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2 INSTRUMENTOS E ESTRATÉGIAS PARA CONSERVAÇÃO DA

4.5 AS PRINCIPAIS AMEAÇAS DO BIOMA NOS DIAS DE HOJE

A Mata Atlântica deveria ocupar um percentual entre 30 a 35% de sua área original (CAMPANILLI & PROCHNOW, 2006). Esse percentual é reconhecido mundialmente como ideal para proteção dos ecossistemas e biomas. Além disso, está em consonância com a legislação Brasileira que prevê a proteção dos 20% das propriedades rurais através do código

27 A CI considera que a Hotspots aquelas regiões que, ao mesmo tempo, sejam ricas em biodiversidade e estejam altamente ameaçadas – mais de 75% destruídas. No Brasil, o Cerrado também foi incluído com um Hotspot.

florestal, somados às unidades de conservação, que deveriam abranger de 10 a 12% da área do bioma (CAMPANILLI & PROCHNOW, 2006).

Por toda a sua história, a Mata Atlântica enfrenta vários problemas que a impedem de atingir esses percentuais em sua proteção e, mais que isso, ameaçam os atuais remanescentes. As leis, em particular o Código Florestal, não são cumpridas, sobretudo pela baixa capacidade operacional das instâncias responsáveis pela proteção do patrimônio natural brasileiro. Esse fato abre brechas que permitem que as atividades econômicas, muitas vezes ilegais, constituam sérios problemas ao bioma e à sua biodiversidade.

Abaixo, estão listados os principais causadores da destruição da Mata Atlântica. Todos eles estão ligados a atividades econômicas e têm mobilizado a atenção não só dos conservacionistas, mas também dos ditos “desenvolvimentistas”. Importante ressaltar ainda que nenhuma das principais ameaças possui uma causa natural. Todas são provocadas por ações antrópicas.

Especulação Imobiliária e pressão por moradia

A especulação imobiliária e a pressão antrópica por moradia são uma das principais causas de degradação da Mata Atlântica. Essa pressão é feita por todas as classes sociais. A população mais carente invade Áreas de Preservação Ambiental na busca de espaço físico para suas famílias. O mesmo acontece com empreendimentos de luxo e loteamentos irregulares próximos às grandes metrópoles ou em sítios turísticos de norte a sul da costa brasileira. A maioria dos loteamentos ocupa áreas de restinga, mangues, costões ou outros trechos cobertos por mata nativa.

O crescimento desordenado provocado pelo turismo pode ser visto no litoral norte de São Paulo, por exemplo. A população fixa é de 180 mil pessoas, mas cresce para mais de um milhão nas temporadas de férias (CAMPANILLI & PROCHNOW, 2006). Note-se ainda que o impacto provocado pela pressão populacional pode ser observado pela descarga do esgoto in natura nos rios e praias da região comprometendo não só a biodiversidade local como o próprio turismo.

Exploração madeireira

Segundo dados do IBGE, em meados de 1970 a Mata Atlântica ainda contribuía com 47% de toda a produção de madeira em tora no país, com um total de 15 milhões de m3. Produção drasticamente reduzida para menos da metade (7,9 milhões de m³) em 1988, dado o esgotamento dos recursos devido a exploração não sustentável. Atualmente a indústria madeireira dependente de espécies da Mata Atlântica possui importância apenas regional, especificamente nos estados do Paraná e Santa Catarina, onde as indústrias moveleira e de madeiramento para construções continuam a exploração predatória do pinheiro do Paraná (CAPOBIANCO, 2001).

A exploração madeireira no sul da Bahia nos últimos 30 anos foi mais expressiva do que a que ocorreu ao longo de 4 séculos no Brasil (CUNHA, 2006). Desde a abertura da BR 101, as madeireiras avançam sobre as floretas. A floresta ombrófila densa e algumas áreas de transição para a floresta estacional semi-decidual continuam sendo objeto de devastação, em intensidade variável conforme a demanda por madeira nativa e a conjuntura socioeconômica da região.

Em 1998, a Resolução 240/98 Conama suspendeu a exploração madeireira até a apresentação de estudos comprovando a sustentabilidade dessa atividade. Os estudos jamais foram realizados de modo a atender o que foi preconizado. Devido à intensa pressão dos madeireiros sobre os governos estadual e federal, as exigências foram flexibilizadas na Resolução Conama 248/99. Essa última determinou, entre outros, estudos sobre o estoque das espécies comerciais e o mapeamento atualizado dos remanescentes.

No final de 2000, o Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho suspendeu os planos de manejo situados no entorno das Unidades de Conservação devido a grande exploração clandestina de madeira na Bahia.

Essa situação se repete em outras fisionomias como a floresta Ombrófila Densa, ou Floresta com Araucárias, no estados como em Santa Catarina e Paraná. A fisionomia primitiva da Floresta com Araucária nesses Estados foi substituída, em sua maior parte, por pastagens e reflorestamentos homogêneos feitos com espécies exóticas. Os raros remanescentes florestais nativos, que hoje perfazem entre 1 e 2% da área original em Santa

Catarina são de reduzidas dimensões e encontram-se isolados e com evidentes alterações estruturais (MEDEIROS et al., 2004).

Grandes Empreendimentos

A Mata Atlântica também é ameaçada por grandes empreendimentos sejam eles imobiliários, turísticos, industriais, de transporte ou energia. Eles alteram fortemente as características originais do ambiente onde são instalados. Os impactos ambientais resultantes dessas atividades podem afetar direta ou indiretamente a saúde, o bem estar da população e sua qualidade de vida (CAMPANILLI & PROCHNOW, 2006).

Os lagos gerados pelas usinas hidrelétricas, por exemplo, são responsáveis por grande parte da perda de floresta nativa. A abertura de estradas é mais um vetor de risco para a conservação por provocar os efeitos de borda, comprometer rios e córregos, e, muitas vezes promover o comércio ilegal de plantas e animais silvestres.

Plantio de Exóticas

O avanço da monocultura de árvores exóticas se tornou um problema grave principalmente no domínio da floresta ombrófila densa. Sua expansão provoca o isolamento dos pequenos e médios fragmentos de floretas nativas, eliminando a conexão entre eles. Em Santa Catarina, por exemplo, o Ministério do Meio Ambiente detectou a formação de grandes propriedades destinadas ao reflorestamento com Pinus elliottii, variedade identificada por biólogos como “invasora contaminante” (CAMPANILLI & PROCHNOW, 2006). Além de comprometer a regeneração do ecossistema original, essa atividade produz efeitos danosos à vida rural. Concluído o crescimento das árvores, elas são desmatadas completamente, deixando o solo exposto. E seguida o local é geralmente queimado para limpeza (CAMPANILLI & PROCHNOW, 2006). Os proprietários também ignoram o código florestal, ao usar Áreas de Preservação Permanente para o plantio das árvores. Essas práticas geram processo erosivos, perda de nutrientes do solo, assoreamento das nascentes e cursos d’água.

Mineração

A degradação da Mata Atlântica pela mineração se iniciou nos períodos coloniais, sobretudo com a exploração do ouro em Minas Gerais (DEAN, 1996). Além do desflorestamento, esta prática modifica o relevo e contamina as águas. As técnicas para

extração do carvão mineral no sul do Brasil levam à erosão, facilitam a acidificação do solo e da água. A alteração do pH das águas mata os rios do entorno da região carbonífera.

Carcinicultura

O cultivo de camarões marinhos em cativeiro, ou carcinicultura, é uma atividade altamente rentável, mas, ao mesmo tempo degradadora (CORREIA & LEÃO, 2006). Trata-se de uma atividade recente no país, e se proliferou pela região nordeste. O Brasil transformou- se rapidamente num dos maiores produtores mundiais de camarões cultivados, à frente de China, Tailândia e Equador. Sua produção passou de 3.600 toneladas em 1997 para 60.128 toneladas em 2002. Países com tradição em carcinicultura industrial como Taiwan, Índia e México, enfrentam problemas ambientais legados por essa atividade (CORREIA & LEÃO, 2006).

As áreas de cultivo não têm o controle adequado dos órgãos de licenciamento ambiental. O cultivo do camarão além de danos à natureza, provoca problemas de saúde pública, traz prejuízos à população local, que antes fazia uso sustentável do mangue, com a coleta de mariscos e crustáceos. A expulsão de pescadores acarreta conflitos de terra e empobrecimento das comunidades tradicionais.

Segundo dados do Grupo de Trabalho sobre Carcinicultura, da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, a atividade ainda modifica o fluxo das marés, a extinção de habitats de numerosas espécies, a disseminação de doenças entre crustáceos e a contaminação da água. Além desses impactos, existe ainda um alto risco de introdução de uma espécie exótica de camarão proveniente das águas do Oceano Índico.