está dividida entre as principais subclasses da literatura universal, podendo ter ainda outras divisões para cada subclasse248. Porém, esta divisão por subclasse não foi adotada durante a ordenação dos títulos. Optou-se por constituir um panorama apenas das subclasses principais e listar os autores com maior número de obras.

Dessa forma, construiu-se um quadro das obras de ficção que compõem o acervo do Gabinete de Leitura. A predominância desse gênero é de certa forma natural. Afinal, segundo as próprias palavras de Benedito Ferraz, um Gabinete de Leitura serviria para “organizar uma biblioteca, ler, escrever, falar e aprender”. Portanto, a literatura seria posta à disposição, fosse para distrair-se ou instruir-se.

800 - Literatura e Retórica apresenta a seguinte composição:

248 Tem-se, por exemplo: Classificação: 800 – Literatura e Retórica; Subclassificação: 810 – Literatura

Americana; Subdivisões: 811 – Poesia, 812 – Teatro, 813 – Novela, 814 – Ensaios, 815 – Oratória, 816 – Cartas, 817 – Sátira e Humor, 818 – Manuscritos Miscelâneas, 819 – Não atribuído.

3

2 2

Gráfico 24 - Divisão da quantidade de obras e sua (%) por subclassificação (CDD/800- Literatura e Retórica) Fonte: Elaborado pelo autor

Literatura Brasileira está em maior quantidade (35%), possivelmente porque os autores nacionais eram mais requisitados pelos leitores. Seguia-se a Literatura Francesa, apresentando (22%) dos títulos. A intelectualidade brasileira teve seu pensamento social (e hábitos também) fortemente influenciado pelo pensamento europeu, em específico pelos escritores franceses, durante a segunda metade do século XIX e início do XX, que, em suas produções literárias, inspiraram os escritores brasileiros. Literatura Americana e Inglesa aparecem na mesma proporção (11%). Literatura Portuguesa também possui destaque com (8%). As demais subclassificações estão entre (0,5%) e (5%).

Para os autores com maior número de obras, tem-se as subclassificações, iniciando-se com 810-Literatura Americana, elencando-se os autores que possuem a partir de 7 obras descritas no catálogo:

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