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O trabalho é uma fonte de riscos. Exposto ou interagindo com eles é que o trabalhador sofre as conseqüências quando as barreiras de controle falham. Se o avanço tecnológico traz o

progresso, na mesma medida agrega novos riscos ao processo de trabalho. Os acidentes são, então, a materialização dos riscos e a transparência do erro.

Os acidentes emergem da forma em que o trabalho é organizado. É durante a concepção do trabalho que surgem interações múltiplas de eventos que podem conduzir a processos danosos à integridade física e mental do trabalhador resultantes de um processo inadequado de tomada de decisão por aquele que se reveste de autoridade num espaço de tempo.

A concepção do trabalho mudou com a Revolução Industrial. Braverman (1981, p.148) define que “o que mudou foi a organização do trabalho” impactando, de forma significativa, as relações entre as classes sociais: a dos trabalhadores e a dos capitalistas. Para Gil (2001) a Revolução Industrial reestruturou a sociedade em trabalhadores e empresários transformando o local de trabalho das pessoas e seu modo de trabalhar. Mudou os sistemas educacionais e criou condições para o aparecimento de filosofias revolucionárias, como o socialismo e o comunismo. Já para Sagan (1997, p.26) as transformações da ciência permitiram que “as vidas salvas pelos progressos na medicina e na agricultura fossem muito mais numerosas do que as perdidas em todas as guerras da história”.

Essa mudança de concepção do trabalho encontra em Taylor (1990), engenheiro americano, um dedicado e ferrenho pesquisador. Através de estudos sistemáticos e metódicos da tarefa, dividindo-a em passos, analisando e mantendo estreito controle sobre esses passos e interferindo no modo de trabalhar do operário, ele desenvolve os princípios de trabalhos que seriam apresentados em seu livro “Princípios de Administração Cientifica”. Seus estudos vão direcionar para dois pontos que marcariam para sempre o trabalho: a divisão do trabalho e a gerência científica.

A importância da divisão do trabalho é destacada por Durkheim (1989, p.54) que ressalta “qualquer que seja a apreciação que se faça sobre a divisão do trabalho, toda a gente sente bem que ela é, e se torna cada vez mais, uma das bases fundamentais da ordem social.” Para Durkheim nada parece mais fácil do que determinar o papel da divisão do trabalho, pois ela aumenta simultaneamente a força produtiva e a destreza do trabalhador, sendo ela uma condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades; é a fonte da civilização.

Para Braverman (1981, p.267) “a gerência científica deu ao escritório um monopólio da concepção, planejamento, julgamento e apreciação dos resultados, enquanto na oficina nada mais deveria acontecer senão a execução concreta de tudo o que fosse concebido no escritório”. É nesse momento que se estabelece um divisor de águas na concepção do trabalho: uns devem se dedicar a pensar e outros a executar o que foi planejado. Nesse ponto fundamentar-se-iam as principais teorias sobre os acidentes centradas na concepção de falha humana ou na culpabilidade dos operadores, pois, afinal de contas, são eles que executam as tarefas, sendo, portanto, uma fonte inesgotável de erros.

Conforme destacado, se o avanço tecnológico traz progresso, entender as disfunções causadas pelos acidentes passou a ser um desafio para a Ciência. Churchman (1972, p.247) pondera que a idéia é que a ciência progride por modificações contínuas de suas suposições básicas. Em cada etapa subseqüente da ciência a elaboração de suposições é melhorada. A ciência nunca alcançará o ideal final da resposta correta mas, pelo método da elaboração de suposições explícitas, pode conhecer cada vez mais exatamente a natureza.

Deixar de lado, suposições vagas e imprecisas e, fundamentar-se em evidências objetivas é um dos pilares da ciência. Sagan (1997) alerta que a ciência desperta um sentimento sublime de admiração, em compensação a pseudociência também produz esse efeito. Pondera o autor que, à medida que “as divulgações escassas e malfeitas da ciência abandonam nichos

ecológicos que a pseudociência preenche com rapidez (p.20)” surge como conseqüência o analfabetismo científico que pode se tornar muito mais perigoso nos dias atuais do que em qualquer época.

Cuidar desse analfabetismo é fundamental, pois em cada época, à medida que novas descobertas cientificas são feitas, temos uma ampliação dos riscos de acidentes que podem estar intrínsecos nos processos, permanecendo escondidos em seu conteúdo ou nos diversos estratos organizacionais. “A par das máximas que elogiam o trabalho intensivo, há outras, não menos divulgadas, que lhe apontam os perigos” (CHURCHMAN, 1972, p.56), pois o controle de um risco pode provocar o surgimento de outro até então não existente. Muitas vezes certos riscos são aceitos como entendidos pelo desconhecimento de suas propriedades. Novamente, Sagan (1997) chama a atenção ao declarar que “se houvesse ampla compreensão de que os dados do conhecimento requerem evidência adequada antes de poder ser aceitos, não haveria espaço para a pseudociência. (p. 20)”. Assim nascem as teorias que tentam explicar os fenômenos pela ótica das evidências, das crenças ou da ciência.

É preciso então, conhecer os fundamentos das teorias sobre os acidentes para que se compreenda como esses conceitos evoluíram à medida que o trabalho ganhava nossa forma de organização. Apresenta-se, em seguida, a teoria do dominó de Heinrich que advoga serem 98% dos acidentes causados por falhas humanas; a teoria da propensão para acidentes que ressaltam a probabilidade de alguns empregados sofrerem mais acidentes que outros; a teoria da fadiga que afirma ser a sobrecarga de trabalho um fator altamente contribuinte para os acidentes; a teoria da normalidade dos acidentes que pressupõe que, apesar de todos os controles dos riscos, alguns acidentes são inevitáveis e a teoria da confiabilidade que estrutura as ações de organizações que têm alcançado longos períodos sem acidentes.