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CAPÍTULO III DA ESTANTE A PÁGINA: A BIBLIOTECA DO GABINETE DE

3.4 Os livros de romances: mulheres leitoras?

A predominância de romances no catálogo de obras examinado possibilita indagar sobre a presença de mulheres leitoras no Gabinete de Leitura. Conforme citado anteriormente, os estatutos prescreviam a igualdade entre os sexos dentro da sociedade, portanto, o público feminino poderia livremente frequentar as dependências da instituição, mas, na prática, não se pôde notar a atuação de mulheres frente às questões cotidianas de organização e administração do Gabinete de Leitura.

O Livro de Registro dos Sócios Contribuintes e as atas de reuniões de Assembleia Geral e da Diretoria não mencionam a participação das mulheres nem registram nomes femininos que pudessem atestar suas presenças. Contudo, no rastro dos indícios, a expressiva quantidade de livros do gênero romance e seus títulos, que remetem à figura da mulher em seu mundo de esposa, mãe e do lar253, fazem pensar sobre a presença das mulheres no Gabinete de Leitura como leitoras possivelmente assíduas desses romances.

O gênero romance teve seu lugar no Brasil e em outros países marcadamente ao longo do século XIX. Deriva das novelas e romances de cavalaria surgidos na Europa entre os séculos, XVII e XVIII. Segundo Sandra Vasconcelos, esse gênero, quando surgiu na Inglaterra “foi associado ao popular e visto por muitos como uma literatura pouco recomendada”254. Aos poucos seu campo literário foi se delineando. Sua disseminação e

popularização fizeram com que o gênero passasse a ser visto como “instrumento pedagógico”. Elementos como atitudes, regras de comportamento, posição das mulheres, relações familiares, as representações do amor (materno e conjugal), a vida e os bons costumes dentro

252 A título de curiosidade, atualmente o Gabinete de Leitura conta com 45.000 volumes.

253 MALUF, Marina; MOTT, Lúcia Maria. Recônditos do mundo feminino. In: SEVCENKO, Nicolau (Org.);

NOVAIS, Fernando. (Coord). História da Vida Privada no Brasil. vol. 3.São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

254 VASCONCELOS, Sandra Guardini T. Formação do Romance Brasileiro: 1808-1860(vertentes inglesas).

do matrimônio e os sentimentos foram associados aos romances, prescrevendo as condutas a serem seguidas na vida social255, em específico às mulheres.

Os leitores de romances eram formados e instruídos de modo impercebível, “para muitas mulheres inclusive o romance era a única forma de acesso a informação e educação”256. Foi durante o primeiro quartel do século XIX que o gênero passou a ser

considerado como qualidade de expressão literária da classe burguesa. Em Paris, entre 1880- 1890, os romances representavam mais da metade dos empréstimos em bibliotecas públicas257.

No Brasil, o gênero também sofreu diversas críticas, sua aceitação e posterior popularização entre as camadas sociais, possivelmente se deu quando o gênero, “de pouca retórica e poesia, passou a ser visto pelos críticos como uma literatura épica e de alta tradição”258, somando-se a ele, o caráter instrutivo.

Os textos eram narrados de forma a possibilitar uma leitura agradável, de fácil assimilação, não sendo necessário ser um exímio leitor para que pudesse se familiarizar com a obra. Tanto na Europa quanto no Brasil, os Gabinetes de Leitura, bibliotecas circulantes, folhetins e jornais, contribuíram para a difusão do gênero. Uns barateando os custos e possibilitando um maior acesso à leitura, outros pela regularidade das publicações diárias, que sempre contavam com trechos das obras.

Outro elemento que contribuiu para a popularização do gênero foi a narrativa de histórias com questões cotidianas dos leitores. Dos acontecimentos mais usuais às paixões avassaladoras, qualquer leitor poderia apreciar um romance, identificar-se com a história e o desenrolar de sua trama.

Para Vasconcelos “O tempo dos romances é o tempo presente e suas histórias envolvem aspectos familiares circunscrevendo-se ao mundo doméstico”259.

Por meio dessas obras era possível ainda guiar os leitores com exemplos de moral, trabalhando as características psicológicas dos personagens, suas virtudes ou intemperanças, vícios e qualidades, de modo que a heroína, quando guiada por bons costumes, recebia os frutos de sua boa conduta. Caso contrário, a morte ou a solidão eram os castigos por ter se perdido nas tentações do amante ou nas armadilhas do vilão. A mescla do realismo com a edificação moral dava o tom das histórias, levando o leitor a outros cenários e realidades.

255 VASCONCELOS, Sandra Guardini T. Op. cit. 256 Idem.

257 CHANTAL, Horellou-Lafarge; SEGRÉ, Monique. Op. cit.

258 ABREU, Márcia. Trajetórias do romance: circulação, leitura e escrita nos séculos XVIII e XIX. Coleção

Histórias de Leitura. Campinas (SP): Mercado das Letras, 2008, p. 298.

O gênero romance diversificou-se em estilos: histórias de amor, aventura, policial, histórico, mistério e erótico. Sua prosa de ficção se direcionou aos homens com temáticas de suspense, aventuras, situações de perigo, investigação de crimes e assassinatos. Às mulheres, os enlaces do amor, histórias de luta pela paixão, pela virtude do casamento e contra as tentações. Ao primeiro era destinada a educação para a vida pública, para o trabalho; à segunda, muitas vezes até desprovidas de educação formal, destinava-se apenas o “recôndito do lar”260.

Em suma, o gênero disseminou-se pelo Brasil, durante o século XIX. Muitos romances ingleses, franceses e posteriormente nacionais poderiam ser adquiridos em livrarias, tendo capas luxuosas e altos custos, ou até mesmo em formatos mais simples, podendo até mesmo ser tomados de empréstimo na biblioteca de um Gabinete de Leitura.

No acervo do Gabinete de Leitura de Jundiaí, como observado no exame do catálogo de obras, o gênero predominava. Seus títulos demonstram o público a que se direcionavam:

Uma Mulher Ideal (Mr. Maryan), Esposa e Mãe (M. Lilles), Coração de Mulher (M.

Aigueperse), Romance de Uma Mulher (Guy de Maupassant), Dois Casamentos na Vida

de Uma Mulher (Magali), O Sentimento do Amor (M. Delly), dentre outros. Resta se

perguntar quem eram essas leitoras e como os livros de romances poderiam indicar suas presenças no Gabinete de Leitura.

Tentar responder a essas questões não é tarefa simples, pois as fontes de que a pesquisa dispõe não as solucionam diretamente. Porém, em uma releitura do que até aqui se pode analisar, é possível notarem-se alguns indícios.

Uma das possibilidades de se perceber a presença das mulheres é através do próprio quadro societário da Instituição. Muitos sócios do Gabinete de Leitura eram homens mais velhos, certamente casados e pais, como demonstra os prontuários dos que eram funcionários da Companhia Paulista.

Das 112 fichas consultadas, 55 constavam como casados e com filhos (em média de 3)261. Portanto, esse panorama permite levantar, como possibilidade, a frequência de esposas e filhas no Gabinete de Leitura, cujo marido e/ou pai era associado. Caso não fossem pessoalmente, os livros poderiam ser tomados de empréstimo e devolvidos após dez dias, permitindo diversas formas de se praticar a leitura do impresso.

260 MALUF, Marina; MOTT, Lúcia Maria. Op. Cit.

261 LANNA, Ana Lúcia Duarte. Ferrovia, Cidades e Trabalhadores: a conquista do oeste (1850-1920). Banco de

Outra possibilidade é que o Gabinete de Leitura possuísse dois horários para frequentação pública, (das 08h às 10h e das 19h às 21h). Desse modo, moças e mulheres de Jundiaí também poderiam se dirigir à Instituição e realizar a leitura dos livros.

Há que se considerar também que a própria existência predominante desses romances na biblioteca demonstra que as compras de livros realizadas pelas comissões privilegiavam o gênero romance. Com a possibilidade de os sócios interferirem nas escolhas dos títulos, certamente levavam em consideração as preferências de seus familiares (dentre eles as mulheres). A constante procura e consulta desses livros por outras frequentadoras da Instituição visavam a atender o interesse desse público.

Desse modo, o acervo caracteriza-se como o indício mais forte da presença das mulheres. Porém, levando-se em consideração as palavras de Martins, é certo que o gênero romance também era muito apreciado pelo público masculino.

Em São Paulo, reduto dos ideólogos da República, à parte o universo do jornal, lia- se muito romance, do folhetim de capa de espada de Alexandre Dumas ao romantismo brasileiro de José de Alencar, ao realismo português de de Eça de Queiroz ao naturalismo francês de Emile Zola. Muitos divulgados pelos publicistas262.

Desse modo, não faltaram suportes materiais para que os romances pudessem circular, fossem jornais, revistas, folhetos, livros e opúsculos. Nos Gabinetes de Leitura a presença de romances é marcante. E, certamente no acervo do Gabinete de Leitura de Jundiaí homens e mulheres se apropriaram desse gênero literário.

CONSIDERAÇÕESFINAIS

A pesquisa buscou compreender o processo de surgimento e o desenvolvimento nos primeiros anos do Gabinete de Leitura de Jundiaí. Para tanto, foram analisadas as atas de reuniões produzidas pelos sócios e diretores da instituição entre 1908-1924. As atas revelaram o cotidiano de homens que estavam às voltas com o estabelecimento e a manutenção de um espaço destinado aos livros, aos leitores e à prática da leitura na cidade de Jundiaí.

Procurou-se observar o surgimento do Gabinete de Leitura como uma realidade social que vinha sendo construída por um grupo de trabalhadores da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, diante das transformações econômicas, urbanas, sociais e culturais que ocorriam em Jundiaí, desde o final do século XIX, em decorrência da instalação das linhas férreas (Santos/Jundiaí) e (Jundiaí/Campinas), entre outras. A cidade passava por um processo de intensas mudanças; seu espaço urbano crescia, diversificava-se, novas edificações eram erigidas para o trabalho, para o comércio, para as moradias e para o lazer. Desse modo, constatou-se que ante as transformações que ocorriam, o Gabinete de Leitura representava um espaço para as letras na esfera pública.

Não havia nenhuma biblioteca pública em Jundiaí, no início do século XX. As escolas, em sua maioria, eram particulares; possivelmente a demanda da população da cidade não era totalmente atendida no aspecto da Educação. Não que a criação do Gabinete de Leitura sanasse todos os problemas de alfabetização e de escolarização da população, porém, sua existência confirmava a tentativa de se promover a instrução popular, principalmente com a criação da Escola de Primeiras Letras.

Pôde-se perceber que as camadas sociais da cidade eram compostas por trabalhadores camponeses, industriais e ferroviários. A cidade constituiu-se como operária. Os ferroviários possuíam uma distinção na cidade, em relação às outras categorias de trabalhadores, muito em decorrência de suas posições hierárquicas ocupadas dentro dos setores da Companhia Paulista (escritórios, armazéns e oficinas). Esses trabalhadores constituíram a camada social média da cidade e foram os atores principais na trama das transformações.

No decorrer da pesquisa, perceberam-se indícios de que a conjuntura da Primeira República propiciava a criação de novos arranjos sociais. As primeiras décadas do século XX marcavam um tempo de embates políticos, discursos ideológicos, avanços científicos e tecnológicos, entre outros, pautados nos ideais de progresso, civismo e educação. Não se adentrou nessas questões de forma complexa e detalhada, como o próprio período (1889- 1930) o foi, porém ficou em evidência que esses elementos inseriam-se no cotidiano da

sociedade jundiaiense, por meio do trabalho livre e assalariado, através da modernização do sistema de transportes, da acessibilidade, do crescimento econômico, da imigração, do crescimento populacional e pela própria fundação do Gabinete de Leitura.

Em Jundiaí, o Gabinete de Leitura emergia como um espaço para as letras. Certamente essa não é a única acepção que um Gabinete de Leitura imprime, como se analisou essas instituições não múltiplas, de características distintas, possuindo traços e singularidades em cada contexto em que surgiu, possibilitando o acesso aos livros a pessoas humildes. Contudo, em Jundiaí, pôde-se depreender que a instituição configurava-se como um símbolo da cultura letrada. Sua relevância foi construída através das práticas sociais de seus sócios, que ordinariamente reuniam-se em Assembleias Gerais ou em Reuniões da Diretoria, para tratarem das questões de administração de uma instituição cultural. Em seus modos de fazer, dentro e fora da instituição, como em suas trajetórias de vida, acabaram por conferir ao Gabinete de Leitura, seus associados e frequentadores, sentidos de instrução, letramento e ilustração.

A pesquisa não pôde analisar como esses elementos eram apropriados pelos sócios, frequentadores e, portanto, leitores da instituição. Não foram localizados documentos (jornais ou fontes manuscritas) que permitissem uma interpretação da recepção dessas representações. Todavia, os incentivos financeiros recebidos da Câmara Municipal de Jundiaí, puderam, de alguma forma, demonstrar como o Gabinete de Leitura era visto como um espaço para o “aprimoramento do espírito” e para o “refinamento da sociedade” 263, um aparato urbano que

vinha a preencher uma lacuna cultural existente na cidade: a dificuldade de acesso aos livros. Os vereadores e os prefeitos de Jundiaí prestaram importantes auxílios à diretoria do Gabinete de Leitura. Essa relação entre o poder público e as ações particulares foram significativas para o desenvolvimento da Instituição. Além da concessão de um terreno e a construção de uma sede própria para o Gabinete de Leitura, em 1923, o prefeito da cidade de Jundiaí, Olavo de Queiroz Magalhães, solicitou que o nome da instituição passasse a ser Gabinete de Leitura Ruy Barbosa. Naquele ano, o jurista Ruy Barbosa havia falecido, sua trajetória política no Império e sua atuação para a constituição do regime republicano, foram significativas na conjuntura nacional. Importante intelectual brasileiro, deputado, senador e ministro durante a Primeira República, Ruy Barbosa, chegou a lançar-se em candidaturas para a presidência da República, entre 1910-1919, porém sua campanha civilista não venceu, ante

as tensões políticas, oligárquicas e militares que permeavam os jogos de interesses econômicos e sociais do período (1889-1930) 264.

Seus discursos políticos e análises econômicas, que versavam sobre diferentes aspectos da sociedade brasileira, o transformaram em um polímata de grande influência no campo literário e intelectual. Ruy Barbosa defendia o ideal progressista, defendia a democracia republicana, o civismo e a educação popular. Certamente esses elementos de sua personalidade e trajetória política corroboravam a representação do Gabinete de Leitura de Jundiaí, que, em maio de 1923, passava a ser denominado de Gabinete de Leitura Ruy Barbosa.

O presidente Waldomiro Lobo da Costa pediu que fosse acceita a ideia aventada pela Camara Municipal, isto é fosse dado, ao Gabinete de Leitura, o nome do Egrégio Patrício Ruy Barbosa o mais legitimo representante da intellectualidade Brasileira. Os presentes já aceitaram e approvaram a proposta do Bacharel Waldomiro Lobo da Costa em virtude da qual a denominação deste Gabinete de Leitura passa a sêr “Gabinete de Leitura Ruy Barbosa” em homenagem àquelle cuja vida sempre representou uma verdadeira licção de civismo265.

Figura 29 – Sede do Gabinete de Leitura Ruy Barbosa na década de 1930. Fonte: FERREIRA, M. 2014.

264 SANTOS, Marcelo Henrique Pereira dos. Rui Barbosa e Pinheiro Machado: disputa política em torno da

candidatura e do governo do Marechal Hermes da Fonseca. São Paulo, 2005. 301 p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) PUC-SP. São Paulo, 2005.

Como se pode perceber, nos documentos das atas de reuniões e nos livros de registros que guardam a história do Gabinete de Leitura, as representações da instituição compreendem diferentes instâncias sociais, políticas e culturais e perpassam diferentes períodos. Esta pesquisa não pôde analisar a todos, bem como se aprofundar em outras questões, como as experiências sociais dos empregados da ferrovia e suas relações para com o Gabinete de Leitura. Há que se aprofundar em pesquisas sobre as condições da classe operária jundiaiense, no contexto da Primeira República, em especial a classe dos ferroviários.

Há possibilidade de se buscar ainda compreender como os trabalhadores ferroviários organizaram-se e como partilharam suas experiências, reunindo-se em agremiações esportivas, literárias, beneficentes e dançantes, em outras cidades do interior de São Paulo. Contudo, seriam necessários levantamentos bibliográficos, pesquisas de campo e em acervos, tempo e outros investimentos. Fica em aberto, portanto, a possibilidade de futuras pesquisas, com a probabilidade de se ver revelado um universo cultural que estava presente em diferentes dimensões, entre as cidades do Oeste Paulista, demonstrando-se que, além dos grandes centros urbanos, nas grandes cidades, constituiu-se uma significativa e agitada vida sociocultural.

A análise sobre o acervo de obras da biblioteca do Gabinete de Leitura de Jundiaí revelou as preferências literárias dos leitores. Mesmo com as especificidades dessa fonte, sua produção fora do período de análise desta pesquisa (1957), as perdas e os descartes de livros ao longo do tempo, a lógica de ordenação numérica, desfavorável a uma compreensão geral sobre os gêneros literários, foi possível reordenar a fonte Catálogo de Obras, classificá-la e apresentar os principais gêneros literários existentes.

Este trabalho com o catálogo de obras evidenciou a predominância de áreas do conhecimento como Ciências Sociais, História e Literatura e Retórica. Para esta última, o gênero Romance prevalece, demonstrando o interesse do público leitor por essas temáticas e a presença do público leitor feminino.

A figura da mulher pouco foi citada nas fontes consultadas, porém, não as silencia ou minimiza suas participações nas dependências do Gabinete de Leitura, certamente elas estavam presentes, atuaram de diferentes maneiras, de modo indireto e de interferências múltiplas. Contudo, esta pesquisa pode apenas perceber os indícios de suas presenças na biblioteca do Gabinete de Leitura, através da predominância do gênero romance e pelos títulos dessas obras, cuja mulher era o personagem principal.

O caminho escolhido para o desenvolvimento desta análise representa apenas uma das possibilidades de percurso. Olhar o surgimento do Gabinete de Leitura de Jundiaí como um

elemento representativo de uma realidade social em construção, por um grupo de trabalhadores ferroviários, para servir como um espaço de letras a outros grupos sociais foi uma possibilidade de investigação historiográfica selecionada por esta pesquisa. No entanto, muitos outros caminhos poderiam ser trilhados para que se pudessem traçar outras abordagens e que possibilitassem outras compreensões sobre este múltiplo objeto de estudo, o Gabinete de Leitura.

Procurando contribuir com a historiografia brasileira, na perspectiva da historia cultural, esta pesquisa buscou investigar e evidenciar a representação do Gabinete de Leitura de Jundiaí, como espaço de letras, através das práticas sociais de seus sócios.

O Gabinete de Leitura de Jundiaí, atual Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, está em funcionamento nos dias atuais. Qualquer pessoa pode adentrar a Instituição, apropriar-se de seu acervo literário e, caso queira, associar-se. Sua história, assim como esta pesquisa, não cessa aqui. Há muito para se investigar e em que se aprofundar, em termos de conhecimento histórico sobre a Instituição. Esta pesquisa encerra sua investigação e abordagem em 1924.

Naquele ano, o Estado de São Paulo passava pela Revolução Tenentista, iniciada no dia 5 e encerrada no dia 23 de Julho. A Revolução era de caráter militar, contudo, os civis foram as vítimas das “armas de guerras e das disputas políticas” 266. Em meio ao conflito

bélico, o Gabinete de Leitura fechou suas portas, encerrando o seu funcionamento, no dia 7 de agosto de 1924 e em ata de reunião da diretoria registrava-se:

Durante o período anormal que acabamos de atravessar. Leva-se ao conhecimento dos directores presentes que em virtude da anormalidade verificada em todo o Estado, por effeito da revolução que irrompeu na Capital, na madrugada de 5 de julho, a sociedade teve o seu funcionamento suspenso durante o mez de julho e até agora não está totalmente restabelecido.

Durante o período anormal, em Jundiahy, mais que em outro qualquer ponto do interior, se fez sentir, por ser esta cidade ponto de concentração de tropas revoltosas, o Gabinete não pôde deixar de suspender o seu funcionamento. A diretoria procurou protellar o mais possível esta medida extrema até que, por ordem do Tenente Nestor Nunes, que nesta cidade representava o Comando das forças revoltosas, se viu obrigada, não só a fazer cessar o seu funcionamento, como também, a remover os livros e mais objectos para uma das salas da Câmara Municipal, gentilmente cedida

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